A Lágrima Escarlate escrita por SorahKetsu


Capítulo 22
O amigo, o inimigo


Notas iniciais do capítulo

Você sabe reconhecer quem é seu amigo e quem é seu inimigo?



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Caminhou até o estádio apressada, levando em conta os conselhos de Nicka e Mirian. Não corria risco de vida nesta luta como na outras. E muito menos colocaria tudo a perder se acaso não derrotasse seu adversário, uma vez que este é um aliado. Mesmo assim, consideravelmente mais calma, não tirava da cabeça o que Sorah havia dito. Se não vencesse Hebel, Sorah o mataria.

E por falar em Sorah, olhou de novo para a entrada do estádio procurando pela lifing e não a encontrou como das outras diversas vezes que procurou. Dart já estava do outro lado do tatame esperando pela luta. Muito calmo, pelo que aparentava. Bem diferente de Hebel, que apertava uma mão na outra olhando para os pés, com face de desespero. Claro que Sabrina não estava muito diferente.

E Sorah nem pra aparecer e lhe dar um apoio.

Se bem que normalmente ela só piora as coisas…

 

A juíza olhou para os dois lados, confirmando que os dois lutadores iniciais já havia se apresentado. Ainda se aproximou de Sabrina para lhe avisar que se sua parceira não chegasse, perderia a luta mesmo se vencesse Hebel.

Pediu que subissem no tatame e ficassem de frente um para o outro. Com o início da segunda etapa do torneio, todo o discurso das regras era desnecessário. Então a juíza simplesmente perguntou se estavam prontos, com sua típica cara de nojo com relação a dois humanos. Após receber resposta afirmativa de ambos, - um tanto mais receosa por parte de Hebel – deu o sinal para o início e saltitou rapidamente até sair do tatame.

Os dois humanos ainda se encararam por alguns segundos sem nenhuma reação. Nenhum deles queria ferir o outro, mas ambos tinham a obrigação de seguir em frente no torneio. E ambos haviam recebido a ardem por seus respectivos parceiros de luta de que se não vencessem, matariam o humano em questão.

- Eu não quero te machucar Sabrina… - murmurou Hebel.

Sabrina baixou os olhos e não respondeu nada. Os monstros do estádio já começavam a vaiar. Até que sem prévio aviso, nem muito menos olhar nos olhos de seu adversário, a humana lhe acertou um soco em cheio no rosto, sem a menos chance de defesa.

De onde estava, Dart fez uma cara de dor, rindo dos humanos.

Hebel caiu no chão olhando com medo para Sabrina. Ela ainda mantinha os olhos baixos sem olhar diretamente para ele. Mirando-a, se levantou e se afastou alguns passos. No entanto, mal deu tempo para se afastar e ela lhe acertou um chute no estômago, que o fez voltar ao chão. Os monstros comemoraram.

Sabrina tirou sua espada da bainha e pôs-se em posição de luta. Hebel ia dizer alguma coisa, mas foi impedido, ainda caído, por um ataque da humana que só não o dividiu em dois porque ele teve reflexos rápidos suficiente para rolar para o lado, sacar sua espada e bloquear um segundo golpe.

E os ataques não paravam nem mesmo para que ele se levantasse. Quando finalmente conseguiu fazer isso, Sabrina lançou-lhe uma enorme bola de fogo. O garoto, ainda atordoado, só teve tempo de jogar o corpo para o lado e ainda queimar parte do braço. Mas emendou esse desvio a uma chave de braço que paralisou Sabrina completamente.

- Por que está fazendo isso? – perguntou Hebel desesperado – Quer me matar?

- Não posso perder. – respondeu Sabrina.

A humana usava uma das mãos para afastar o braço de Hebel se seu pescoço, o que era inútil em sua atual situação. Mas ele foi obrigado a largar-lhe assim que sentiu a área onde a mão da garota apertava queimar como se houvesse brasa encostada ali. E quando verificou, a marca da mão da menina ficara visível, formando bolhas imediatamente.

Sabrina já controlava seu poder de fogo quase perfeitamente.

Hebel suava. Já começava a se cansar. Esse era seu maior ponto fraco: resistência. Enquanto sua adversária permanecia de olhos baixos e a respiração lenta, como quando começou a luta.

- Pois eu também não posso perder. – comentou Hebel partindo em sua direção.

Aquela luta entre humanos não era do tipo mais empolgante para os monstros do local, principalmente porque não havia nenhum poder excepcional em questão. E como ambos tinham um nível parecido, a menos de força física (pois Hebel não tem nenhum poder elemental) não se esperava nenhum tipo de massacre. Então, quando o garoto partiu em direção à Sabrina, com sua espada em punho, podia impressionar qualquer um, menos os monstros presentes. Mesmo assim, a possibilidade de um humano morrer os excitava e os fazia gritar por sangue.

Sabrina bloqueou o ataque de Hebel, mas ele continuava fazendo força para baixo, enquanto ela se esforçava ao máximo para suportar. Vendo que não resistiria, olhou nos olhos dele pela primeira vez e lhe lançou uma imensa labareda que fez um buraco na camisa verde musgo de Hebel. E ainda fez uma pequena queimadura em seu estômago, fazendo-o recuar imediatamente.

O humano, visualizando uma Sabrina que parecia só desejar sua derrota sentiu raiva. No instante seguinte, se lembrou de que Dart poderia matá-la se chegasse a enfrentá-la. E partiu a toda velocidade que pôde em sua direção, atacando-a como se sua vida dependesse disso.

Por alguns segundos, Sabrina pareceu confusa com essa atitude e achou que seria pior. Seria perfeito se continuasse como antes e ela vencesse com facilidade, sem precisar machucá-lo muito. Mas não poderia se deixar deter por isso. E bloqueou cada um dos ataques, tendo tempo apenas para se desviar de um último. E os humanos iniciaram a verdadeira luta.

Hebel afastou com sua espada uma labareda lançada para fazê-lo recuar. Ela fazia isso quando não podia mais acompanhar os ataques, assim, forçava-o a começar tudo de novo. No entanto, quase que sem querer, ele acertou uma das chamas e notou que podia se proteger com a espada e logo voltar a atacá-la. Essa descoberta lhe deu a grande vantagem da velocidade. Sabrina já não acompanhava os ataques e foi atingida no braço esquerdo. A espada afiada fez um corte que por milímetros não chegou ao osso. E apenas não decepou seu braço porque Hebel parou o ataque a tempo.

Imediatamente começara a sangrar. O suor caía inevitavelmente na ferida e ardia ainda mais. Levou a mão ao ferimento e caiu de joelhos não suportando a dor.

Hebel caminhou até ela e mirou a espada para sua cabeça.

- Sabrina, é melhor desistir. Precisa tratar esse ferimento imediatamente.

Ela olhou com raiva. Mas precisava vencer de qualquer jeito. Machucada ou não, era pelo próprio bem de Hebel.

Com o braço direito ainda pingando o sangue da tentativa de estancar a ferida, bateu com força no chão. Chamas de meio metro formaram um círculo ao redor de Hebel e o aprisionaram lá. Ele tentava sair, mas sua pele já estava queimada o suficiente para ele não suportar a dor de continuar tentando.

Sabrina por sua vez, se levantou e passou pelas chamas como se nada estivesse acontecendo. A fumaça grudava na pele dos dois através do suor, dando-lhes a impressão de estarem muito sujos.

Mal podendo suportar o peso da espada, Sabrina desferiu ataques seguidos. Hebel não podia recuar, caso o fizesse, as chamas do círculo onde estavam presos o pegariam. Então bloqueava sem dar muitos passos para trás.

O ferimento de queimadura de seu braço ardia ainda mais no meio do calor. Sem contar o do estômago. A visão se embaçava devido à alta temperatura. As condições certamente favoreciam Sabrina.

No entanto, mesmo sendo de elemento fogo, o profundo corte em seu braço também ardia com o calor. Estavam ambos sofrendo nas mesmas condições.

Num movimento rápido, Sabrina conseguiu jogar a espada de Hebel para fora do círculo. E o braço direito do rapaz ainda ficou exposto ás chamas alguns milésimos de segundo.

Sem arma para se defender ou atacar, Hebel entrou em total desespero e desferiu um fortíssimo soco no rosto de Sabrina. Ela cuspiu sangue e caiu no meio das próprias chamas. Ela não se queimou devido ao seu elemento, mas o ferimento em seu braço sim, e ardeu imediatamente, apesar de ter parado de sangrar com a queimadura.

Ela se levantou imediatamente. A luta não poderia continuar daquela forma. Iriam acabar se matando.

Usou suas últimas forças para desferir uma série de socos contra o estômago já machucado de Hebel, empurrando-o para trás até passar pelas chamas e ele estar livre. Mas já era tarde demais. Estava tão machucado, e a dor era tanta, que ele desmaiou imediatamente que os socos cessaram.

A juíza se aproximou e fez a contagem. Assim que apontou Sabrina como vencedora, ela caiu no chão ajoelhada sem forças para ficar de pé. Apenas um rastro de energia sobrara para permanecer consciente.

Ainda teve um tempo para se recuperar. Enquanto isso, Hebel despertava, sem conseguir mexer bem os membros.

Sabrina limpou o sangue do canto da boca e olhou ao redor, buscando por Sorah. Sua visão estava embaçada. Sentia o soco de Hebel pressionando a bochecha direita até agora. Como se o ataque ainda não tivesse sido parado, e ela, vencido. O garoto estava se arrastando até a borda do tatame. Sabrina se arremessou até lá em passos cada vez mais difíceis. Estava mais que exausta. Nunca chegara tão perto de morrer. Mas se ela vira o rosto da morte, seu adversário, e ao mesmo tempo parceiro, beijara a face da morte e voltou para contar a história por muita sorte.

Com a força que tinha restado de tentar derrubá-lo, agora Sabrina tentava levantar o humano ensangüentado. Não tinha forçar para falar e pedir-lhe desculpas, mas seu ato o fez entender que sentia muito por isso.

A multidão no estádio, excitada com o espetáculo que acabaram de ver, um verdadeiro mata-mata entre humanos, agora vaiava e ameaçava invadir o tatame ao ver um ajudando o outro a se recuperar. Clamavam por sangue a todo momento.

Dart os ajudou a descer e os levou até perto do local da arquibancada onde Nicka e Mirian choravam de aflição. Ambos tinham forças suficientes para assistir a próxima luta. Talvez, muita mais sangrenta que esta.

Sabrina, sentada apoiada no pilar que sustentava as arquibancadas procurou mais uma vez pela imagem de Sorah. Jamais pensaria um dia que ela fugiria de uma luta. Já enfrentara a morte tantas vezes antes, que esta seria apenas mais uma brincadeira. No entanto, a juíza que se posicionava no centro do tatame, preparava-se para chamar pelos próximos lutadores e a lifing não dava sinal de aparecer. Pela mente de Sabrina, correu a idéia de que ela não queria ter de enfrentar Dart. Parecia-lhe o mais óbvio.

Os lifings ainda não tinham se dado conta da falta de um dos lutadores. Nem mesmo a juíza tinha.

Dart subiu no tatame lentamente, sem se preocupar muito. Pôs as mãos no bolso e se aproximou do centro. Fechou os olhos por alguns instantes e jogou os cabelos para o lado. Abriu-os novamente e permaneceu imóvel, com a face fria.

A Juíza olhou Dart por inteiro, em seguida procurou por sua adversária. Olhou na direção de Sabrina e para o resto do estádio. Não a encontrou. Aproximou-se de Dart, que recuou um pouco.

- Se sua adversária não chegar você ganha por W.O.

Dart sorriu e fechou os olhos.

- Ela vai chegar em dois minutos. Tem minha palavra.

Quase um minuto e meio depois, os monstros começaram o escarcéu. Perguntavam-se o que estava acontecendo e imploravam por uma luta. Sabiam que agora, a batalha seria entre dois lifings, o que os deixava mais alvoroçados que na primeira. O fato de que um ser da espécie deles estava fugindo, os tornava muito irritados e prontos para invadir o tatame a qualquer momento. O estádio era uma bomba relógio prestes a estourar.

- O tempo de ela chegar está se esgotando. – Avisou a Juíza, olhando com receio para os monstros ao redor.

- Você não vê? Ela já chegou.

Dart olhou com um sorriso muito curto para a entrada do estádio. Fi girou a cabeça até parar os olhos numa garota magra, atlética. Seus cabelos, sempre divididos e jogados sobre o olho direito davam-lhe um aspecto cruel, combinando com o olho visível, amarelo âmbar. Mantinha a cabeça baixa. A boca não dava sinais de sorriso. A roupa que vestia era muito parecida com a que normalmente usa. Uma calça grossa, porém larga, presa numa bota de cano médio e uma camiseta preta justa, tipo baby look. Porém, diferente de outras vezes, usava um cinto que prendia uma capa preta. Ia da cintura até o chão. Estava rasgada nas pontas. E no pulso direito, estava presa uma fita vermelha.

A lifing caminhava devagar, sem se importar com o tempo. Dart a esperou sem se mexer muito. Logo estavam frente a frente.

Sorah levantou a cabeça pela primeira vez e olhou seu adversário nos olhos. Sorriu malignamente, como se dissesse que iria se divertir com ele. Dart retribuiu o mesmo sorriso.

Antes que a juíza desse a permissão para começarem, Sorah tirou a fita vermelha do pulso e prendeu os cabelos. Nenhum dos humanos presentes jamais havia visto-a sem aquele mesmo penteado. Talvez fosse a primeira vez que podia ver claramente seu olho direito.

Fi afastou-se alguns passos e gritou para que começassem. Os monstros gritaram nas arquibancadas como loucos. Todos sabiam do poder de ambos os lifings. Em sua primeira luta, Dart vencera facilmente com uma cotovelada na têmpora do adversário. Sorah teve alguma dificuldade, mas também vencera relativamente fácil.

A lifing pôs a mão sobre o cabo da espada sem retirá-la. Afastou-se e pôs-se em posição de luta. Dart fez o mesmo, sem se afastar.

- Será um prazer lutar com você, minha Sorah.

Ela respondeu com um sorriso irônico e disparou em velocidade altíssima na direção de seu adversário. Muitos dos que assistiam não puderam vê-la a todo momento. Para grande parte dos espectadores, Sorah era apenas um borrão. Mas não para Dart.

Ele desviou-se com dificuldade, porém com sucesso. Passara tão perto de ser cortado ao meio que alguns pouquíssimos fios de seu cabelo foram cortados e caíram vagarosamente no tatame. Antes que isso ocorresse, o lifing já havia se posicionado do lado esquerdo de Sorah com a espada em punho. Atacou-a sem piedade, cortando tudo que havia em seu lugar. Os lifings gritaram o nome de Dart apenas uma vez, até verem que a lifing já não estava ali há muito tempo.

- Continua viva, é?

- Não pensou que eu morreria com isso, pensou?

Dart riu, embainhando a espada.

- Claro que não.

Os olhos e ouvidos de Sabrina não acreditavam no que estavam presenciando. Conheciam-se há mais de quarenta anos e estavam realmente tentando matar um ao outro. Temeu por Dart.

Sorah, da outra ponta do tatame também embainhou a espada e disparou novamente, tornando-se apenas um borrão. A primeira coisa que os espectadores conseguiram ver foi o lifing caído no chão, com o nariz sangrando.

- Seu ataque foi inútil então, Dart? O realizou apenas por fazê-lo? Mas que desperdício de energia… - acusou Sorah.

- Eu também não espero vencê-la com um golpe apenas.

- Me espanta que espere me vencer.

Dart riu e sumiu no mesmo instante. Ninguém soube definir o motivo, mas assim que isso aconteceu, Sorah caiu pesadamente contra o chão. Sua face, agora machucada, mostrava apenas ódio.

- Não acha que é hora de pararmos de brincar? Ou melhor… eu devo parar de brincar… - avisou Dart, parado, com a perna esquerda ainda levantada do chute na nuca de Sorah que acabara de dar.

O lifing tirou a espada da bainha mais uma vez. Pisou no corpo caído de Sorah e passou a lâmina com o gume virado para baixo no rosto dela. Fincou-a na capa presa à cintura da garota e começou a desferir violentos ataques contra ela. Chutava seu estômago e a empurrava com o pé para impedi-la de se levantar. Não parecia o mesmo Dart, muito menos a mesma Sorah. Ela, indefesa, e ele, violento, não parava um segundo de atingi-la, desde a cabeça até a perna.

Os caninos da lifing foram exibidos no cume de sua ira. Uma grande energia começou a emanar dela. Rosnava, passando a ignorar os incessantes golpes de Dart. Seus cabelos levitaram, como se uma grande ventania passasse por ali.

Na explosão dessa energia, levantou-se de repente. A espada fincada que prendia-a ao chão voou para longe, junto a seu dono, que também foi arremessado alguns metros dali.

Ela baixou os olhos. Parecia extremamente cansada, agora que a explosão acabou e ela voltara ao normal. Arfava alto, com a boca aberta e parte dos caninos a mostra.

Sabrina aproximou-se como pôde para enxergar melhor os olhos de sua parceira de grupo. Não podia acreditar. Era impossível ser verdade. Não eram mais âmbares. Estavam naquele momento, tão verdes quanto os seus.

Dart guardou a bainha e baixou a cabeça. Parecia preocupado consigo mesmo.

- É uma ironia, não é, Dart? – Comentou Sorah, parando para respirar – Quanto mais apanhamos, mais forte ficamos. Não há o que eu possa fazer para manter minha vantagem. Se usar dela, você se fortalecerá, não estou certa?

- Seus olhos verdes indicam que já tem o dobro da minha força. Também não posso atacá-la sem morrer para isso. Caímos numa contradição. Se você me atacar, perde a vantagem. Se eu te atacar, morro. Então? O que vai ser?

Sorah pensou alguns segundos e lhe respondeu, maligna:

- Não acha que eu vou deixar todos aquele golpes impunes, não é?

Correu até ele, que nada fez para se defender. Não havia o que fazer naquele momento. Sua energia é simplesmente impotente contra a atual de Sorah. Deixou-se ser atingido, foi arremessado dez metros de altura e caiu pesadamente sobre o chão fora do tatame.

Sorah caminhou até a borda para observá-lo. Estava como que inconsciente, virado de face para a grama.

- Já é o suficiente?

Dart levantou-se devagar, sem um único arranhão. Sorah não pareceu se surpreender, mas foi a única.

Sabrina agora mantinha o olhar no lifing. Algo mais que os olhos havia mudado em seu rosto. Marcas roxas pontiagudas em sua face surgiram. Como se tivesse feito tribais. Havia duas dessas marcas para cada lado da mandíbula. Esticavam-se, tornando-se finas conforme chegavam perto dos olhos, onde acabavam sem chegar a eles.

Ele as tocou, tentando senti-las.

- É, acho que foi o suficiente.

Havia uma aura azul em torno do rapaz. Era energia sobrando fora de seu corpo. Não parecia incomodá-lo, mas tornava o ar pesado ao redor. E era quente o suficiente para causar sérias queimaduras em quem entrasse nela.

Sorah sorriu levemente e olhou nos olhos dele. Dart retribuiu o olhar e deu um passo a frente. Ele a chamou com um movimento do pulso. Ela negou, ainda sorrindo. Pareciam estarem se fazendo ironias, ou quem sabe, se divertindo. Afinal, mesmo lutando com todas as suas forças, lutar um contra o outro, sempre fora a única diversão possível.

 

“Sorah acordou mais tarde naquela manhã. Ouviu o som de batidas fortes contra o tronco de uma árvore. Ignorando o fato, lembrou-se de que já fazia uma semana que andava com aquele garoto de olhos e cabelos azuis chamado Dart. O qual não estava por perto.

Levantou-se apoiada numa árvore e olhou ao redor, vendo o menino desferir socos num tronco grosso, porém já morto. Cada golpe arrancava pedaços grandes de madeira morta.

Aproximou-se devagar, pouco impressionada com a força do rapaz.

- O que está fazendo? – perguntou interessada.

Ele parou e virou-se na direção dela, já suado. Sorriu e respondeu-lhe:

- Treinando. Mas eu vou parar assim que esta árvore for completamente destruída. – avisou, enchendo o peito para falar, certo de que a impressionava.

- Mas pra quê demorar tanto? – questionou Sorah.

A lifing destruiu, num piscar de olhos, todo o tronco num único chute, sem nem mesmo demonstrar esforço. Nem entender a face de espanto e susto de Dart.

- Eu não sabia que era tão forte… - comentou o garoto meio bobo.

- Eu treinei muito. – explicou toda orgulhosa com o elogio.

- Ah é? – animou-se Dart – E quem foi seu treinador?

- Treinei com as lutas que tive até agora. – respondeu inocente. – Nunca fui treinada em especial.

Impressionado, Dart fazia-se cada vez mais curioso para saber sua força total.

- Por que não lutamos um contra o outro? Só pra ver quem é mais forte.

Sorah, desde muito mais nova, tem a habilidade de calcular a força de alguém com perfeição, por mais que este a esconda. É a habilidade principal que seu sangue nobre lhe oferecia. Do primeiro momento que pôde, percebeu que a de Dart era uma pequena parcela maior que a sua. Nada de mais. Naquela semana que passaram juntos já haviam se igualado quase que perfeitamente. Mesmo assim, era importante lembrar que Sorah tem apenas oito anos, e Dart, dez. Era empolgante a idéia de pensar em lutar com ele.

- Eu aceito seu desafio. – disse a pequena Sorah.

A luta durou cerca de meia hora. Por fim, Dart arfava, de pé, apoiado sobre o corpo caído de Sorah, com a espada apontada para seu nariz.

 

Dias depois, inconformada, a garota pediu revanche. Conhecendo os golpes dele perfeitamente, ganhou em vinte minutos.”

 

- Nós vamos desempatar hoje, Dart? – perguntou com a voz maligna.

- Nós estamos empatados, minha Sorah? – Dart fez questão de devolver-lhe o sorriso.

- Você sabe perfeitamente disso. Não finja que não se importa.

Dart riu, sem baixar a guarda.

- Tem razão, como sempre, minha Sorah. Trezentos e quarenta e oito vitórias minhas. Trezentos e quarenta e oito suas. A última quem ganhou foi você. Se ganhar de novo serão duas seguidas… ou seja… terei de admitir que é mais forte do que eu irremediavelmente.

- Que bom que sabe disso.

E com essa fala, o atacou diretamente, num único movimento. A primeira imagem em velocidade lenta o suficiente para que os olhos dos lifings processassem foi de Dart contento um chute e já iniciando outro. Sorah também pôde conter este. E logo, todos os ataques estavam numa velocidade alta demais para que a grande maioria dos presentes não pudesse ver. Um pequena parcela que incluía Belthor, Íris e Mia ainda podia ver tudo com precisão. Mas os demais lifings excitados com o calor da luta, simplesmente via umas manchas brilhantes, sinal da energia dos dois.

Sorah abaixou-se, sentindo o ar acompanhar o chute de Dart, logo em seguida, mirou um soco, que foi facilmente desviado, apenas rolou para o lado pois já esperava uma cotovelada nas costas por parte de Dart. Assim que este ataque terminou, ela voltou a atacá-lo com uma rasteira. Ele pulou e chutou-a na altura da cabeça, Sorah, por sua vez, abaixo-se ainda mais e levantou a perna para chutar-lhe no ar. No entanto, ele usou seu pé como apoio e saltou mais alto, para pegar impulso e descer velozmente contra ela, que pode jogar-se para longe à tempo.

Apesar de tudo isso a única coisa que os lifings viram foi o tatame se quebrando quando Dart atingiu o chão.

Sorah permanecia na outra ponta olhando para Dart, agora se levantando.

- Isso não vai dar muito certo, não é mesmo, Sorah?

- Quer tentar com as espadas?

- Por que não?

Sorah sacou a espada. Ele fez o mesmo. E novamente sumiram. O primeiro sinal dos dois foi um ruído alto de metais se chocando violentamente. A força do ataque de ambos, somada, os fez serem jogados para trás involuntariamente. Apesar de que a cratera que se formou no tatame os impediu de ir muito longe.

 Pareceram não se incomodar nem um pouco com isso, pois logo voltaram a se chocar, reproduzindo o som de metais, desta vez, contínuo. Centenas de ataques foram desferidos em questão de segundos. Mas nenhum deles os atingiu.

Quando finalmente pararam, arfavam alto, já cansados com toda essa luta.

- Parece que não vai adiantar nada continuarmos com isso.

- Pois é.

- Hora de avançar para o próximo nível?

- Não vai nem esperar eu te bater um pouco pra ficar mais fácil, Dart?

Ele riu em resposta, com sua energia crescendo cada vez mais. No entanto, a partir de então, sua face de dor era horrível. Sorah apenas observava. Ele, que até agora rosnava como se contivesse um grito, agora berrava de forma dar a impressão de que era de dor. Uma dor terrível, que parecia poder matá-lo a qualquer momento. Veias saltavam em seu pescoço. As garras cortavam a palma de sua mão, tamanha a força com que fechava os punhos, derramando seu sangue escuro no chão. Sabrina esticou os olhos, mas logo teve de tampá-lo, pois o calor que o lifing emanava era como uma fogueira diante de seus olhos.

Quando ele finalmente parou, faíscas estalavam como pequenos raios ao seu redor. O ar pesado chegava a dois metros de raio. Grande parte dos presentes nunca havia visto um poder sair do corpo e sobrar dessa forma. O poder que estava dentro do lifing era apenas o que usava normalmente. O que ficava para fora era uma energia que saía sem haver condições para isso. Era uma força oposta às demais. E era atraída pelo corpo de Dart, através da energia que ainda estava dentro dele, possibilitando um aumento de seu poder extra corporal. Fazer uso de uma força que não está dentro de si, apesar de pertencer a ele. E as tribais de seu rosto tornaram-se agora negras, e manchavam sua pele, parecendo pressioná-la.

Dart andou a passos lentos e curtos até sorah, que simplesmente ficou parada olhando. O chão debaixo dos pés de Dart quebravam como se ele pesasse mais de uma tonelada. Seu rosto, mais sério do que o normal, mal se movia. Parecia que qualquer movimento brusco explodiria uma energia ainda maior. Toda essa força acumulada e sobre pressão gerava medo nos lifings que assistiam.

Sabrina se lembrou de quando queria lutar mas tinha medo de se deixar perder por um sentimento que Sorah considerava inútil. Mas agora concluía que não poderia vencer nem se o odiasse.

Dart pôs a mão no pescoço de sua adversária, que nada fez para impedir.

- Não quero ver você sentir essa dor. Vou poupá-la. – avisou Dart, sem expressão.

Naquele momento, ele a ergueu cerca de trinta centímetros do chão através do pescoço, com uma única mão. E de forma horrível, pressionou sua garganta, e ao mesmo tempo, uma grande quantidade de energia foi desferida contra a lifing. Sorah tentava inutilmente apertar os punhos de Dart para que parasse. A pressão sobre seu pescoço nem era o grande problema, mas a energia extra do lifing, naquele momento a torturava e a impedia de sentir até mesmo a mão que pressionava sua garganta. Sonoros estalos de energia ecoavam ao seu redor, tanto quanto em Dart. O calor que fazia no raio que a energia dele se extravasava era superior ao que uma criatura elemental de gelo poderia pensar em suportar por tanto tempo.

E com toda aquela dor, a expressão de Sorah era de raiva.

Um ódio crescente, conforme seu sofrimento aumentava.

Um retrato de sua vida.

Os olhos dela mudaram novamente. Dessa vez a pupila e tornou-se vermelha, como se sangue tivesse sido derrubado ali. Aterrorizante para os humanos presentes. Principalmente quando seus caninos aumentaram até não caberem mais na boca. E sua energia crescente agora se chocava com a do rapaz, causando grandes explosões. Os cabelos dela foram soltos novamente, tendo a fita vermelha desaparecido no meio da grande energia. Dart ainda pressionava a garganta de Sorah, até que soltou bruscamente por algum motivo, que os espectadores não souberam explicar.

A lifing, agora com o mesmo raio de energia extra corporal que o rapaz, caía no tatame apoiada num joelho. Por um momento, o estádio permaneceu em total e raro silêncio. Sabrina, que era uma das únicas suportando bem o calor emanado daqueles dois, agora sentia um frio repentino. Ergueu a cabeça para ver o que acontecia na luta. Sua companheira de grupo ainda estava ajoelhada, de cabeça baixa, sem que seus olhos pudessem ser vistos. Dart, do outro lado do tatame esperava alguma reação.

Ninguém entendia mais por que nenhum dos dois atacava. Até verem alguma mudança no tatame ao redor de Sorah. O ar tornou-se alguns graus mais gelado. O chão começou a virar gelo.

Vagarosamente, Sorah levantou-se e ficou de frente para seu adversário, sem mirá-lo de frente. Quão grande foi o susto de Sabrina ao ouvi-la rindo sonorosamente, de forma maligna. Parecia adorar o risco de morte tocando sua face. Um riso amedrontador, de alguém que ama a morte.

Como se tivessem marcado o tempo, ambos gritaram juntos e atacaram apenas com energia. Sorah esticou o punho fechado na direção de Dart e um imenso pilar de gelo começou a crescer, como se brotasse da terra, prestes a atingi-lo. No entanto, o rapaz apenas levantou o braço e abriu a mão, para ficar com a palma de frente ao ataque de Sorah. Uma imensa energia negra formou-se e atingiu o gelo que por pouco não o atingiu. Ela riu novamente da mesma forma.

Mais rápida do que nunca, Sorah correu até ele mostrando seus caninos constantemente num sorriso mórbido. Com um rápido movimento do braço, um bloco afiado, em forma de uma estalagmite, pareceu sair e tomou conta de seu punho, como uma extensão do braço. Seus olhos inteiramente vermelhos abriram se ainda mais, excitada com o que viria a acontecer a seguir. Não era apenas um ataque físico. Dart sabia perfeitamente disso. O frio que emanava daquela espada improvisada era capaz de matá-lo. O que dava uma vantagem a Sorah, de não precisar sequer atingi-lo para derrotá-lo.

Num corte rápido, Sorah passou alguns centímetros de destroçar o braço esquerdo de seu adversário. Mas Dart pulou para trás e preparava-se para desferir outra quantidade de energia. Foi impedido por um peso inesperado. Seu braço estava congelado.

Distraído, foi apenas no último segundo que conseguiu desviar sua perna de ser cortada. Mas esta foi congelada exatamente como seu braço. Agora não podia atacar nem se desviar com a mesma força e velocidade.

Impaciente, Dart olhou para uma Sorah completamente insana, rindo de forma maligna, adorando estar ali, adorando a adrenalina e o poder correr por cada veia de seu corpo. Adorando ter a oportunidade de matar.

- Não continuarei com isso. Acabarei com tudo agora mesmo. Estou deixando você ir longe de mais. – murmurou Dart.

O lifing fechou os olhos. Sorah parou de rir e pareceu preocupada. Ele começou novamente com o mesmo processo que havia aumentado sua força até então. Rosnando, com veias saltadas no rosto. Sua camisa foi se dissolvendo com a força maior do que nunca. Toda a energia extra corporal foi se concentrando em dois pontos acima dele. As veias menores que saltavam foram estourando em pequenos pontos e ele pingava sangue. Caiu ajoelhado não suportando a dor. Seu corpo arqueou para frente. A energia extra corporal estava se forçando a entrar em seu corpo, que já não suportava guardar mais poder.

Num grito de dor, Dart causou uma imensa explosão que atingiu com seu calor todos daquele estádio, apesar de não ferir nenhum.

Suas costas nuas abriram quatro imensas feridas que sangraram por alguns segundos, até que algo começou a sair dali. A dor pareceu se tornar insuportável a partir de então, e seu berro era horrendo até para os monstros que assistiam a tudo, incrédulos.

Um tipo de mancha negra saia de suas costas. Não dava para ver direito, pois a energia distorcia o ar ao redor.

Numa explosão maior e repentina, essa mancha absorveu toda energia ao redor e se transformou em quatro asas negras e majestosas.

Dart arfava alto. Até mesmo a cor e comprimento de seus cabelos mudaram. Estavam compridos, até a metade das costas e prateados. Não havia mais tanta energia extra corporal. Apenas um brilho negro em volta das asas.

Num bater fraco dessas asas, o ar agitou-se violentamente, e ele levantou vôo.

- Sorah, - começou lá de cima, com uma voz sombria que não lhe pertencia. – desista imediatamente. Você sabe que ainda não pode chegar a esse estágio.

A lifing, lá em baixo, agora demonstrava uma profunda expressão de ódio. Desistir? Fora de questão para alguém como ela.

Sorriu uma última vez antes de fazer o mesmo que ele. A mesma face de preocupação que surgiu em Dart, refletiu em Sabrina, Hebel, Mirian, Nicka e nos demais guerreiros, com exceção de Belthor, que parecia simplesmente interessado. Mesmo que só Dart tivesse noção do que ela iria fazer.

A face de dor que surgiu em Sorah, como se tivesse se arrependido de fazer aquilo seguiu uma explosão da energia extra corporal da mesma. Não só dor, mas um medo ainda maior pareceu tomar conta de seu rosto. Dava a impressão de que queria parar, mas não conseguia. A veia de seu pescoço estava mais para fora do que pra dentro. E assim como ocorreu no rapaz, outras pequenas veias estouraram e ela jorrava sangue. Sua energia concentrava-se cada vez mais em torno de si, quase penetrando em sua pele, para adentrar em seu corpo.

Dart pareceu mover-se para impedi-la, mas sabia que já era tarde demais.

Sorah gritou. Um grito insano de libertação. Outra explosão tomou conta do lugar. Mas a sensação de ser atingido por esta era diferente das demais. Esta era gelada.

Os olhos de Sorah perderam a pupila e tornaram-se completamente vermelhos enquanto toda energia que ainda restava fora de seu copo foi começando a tomar forma e cor em torno de si. Era como uma armadura formando-se apenas de energia.

Assim que tudo aquilo se dissipou, Sorah rosnava. Vestia uma armadura negra com adornos vermelhos. As ombreiras tinham uma espécie de coroa vermelha com detalhes em preto, em suas bordas. Estas eram presas num peitoral ajustado a seu corpo. Era feito de energia pura, mas se acaso fosse feito de metal, pesaria pelo menos trezentos quilos. Cada parte dela tinha a grossura média de cinco centímetros. Havia uma espécie de saia na cintura. Como se fossem folhas de metal sobrepostas umas sobre as outras em posição simétrica. Eram quatro dessas folhas, uma maior que a outra, apenas na frente, contornadas de vermelho. Joelheiras com espinhos nessa mesma cor. Onde não era desta cor, era em preto. As caneleiras em especial não tinham adornos eram inteiramente vermelhas, com apenas mudanças em sua tonalidade.

- Sorah… - murmurou Dart de onde estava.

Ela urrou. Não estava nem próximo de consciente. Era uma fera feroz em busca de uma presa. Vasculhou ao redor, sentindo o cheiro de sangue humano até encontrar Sabrina. Partiu em sua direção.

Ao ver isto, Dart voou até lá e entrou em sua frente. Naquele instante veio à mente de Sorah “derrotar… derrotar… destruir… matar” e ela reconheceu o rapaz a sua frente como seu alvo. Deu-lhe uma joelhada no estômago e pulou sobre ele quando o mesmo caiu. No entanto, a força dele não estava muito a baixo da dela e isso não fez muito estrago.

Esta fera na qual Sorah se tornou, de repente, começou a urrar de dor e pôs a mão sobre a cabeça. A energia da armadura ameaçou abandoná-la, mas a lifing não permitiu.

Voltou-se novamente a Dart e lançou um poderoso ataque de energia negra que o atingiu em cheio, arremessando-o para longe.

Rapidamente recuperado, Dart usou as asas para chegar próximo de Sorah rapidamente. Não lhe interresava mais ganhar.

Parou imediatamente sua aproximação ao vê-la cair de joelhos no chão, berrando de dor. Ela ainda jorrava sangue. A partir do momento que sua transformação estava completa ela já não devia mais sangrar. Se aquilo continuasse, ela morreria em breve.

Mas aquilo se tornou pequena preocupação quando Sorah apontou a espada para a própria garganta. Pretendia se matar para parar o sofrimento?

Dart chamou a juíza em desespero e anunciou que desistia. Ela, confusa e temerosa, apontou para Sorah como vitoriosa, apesar de ainda urrar de dor de forma feroz.

O lifing correu até ela, com toda sua energia se dissipando no meio do caminho. Suas asas foram sumindo, suas energias voltaram ao normal e ele voltou a ser o mesmo Dart de sempre antes de chegar até ela e abraçá-la fortemente, tentando ser mais forte do que a dor dela.

- PARE SORAH! PARE IMEDIATAMENTE! Ouça-me, Sorah, por favor, volte si! Sou eu, Dart, estou do seu lado. Eu não te abandonei, estou aqui! Não deixe essa força tomar conta de você!

Lágrimas de sangue escorreram no rosto de Sorah enquanto seus olhos voltavam ao vermelho, seguido do verde e finalmente o âmbar costumeiro.

A armadura só a deixou então, quando se transformou em energia extra corporal e em seguida se dissipou dentro dela. Os sangramentos pararam e ela desmaiou nos braços de Dart.


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