Toujours Pur: Coroação escrita por GabrielleBriant


Capítulo 2
Caos




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II

CAOS

A Casa Rosier era amplamente conhecida por ter certas peculiaridades na forma de criar os seus membros. Apesar de ter fincado raízes da Grã-Bretanha há três séculos, asilados pelo soberano Inglês depois de dilapidar os cofres parisienses junto ao fanfarrão Luís XV, eles ainda se portavam como mandava a tradição bruxa francesa – aos seus olhos, afinal, os modos ingleses eram vulgares demais. Eles ainda tinham o romantismo, a espiritualidade e o amor pelas belas artes, pelo boêmio e, naturalmente, pela culinária.

E, se há algo que se podia dizer sobre a esposa do patriarca Black, era que ela era Rosier até o seu âmago. Druella nunca considerou o Reino Unido como a sua casa, apesar de ter nascido e sido criada em Londres. Ela escolheu não estudar em Hogwarts, ela fazia questão de visitar a sua querida Marselha pelo menos uma vez ao ano... E, tal qual os tradicionais bruxos franceses, a mulher acreditava fortemente que a comida preparada por mãos de elfos não era digna de ser servida a bruxos.

Quando Cygnus casou-se com a outrora jovem, ele não sabia daquilo. E, mesmo que ele negue piamente e diga que aquilo é uma bobagem, Druella tinha certeza que o carinho que ela colocava na comida do marido foi um dos fatores que o fez amá-la tão depressa.

As três jovens Black já tinham ouvido aquela história milhares de vezes – desde que eram muito pequenas, Druella as levava para a grande cozinha da Mansão e tentava convencê-las do quão importante era para um casamento que mulher soubesse preparar as refeições do seu marido. Andromeda nunca gostou muito de cozinhar, embora se sobressaísse no preparo de sobremesas; Bellatrix cansava-se facilmente e geralmente não tinha paciência para esperar o tempo dos alimentos; mas Narcissa... ah, Narcissa gostava de passar horas na cozinha com a mãe, sabendo que, enquanto fazia aquilo, ela se tornava um pouco menos Black e um pouco mais Rosier.

Naquela manhã, ela se juntara à mãe sem sequer ser chamada. Apesar de a ideia ainda lhe ser muito surreal e assustadora, a jovem não podia esquecer que logo teria a sua própria casa e suas próprias responsabilidades. E, sabendo que não passaria a maior parte dos seus últimos meses de solteira com a mãe, decidiu que era tempo de se dedicar um pouco mais aos seus pontos fracos na culinária – afinal, ao se tornar uma mulher casada não exigiria de si menos que a perfeição.

E, além de lhe ser útil, aquilo era uma distração.

Suspirando, Narcissa virou na panela o brouillade de truffes que estava quase pronto – a consistência estava ficando bonita, diferentemente das últimas vezes que a jovem houvera tentado a receita.

- Muito bom, querida. – Druella disse, aproximando-se da filha. – Acho que podemos começar a servir?

- Sim. – Narcissa, olhou para a mãe de soslaio. – Acho que sim. As torradas estão no forno já devem estar no ponto.

- Hm... – Ela disse, encaminhando-se ao forno e olhando para as torradas que Narcissa tinha ajudado a preparar. – Talvez um pouco mais de manteiga para o paladar pouco refinado de Cygnus... – Narcissa deixou escapar uma pequena risada; que foi interrompida pela voz da sua mãe em seu raríssimo tom ríspido. – Não toque nisso! O que você está fazendo?!

Confusa, Narcissa olhou para o canto esquerdo da cozinha e logo entendeu – Dielle, a elfa mais nova da casa, estava prestes a tocar na bandeja de brioches.

- A menina Bellatrix pediu que Dielle a servisse, senhora Druella.

- A senhora dessa casa sou eu, e não a menina Bellatrix! Eu já disse: o seu tipo não toca na comida dessa casa a menos que eu ordene. Entendeu?

- Sim, Mestra Rosier-Black.

- Puna-se. – Narcissa torceu o nariz e se concentrou em terminar a sua receita. – Não na cozinha! Recolha-se e puna-se! Eu chamarei quando acabarmos o café da manhã!

- Sim, Mestra Rosier-Black.

A pequena elfa deixou a cozinha e, desligando o fogo e começando a trabalhar na apresentação do prato, a jovem Black comentou:

- Criaturas terríveis... Quando tiver minha casa, elas não serão permitidas na cozinha.

- Eu tentei fazer isso quando me casei com o seu pai, mas ele era tão acostumado a ideia de ter essas coisas o servindo, que de vez em quando os pediam para lhe servir bebidas ou algum lanche. Foi difícil convencer Cygnus de que elas só serviam para tirar o pó e limpar banheiros... imagine, ele as deixava servir convidados!

- Deixava? Que escândalo... mesmo em festas?

- Mesmo em festas. Ele era particularmente afeiçoado aquele todo enrugado que está morando com Orion e Walburga, agora.

- Monstro?

- Sim; o Monstro. – Druella disse com desprezo. – Você consegue me imaginar dividindo a casa com um criatura chamada Monstro? Ele me causava tanto asco, que quando estava grávida de Bellatrix eu não conseguia chegar peto dele. Por isso Cygnus o devolveu; se você quer saber, foi um dos melhores presentes que já ganhei.

- Ele é obediente, pelo menos. Não consegue chegar nem perto dos sangues-ruins... Mas eu entendo; também não gostaria de tê-lo como servo. Tia Walburga é estranha, no entanto. Colecionar cabeças e elfos mortos... é ultrajante!

- Cygnus apreciava a coleção; havia uma aqui em Winterisel. Eu mandei queimar. Seu pai não gostou mas, no fim das contas, é a senhora da casa quem decide o que fica dentro dela. Não se esqueça disso, minha querida... e deixe a sua marca quando for morar com os Malfoy; é sempre bom reafirmar ao marido e aos sogros quem é a senhora da casa. – Druella se aproximou novamente, agora com um garfo. Sem comprometer a apresentação do prato, ela pegou um pouco para provar. – Perfeito. Essa tarde eu prepararei alguns doces; me ajuda?

- Claro.

- Muito obrigada, querida. Vamos servir o seu pai.

Com a auxílio das suas varinhas, mãe e filha levaram até a sala de jantar as bandejas do café da manhã que, sim, era um pouco farto considerando que apenas haviam quatro pessoas para apreciá-lo.

Sentados à mesa de jantar, Cygnus e Bellatrix já esperavam pela refeição – ele tomando um chá e ela um pouco de café, enquanto discutiam quaisquer novidades enfadonhas do Ministério da Magia ou da atual guerra.

- Aqui está. – Druella disse com um sorriso, sentando-se ao lado do seu marido. – Bom dia, minha querida.

- Bom dia, mãe. – Bellatrix respondeu; ao esticar o seu braço para pegar uma pêra, Narcissa notou um profundo corte no braço na irmã. Mordeu seu lábio, sabendo que não deveria fazer perguntas. – Vocês pareciam estar numa conversa animada lá dentro.

- Provavelmente não tão animada quando a de vocês. Falávamos sobre o futuro de Narcissa e seus elfos domésticos.

Cygnus olhou, um tanto brincalhão, para a filha mais nova.

- Você acredita nas mesmas bobagens que a sua mãe, não é?

- Em minha casa eles não entrarão na cozinha, no meu quarto ou cuidarão dos meus filhos.

- Quero ver como Eleanor vai reagir a isso... – Ele comentou, olhando então para Druella. – Ela sempre disse que vocês, Rosier, se achavam melhores que os demais; por isso não deixavam os elfos cuidarem da casa.

- Os Rosier não são culpados por aquela mulher conseguir fritar um ovo nem a sua vida dependesse disso. – Druella disse sarcástica, bebericando o seu café. – Lucius tem muita sorte de ter minha filha como noiva. A propósito, Narcissa, eu estava pensando: o chalé de vovó na Marselha; talvez a sua lua de mel possa ser lá.

A jovem corou violentamente ao ouvir falar em sua lua de mel.

- Eu... Eu acho que a Sra. Malfoy é quem deve escolher isso.

- É o mais apropriado, sim; no entanto eu não sei se Eleanor está tão feliz com esse noivado. Nós já fomos amigas; eu sei o quão amarga ela pode se tornar. A última coisa que eu quero é ver você passar os seus primeiros dias de casada congelando com os soviéticos!

- Nós fomos para Moscou em nossa lua mel. – Cygnus tentou.

- Eu lembro. Eu o amo, Cygnus, mas a nossa lua de mel foi terrível! – Druella riu. – Ninguém deve passar os primeiros dias de casada no frio. Certamente não a nossa Narcissa!

- Mamãe, eu realmente não quero conversar sobre lua de mel.

- E quero! – Bellatrix disse, ignorando o motivo do apelo da irmã. – Eu vou escolher o destino da minha... e será um lugar exótico. Quente, é claro; interessante, diferente... com novos sabores e cheiros. Estou pensando na Tailândia.

- Você deveria começar procurando um noivo, Bellatrix. – Druella sugeriu bem-humorada.

- Então, sobre isso... Nathaniel Yaxley me ofereceu um jantar.

As duas outras mulheres da mesa olharam para a primogênita Black com a mais pura curiosidade. Afinal, depois de ser deixado no altar por Andromeda, era de se imaginar que Nathaniel quisesse manter uma boa distância das irmãs Black... em especial de uma que já cancelara três casamentos.

Cygnus, no entanto, não pareceu tão surpreso. O seu rosto contorceu-se em desagrado, e o seu tom era pesado quando disse:

- O que esse moleque quer é pegar um pouco mais dos nossos cofres!

- Papai, eu acho que Nathaniel é um pouco velho para ser chamado de moleque.

- Um homem faria a sua própria fortuna, isso sim! Ele lucrou muito bem com o escândalo que aquela lá criou; e agora quer repetir a dose se tornando o seu noivo.

Bellatrix deu de ombros, mas estava intrigada. Pois, se aquele era o plano de Nathaniel, ele tinha escolhido a Black certa.

- Nunca lhe ocorreu que talvez ele se sinta atraído por mim?

- Acredite, ele é mais atraído pelo seu ouro... aliás, pelo meu ouro. As negociações do noivado anterior dele não tiveram nada de românticas.

- Assim o senhor me ofende, papai. – Bellatrix brincou com um tom atrevido. – Mas, ainda que ele queira o nosso ouro, por que isso importaria? Eu farei vinte e um anos em poucos meses; muito em breve nem mesmo todo o ouro do mundo me comprará um marido.

- Nisso você tem razão. – Cygnus concordou, o que fez Bellatrix corar um pouco. – E, mesmo sendo um verme, ele é um Yaxley. Eu preferiria que você me deixasse procurar outros pretendentes, mas, se você quiser ele, muito bem. Apenas saiba de uma coisa, Bellatrix: eu não vou tolerar outro cancelamento.

- Mas papai, o senhor é tão bom em lidar com eles...

O rosto de Cygnus enrubesceu-se e Narcissa já podia prever que o café da manhã seria arruinado pelo atrevimento de Bellatrix. No entanto, antes que Cygnus começasse a esbravejar qualquer coisa, um dos elfos entrou na sala de jantar trazendo o correio do dia.

À Cygnus ele entregou o jornal e a Druella algumas cartas. E então, com um envelope e um pacote em mãos, ele se encaminhou para Narcissa.

- Espere. – Druella interrompeu o elfo antes que a sua filha alcançasse a sua correspondência, seu olhar para a criatura espelhando pura frieza.

- São cartas de Hogwarts, Mestra Rosier-Black.

- Muito bem; entregue-as.

Narcissa olhou rapidamente para a mãe, descobrindo o motivo de não mais ter recebido cartas de Ludovic. A interceptação não a surpreendia... e também não a chateava, na verdade – afinal, era para o seu próprio bem. A única coisa que Narcissa não gostou foi de sentir o seu coração acelerar ao saber que Ludovic não a esquecera. Que ele não desistira.

Pegando da mãos do elfo a sua correspondência, Narcissa foi primeiro à carta. Nela, um pedaço de pergaminho anunciava o resultado dos seus exames – o rosto da garota contorceu-se em desagrado.

- Dois E's. – Ela disse, olhando para o pai sem esconder o seu desapontamento. – Herbologia, Trato de Criaturas Mágicas.

- Você tirou E em Herbologia? Eu esperava mais de você, Narcissa.

- Eu esperava mais de mim.

- Ah, Cissa, não seja tão exigente! – Bellatrix disse, debruçando-se sobre a mesa para tomar o boletim da mão da irmã. – Olhe isso: Ótimo em todas as matérias que interessam! E se saiu bem até mesmo em Adivinhações: Aceitável, enquanto eu a And... – Bellatrix mordeu o lábio e tratou logo de se corrigir. – Eu e a outra ostentamos belíssimos Deplorável! Quem se importa com Herbologia e Criaturas Mágicas? Cuidar disso é coisa de serviçal; nós nunca precisaremos!

Narcissa não respondeu; não era fácil pra ela explicar à irmã porque fazia questão de ser tão perfeita. Bellatrix nunca entenderia, sendo tão inconfundivelmente Black...

Pronta para tirar os seus resultados pouco satisfatórios de sua mente, ela abriu o pacote. E o que estava dentro, ela tinha de admitir, a surpreendeu. Um distintivo de Monitora, tal qual Lucius prometera lhe providenciar.

- Oh. Parece que Slughorn quer se redimir...

- Deixe-me ver isso. – Cygnus disse, estendendo a sua mão para o distintivo. – Ele não fez nada além de ser sensato. Você deveria ter posto as mãos nisso aqui há um ano. – E então, olhando novamente para a sua filha mais nova, o homem lhe sorriu. – Estou muito orgulhoso, Cissa.

- Obrigada.

- Estranho... – Bellatrix comentou. – O velho Slughorn não compraria uma briga com os Flint. Especialmente agora, que nós não estamos exatamente no topo da sociedade bruxa. O que você fez para convencê-lo, irmãzinha?

Narcissa apenas olhou para o distintivo nas mãos do pai, sabendo que os seus próprios méritos não tinham absolutamente nada a ver com aquele presente de Horace Slughorn. Não; ela o devia a alguma chantagem política feita pelo seu futuro sogro. Mas o seu pai estava orgulhoso; ela não o privaria daquilo... e, naturalmente, a jovem jamais admitiria que precisou de ajuda para conseguir algo que claramente era seu.

- Absolutamente nada, Bella. Eu o lembrei que a amizade dos Black é mais valiosa que a dos Flint na minha primeira semana de aula, e nunca mais toquei no assunto. Talvez esse foi o tempo que ele precisou pra refletir.

- Talvez. Mas, sabe, é bom ver as coisas voltando aos eixos. – Narcissa ergueu uma sobrancelha para a sua irmã. – Você sabe; você sendo a filha perfeita e preferida.

- Isso soou como inveja, irmã – Narcissa alfinetou em tom jocoso.

- Talvez seja. – Bellatrix sorriu-lhe sarcasticamente. – Talvez eu saiba que enquanto você está em evidência, eu posso fazer o que quiser.

- Você ainda é uma Black, minha querida. – Druella lembrou à filha mais velha. – Você sempre viverá primeiro para o seu nome.

- Sim, sim... mas não buscando a perfeição, mamãe. Perfeito é muito calmo; eu sempre preferi o caos.

Mais uma vez, Narcissa não respondeu. A jovem apenas se perguntou como seria se jogar ao caos... Bellatrix o fazia sempre que se encontrava com os Comensais da Morte e o infame Lorde Voldemort. Andromeda também o fez, se jogando na cama e na vida de um nascido trouxa imundo. E todas as duas pareciam muito mais felizes que a mais jovem, ainda presa em sua redoma de vidro.

- Menina Narcissa? – A voz aguda de um elfo qualquer trouxe a garota de volta à realidade. – O jovem Malfoy está aqui.

O coração de Narcissa, por um segundo, parou. Ela não vira Lucius desde o noivado, e realmente esperava apenas encontrar o garoto quando ambos estivessem embarcando para Hogwarts. Ela não estava pronta – ela não estava pronta para agir como uma noiva, ela não estava pronta para... fingir.

Ainda assim ela olhou para a grande esmeralda em seu anelar direito, respirou profundamente, colorou o guardanapo de algodão sobre a mesa e se levantou. Pedindo licença aos seus pais, a herdeira deixou a sala de jantar e se encaminhou para o hall de entrada da Mansão Black.

Lucius a esperava olhando para as fotos que moviam-se sobre a grande lareira. Mesmo só, a sua postura era altiva – corpo perfeitamente alinhado, o queixo pontudo erguido em superioridade, mãos sem seus bolsos, mas não de uma forma que sugerisse que ele estava relaxado. Ele era a imagem da realeza; pelo menos isso Narcissa tinha que admitir. E, se um casamento arranjado era o que estava em seu destino, ela certamente poderia ter sido entregue a noivos piores.

Lucius era perfeitamente apropriado. E, enquanto ela se aproximava do jovem, Narcissa pensou no caos que era Ludovic... o como aquilo a fazia sorrir.

- Lucius. – Ela chamou a sua atenção, fazendo com que o jovem se virasse. Não havia muita sinceridade no sorriso dele.

- Narcissa. Você está muito bonita. – Lucius elogiou automaticamente.

- Obrigada. Estávamos tomando café da manhã; não quer se juntar à nós?

- Talvez outro dia... aliás, teremos a vida inteira para tomarmos café da manhã juntos, não? – Narcissa limitou-se a sorrir secamente àquilo. – Bem, minha mãe apontou essa manhã que nós não nos falamos desde o noivado.

- O pensamento também me ocorreu. Mas nós teremos a nossa vida inteira para nos falar, não? – Os olhos acinzentados de Lucius cerraram-se discretamente; mas o seu sorriso continuou congelado em seu rosto. – Me acompanha até o jardim?

- Claro.

E, dizendo isso, o jovem tomou o braço da sua noiva com o seu e a guiou para a grande porta de madeira que ainda estava aberta.

Os jardins da Mansão Black eram belíssimos durante o verão – as flores e a grama ainda ostentando as cores da primavera devido aos cuidados de Druella, que jamais deixaria o calor estragar a entrada de sua casa. Apesar do visual agradável, no entanto, Narcissa sabia que a temperatura não deixaria que os noivos ficassem nos jardins por muito tempo... e a jovem contava com isso para fazer daquela visita inconveniente algo rápido.

Lucius não parecia incomodado, apesar dos planos de Narcissa.

- Como você tem passado? – Ele perguntou; mais para quebrar o silêncio do que por se importar.

- Estou bem. Recebi hoje o distintivo de monitora; foi bom saber que você cumpre as suas promessas.

- Eu sou um Malfoy, Narcissa; nós levamos a nossa palavra muito a sério. – Lucius olhou para a sua noiva e os seus lábios se curvaram sarcasticamente. – É por isso que não prometemos muito. – Narcissa se permitiu uma risada discreta. – Eu também recebi o meu distintivo de Monitor-Chefe essa manhã, como esperado. Próximo ano você terá o seu.

- Por que seu pai se certificará disso?

- Não acho que vá ser necessário. No próximo verão você se tornará minha esposa; Slughorn não vai deixar que tirem esse distintivo de você. – Ele disse, enquanto guiava Narcissa para o gazebo que fora dado pelos Malfoy aos Black. – Nós somos muito mais políticos do que os Black; você vai perceber isso logo.

- Eu sei, Lucius; lembro da sua ambição de se tornar Ministro da Magia.

- Não pensei que você prestasse atenção no que eu digo.

- Não pensei que você tivesse uma impressão tão ruim de mim.

Lucius suspirou, sentando-se no banco de madeira e olhando pensativo para as fontes do jardim.

- Não é uma má impressão, Narcissa; mas você nunca escondeu que não gostava de mim.

- Nós praticamente não nos conhecíamos, e então você se aproximou de mim com o único objetivo de acabar o meu noivado. É claro que eu não gostei da sua atitude, Lucius! No entanto... – A jovem mordeu o lábio e, mesmo com o seu instinto lhe dizendo para manter-se longe, sentou-se ao lado do herdeiro Malfoy. – No entanto eu gosto de acreditar que nós estávamos cultivando uma amizade. E, se vamos passar as nossas vidas juntos, talvez devamos continuar.

- Bem... – Lucius a olhou; e os seus olhos acinzentados estavam menos frios do que o normal. – Eu não posso dizer que não me diverti naquela festa de Slughorn.

- Nem eu. Eu ainda tenho o lírio de cristal que você me deu. – A sobrancelha de Lucius ergueu-se em descrença. – É verdade! Foi um gesto bonito; eu não pude jogá-la fora.

- Você devia; aquela flor não é nada.

- No futuro, ela será o primeiro presente que o meu marido me deu – Narcissa sorriu. – A mim parece algo que vale a pena ser guardado.

As palavras da jovem foram sinceras e displicentes; e Narcissa não as proferiu com nenhuma intenção romântica – afinal, o seu coração ainda estava ocupado, e não era pelo herdeiro Malfoy. Com o olhar perdido nas rosas de Druella, a jovem não viu a expressão confusa do seu futuro marido.

XxXxXxX

O feminismo era uma realidade – desde meados da década passada novas ideias sobre o papel na mulher na sociedade eram difundidas indiscriminadamente no mundo mágico e trouxa... mas, na alta sociedade bruxa, as jovem a elas se mantinham alheias – conservando o pensamento retrógrado das suas antepassadas de que uma mulher tinha que viver a sua vida para perseguir um bom casamento e uma família digna.

Andromeda Black não era uma exceção àquelas jovens. Desde de criança ela se imaginava casando na primavera com um leve vestido branco e flores em seus cabelos; ela imaginava prometer-se a um homem que, embora sem rosto, ela sabia amar profundamente; ela se imaginava cuidando dele, e da casa dele, e tendo os filhos dele – na sua própria versão fantasiosa da vida dos seus pais que, quando criança, ela reputava perfeita.

No fim das contas, a jovem Black se negou o perfeito – e ela sabia muito bem disso. Theodore, apesar de maravilhoso, jamais poderia dar a Andromeda o que ela foi levada a acreditar que merecia. Ela nunca mais seria completa novamente, pois, no momento em que escolheu viver ao lado do nascido trouxa, Andromeda abdicou de si mesma; ela abriu mão do que lhe definia, de tudo o que ela era.

No entanto – e ela sorria todas as vezes que racionalizava assim –, quando ela era criança e imaginava o seu futuro, tudo girava em torno de tornar-se esposa do homem que amava e ter os filhos dele. Apesar dos pesares, ela estava vivendo aquilo... então, ela tinha certeza, era apenas uma questão de tempo até a jovem se sentir feliz novamente.

De pouco tempo, ela concluiu, ao abrir a carta oficial que naquela manhã fora entregue em sua nova casa.

- Está marcado. – Ela anunciou com um sorriso, alto o suficiente para Theodore ouvir apesar de o chuveiro ligado no pequeno banheiro do quarto deles. – Nos casaremos em três semanas.

Theodore colocou a cabeça para fora do banheiro – seu cabelo molhado respingando o chão de madeira do quarto. A jovem riu, tanto pela expressão de felicidade abobalhada no rosto dele, quanto ao imaginar a bagunça que estava fazendo no pequeno cômodo.

- A carta chegou?! Até que enfim!

- Só demorou dez dias, Ted. – Ela disse, levantando-se da cama e se aproximando do noivo para dar um beijo leve em seus lábios. Como geralmente acontecia, ele abriu totalmente a porta do banheiro e agarrou a cintura de Andromeda, trazendo-a pra si e molhando a camisa com a qual ela dormir ao encostar o seu corpo nu ao dela. – Pare... – Ela riu. – Ted, você vai se atrasar!

- É a minha despedida de solteiro, 'Dromeda! E a sua também!

- Não é assim que as jovens da alta sociedade comemoram um noivado, sabia?

- Mas você é escória agora! – Ele brincou; seus beijos migrando da boca para o pescoço da jovem... que naquela manhã estava tão feliz que achou graça da piada do noivo. – A respeitável senhorita Black não existe mais!

- Não... – Ela mordeu o lábio quando as mãos de Theodore passaram a explorar um pouco mais do que ele devia. Antes que perdesse a sua concentração, a jovem segurou os cabelos do seu noivo e puxou-os para que ele a olhasse. – E nem me tornarei a respeitável Sra. Tonks se você perder o emprego.

Theodore se afastou um pouco, olhando para a sua noiva com um sorriso meio malicioso.

- Se você quiser viver em pecado, por mim tudo bem.

- Ted! – Ela o empurrou gentilmente. – É sério! É a sua na primeira semana de trabalho. Eu não quero que você tenha problemas.

- Que nada; Dumbledore me arranjou esse emprego! Ninguém vai me demitir.

Ao ouvir o nome do diretor de Hogwarts, Andromeda se sentiu o seu coração encher-se de angústia. Alguns dias já tinham se passado desde que Theodore lhe revelara que Dumbledore queria a sua ajuda para se insurgir contra Lorde Voldemort; e desde então os noivos não tocaram mais no assunto. De fato, Andromeda não queria nem pensar no assunto. A guerra estava cada vez menos silenciosa. Todos os dias os jornais reportavam novos desaparecimentos de trouxas, mestiços e traidores do sangue... Poucos apareciam – mortos ou pior.

A jovem vira Comensais da Morte apenas duas vezes – e, na segunda, ela apenas sobreviveu porque foi reconhecida como a menina Black. Andromeda não era mais a menina Black; ela era a traidora do sangue. E Theodore era pior; ele era aquele que fez Andromeda trair a sua descendência. Aquela guerra não era lugar para eles.

- Dumbledore?

- Não se preocupe; ele não pediu nada em troca. – A jovem apenas crispou os lábios, a desconfiança muito presente em seu olhar. Finalmente, Theodore bufou e a soltou, voltando para o chuveiro. – Nós já discutimos isso, 'Dromeda! Você não quer que eu ajude Dumbledore, eu não vou ajudar Dumbledore... mesmo que você esteja errada.

- Você realmente acha que eu estou errada?!

- Claro que sim! Andromeda, tem gente morrendo!

- Nós não temos nada a ver com isso!

- Como não?! Se ninguém se colocar contra eles-

- Ah, Ted, por favor! – Ela disse; já impaciente. – Essa guerra não é nossa; ela não tem que nos atingir-

- Já nos atingiu! – Theodore desligou o chuveiro e se aproximou de Andromeda novamente; em seu rosto, uma clara tentativa de não ser ríspido com a noiva; mas a voz dele já estava alterada. – Meus pais-

- Então lhe atingiu; não a nós! Nada que aconteceu antes de você me engravidar conta-

- De eu lhe engravidar?! Você também participou!

- Que seja, Ted! Mas o fato é que eu sou a sua família agora; e você tem que cuidar de mim! De mim, e desse filho! E você não vai se arriscar-

- Não teria riscos-

- Como não, Ted?! Você viu o que eles fizeram em Hogwarts ano passado; você viu o que eles fizeram com os seus pais! Você diz que tem gente morrendo; e é justamente por isso que-!" – Andromeda respirou fundo, buscando um pouco de controle. – "Você está morando com uma Black; você afrontou não só meus pais, mas todo e qualquer bruxo de sangue-puro! E, Ted, adivinha só quem são os Comensais da Morte?! – A jovem mordeu o lábio. – Eu nunca vou me perdoar se eles fizerem algo a você. Então, por favor, pare de subestimá-los.

Theodore franziu o cenho, as palavras de sua noiva aos poucos fazendo sentido para ele. Por fim, ele tocou o rosto de Andromeda e a beijou levemente.

- Eu não tinha pensado nisso. Você realmente acha que eu sou um alvo?

- Nós somos. Nós três. – Não foi difícil perceber a sombra no olhar de Theodore ao ouvir aquilo. – Então... sei lá, Ted; quanto menos eles pensarem em nós, melhor. Por favor, se afaste de Dumbledore.

- Você tem razão. – Andromeda fechou os olhos e suspirou aliviada. – Você tem razão dessa vez, 'Dromeda. Eu vou dizer à Dumbledore que não posso ajudar.

E Andromeda acreditou em Theodore; porque para ela não existia nada mais importante do que o casamento e o bebê que estavam por vir. Ela acreditou, porque ela não tinha uma causa – ela podia facilmente ignorar os jornais e prosseguir a sua vida, como esposa e mãe.

Mas – e ela apenas perceberia isso meses depois – o seu noivo tinha uma causa. Ele tinha enterrado parentes e amigos; ele tinha sofrido e perdido por causa das pessoas que agora ele queria combater. Theodore queria justiça e vingança; e algumas poucas palavras da mulher com quem ele se casaria não teria força para mudar aquilo...

XxXxXxX

Reviews, por favor!

Obrigada às lindas que ainda estavam esperando pela fic ser postada – continuo com a minha desculpa de sempre: quero ser juíza federal, então tenho que estudar. Mas enfim. Bjus e mais bjus para: Paty Lira, Lie Malfoy (não vou fazer flashbacks entre o fim de Nobreza e o começo de Coroação porque pouco tempo se passou – apenas entre três semanas e um mês. Preferi pular o período mais deprê e já começar a fic com os Black e Andromeda seguindo em frente), Shakinha, LyraWolfang, Annie PWM (entre três semanas e um mês, apenas) e Ana Holmes. E também às meninas do Nyah!: Leh-chanx3, Sally Lannister (eu adoro Narcissa; mas tenho que admitir que escrevo as partes de Bellatrix com um pouco mais de carinho... E, Lannister! 3 ), wordslover, Anne Weasley, Gabriela Black Malfoy e Loire Caroline.

No próximo capítulo os Black na estação King Cross.


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