Toujours Pur: Coroação escrita por GabrielleBriant


Capítulo 3
Interrupções




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III

INTERRUPÇÕES

Bruxos de castas vulgares costumam acreditar que aqueles que se autodenominam sangues-puros têm uma inabilidade nata de ter sentimentos; mas isso não é verdade. Os membros da alta sociedade bruxa são tão humanos quanto os demais... no entanto, pelo seu senso de dever, geralmente se forçam a fingir que seus sentimentos lhes são insignificantes – mantendo sempre o rosto erguido; nunca abandonando, pelo menos aos olhos dos outros, a força, o orgulho e a imponência que o seu sangue lhes exige.

Muitas vezes as circunstâncias de suas vidas lhe fazem morrer por dentro. Mas, por fora, tudo tem que parecer bem.

Por fora tudo sempre tem que parecer bem – Bellatrix Black repetia as palavras em sua mente como se fossem um mantra; mas estava difícil manter o seu usual sorriso debochado naquele dia. Pois, naquele dia, a sua família inteira estava reunida na estação King Cross; e, pela primeira vez desde o terrível acontecimento daquele verão, a primogênita Black sentiu a falta da sua irmã. Doeu.

Desde os seus onze anos de idade, quando as pequenas Black visitaram a estação pela primeira vez, Bellatrix se acostumou a ver aquela ocasião como o momento das três irmãs – o momento em que elas trocavam as últimas confidências do verão e se despediam, deixando claro que, mais do que os pais, tios e amigos, era das irmãs que ficavam que elas sentiriam mais falta.

Ao trair o seu sangue e partir, Andromeda, por mais que Bellatrix odiasse admitir até para si mesma, deixara uma ferida tão grave e profunda que jamais iria se curar completamente; e apenas naquele momento a primogênita percebeu isso. Naquele momento, em que ela e Narcissa, em vez de se recolherem em seu universo particular como sempre fizeram aos chegar na estação, apenas permaneceram em silêncio ao lado de Cygnus, Druella, Orion, Walburga, Sirius, Regulus e Alphard – preferindo romper a tradição ao encarar o vazio que a terceira irmã deixara.

– E, então, nós entramos no quarto dele e quase todos os livros do nosso Regulus aqui estavam flutuando. – Walburga contava calmamente, como se nunca tivesse sentido receios de ter um aborto como filho. – Monstro não estava lá; Orion e eu checamos.

– Isso é uma ótima notícia, irmão. – Cygnus disse, um sorriso automático aparecendo em seu rosto enquanto ele dava dois tapinhas fracos nos ombros do mais jovem dos Black. – Posso contar com você na Sonserina, Regulus?

– Eu não vou decepcionar vocês, tio Cygnus – O menino respondeu, sorrindo abertamente para o patriarca da família.

Não era para Regulus que Bellatrix olhava, no entanto; mas para Sirius. O rosto do garoto se tornou avermelhado assim que ouviu as palavras do tio; e ele olhou para o irmão com tal fúria ao ouvi-lo falar sobre decepção que a primogênita teve de admirar. O garoto ainda era um Black até o seu âmago. Suprimindo o seu riso sarcástico, a jovem colocou um braço sobre os ombros de Sirius.

– Não está na hora de você ir para o trem, primo? – Ela perguntou, já o arrastando dali antes que ele tivesse chance de se despedir dos pais. – Deixe o seu irmão ter um momento para ele. – Bellatrix sussurrou assim que estavam longe o suficiente. – Todos pensavam que ele seria um aborto; e isso é muito pior do que ser escolhido para a Grifinória.

– Ele não tem que ser um idiota o tempo todo por causa disso!

– Claro que tem! Ele seria desprezado pela família, e agora não será mais; ele tem direito de se sentir assim por um tempo. – A jovem sorriu para Sirius. – Saiba de uma coisa, primo: a casa que lhe escolheu em Hogwarts não significa nada... a menos que você fosse para a Lufa-Lufa, o que significaria que você é medíocre. – Sirius se permitiu uma pequena risada. – A sua Casa é outra; apenas não esqueça isso.

– Eu sei; eu sou um Black.

– Exatamente. Você pode ser grifinório e, ainda assim, ser o melhor entre nós... assim como você pode ter passado a vida inteira na Sonserina a decepcionar a todos. – Ela adicionou amargamente; e é claro que Sirius sabia do que a prima estava falando. – Cuidado com as suas companhias, Sirius; elas podem lhe envenenar.

O jovem deu de ombros.

– Meus amigos são grifinórios, Bella; quase todos eles.

– Eu sei. Potter e Pettigrew são... aceitáveis. Eles têm, pelo menos, o status sanguíneo certo. Cuidado com o terceiro garoto com quem você fez amizade, no entanto; soube que você o levou para a casa dos seus pais e tia Walburga quase teve um ataque.

– Foi... – Os lábios do garoto se curvaram num sorriso jocoso que muito lembrava o da própria Bellatrix. – Foi engraçado!

– Imagino que sim.

– Mas Remo é legal, Bella.

– Você sempre foi leniente demais, primo. Mas, contanto que você corra atrás das garotas sonserinas, você ficará bem.

Sirius riu, se aproximando um pouco da prima e confidenciando:

– Isso eu já estou fazendo.

– Você tem apenas doze anos! – Bellatrix riu-se, fingindo ultraje mas sabendo que, se ela tivesse nascido homem, teria agido exatamente como o seu primo. – Temos um prodígio aqui; parabéns, primo! Agora vá; tente se sentar com alguns garotos Sonserinos... você não precisa encerrar a sua amizade com Potter, Pettigrew e o sangue-ruim para se aproximar do primo Evan, de Rabastan e dos filhos dos Avery e dos Mulciber.

Sirius fez uma careta.

– Você acabou de descrever o grupinho do Ranhoso – A herdeira ergueu uma sobrancelha. – O neto bastardo do velho Prince.

– Oh; quer dizer que o bastardinho tem melhores companhias que você?

– Ele é sonserino.

– Quer dizer que o bastardinho conseguiu entrar na Sonserina e você não? – Quando o rosto de Sirius mostrou vergonha novamente, a jovem riu. – Estou brincando, Sirius; já disse que a sua Casa não está em Hogwarts! Ignore o bastardo e seja amigo dos garotos. Pelo menos de Evan, que é da minha família, e Rabastan, que é o irmão do meu melhor amigo.

– Eu vou tentar. Acho.

– Muito bem – ela sorriu e afagou carinhosamente o cabelo do primo. – Agora vá espalhar que o seu irmão não é um aborto! É uma boa notícia para você, também!

– Irei. Tchau prima!

– Comporte-se! Se você se tornar totalmente grifinório, eu o mato! – Naquele momento era apenas uma brincadeira.

– Você pode tentar...

E, fazendo Bellatrix sorrir genuinamente, Sirius foi para o trem. Ela fizera o certo – a jovem acreditava. Sirius não tinha ouvido nada além de escárnio desde que fora selecionado para a Grifinória, e talvez um pouco de apoio de orientação fosse justamente o que faltou para Andromeda. Um erro que não seria repetido; os Black não perderiam outro membro.

Sentindo-se um pouco melhor, ela observou a família Lestrange aparecer pelo portal da plataforma 9/2. Eles também estavam desfalcados: Archibald e Rochelle apareceram de braços dados e, logo em seguida, o jovem Rabastan carregando o seu malão; mas Rodolphus não comparecera... e isso decepcionou Bellatrix, que queria ver o amigo e conversar sobre aquele verão.

Pondo um novo sorriso em seu rosto, ela se aproximou.

– Senhor e Senhora Lestrange. – Ela cumprimentou polidamente. – Quanto tempo!

– Sim... – Archibald disse, segurando a mão da jovem e beijando-a; tão galante quanto o filho. – Espero que a sua família tenha nos perdoado por não prestigiar o noivado da sua irmã com o garoto de Abraxas.

– Nós queríamos todos os amigos lá, é claro; mas visitar um filho é mais importante que um noivado fora da família. E vocês conhecem Narcissa: o presente é mais importante que a presença; e isso vocês enviaram. – Rochelle riu discretamente da brincadeira de Bellatrix. – Rodolphus não pôde vir?

A expressão de Rochelle imediatamente passou a espelhar desconforto; e foi Archibald, com uma calma claramente forçada, que respondeu:

– Ele não poderá deixar a Rússia antes do fim do... curso que ele está prestando.

– Oh. – A jovem tentou um sorriso fraco. Na última vez que vira Rodolphus, ele estava terrível. Um preço alto demais para se tornar Comensal da Morte... mas Bellatrix entendia. Ela também pagara muito caro. – Sim, eu entendo. E cruzar a fronteira da União Soviética não pode estar fácil, então é melhor que ele fique lá por enquanto. Ele está perto de concluir a sua formação?

– Esperamos que sim.

– Eu... sei que ser um aprendiz está exigindo muito de Rodolphus; eu vi.mas o esforço dele será recompensado. Particularmente, eu acho o que ele está fazendo muito honrável.

Archibald pareceu aceitar bem as palavras de Bellatrix, mas Rochelle apenas franziu o cenho e a perguntou com uma agressividade disfarçada:

– Você viu?

– Sim. Ele me visitou no último natal. – Ao lembrar que o amigo a viu nua e lhe disse palavras agressivas e imorais naquela noite, o rosto da jovem enrubesceu. – Ele estava com um aspecto terrível.

– Estranho, ele não nos visitou. – A mulher respirou fundo, a linha fina dos seus lábios crispados aos poucos tornando-se um sorriso visivelmente forçado. – Mas, de fato, meu filho ainda não está bem fisicamente. Ao menos ele tem uma noiva maravilhosa para cuidar dele.

– Sim, eu sei. – Bellatrix respondeu, um tanto incerta. – Ouvi falar do noivado; espero que ela seja uma esposa adequada.

– A melhor que ele poderia encontrar, na verdade. – Rochelle respondeu, seus olhos frios perfurando a jovem Black. – Os Szabó são uma família tradicionalíssima; ouro antigo, como as nossas famílias merecem. E Katalinka é maravilhosa; não há uma mancha sequer em sua reputação e é, sem dúvidas, a jovem mais bonita que já vimos em nossas vidas. Uma esposa perfeita para o nosso filho; ele não poderia ter escolhido melhor.

Os lábios da jovem Black curvaram-se um pouco, pois a tentativa patética da Sra. Lestrange de tentar mantê-la longe de Rodolphus chegava a ser cômica.

– Sra. Lestrange, seu filho me visitou no natal como amigo; e, todos esses anos, nós nunca cruzamos a linha da amizade. Mas, se eu quisesse ter um romance com ele, eu teria; independentemente do quão perfeito a sua futura nora é. Em sua opinião.

– Bellatrix, querida... – Archibald tentou, visivelmente constrangido.

– Não, Archie, – Rochelle o interrompeu. – Eu não vou desperdiçar essa chance de deixar tudo em pratos limpos. – A mulher olhou para Bellatrix, e havia certa fúria em sua expressão. – Bellatrix, nosso filho sempre teve uma... fascinação por você. E isso nunca nos incomodou pois, caso vocês eventualmente decidissem juntar as nossas famílias, isso seria muito bem-vindo. No entanto, nós, os Lestrange, mais que qualquer outra família e como você bem sabe, invocamos tradição; nosso ouro, nosso prestígio e nossos modos são antigos. E nosso nome apenas será dado a alguém que mereça--

– Por favor, Rochelle, não se mostre ignorante. – Bellatrix riu-se. – Os Black poderiam perder todo o patrimônio e se autodeclarar traidores do sangue, e ainda assim teria mais prestígio que a sua Casa!

– Oh, eu não estou desrespeitando os Black; de forma alguma! Se Orion e Walburga tivessem uma filha, eu fica feliz em tê-la em minha família. O meu problema é a sua irmã, que cresceu ao seu lado e teve a sua educação, não tem nenhuma honra. Um fruto podre envenena os demais, minha querida.

– Honra? E isso vem de uma mulher que deu a luz ao seu primogênito seis meses depois do matrimônio...

– Bellatrix! – Os lábios da jovem Black crisparam-se enquanto ela virava o seu rosto para olhar aquele que, mais uma vez, interrompia suas contendas. Nathaniel Yaxley. Naquele momento, a jovem estava tão irritada que quase esqueceu que os seus novos planos envolviam aquele homem. – Por que será que eu sempre a encontro tendo uma discussão acalorada?

Os olhos da primogênita cerram-se e, em seus lábios, apareceu um sorriso frio.

– Ninguém aqui estava discutindo.

– Claramente. – Ele deu uma pequena risada e se aproximou do casal Lestrange para cumprimenta-los. – Sr. e Sra. Lestrange. É sempre maravilhoso encontrá-los. Onde está Rabastan?

– Com os amigos. – Rochelle disse, novamente com a sua voz polida. – É difícil manter os filhos por perto a partir de certa idade.

– E impossível controlar o que eles querem ou fazem – Bellatrix adicionou sarcasticamente.

– Nada é impossível para quem sabe manipular. – A Sra. Lestrange respondeu, perfurando a jovem Black com o seu olhar. – E, acredito, meu filho já está em boas mãos. Ambos. – Sorriu friamente para Nathaniel. – Acho que já vamos. Foi um prazer lhe reencontrar.

E os Lestrange, sem se despedir de Bellatrix, afastaram-se.

Deixando o seu sorriso sarcástico morrer completamente, Bellatrix voltou-se para Nathaniel.

– Da próxima vez, não interrompa as minhas conversas.

– Haverão próximas vezes, então? – Ele perguntou, tentando, sem sucesso, melhorar o humor da jovem. – Bella, querida, você tem que controlar o seu temperamento.

– E por que eu faria isso?

– Você é uma Black. – A resposta padrão; Bellatrix desviou o seu olhar sem tentar esconder o desagrado. A jovem nunca gostou de pessoas sem imaginação.

– Eu detesto coisas e pessoas mornas; não suportaria que o meu temperamento fosse assim.

– Na verdade, eu também não. – Ele sorriu e deu um passo em direção à jovem. – Você me deve um jantar.

– E vou continuar devendo; papai não gostou de saber que você está me rondando. – O sorriso de Nathaniel manteve-se intacto; mas a primogênita Black notou a sutil mudança em seu olhar. Isso a agradou; e, avançando em direção a ele até ficar um pouco mais próxima do que o decoro permitia, ela buscou provocar mais. – Você sabe; já que lucrou às nossas custas depois do que ocorreu há alguns meses. Papai acha... e eu concordo, nesse ponto... que um homem de verdade faz a sua própria fortuna; não tenta ganhá-la sem méritos. E eu prefiro dever jantares a homens de verdade.

– A sua irmã – Bellatrix desviou o olhar à menção, seus lábios crispando-se em uma linha fina. – era minha noiva; e ela fugiu com um sangue-ruim. Isso foi humilhante. Eu acho que devia ter arrancado mais dinheiro do seu pai depois de tudo. Com você eu pretendo lucrar de outras formas. Bellatrix, eu sei que você não fugiria de mim; não estou aqui para me aproveitar dos seus noivados fracassados.

– E por que você está aqui?

– Olhe-se no espelho e tenha a resposta.

Bellatrix riu sarcasticamente, balançando a sua cabeça em descrença. Nathaniel sempre acabava dando aquele mesmo argumento; sempre acabava jogando a razão do seu afeto na aparência da jovem. Embora aquilo lhe irritasse um pouco no momento, ela sabia que era útil para os seus planos – ela ainda precisava de um noivo para que Lorde Voldemort tivesse um pouco de perspectiva; um que obviamente a desejasse seria de grande valia.

Mas, subitamente, a sua risada morreu – a já conhecida fisgada logo acima do seu pulso esquerdo fazendo-a vacilar só por um instante, antes de recobrar seu controle. Quando seus olhos buscaram os de Nathaniel, ela encontrou lá uma fascinação renovada.

Impossível... – Ele murmurou; e a jovem imediatamente soube que ele notou o ocorrido. Seu coração disparou. Ser conhecida como uma Comensal da Morte era o que ela desejava, sim; mas Bellatrix sabia bem que Lorde Voldemort impusera o segredo, por enquanto. Aquilo teria consequências. – Você é apenas uma mulher; como conseguiu--

– Eu sou muito mais que isso. – Bellatrix o interrompeu com uma convicção que soou arrogante. – E, Nathaniel, espero que você saiba guardar segredos. Para o seu próprio bem.

A última parte, nem mesmo a própria Bellatrix sabia se fora um conselho ou uma ameaça. Sem mais, desaparatou.

XxXxXxX

Não haviam olhos diretamente voltados para eles; mas, ainda assim, Narcissa sentia como se o pequeno clã Black fosse o centro das atenções naquela manhã. Ninguém mencionara a eles o ocorrido no início do verão, mas a ausência de Andrômeda gritava a todos, lembrando-os de que a imagem incorruptível que há apenas alguns meses a família ostentava não existia mais. Haviam os olhares furtivos das grandes Casas, acompanhados de comentários disfarçados; e o que diziam era facilmente deduzido. Aquilo era o pior, na opinião da mais jovem herdeira – estar maculada por um pecado de que não foi seu; ter uma mancha na imagem perfeita que ela sempre fez questão de ter.

Mordendo o lábio inferior, Narcissa olhou esperançosa para a entrada da estação 9/2 enquanto dedilhava com o polegar a grande esmeralda do seu anel de noivado. Quando os Malfoy chegassem, ela sabia, os comentários seriam outros; e, por mais que a jovem não fosse apaixonada por Lucius, ela não via com maus olhos a distração que o compromisso trouxera. Em um ano, ela pertenceria à família bruxa mais influente do Reino Unido; e, enquanto ela aparecesse ao lado de Lucius, ninguém ousaria questionar a sua reputação como agora, ainda que disfarçadamente, o faziam.

De soslaio, perto da entrada da estação, Narcissa flagrou a sua irmã se aproximar de Nathaniel Yaxley; seus rostos tão próximos que – ela constatou com vergonha –, não fosse a expressão mordaz de Bellatrix, acreditaria que os dois já eram amantes. Outro amante; como se a reputação dos Black não estivesse machada o suficiente. Há alguns meses, o pensamento sequer cruzaria a mente de Narcissa; sua irmã jamais se deixaria desrespeitar. Mas agora... Agora a mais jovem Black não podia ignorar as noites que Bellatrix passava fora, sempre na companhia de Lorde Voldemort, por quem ela se declarava apaixonada. O que eles faziam era óbvio; e o que mais incomodava Narcissa era a anuência silente de Cygnus, como se ignorar aquele novo problema o fizesse desaparecer.

Respirando fundo, a herdeira se obrigou a desviar o olhar daquela cena. Precisava de distrações; e, sem sinal dos Malfoy cruzando o portal para a estação 9/2, a jovem se voltou para os seus familiares.

– Eu acho que devo ir.

– Já? – Alphard disse, com o seu sorriso cálido. – Você não vai esperar pelo seu noivo conosco, Cissa?

– Eu sei que isso seria o apropriado, tio; mas o trem sai em alguns minutos, e eu tenho que falar com o Prof. Slughorn sobre as minhas novas atribuições como Monitora. Eu acho que já esperei demais por Lucius.

– Ela tem razão. – Cygnus disse, abraçando a filha. – Abraxas já deveria estar aqui, se ele quisesse que as crianças tivessem um tempo juntos antes de embarcar. Boa sorte esse ano, Cissa.

– Obrigada, pai. – Narcissa disse com um sorriso, antes de abraçar a mãe. – Eu escreverei com frequência, mamãe. Mande um beijo para Bella.

E, se despedindo rapidamente dos seus tios, Narcissa se encaminhou para o trem – mudando a sua rota assim que viu Anabella Nott despachando as suas malas.

– Ana! – Narcissa exclamou ao se aproximar; mas o olhar que a jovem lhe reservou não era amigável. – Algo aconteceu?

Como resposta, Anabella procurou a mão direita de Narcissa e olhou friamente para a esmeralda que Lucius havia lhe dado no mês anterior. A jovem Black fechou os olhos; seu coração se enchendo de culpa quando percebeu o que estava acontecendo: Anabella sempre nutrira uma paixonite por Lucius. Aos olhos da garota, Narcissa lhe traiu ao aceitar o noivado.

– Me diga que isso é mentira, – Anabella exigiu; e Narcissa queria dizer à sua amiga como aquele noivado aconteceu. Ela queria dizer que aquilo não era o que ela desejara, que ela não sentia nada por Lucius, e que ela queria, tanto, que as circunstâncias fossem diferentes. Mas, Narcissa sabia, aquelas verdades pertenciam somente à ela. Em um ano ela seria a esposa de Lucius; tinha que respeitá-lo desde agora. Então, em vez de dizer o que queria, Narcissa apenas corou e desviou o seu olhar. – Eu sabia! Você passou o ano inteiro se aproximando de Lucius; já querendo que isso acontecesse, não é? E o Ludo? Como você disse a ele que não o queria mais como marido... não quando tinha um Malfoy disponível?!

– Muita coisa aconteceu nesse verão. – Narcissa se limitou a afirmar.

– Aconteceu, mesmo. Eu perdi a minha melhor amiga. – Anabella balançou a cabeça. – Você sabe que eu gosto de Lucius; e você ficou noiva dele sem nem me avisar! Isso foi o pior, sabia? Você fez isso pelas minhas costas! Cissy, eu fiquei sabendo pelos meus pais!

– Eu sinto muito.

– Não sente, não. Você nunca achou que eu tinha nenhuma chance com o Lucius, então você--

– Ela estava certa. – Narcissa mordeu o lábio ao ouvir a voz do seu noivo, que veio interromper a conversa e piorar a sua situação com Anabella. – E, convenhamos, você também sabia disso, Anabella. Eu fui claro. – A jovem Black tentou não se afastar quando sentiu a mão dele repousar em sua cintura. – Olá, Narcissa.

Com um sorriso automático aparecendo em seus lábios, a jovem olhou para o seu noivo.

– Lucius – Ela cumprimentou. – Não é educado interferir numa conversa entre duas amigas.

– A conversa acabou. – Anabella disse, antes de sorrir tristemente para o herdeiro Malfoy. – Parabéns pelo noivado, Lucius. Eu espero que você consiga ser feliz.

– Obrigado. – Ele murmurou com desdém enquanto a jovem Nott se afastava. – Eu sei que Anabella era sua amiga, mas você será uma Malfoy logo, Narcissa. Ela não é adequada para você.

Narcissa franziu o cenho.

– Ela vem de uma boa família, Lucius.

– Mas ela não presta; confie em mim. – E Narcissa soube exatamente ao que Lucius se referia. Seu estômago revirou-se à ideia de que a sua amiga se deixara desfrutar daquele jeito.

– Entendo. Você foi o responsável?

– Ela foi. Não a forcei a nada nem fiz nenhuma promessa. Agora... – Ele disse, sua expressão mudando para um sorriso frio enquanto ele tirava a mão da cintura de Narcissa e posicionava o braço para que ela o tomasse, reafirmando a todos que eram um casal. – Nós devemos ir. Tenho que lhe apresentar aos novos Monitores da Sonserina.

– Claro...

Incerta, Narcissa enlaçou seu braço ao de Lucius e deixou-se ser guiada para o Hogwarts Express.

Aquela era a primeira aparição pública deles como um casal desde o noivado. E, tal qual era esperado por se tratar da união de duas famílias que beiravam a realeza, os olhares de curiosidade e admiração foram abundantes. A jovem Black esperava se sentir acuada ao obter tanta atenção por um evento indesejado... mas, ao finalmente se deparar com a reação das pessoas, ela sentiu algo completamente diferente.

Narcissa teve orgulho. Orgulho, como há muito tempo não se sentia.

Nos últimos dois meses, a jovem tivera que andar cabisbaixa; sabendo que todos os comentários que aqueles que a olhavam eram sobre a sua irmã. Eles eram sobre desonra, vergonha e traição. Mas, agora, todos a olhavam, mais uma vez, como Narcissa merecia – tanto pela sua descendência e pelo seu caráter. Assim, naquele momento era muito difícil se importar com os sentimentos magoados de Anabella, ou com o fato de que ela não queria ter Lucius ao seu lado. Naquele momento, a jovem apenas quis, de cabeça erguida, aproveitar o sentimento de ser Narcissa Black novamente.

– Você vai gostar de ser Monitora. – Lucius comentou, alheio aos olhares. – Você gosta de seguir regras, e as pessoas da Sonserina têm respeito por você... principalmente agora.

– Eu sou respeitada pelos meus próprios méritos, Lucius.

– Sim; mas agora será mais. Você sabe que nós formamos o casal mais notável dos últimos anos, certo? E não apenas em Hogwarts.

– Uma união entre Blacks e Malfoys era esperada há muito tempo, eu sei.

– E ela finalmente está acontecendo. – O casal entrou no trem e, antes de procurar os outros Monitores, Lucius guiou Narcissa para uma cabine até então vazia. – Aqui está bom. Sente-se. Nós temos algumas coisas para discutir.

Narcissa assentiu, observando Lucius com curiosidade embora, de certa forma, ela já soubesse o assunto daquela conversa. Eles passariam os próximos meses morando na mesma propriedade, tendo que fingir que aquele noivado era mais que apenas um contrato. Para ser convincentes, eles precisavam de uma estratégia.

– Estabelecer regras? – Ela perguntou com um pouco de humor

– Mais ou menos. – Lucius sentou-se de frente para a sua noiva. – Eu queria saber o que você espera desse ano.

– Eu não sei, Lucius... Eu acho que esse ano é uma oportunidade para nos conhecermos antes de... – A jovem corou um pouco, ao pensar nas consequências óbvias do casamento. – Antes de tudo. Ano passado nós começamos a formar uma amizade, e talvez devêssemos continuar nesse caminho.

Talvez. Mas eu não tenho tanto tempo quanto no ano passado. Eu prestarei o NIEM’s, eu tenho uma taça de Quadribol para vencer, eu tenho que começar a pensar na minha carreira política...

– Nós podemos pelo menos ficar juntos durante as refeições. E nos passeios em Hogsmeade, datas comemorativas, eu naturalmente irei aos jogos de quadribol--

– Quanto à isso: você sabe da minha pequena tradição antes dos jogos.

Sim; todos sabiam. Lucius sempre beijava alguém antes de um jogo – e ano passado, uma dessas pessoas fora Andromeda. Mais uma vez, Narcissa corou. Tentou manter a sua expressão séria, mascarando o seu receio.

– Eu não vou beijar você, Lucius. – Disse firmemente.

– Nós somos noivos.

– Mas não somos casados. E você sabe que eu não... – Narcissa interrompeu-se, respirando fundo. – Eu ainda não sinto nada por você. E enquanto for assim, você não me tocará. Não enquanto permitir não for a minha obrigação.

A expressão de Lucius não se modificou, exceto por um tensão em seu maxilar. Ele não gostava de ser contrariado; Narcissa sabia.

– Como você quiser. – Ele disse; e Narcissa se perguntou, por um instante, se existia uma mensagem oculta ali. – Antes dos jogos, no entanto, é uma obrigação. Assim como foi o beijo no nosso noivado.

– São apenas três jogos.

– Exato – Lucius olhou um pouco mais frio para Narcissa. – E... As notícias em Hogwarts correm rápido, como você sabe. – A jovem ergueu uma sobrancelha. – Seus pais têm interceptado as suas cartas à pedido do meu. Na escola isso não será mais possível.

Mais uma vez, o coração de Narcissa saltou à ideia de que Ludovic não desistira dela. E, por mais que ela não quisesse admitir nem para si mesma, a jovem se encheu de esperança ao saber que receberia novamente mensagens dele.

– Como você mesmo disse, Lucius, nós somos noivos. Eu vou respeitar você.

E, naquele momento, ela foi sincera.

XxXxXxX

Erm... oi? Postando hoje pra ninguém dizer que não teve capítulo novo esse ano... O tempo tá curto, mas eu não vou abandonar a fic. Juro. E fiquem comigo, que no próximo capítulo teremos o casamento de Andromeda e Ted!

E mando milhões de beijos para as meninas que comentaram o capítulo passado: Senhorita Beca (para Bellatrix, perder a virgindade para se tornar Comensal foi um atalho – ela precisava se tornar Comensal naquele momento, e essa foi a maneira. Agora, não vamos esquecer que ela [acha que] está apaixonada por Voldie; esse é o principal motivo de ela continuar com ele – tanto que ela continua com intenções românticas com ele. E quanto à Alecto [e Rodolphus]: cenas dos próximos capítulos. Não se preocupe, não esqueci deles [e, garanto, nessa fic Rodolphus não é o babaca normalmente mostrado), Lia Croft, Duachais Seneschais, Mandy Brixx, Lizaaa, Jullynha, danielarteixeira (a primeira vez de Bella não foi bonita nem romântica, por isso não escrevi mais sobre ela. Tentei, até; mas me deixou beeem desconfortável), VyGranger, HeloCullenPotter, patricia.lira.940, Siremele, Zinha Br, Shakinha, Ana Holmes, Annie PWM e CapituFiction (é basicamente isso; como eles sabem que ela passa as noites com Voldemort, eles não fazem nada. É a forma Black do ‘don’t ask, don’t tell’; eles simplesmente fingem que nada está acontecendo; até porque, para eles, por ela estar com Voldemort, nos olhos da sociedade ela não está cultivando um escândalo). E também tem as meninas do Nyah!: wordslover, Loire Caroline, CindyRiddle, Leh-chanx3, Primadonna e Julia Nunes.


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