Mentirosa

Lucy observou Natsu ao longe, brincando Asuka e Romeo. Ele parecia feliz e descontraído — o que era habitual —, deixando a garota, que agora já tinha oito anos, montá-lo como um cavalinho. O garoto mais velho mantinha uma certa distância, enquanto fingia ser uma espécie de monstro. Não pôde evitar de sorrir.

— Por que você está sorrindo? — Elza a surpreendeu e sentou do outro lado da mesa. Colocou o bebê de pouco mais de um ano no colo.

— Natsu — limitou-se a responder depois de se recuperar do susto.

— Claro — a ruiva concordou com um sorriso nostálgico, enquanto a pequena Yuka puxava uma mecha do seu cabelo. — O que foi dessa vez?

— Eu estava pensando que ele leva jeito com crianças — confessou um tantinho envergonhada.

— Isso é verdade. As crianças costumam gostar muito dele, acho que é um dom — disse pensativa. — Hey, Lucy. Você já não pensou em ter filhos? Já faz quatro anos que vocês estão juntos e tenho certeza que seria uma ótima mãe, assim como Natsu seria um ótimo pai.

— Claro que já pensei. Que garota não pensa nisso? — respondeu. — Mas sei lá. Acho que estou nova demais para isso e não sinto como se eu fosse ser uma boa mãe algum dia. Não que eu não goste de crianças, mas elas são tão frágeis... E se eu fizer algo de errado?

Elza riu e tirou as pequenas mãos da filha do seu rosto, depois colocou a menina no chão e deixou-a andar na direção de Natsu, que pegou-a no colo e a ergueu tão alto que Yuka dera uma gargalhada gostosa.

— Ah, Lucy! Essas coisas você aprende com o tempo, é normal sentir medo no começo, mas nada que você não possa superar depois. Aliás, Mira e eu estamos aqui também. Não há necessidade disso.

— Sei, sei — desdenhou e estendeu-se sobre a mesa. – Ainda tenho minhas dúvidas. Gosto de crianças, amo o Natsu. Espero que algum dia possamos ter filhos. Seria um prazer ter um filho do homem que eu amo.

— Sobre o que vocês estão falando? — Natsu apareceu com Yuka pendurada em seu pescoço.

— Nada — Lucy disse alto demais. Ele franziu as sobrancelhas, desconfiado, mas não disse nada.

— Certo. Assunto de garotas, não é? — Balançou a cabeça afirmativamente como se fosse um gênio. — Tô indo.

— Essa foi por pouco. — A loira suspirou.

— Qual é o problema? Por acaso o seu medo é que Natsu não aceite ser pai?

— Mais ou menos isso — admitiu por fim. — Olhe só para ele. Ele brinca com todas as crianças da guilda, fica sério de vez em quando. Mas ele é tão jovem quanto eu, é diferente quando as crianças são filhos de outras pessoas. Nós não precisamos arcar com as roupas, com a comida, com a higiene. Mal conseguimos manter meu apartamento, quem dirá uma criança.

Elza sorriu.

— Acho que você está subestimando o Natsu. Mas... A decisão continua sendo sua no final das costas. Não pense que será uma péssima mãe, sei que não vai ser. Agora eu preciso falar com a Mira, até depois.

— Até — desejou e fez um muxoxo.

Olhou mais uma vez para Natsu e pensou:

Será?...

N&L

Lucy estava escovando os dentes quando Natsu apareceu no banheiro e agarrou-a pela cintura. Cheirou-a no pescoço — o que causou cócegas. Ela tentou se afastar dele para terminar o que fazia.

— Para de fffazer iffo. — Riu.

— Você está cheirosa. O que você passou no cabelo?

— Eu troquei o xampu — admitiu corando de prazer por ele ter notado. — Você gostou?

— Gostei.

— Vamos dormir. Eu estou cansada.

— Eu também, aquelas crianças pedem mais forças do que as lutas que tenho com o idiota do Gray. — Saiu do banheiro com as mãos na cabeça.

Isso fez Lucy se lembrar do que tinha conversado com Elza mais cedo. Poderia ao menos perguntar... Não era? Respirou fundo e também deixou o banheiro. Encontrou Natsu deitado em sua cama, todo desleixado, só pra não perder o costume.

— Hmm, Natsu. — Quando percebeu que tinha chamado sua atenção, continuou: — Você gostaria de ser pai?

Ele levantou em um supetão — tão rápido que Lucy se assustou. Ela recuou um passo, receosa e já arrependida por ter feito a pergunta. Ele estava tão sério. Ficou parada quando Natsu andou até ela e segurou-a pelos braços.

— Lucy, você está grávida! Por Mavis! — Ele abraçou-a tão apertado que ela achou que ia morrer. — EU VOU SER PAI!

Processando... Processando...

— Espera, Nat-

— Pensa só, eu levando ele pra pescar ou ensinando ele magia.

— Natsu — tentou mais uma vez, mas ele não deu atenção. — Não é-

— O Gray vai ficar morrendo de inveja. Vou ter um filho primeiro que ele! HAHAHAHA.

— NATSU! EU NÃO ESTOU GRÁVIDA, ME ESCUTA, PORCARIA! — gritou e só assim conseguiu fazê-lo parar. Natsu pareceu decepcionada por um instante.

— Não está? — perguntou baixinho.

— Não — afirmou no mesmo tom. — Eu só... — Engoliu em seco e um sorriso tomou seus lábios carnudos. — Não estou, mas eu fiquei feliz pela sua reação. Eu não esperava que fosse reagir desse jeito.

— Tudo bem, estou chateado porque você não está grávida — admitiu. — Se você tem dúvidas sobre isso... Lucy, eu ia amar ser pai, ainda mais porque a mãe seria você. Não tenha dúvidas sobre isso. Sei que sou irresponsável, mas eu mudaria por isso, Lucy. Eu trabalharia para que pudéssemos comprar uma casa e nada faltaria.

A maga estelar teve vontade de chorar. No final, Elza estava completamente certa. Estivera subestimando Natsu por tanto tempo, que achou que o mago não iria querer ser pai nunca. Eram responsabilidades demais, eles teriam que abrir mão de diversas coisas por conta disso. Mas ao vê-lo ali, encarando-a com tanta seriedade e ao lembrar-se da reação dele quando achou que estava grávida; todas as dúvidas desapareceram.

— Você é um idiota, Natsu. Quando vai parar de dizer coisas que me fazem querer chorar? — murmurou com a voz embargada.

Eles se abraçaram e só se separaram quando Lucy parou de fungar.

— Só quando seus peitos pararem de crescer — murmurou de volta e riu quando ela deu um murro em seu peito. — Isso quer dizer: Nunca.

— Me poupe dos seus comentários rudes.

— Eu estava brincando! — tentou se defender.

— Eu não ligo, sai daqui.

— Luceeeeeeee.

— Sai.

— Não seja má, vamos lá. Eu não estou tão cansado, bem que a gente poderia, sabe...

Ela já estava deitada na cama com os olhos fechados quando Natsu disse isso. Lucy espiou por um olho.

— Você está me comprando com sexo?

— Estou.

— E você admite isso na cara de pau?

— Sim. Funcionou?

— Às vezes eu te odeio — resmungou enquanto abria os braços para recebê-lo.

— Mentirosa — sussurrou antes de beijá-la.