Toujours Pur: Coroação escrita por GabrielleBriant


Capítulo 1
Laços




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Todas as personagens que você reconhecer pertencem a J. K. Rowling. Eu não quero e nem vou lucrar com o que escrever.

.-.

TOUJOURS PUR

Coroação

Gabrielle Briant

.-.

I

LAÇOS

"Meu amor,

"Li hoje no jornal o anúncio do seu noivado com Lucius, mas eu não consigo acreditar. Eu não vou acreditar em uma só palavra até ouvi-las vindas da sua boca. Eu não vou acreditar que você, minha Narcissa, aceitaria se vender aos Malfoy e esquecer tudo que prometemos um ao outro. Eu não vou acreditar.

"Por favor, me escreva. Eu não aguento mais ficar sem notícias, eu preciso saber que nada mudou para você. Preciso saber que os seus sentimentos não mudaram e que esse noivado é apenas uma distração para a sociedade esquecer o escândalo de Andromeda enquanto não nos casamos. Neste inverno, se lembra? Eu ainda quero que isso aconteça!

"Saiba que eu nunca vou ficar parado enquanto perco você. Gosto de jogar pelos Flanders e aqui tenho muitas chances de rapidamente me tornar um titular, mas já estou mandando cartas para os times do Reino Unido na esperança de conseguir um teste. Caso isso não aconteça, largo o meu sonho de jogar profissionalmente, procuro um emprego qualquer e volto para você. Não posso ficar na Bélgica. Se você ainda me amar, eu vou lutar por nós.

"Eu te amo. Eu te amo.

"Sempre seu,

"Ludo."

Cada uma daquelas palavras já estava impressa na mente de Narcissa Black... depois de lê-las dezenas de vezes, era frustrante notar que o seu coração ainda reagia a elas igual à primeira vez – contorcendo-se em dor e culpa, fazendo com que a sua respiração se tornasse irregular e ela sentisse como se estivesse debaixo d'água.

Mas, em se tratando da alta sociedade bruxa, o coração geralmente fica no caminho da prudência – Narcissa sabia aquilo muito bem; tinha perdido uma irmã devido à cegueira que sentimentos causam. Narcissa tinha que focar em quem ela era – uma Black. A herdeira era a própria imagem da realeza bruxa, e o seu sangue e descendência eram muito mais importantes que o seu coração partido. Ludovic iria entender.

Ele tinha que entender; pois a ideia de magoar aquele garoto apavorava a jovem Black muito mais do que a perspectiva do seu infortúnio.

Suspirando, Narcissa concentrou-se em sua própria imagem – refletida no grande espelho da suíte principal da mansão Black. Concentrou-se no vestido marfim que descia até os seus joelhos e na renda que o adornada; concentrou-se nas pérolas e nos diamantes... concentrou-se na imagem das suas mãos, e no fato de que aquela era a última vez em sua vida que elas seriam mostradas assim: nuas. Em menos de uma hora, Lucius Malfoy colocaria em seu dedo uma enorme esmeralda... e, quando ele o fizesse, Narcissa estaria condenada. Ela era uma Black, afinal; e verdadeiros Black não voltam atrás ao dar a sua palavra.

Seu teimoso coração fez com que os seus olhos marejassem.

- Meu bem? – Narcissa ouviu a voz doce da sua mãe, e apenas então notou a porta do quarto aberta. Rapidamente, a jovem virou-se para encarar Druella, extirpando do seu rosto toda a sua tristeza e escondendo atrás de si o pedaço de pergaminho. – Narcissa, você está pronta?

- Eu- Já está na hora?

O rosto de Druella espelhou preocupação; e, tentando mascarar aquilo com um sorriso, ela fechou a porta atrás de si e se aproximou da filha.

- O garoto de Abraxas esperou um ano para se tornar o seu noivo. Ele pode esperar mais alguns minutos. – Narcissa fechou os olhos quando a mãe tocou o seu ombro. – Narcissa, eu não me importo que a nossa Casa esteja desprestigiada, mas o seu pai não será feliz enquanto não reverter essa situação... e, apenas por isso, eu quero que essa união aconteça. No entanto, se você não quiser ir em frente, meu amor, eu entenderei. Você tem escolhas.

- Papai diz que não.

- Ele dizia que não. Agora as coisas estão mais calmas, e o que Cygnus realmente quer é que você conclua que essa é a escolha certa. Se você sinceramente acreditar que não será feliz com o garoto Malfoy, ele entenderá. Seu pai a ama demais, Cissa; e ele jamais se permitirá perder outra filha por causa da honra.

Narcissa desviou o seu olhar.

- Papai criou muito bem três filhas, mas duas já o decepcionaram. Eu não serei a terceira, mãe. Eu não posso fazer isso com ele!

- Tampouco você pode se condenar à uma vida infeliz.

- Eu sou uma Black. – A jovem afirmou decididamente. – Ser uma Black não é gratuito! E eu não vou fugir do ônus do meu nome.

Druella sorriu amargamente.

- E dizem que você se parece comigo...

- Não pareço?

- Sim; mas agora eu apenas vejo Cygnus em você. Ele era apaixonado por uma jovem quando nos casamos, sabia? – Narcissa franziu o cenho. – Acredito que o nome dela era Gillian... Ele queria casar-se com ela, até saber que uma bela jovem Rosier e sua fortuna esperavam por um bom noivo. Ele colocou os Black em frente dos seus sentimentos, assim como você está fazendo agora.

- E foi o melhor para ele.

- Foi. – Druella concordou com um sorriso. – Alguns dizem que tivemos sorte.

- E tiveram?

- Um pouco; aliada à uma grande dose de boa vontade. Seu pai e eu procuramos nos conhecer, desenvolver carinho um pelo outro e, com algum tempo, amor. Meu bem, se você se empenhar-

- Esse meu casamento com Lucius não tem nada a ver com amor, mamãe. Nunca terá. É apenas um contrato.

Druella balançou a sua cabeça.

- Apenas se você quiser que seja assim.

- É como tem que ser. Amor não foi criado para pessoas como nós, e a senhora sabe muito bem disso!

- Eu amo o meu marido, Narcissa; e ele me ama. Nós somos felizes. Se você quiser, também pode ser.

- Não! Eu amo o Ludo! Como eu vou esquecer ele em apenas um mês?! E como eu vou conseguir perdoar Lucius por ter... – Ela corou profundamente pensando no que inevitavelmente aconteceria depois do seu matrimônio. – Eu me conheço; eu vou guardar esse ressentimento pelo resto da minha vida!

- Eu sei.

- Então não venha me dar esperanças de que-

- Eu... fiz uma coisa. – Druella informou à filha; o seu desconforto óbvio demais para ser ignorado. – Não foi nada grave ou vergonhoso, mas aborreceria o seu pai... então, por favor, não diga nada a ele.

- Claro...

- Eu conversei à sós com Abraxas. Você deve ter notado que o seu futuro sogro nutre uma certa... afeição por mim... – Narcissa assentiu. – Claro... Eu- Eu não joguei com as esperanças dele, filha; eu respeito demais o seu pai para sequer cogitar isso! Mas, mesmo sem dar esperanças, é difícil para Abraxas dizer não a mim. Quando ele anunciar a data do matrimônio será para o próximo verão, e não para esse.

Os lábios da jovem entreabriram-se surpresos; e, por um tempo, ela não soube como responder àquilo. O que Druella lhe oferecia não era uma libertação, claro... Mas ter um ano para se conformar com a ideia de se tornar uma Malfoy era muito mais do que alguém com a sua descendência e suas obrigações poderia querer.

Seria um ano para Ludovic, também. Narcissa poderia conversar com o jovem e se despedir dele... e, talvez, quando ela fatalmente perdesse a sua virgindade com outro, ele não se sentiria tão traído... nem Narcissa se sentiria tanto como uma traidora.

- Obrigada. – Foi tudo que a jovem conseguiu formular, depois de algum tempo.

- Não agradeça; aproveite a oportunidade. – Druella sorriu abertamente. – E você pode começar a fazer isso ao me entregar essa carta que você passou os últimos dois dias tentando esconder.

Corando profundamente, Narcissa estendeu o pedaço de pergaminho para a sua mãe. Respeitando a privacidade da sua herdeira, Druella sequer tentou espiá-la: apenas dobrou cuidadosamente o papel e o colocou no cinzeiro de cristal que adornada a penteadeira do seu quarto. Um feitiço murmurado, e a carta logo se consumia em chamas.

- Pronto. – Druella disse. – Agora eu pergunto mais uma vez: você está pronta?

- Não. Mas essa não é a nossa sina?

- De fato – Sorriu calidamente – Então vamos.

E, então, mãe e filha deixaram a suíte principal da Mansão Black.

Abraxas Malfoy já esperava pela sua futura nora no topo da grande escadaria de mármore da Mansão; e a jovem notou a dificuldade que ele teve de tirar os olhos de Druella para focalizar nela. Aquele tipo de devoção assustava Narcissa; a ela parecia muito mais uma obsessão do que um sentimento sincero, e a ideia apenas a deixava mais relutante em se juntar à família Malfoy. E se Lucius tivesse herdado esse tipo de fascínio? E se a história se repetisse, e ele descobrisse amor por outra mulher depois se unir à Narcissa, condenando-a a uma vida inteira de vergonha?

Ainda assim, ela se fez sorrir – era o seu dever; pelo menos enquanto tivesse tantos familiares parados no salão principal da sua casa, esperando acreditar na fantasia de que a jovem estava feliz pelo seu noivado... e também por respeito a Lucius – em um ano ele seria o seu marido; Narcissa tinha que aprender a mostrar respeito tão logo quanto possível.

- Estou muito feliz que você tenha mudado de ideia, Narcissa. – Abraxas disse, tomando o braço a jovem com o seu e guiando-a pela escadaria. – O nome Malfoy ficará perfeito em você.

- Será uma honra entrar para a família do senhor. – Ela respondeu automaticamente.

- A união será vantajosa para ambas, na verdade. Sei que alguns questionaram quando insisti neste casamento depois dos eventos do início do verão, mas, como eu já lhe disse, eu não cheguei até aqui fazendo maus negócios.

Narcissa olhou-o de soslaio; para a sua postura dura, séria e extremamente altiva. Nas feições do rosto de Abraxas, a jovem enxergou Lucius.

- Eu pensei que o senhor tinha motivos mais pessoais para desejar esse casamento.

- Tenho; mas eu também penso de forma prática. Mesmo com o prestígio ferido, os Black ainda é uma das famílias mais antigas da Europa; a sociedade logo esquecerá o deslize de um ex-membro. E, além do nome, você traz para os Malfoy um patrimônio impressionante, nos consolidando como a família mais rica do Reino Unido. – O rosto de Narcissa contorceu-se em desagrado; seu orgulho Black ressentindo aquela última afirmação. Abraxas percebeu. – Mude o seu pensamento, minha querida. Você logo será uma Malfoy; e os Malfoy serão a sua prioridade.

- O sangue dos Black é forte. Não é fácil esquecer essa descendência.

- Estou contando com isso. – Abraxas lhe sorriu, chegando ao fim da escadaria. E, como a tradição mandava, guiou a Narcissa até a tribuna que foi posta perto da grande lareira, onde se encontravam Cygnus, os advogados de ambas famílias e, naturalmente, Lucius.

Sobre a tribuna, Narcissa sabia, estava aquilo que representava perfeitamente o que ocorria naquela sala: um enorme contrato, a ser assinado pelos noivos e pelos patriarcas. Aquilo era um negócio, afinal – uma verdade fria a ser reafirmada perante as duas famílias. A jovem não sabia exatamente o conteúdo do que assinaria; sabia apenas que passava temporariamente parte do patrimônio Black para os Malfoy, a ser devolvido quando casamento fosse realizado – algo perfeitamente compreensível, uma vez que Cygnus já celebrara quatro contratos de noivado para as suas filhas sem que nenhum fosse a termo. Era um contrato de garantia, Narcissa concluíra alguns dias atrás; os Malfoy tinham comprado uma mercadoria, e era natural que quisessem uma garantia de que ela seria entregue.

- Narcissa. – Lucius cumprimentou assim que a jovem parou ao seu lado. Narcissa obrigou-se a olhar para ele e sorrir.

- Lucius.

Juntos, os jovens se afastaram da tribuna e deixaram que os patriarcas fossem assinar o contrato.

- Eu disse que o meu pai sempre consegue o que quer.

- Meus parabéns. – Ela não conseguiu conter o tom frio.

- Dispense o sarcasmo. Você sabe muito bem que eu desejo que nos casemos tanto quanto você, Narcissa; estamos aqui pelo mesmo motivo.

- Não. Você está aqui pelo seu pai; eu estou aqui por causa de Andromeda. Ficaria feliz se os seguidores do Lorde das Trevas dessem um fim nela antes do nascimento daquela aberração que ela carrega no ventre.

Amargura e frieza estavam presentes no tom da jovem; no entanto as palavras não eram sinceras, e o herdeiro Malfoy sabia. O coração de Narcissa era, no fim das contas, Rosier; ela não conseguira tão facilmente esquecer a irmã. Normalmente Lucius não se importaria com isso; mas Narcissa se tornaria uma Malfoy logo – se ela queria se encaixar na sua nova família, teria que parar de mencionar Andromeda, com ou sem carinho. Então, querendo encerrar o assunto, o jovem soube exatamente qual ferida da sua noiva ele deveria atacar:

- Até onde eu sei, a sua irmã mais velha o amante dela logo cuidarão disso.

Narcissa corou violentamente; mas antes que ela pudesse tentar defender a vergonha de Bellatrix, os patriarcas deram-se as mãos e selaram o acordo. Agora era a vez de Narcissa e Lucius.

Os dois jovens se encaminharam para a tribuna; Narcissa pela primeira vez espiando alguns termos e se impressionando com o que o pai abrira mão confiando que a sua filha mais jovem cumpriria a sua palavra. Lucius foi o primeiro a assinar – a tinta negra deixando a pena com um ruído que a ela parecia ensurdecedor... e, enfim, ele a passou para a herdeira Black e apontou a pequena linha na qual ela deveria rubricar.

Aquele foi um dos momento mais longos da vida de Narcissa – pegar a pena das mãos de Lucius, leva-la até o contrato e, com a sua letra perfeitamente desenhada, selar o seu destino. A cada letra escrita, aquela situação se tornava mais real; até que a jovem sentia como se não conseguisse respirar. As últimas letras saíram tremidas, vergonhosamente desleixadas... e assim o foi porque era difícil importar-se com a caligrafia quando toda a sua concentração estava focada em não pegar a sua varinha e desaparatar para longe dali.

Por um momento – um momento muito breve, mas que existiu e a assustou –, Narcissa pensou que talvez sua irmã fosse ter uma vida muito mais feliz, por ter insistido em ser Andromeda, e não meramente Black.

E, então, ela afastou a pena e olhou para a sua assinatura – Narcissa Cassiopeia Black – se dissolver no pergaminho e voltar a aparecer... agora, ela sabia, impossível de apagar-se. Os seus olhos marejaram – mais uma vez ela não conseguiu evitar – e, para que ninguém das famílias a vissem, ela olhou diretamente para Lucius... a reconfortou que houvesse um pouco de empatia em seu olhar.

Mas o show tinha que continuar, eles sabiam.

Como planejado, Lucius recebeu de Eleanor Malfoy o anel de noivado da família. Com delicadeza mas sem nenhum carinho, o jovem tomou a mão direita de Narcissa e a vestiu com a grande esmeralda. E Narcissa estava ocupada demais olhando para a pedra para perceber que o rosto de Lucius se aproximava do dela.

O primeiro beijo do casal foi frio e impessoal. Uma formalidade que deixou em Narcissa uma sensação de asco quase grande demais para ser disfarçada. Enquanto as palmas ressoavam, ela olhou com censura para o seu noivo, tirou as suas mãos das dele e se afastou. Já tinha cumprido o seu papel.

Precisando ficar ao lado de alguém que soubesse exatamente como ela estava se sentindo, os olhos da jovem percorreram o salão.

- Onde está Bellatrix? – Ela perguntou ao pai.

- Ainda não chegou. – O seu tom era definitivo; e, no subtexto, Narcissa interpretou o que Cygnus geralmente silenciava: "Não faça perguntas."

Não faça perguntas; mas todos naquela casa sabiam exatamente onde a herdeira mais velha estava... e, principalmente, com quem ela estava e o que eles faziam. Bellatrix pensava estar fazendo o certo, mas Narcissa sabia que aquilo era tão-somente outra humilhação. E, perante mais uma humilhação, só restava aos Black o silêncio...

XxXxXxX

Antes de pagar caro pelo seu ingresso no círculo de confiança de Lorde Voldemort, Bellatrix Black tinha uma visão mais lúdica do que significava ser uma Comensal da Morte. Antes, ela tinha certeza de que seria uma revolucionária – uma Circe, uma Morgana, uma Joana D'Arc. Mesmo tendo um vislumbre anterior de algumas atitudes asquerosas, ela pensou que atrocidades eram exceção, e não regra. Bellatrix estava errada. Ser uma Comensal da Morte era ser, quase diariamente, jogada numa zona de guerra – havia dor, gritos, sangue... e, como quase ninguém sabia ainda que uma mulher andava entre eles, a jovem teve de assistir diversas vezes às aberrações que alguns homens cometiam após uma batalha.

Todas as noites, quando sozinha com Voldemort, ele lhe dava a opção de reconhecer o erro e voltar a sua vida normal. E, todas as noites, Bellatrix sem hesitar recusava a oferta. Ela jamais pareceria fraca perante o seu amante; ela jamais admitiria derrota; ela jamais deixaria os Comensais da Morte antes de ter vingado a desgraça da sua irmã e da sua família... Bellatrix prometera, no dia em que foi marcada por Voldemort, que mataria todos eles – todos os inimigos do Sague, fossem eles puros ou a escória –, e a jovem cumpriria a sua promessa, não importa o quanto ela tivesse que se corromper para tanto...

E havia, também, a pequena parte dela que já estava corrompida. Essa parte não tinha objetivos ou ideologias; ela simplesmente queria continuar sentindo as inconfessáveis ondas de prazer que a Maldição Cruciatus lhe proporcionava.

Deitada em silêncio na cama de Lorde Voldemort, a jovem olhava para a tatuagem negra em seu braço quando sentiu os dedos frios do seu amante em seu quadril.

- Por que eu nunca posso tirar a máscara quando os demais Comensais o fazem? – Ela perguntou, certificando-se de manter o seu tom suave e inocente. Lorde Voldemort não gostava de ter as suas decisões questionadas.

- Porque ser Comensal não é trabalho para uma mulher. Especialmente se essa mulher for uma Black jovem e solteira.

Ele a estava protegendo – Bellatrix concluiu. Ele a estava protegendo, e Lorde Voldemort não protegia ninguém.

- Jovem? – Ela repetiu bem-humorada, virando o seu rosto para olhar o dele. – Isso é questionável.

- Aos 20 anos, Bellatrix, a sua vida nem começou.

- A minha irmã tem 16, e a vida dela está traçada. Em um mês se tornará a senhora Malfoy, e em um ano terá um filho nos braços.

- É isso o que você quer? Se sim, está no lugar errado.

- Na cama errada? – O seu tom foi um pouco mais atrevido, e a raiva logo apareceu no rosto de Voldemort. – Me desculpe, eu... Eu sei que você ainda não quer casar-

- Eu nunca irei.

- Mas eu preciso, Meu Lorde. Não por mim; mas eu tenho que manter as aparências pela minha família. É a minha obrigação como uma Black, por mais que eu não queira passar a minha vida com outro homem.

Lorde Voldemort a olhou por um tempo – sua expressão, como sempre, dura e fria enquanto ele considerava as palavras de Bellatrix. Por fim, ele disse:

- Escolherei um marido para você.

- Não posso eu mesma escolher?

- Você sabe demais sobre os meus Comensais. Não vou deixar que você espalhe nossos segredos para alguém que não seja da minha confiança.

- E se eu escolher um Comensal da Morte?

Mais uma vez, Voldemort considerou a proposta por um tempo.

- Sim... Eu posso aceitar isso.

- Muito bem! – Ela disse com um sorriso amargo enquanto se levantava da cama. – Escolherei um Comensal da Morte e usarei as minhas artimanhas para fazer dele o meu marido.

- Eu só preciso dizer uma palavra.

Bellatrix permitiu-se rir daquilo, esperando que aos ouvidos do seu amante não tivesse soado como um deboche. Enquanto trabalhava nos laços das suas vestes, ela olhou altivamente para o homem na cama.

- Com todo respeito, Meu Lorde, das quatro vezes que tentei arrastar um homem para o altar eu só falhei uma. – Lorde Voldemort não a respondeu; provavelmente sabia que era verdade. – A ideia não o incomoda?

- Que ideia?

- De ter a sua amante na cama de outro homem.

Voldemort levantou-se – uma parte de Bellatrix que ainda se apegava à jovem que há pouco tempo deixou de ser a fez corar a virar o rosto à visão do esguio corpo nu. Enquanto entrava no banheiro, o homem lhe disse:

- Eu não divido, Bellatrix.

- E mesmo assim o senhor deseja que me case?

- Claro; você é uma Black. Ou você achou que isso duraria muito tempo?

E, enquanto a porta fechava, Bellatrix se obrigou a ignorar a dor aguda em seu coração. Ignorar, sim; pois ela sabia que aquilo eram apenas palavras de um líder acostumado com a solidão que não sabia como agir perante os seus próprios sentimentos. Lorde Voldemort a amava – disso Bellatrix não tinha nenhuma dúvida. E, um dia, ele finalmente admitiria isso.

Talvez quando estivesse prestes a perde-la – o seu cérebro feminino maquinou enquanto ela olhava-se no espelho e com magia deixava seu rosto e cabelo impecáveis. Um quarto noivado, então, realmente lhe parecia a melhor maneira de agir naquele momento... sabendo, é claro, que apenas chegaria a ser esposa de Lorde Voldemort.

Com essa ideia fixa na mente, a jovem Black encaminhou-se até a lareira da casa dos Avery e usou a rede de flú para ir à sua própria casa. Já estava atrasada para a festa de noivado da sua irmã; e, se quisesse deixar as suas pequenas concessões à honra longe dos ouvidos da alta sociedade, tinha que reaprender a ser pontual em seus compromissos.

A noite já caía no jardim da Mansão dos Black – iluminado com maestria sob a supervisão de Druella, hoje era palco daquela farsa entre Lucius e Narcissa. Casais dançavam em frente às roseiras enquanto eram servidos do abundante vinho dos elfos vindos direto das adegas dos Malfoy, é claro; homens se juntavam para discutir política e fumar charutos vindos de plantações especiais no Cairo, cortesia dos Rosier; os mais jovens se amontoavam, em busca dos seus parceiros para serem os próximos homenageados numa festa deste porte. E, ao longe, no gazebo que fora um presente de casamento para os seus pais, Bellatrix viu os novos noivos.

Uma linha sarcástica formou-se nos lábios da herdeira – todos comemoravam a ocasião feliz, mas os nubentes espelhavam apenas aborrecimento. Erguendo um pouco a sua saia, encaminhou-se à eles: afinal, era esperado que a irmã da noiva congratulasse o feliz casal.

- Irmã! – Ela disse, com um sorriso, enquanto se aproximava de Narcissa. Ao abraça-la, murmurou uma pequena confidência. – Se você quiser, o seu noivo morrerá misteriosamente durante a lua de mel.

Narcissa não respondeu, mas a mais velha percebeu a dureza do sorriso forçado da irmã quando se afastou. Era frustrante; mas um dia a jovem aceitaria que ser uma Comensal da Morte era agora a vida de Bellatrix, ela tinha certeza.

- Lucius, meu querido! – Ela disse, dando um frio abraço no futuro cunhado. – Espero que consiga fazer a minha irmã feliz.

- Cuidado, Bella; isso soou como uma ameaça.

- Foi mesmo? – Ela apenas perguntou com um sorriso inocentemente passivo-agressivo.

E, servindo-se de um copo de uísque de fogo, a primogênita se afastou dos noivos para tentar aproveitar a festa.

E era uma boa festa; isso era inegável. Todos que tinham importância na sociedade haviam comparecido; inclusive os três antigos noivos de Bellatrix – todos com as suas respectivas esposas enquanto ela permanecia solteira, não que a jovem realmente se importasse com isso... Muito embora, quando Herbert e a sua extremamente grávida esposa começaram a se aproximar, ela apenas bebeu um pouco mais rápido e fez-se conversar com quem estava mais perto dela: seus tios Orion e Walburga.

- Black e Malfoy. – Ela comentou. – Que combinação.

- Esse casamento estava fadado a acontecer desde que Abraxas o propôs. – Orion disse, com o seu habitual tom seco. – Já tinha dito que meu irmão era louco por não aceita-lo de imediato; sempre quisemos colocar as nossas mão nas ações da Companhia Euroasiática de Chaves de Portais que os Malfoy nos roubaram; essa é a chance!

- Vender a minha irmã por algumas ações, meu tio?

- Por alguns milhões em ações, sim. – Ele disse, antes de finalmente olhar para a sua sobrinha. – Esse casamento não dos preocupa. Nos preocupa a próxima união da nossa família... diga-me, Bellatrix, quando ocorrerá?

A jovem bufou, bebericando o seu uísque. De certa forma, lhe pareceu um pouco mais amargo.

- Meu futuro matrimônio realmente lhe preocupa, meu tio?

- Claro que sim.

- Que honra. – Com o canto do seu olho, viu Orion franzir o cenho. – Veja, tendo o senhor um filho grifinório e um que até o momento nos parece um aborto, é realmente uma honra que se importe tanto comigo a ponto de acompanhar o meu estado civil.

Com satisfação, viu o rosto de Orion enrubescer-se e uma enorme veia latejar na testa da sua tia. E, antes que eles pudessem conhecer, uma surpreendente voz masculina soou perto do seu ouvido.

- Uma dança?

Bellatrix virou-se para olhar para o homem.

- De todas as pessoas, Nathaniel Yaxley, você é a última que eu esperava ver numa soirée Black.

- E por quê?

- Bem, você foi deixado no altar por um Black trocado por um sangue-ruim... ou me enganei?

O homem deixou escapar uma breve e rouca risada sarcástica, antes de pegar a mão da primogênita Black e começar a guia-la para onde os demais casais estavam.

- Você está mordaz hoje, minha querida. Acusar Regulus Black de ser um aborto foi um tanto cruel.

- O garoto ainda não apresentou nenhum sinal de mágica; alguém tem que contar a verdade para os meus tios! Não sei por que eles se ofenderiam... sequer culpei isso no fato deles serem primos.

- Todos nós, em algum grau, casamos com primos.

- Não em primeiro grau. – Ela disse, deixando que Nathaniel colocasse mão em sua cintura e a guia-se tal qual a melodia dos violinos. – E definitivamente não com o mesmo sobrenome.

Ele riu.

- Talvez, talvez. Mas os seus tios realmente mereciam tal afronta? A pergunta deles é válida... até eu gostaria de saber a resposta.

- Sobre o meu próximo noivado, Nathaniel? – Ele assentiu, e Bellatrix ergueu uma sobrancelha para ele. – Não sei. Talvez a escolha a família Yaxley.

- Oh. Seria uma escolha sensata.

- Por acaso você conhece algum Yaxley solteiro?

- Na verdade, sim. Talvez ele lhe convide para um jantar logo.

Bellatrix sorriu – Nathaniel lhe seria um alvo fácil; já demonstrara interesse mesmo quando ainda era noivo de Andromeda. E, se ele resistira a uma Black o deixando no altar, certamente não se importaria de reviver a experiência...

XxXxXxX

Se ela soubesse, um ano atrás, que a sua nova e trepidante amizade com Theodore Tonks traria tantas consequências, talvez ela não tivesse insistido nela. Talvez ela tivesse ignorado o jovem e o tirado completamente da sua vida enquanto ele era, ainda, um sangue-ruim imundo... e não alguém que ela amava. Agora era tarde – Andromeda Black pensou, pousando delicadamente uma mão no seu ventre que, quase imperceptivelmente, começava a crescer. Agora ela já tinha uma nova vida; agora ela não podia mais desfazer nada.

Ela não estava feliz – é claro que não! Não foram apenas títulos, uma herança e um nome o que ela deixou para trás. Foi um pai dedicado; uma mãe amorosa; duas irmãs que sempre foram muito mais que suas melhores amigas. Foram inúmeros tios, primos e amigos que sempre lhe trataram como uma princesa; mas agora sequer podiam mencionar o seu nome. E ela entendia por que as coisas tinham que ser assim; Andromeda sabia que, no lugar deles, teria que agir da mesma maneira.

Além de tudo isso, sempre que ela lia a nota no jornal anunciando o noivado de Narcissa, Andromeda se arrependia profundamente. Mesmo que amasse Theodore, mesmo que amasse – tanto – a vida que crescia dentro dela, ela desejava que nada daquilo tivesse acontecido... pois, no momento que ela escolheu a sua própria vida, Andromeda condenara a sua irmã mais nova ao pior destino que uma mulher pode ter. E com que direito?

Sentindo que a amargura queria tomar conta de si, a jovem colocou o jornal na mesa de cabeceira da pequena cama que dividia com Theodore e se levantou. Seguiu as vozes que ainda ressoavam na sala – seu... noivo, que recebera amigos naquela noite. Grifinórios, na sua maioria, e Andromeda ainda não estava pronta a se juntar a eles.

Quando chegou a sala, no entanto, surpreendeu-se ao ver que não eram os amigos de Theodore que ainda faziam barulho. Mas Alvo Dumbledore.

- Professor?

O homem olhou em sua direção – aquele mesmo olhar complacente que ela era acostumava a ver quando menina, em Hogwarts.

- Ah! Andromeda! A gravidez lhe faz bem!

- Obrigada. – Ela disse esperando não soar seca, antes de olhar para Theodore. – Já está tarde, Ted. Eu vou dormir.

- E eu não vou atrapalhar. – Dumbledore disse alegremente, apesar de a jovem Black ter, talvez, sido um pouco rude. – Andromeda, meus parabéns pela nova vida. Você fez a escolha certa. E, Ted... – O olhar dele se tornou um pouco mais obscuro, Andromeda notou. – Pense na minha proposta.

- Não tem muito no que pensar. Eu vou ajudar no que puder.

E Theodore acompanhou Dumbledore até a porta, antes de voltar-se para a sua noiva com um sorriso leve em seu rosto.

- Você está se sentindo melhor?

- Não. E enquanto eu não ver no jornal amanhã que o noivado a minha irmã foi cancelado...

- Você realmente acha que eles não podem simplesmente ter decidido se casar sozinhos?

- Claro que não, Ted! Eu conheço Narcissa e eu conheço Lucius! Eles nunca serão felizes juntos, e tudo isso é min-

- Nem termine essa frase, 'Dromeda! – Theodore disse, se aproximando e pondo as mãos nos ombros da sua noiva. – Se você teve uma escolha, ela também teve; pare de se culpar pelo que acontece-

- Você não entende-

- Não! Não entendo, mesmo! Nem vou, e nós não vamos brigar de novo por causa disso, ok? – Ele beijou suavemente os lábios dela, e só por aquele segundo Andromeda pensou que valera à pena. – Vamos dormir.

Andromeda aceitou as palavras dele – até porque não adiantava mais. Não adiantava continuar brigando incansavelmente pela mesma coisa, quando ambos sabiam muito bem que ele nunca entenderia a forma que ela fora criada, e ela nunca aceitaria a dele.

- O que Dumbledore queria? – Ela finalmente perguntou.

- Bem... – Theodore hesitou. – Ele precisa de ajuda. Fazer o trabalho que o Ministério não faz sabe? Sobre... os Comensais da Morte, e tudo mais.

A jovem Black parou por um momento, imediatamente ganhando a atenção do seu noivo. E, quando Theodore a olhou, viu um pouco de fúria em seus olhos.

- Não. – Ela disse, definitivamente. – Não.

- Os meus pais foram mortos-

- Se eu tenho que esquecer a minha família, você vai esquecer a sua! Eu não tenho mais ninguém, Ted; você não vai se arriscar! Eu não vou criar essa criança sozinha!

- 'Dromeda, não haverá riscos.

- Não me interessa; você não vai participar dessa guerra, Ted! Essa é a nossa vida; isso aqui! – Ela disse, apontando para a casa. – Se não for suficiente pra você... – Ela mordeu o lábios para não terminar a frase. Para não dizer 'saiba que não é suficiente para mim, também'.

- Tudo bem! – Ele disse. – Não se fala mais nisso.

E, Andromeda sabia, era apenas para evitar mais uma discussão interminável e sem sentindo.

Por ela se surpreenderia, não é? Era assim que eles viviam, agora...

XxXxXxX

Erm... oi? Ainda tem alguém aqui?

Tempinho livre de férias dos concursos me fizeram reabrir a fic e voltar a escrever... espero que alguém esteja por aqui para acompanhar!

Para não perder o costume, reviews, por favor! =)


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