O tempo ia passando lentamente, a dor só ia aumentando. A culpa era minha, eu sei. Eu queria consertar as coisas... Mas mais uma noite de bebedeira é capaz de terminar de destruir o que já estava além do fundo do poço.

Eu não me sentia bem com a solidão, queria alguém para ouvir as minhas "lorotas de bebum", alguém que apenas me fizesse companhia. Optei por bares. Acabei por contar minha vida inteira à todos os desconhecidos que se sentavam ao meu lado, e o pagava uma dose de cachaça enquanto ouviam minha dor.

E, da noite inteira que se passou, lembro-me de alguns poucos detalhes, todas as memórias foram ofuscadas pela dor de cabeça que me atinge fortemente agora.

Uma chamada no meu celular foi o suficiente para eu me encabular, como uma criança tola que não sabe como explicar onde errou.

"Beija-flor"

Por que ela me ligaria agora? Um perdão, talvez?

– Beija-flor... - Eu atendi, enquanto dentro de mim parecia ocorrer uma festa, aquela possibilidade da vida melhorar para mim parecia única, e meu corpo correspondia igualmente.

– Eu te odeio! Por que você fez isso comigo, seu idiota? - Ela chorava, gritava. Me odiava.

– Me perdoe se fiz algo que a machucou...

– Machucar? Obrigada por expor todos os meus medos na mesa de um bar, para um conhecido qualquer, que agora tem todas as armas para acabar com minha vida. Meus podres, meus almejamentos, meus sonhos, minhas fraquezas. Não sabia desse teu lado infantil!

– Me perdoe.

– Perdoar a ti é algo que está fora do meu alcance agora.

E desligou.

"E só eu que podia, dentro da tua orelha fria, dizer segredos de liquidificador..." Outra vez, o culpado era eu. Por confessar os tais segredos de liquidificador para quem não deveria, eu nem sabia, nem me lembrava ao certo.

E isso pedia uma carteira de cigarros...