Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 26
26: Mais uma noite para se viver


Notas iniciais do capítulo

A salvo longe do mundo
Em um sonho, domínio infinito
Uma criança, olhos de sonhador
Espelho da mãe, orgulho do pai

Eu queria poder voltar para você
Mais uma vez sentir a chuva
Caindo dentro de mim
Limpando tudo aquilo em que me tornei

Todas as minhas canções só podem ser compostas da maior das dores
Cada verso só pode nascer do maior dos desejos
Eu queria ter mais uma noite para viver

*Nightwish



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Tentei manter a calma, mas todos os gritos e barulhos parecido com rugidos vindo do lado de fora, me faziam tremer e deixar minha cabeça em negro. Sorrateiramente fui até a janela, tendo uma visão da noite infernal que Egerver proporcionava, era mesmo real, todos corriam em uma única direção: O circo.

Pena que poucas pessoas conseguiam chegar até lá.

Gritei, quando a janela se estilhaçou em milhões de pedaços cintilantes, me jogando para longe e mostrando três longas sombras sem um rosto, soltando apenas um cheiro pútrido e mostrando garras pratas sujas e brilhantes, mergulhando em minha direção.

Rolei de lado, correndo para trás do sofá e tentando formular alguma forma de sair dali. Mas antes que fizesse qualquer coisa, algo me agarrou pela blusa e me jogou ao chão, me fazendo arfar e gritar a todo pulmão enquanto aquela baba verde ácida caia sobre meu rosto, fazendo o desespero virar uma bola de neve.

Então eu estava livre, pisquei para escuridão sentindo minha visão voltar lentamente e sentia meu rosto em chamas. Me sentei vendo com lentidão Casper com o rosto em uma máscara torcida de ódio, enquanto suas asas se abriam atrás de si, fazendo fumaça e cheiro de cinzas dançar a nossa volta. Me encolhi a sua presença que chegava a queimar meus olhos. Ele facilmente espantou aquelas...sombras, que rugiam em sua direção e sumiam no ar com um grito de pura agonia.

- Corra -foi o que me disse, não olhando em minha direção nem mesmo mexendo qualquer músculo do seu rosto, seus olhos não eram aquele belo tom de verde, eram negros como órbitas infinitas de tortura e ódio, quando se virou para mim, gritou com os lábios apertados -CORRA!

Foi o que eu fiz, cambaleei de lado, abrindo a porta e saindo para a noite fétida, sentindo cada célula do meu corpo gritar em protesto e meu rosto arder em como se estivesse em chamas vivas. Pulei para trás, enquanto uma mulher caia aos meus pés, gritando com as mãos ensanguentadas e uma sombra vinha presa a suas costas, lhe cobrindo por completo até irradiar uma luz funesta em seus olhos ardentes.

Arfei, seguindo a multidão que corria atropelando uns aos outros, mas alguma coisa me impediu. Olhei para trás, pronta para tentar lutar, mas garras afundaram no meu ombro me fazendo reprimir um grito. Me debatia enquanto me arrastavam até a varanda de uma casa agora vazia.

- Ora, vejo que recuperou suas memórias, isso facilitará muito -olhei para cima com lentidão, encarando uma garota de aparência jovial mas que carregava cicatrizes pelo rosto de boneca. Os cabelos vermelhos sangue eram uma moldura em seu rosto pequeno, deixando os grandes olhos amarelos em destaque, seu sorriso era uma risca fina, cruel e diabólica.

- Kizzy -disse entre dentes, tentando de uma maneira digna ficar de pé, enquanto a dor passava pelo meu corpo. Mas não emiti som algum, ela não iria me ver sofrer, eu a fazeria sofrer.

Quando lhe disse seu nome, a mesma enrugou o nariz em desprezo. Notei que usava um vestido negro cheios de rendas vermelhas, era o meu vestido! No pescoço usava o amuleto, aquele que poderia facilmente me aniquilar e passar meus chamados poderes para  mesma.

- Você é Kizzy, pequena e patética -então sorriu, me mostrando dentes em forma de presas brancas -Sou Lilith, senhora dos mortos e a melhor ceifadora do submundo, fico feliz em nos encontramos novamente.

Nessa hora algo rachou dentro de mim, talvez minha parte bondosa, que fora substituído um sentimento quente e sádico. Me senti sorrindo, fazendo com que todos meus dentes se mostrassem, ela recuou um pouco, apenas um pouco mas era o suficiente.

- Espero que tenha aproveitado bem sua estadia em minha casa -disse ainda sorrindo, me sentindo de certa forma mais forte, conforme a raiva subia -Pois está na hora de sumir, de uma vez por todas.

- É o que veremos -sussurrou abrindo os braços e fazendo um vento com cheiro de morte me acertar no rosto. Nessa hora aquelas mesmas mulheres esqueléticas aparecerem, um pouco corcundas, enquanto apontavam um dedo em minha direção e riam, mais sombras foram me cercando, com olhos injetados e cheios de ódio em um delicioso sentimento pela morte alheia.

- Pois que venha! -gritei, me assustando com minha própria voz, forte e cheia de uma determinação até agora desconhecida por mim. Eu era Lilith e Kizzy era apenas uma criança. Eu era ainda uma caçadora de sonhos, tinha meus poderes mentais, mas pelo que vejo isso não funcionava com criaturas do submundo.

Claro que não.

Fui me afastando, conforme ela ria e as sombras dançavam ao meu redor. Fechei os olhos, quando eles ameaçaram pular em minha direção, então Kizzy gritou.

- Parem! -olhei em sua direção, e ela sorria, enquanto abria caminho até mim -Isso seria fácil demais, quero vê-la morta em outro lugar, um onde você verá pela última vez.

Senti minhas sobrancelhas se juntaram, conforme ela ia fechando o rosto. Então algo que pegou pela cintura, gritei enquanto deixava o chão abaixo de mim e me sentia cada vez mais sendo levada para o alto.

Olhei para cima, onde Casper deixava seu rosto neutro enquanto batia suas asas cada vez mais para o alto. Por um milésimo de momento me deixei relaxar em seus braços, então fiquei alerta, ele estava diferente...

- Casper...-o chamei, mas o mesmo não se virava para mim, tentei não olhar para baixo enquanto minha voz se tornava rouca e quase um grito -Casper!

Então ele se virou, com seus órbitas vazias vidrados em meu rosto, como se não conhecendo a pessoa a sua frente. Engoli em seco, enquanto os únicos sons na fria noite, eram os leves batimentos de suas asas negras, contra as nuvens claras. Ele sorriu, deixando seus braços cada vez mais frouxos a minha volta.

- Não sou Casper -sua voz era algo horrível, um gemido misturado com múrmuro de terror. Seu rosto se transformou em uma máscara derretida enegrecida, enquanto  suas asas negras se transformaram em coisas amareladas e sujas, flácidas e velhas.

Ele riu, gargalhou para noite acima de nós, enquanto abria seus braços e me soltava ao vento que passava sobre mim, me empurrando cada vez mais para baixo. Gritei, enquanto as lagrimas picavam meus olhos, sentindo o nada desesperador me abraçar.

Isso seria meu fim?


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