Unnatural escrita por aLexo


Capítulo 4
(Nathan) Dia Mundial da Tensão com Répteis.


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora. Estava tentando dar um clima mais tenso para a história.



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    Já se haviam passado duas semanas desde que meu melhor amigo havia desmaiado na linda praia de Copacabana. O assunto do furacão de água já havia sido abafado dos jornais, mas as pessoas ainda comentavam. Eu tentava fazer Leon parar de pensar naquilo, mas o trabalho não seria fácil. De qualquer forma, sabia que ele é forte, iria conseguir.

    As férias de verão tinham acabado e todos estavam naquela animação de volta às aulas - "NÃO! NÃO! ISSO NÃO PODE ESTAR ACONTECENDO!". Leon era o que mais parecia estar detestando aquilo. Além de ter passado metade das férias rodando o mundo, teve que passar a outra metade em casa acamado, sem falar no sonho esquisito que ele disse ter... um casamento. Eu acho que ele é novo demais.

    Leon estava atrasado, então achei melhor entrar na sala. A primeira aula seria de redação, então eu já comecei a pensar na redação que qualquer professor pedia no primeiro dia de aula: "Como foram suas férias?". Eu não tinha feito muitas coisas. Só fui para a casa da minha avó em Jersey e acho que fui no cinema umas duas vezes. Mas eu sempre chego muito cedo na escola então tinha bastante tempo para inventar.

    Esse ano, as aulas haviam começado numa quarta-feira, então significava uma coisa: o fim de semana estava mais próximo! Mesmo sendo quarta - ou talvez, por ser -, havia muitas pessoas na escola. Mais que o normal. Se eu não tivesse uma visão muito boa, com certeza não teria visto aquela cena: Leon estava conversando com uma garota!

    “Ei, Nath! Quais são as-”, Megan dizia ao se aproximar, mas eu a calei e lhe apontei a cena que eu via. Ela ficou vermelhíssima, depois sussurrou: “Quem é aquela garota? Nunca vi ela antes...”

    Eu também não. Pensei que poderia ser a Giovanna que ele mencionou, mas logo tirei da cabeça. Ela era alta, tinha a mesma altura de Peter, cabelos castanhos bem lisos, parecia ser bonita, pelo menos de lado - eu não a via direito - e usava uma jaqueta jeans. O sinal tocou e imediatamente eu e Megan corremos para nossos lugares a fim de não sermos vistos. Decidimos esperar para saber quem era ela - ou se Leon iria nos contar.

    “Bom dia, alunos!”, a professora entrou em sala e já estavam todos sentados nos lugares habituais - Leon na carteira do meio na fileira do meio, eu a seu lado, na fileira da direita e Megan atrás dele. “Antes de fazermos a redação de volta ás aulas, eu gostaria de anunciar uma coisa...”, eu não disse? “Nosso baile de boas vindas vai ser essa sexta!”

    A sala toda se agitou. Não sei por que... Na hora do baile, a maioria só ficava nos cantos conversando com os amigos, ou andando (escondidos) pelos corredores da escola. Mas todos já queriam se garantir com um par. Eu e Leon tinhámos um plano mais fácil:

    “Eu vou com a Megan!”, gritamos os dois juntos, mas eu gritei um milésimo de segundo mais rápido. Nesse momento lembramos que estávamos em sala de aula e, assim, todos estavam nos olhando agora. Nos encolhemos cada um em sua carteira e fingimos que a sala toda não estava olhando para nós. Isso é um momento que eu posso chamar de “tenso”.

    Desde que começamos a andar juntos, tinhamos o plano de, sempre que houvesse um baile escolar ou festa em que teriamos de formar duplas, o primeiro que anunciasse iria com Megan. Não havia discussão. Era na verdade bem prático.

    

    Acabou que a professora foi chamada pelo diretor e não tivemos aula, só ficamos conversando pelos quarenta minutos seguintes. Eu me perguntava onde estava a garota de jaqueta jeans e cabelo castanho, porque ela não havia aparecido até a hora do intervalo, e Leon não parecia querer nos contar.

    “Então, Leon, com quem você está planejando de ir no baile de boas vindas?”, Megan não sabia ser discreta, nem um pouquinho. Leon me olhou como se perguntasse “Algo de errado com ela?”, mas não parecia disconfiar de nada.

    “Eu não sei”, disse por fim. Não acrescentou nada a mais, o que era um pouco estranho. Na verdade, Leon era bem conversador, mas hoje estava pensativo. Era bem estranho.

    Aquele intervalo foi estranho. Geralmente era Leon que guiava nossas conversas, mas como ele estava pensativo, ficamos no mesmo silêncio constrangedor por vinte minutos até a hora em que teríamos aula de biologia.

    

    Já fazia mais de dez minutos que o sinal havia tocado. Todos estavam na sala cochichando, mas não havia sinal nenhum do professor. Estávamos esperando os quinze minutos - porque se derem quinze minutos que o sinal bateu e o professor ainda não tiver chegado em sala, os alunos podem sair -, mas quando faltavam apenas 54 segundos, um homem de estatura mediana entrou na sala.

    Aquele inconfundivelmente era o professor de biologia. Usava um casaco marrom sujo de terra, tinha cabelos castanhos longos e ondulados que pareciam gritar "Shampoo! Por favor!" e calçava botas sujas de lama. Não era preciso que ele falasse uma palavra para se notar que ele era mal humorado.

    Ele murmurava algo em outra lingua enquanto rabiscava letras mal feitas no quadro negro: "TENEBROSO". Era o que parecia estar escrito. Ele se virou para nós e eu pude ver uma marca de cicatriz passando pelo olho esquerdo. Depois que ele se virou novamente e voltou a rabiscar no quadro - ele parecia ter dificuldade naquilo, como se não soubesse bem como escrever -, eu, Leon e Megan nos entreolhamos e parecíamos ter encontrado o "professor casca dura" do ano.

    Li no quadro os dizeres "Caderno. Anotem." e decidi não contestar. Geralmente eu não levo os deveres tão a sério assim, mas eu não duvidava muito que ele pudesse ter uma arma dentro daquele casaco sujo. Quando abri o caderno, derramei um pouco de água da garrafinha no chão, mas não me preocupei.

    O professor passava algo sobre a membrana plasmática e fosfolipídios, mas era difícil decifrar bem o que eram cada letra. Quando o quadro acabou, ele deu uma pausa e começou a passear pela sala. Quando ele passava perto de alguém dava para ver bem que ela ficava nervosa - principalmente Megan, que quando o professor passou, ficou mais vermelha que um pimentão radioativo cheio de glitter vermelho.

    Se fosse com qualquer outra pessoa, teria sido engraçado, mas nessa situação, foi bem tenso. Enquanto ele passava perto de minha carteira, eu esqueci completamente daquela poça de água. Ele pisou de mal jeito e acabou caindo de costas no chão. Todos ficaram mais tensos do que nunca.

    Os mais corajosos - que foram para mais perto do professor caido -, notaram que ele não se mexia e nem parecia estar respirando. Foi quando um pequeno jacaré multicolorido e com duas caldas saiu da jaqueta do homem caído. Todos saíram correndo, mas por algum motivo - que eu ainda desconheço -, eu, Leon e Megan ficamos lá, observando a criatura rastejar de um lado para o outro da sua antiga moradia - o professor.

    Foi então que vi que Leon e Megan observavam atentos um canto perto da porta, onde uma garota de descendência japonesa estava chorando assustada. Mas não dei muita atenção, fiquei mais preocupado com o fato de que passos apresados podiam ser ouvidos do corredor. Quando observei novamente, a garota havia sumido e eu e os outros decidimos que era melhor sair da cena.

    

    Naquela noite eu iria dormir na casa de Leon. Havíamos recebido um comunicado da escola de que não haveria aula até a semana seguinte, mas que o baile de boas vindas não seria cancelado. Decidimos não conversar sobre nada a respeito daquilo sem estarmos os três juntos, então tentávamos nos concentrar nos vídeos idiotas do YouTube.

    "Ei, garotos!", o pai de Leon apareceu na porta do quarto, "Vou ter que sair agora. Tudo bem ficar aqui sozinhos?"

    Ele já sabia a resposta. Desde que conhecia Leon, já ficamos muitas vezes sozinhos em casa, já que o trabalho de seu pai era bem inconstante. Nós geralmente fazíamos pipoca e assistíamos aos Simpsons ou The Big Bang Theory.

    Não acreditava que nenhum vizinho havia reclamado até agora. Eram simplesmente dois adolescentes hiperativos assistindo a um programa mundialmente famoso da Fox no volume 100 depois da uma da manhã.

    "Seu pai disse que hora iria voltar?", eu perguntei a Leon. Ele balançou a cabeça de modo negativo. Estava com a boca cheia de salgadinhos e refrigerante. Havíamos guardado estoque de guloseimas durante três meses para essa noite. As pizzas já haviam acabado, então estávamos atacando o resto.

    Eu bocejei bem mais alto do que eu esperava, assim, Leon abaixou o volume de Bart sendo estrangulado pelo Homer e disse: "Melhor dormirmos para acordar cedo amanhã", e eu disse algo como "Já que você insiste..." e ele desligou a TV. No caminho pensei no que faríamos mais tarde.

    Enquanto nos dirigíamos para o quarto, eu ouvi um ruído ensurdecedor e estranho que parecia com o de alumínio sendo arrastado no chão - aqueles usados em peças para fazer o som de trovões. Leon pareceu ter ouvido também - ele não era surdo. E vinha do andar de baixo da casa.

    "Melhor subirmos. Vamos pela escada pro sótão!", disse Leon e eu o encarei confuso. Foi então que ele abriu - como se fosse uma porta - um quadro de 2m de comprimento por 1.5m de largura com o desenho de um castelo. Dentro havia uma escada que ia para cima - um andar onde eu, seu melhor amigo a quase 7 anos, nunca havia sabido da existência.

    "Realmente deveriam ter luzes aqui", eu tentei fazer com que minha voz soasse calma mas não funcionou muito bem. A verdade é que nunca havia corrido por uma passagem sem iluminação em direção ao sótão - que eu nem sabia que existia - tentando fugir de um barulho estranho e incrivelmente alto.

    Aquilo parecia estar em câmera lenta e aumentando a cada segundo. Foi então que algo não programado aconteceu: o barulho se transportou para o sótão bem no momento em que eu já conseguia ver uma luz. Assim, corremos mais desesperadamente para a direção contrária. Quando ameaçamos voltar, o barulho voltou para o mesmo local de antes de um jeito que me fez pensar "you gotta be kidding me!" - agora a cena na aula de redação não parecia mais tão tensa.

    Quando chegamos no sótão, não era bem um sótão. Era uma biblioteca gigantesca e empoeirada com mais de dez milhões de livros - claro que estou exagerando - e mal iluminada. Assim que demos o primeiro passo para dentro daquele lugar, o ruído parou para dar espaço para o barulho - milhões de vezes mais baixo - de um iPhone no chão, perto de nós.

    "Olha, não acredito que fugimos de um barulho que tem medo de telefone", eu disse para tentar abafar o clima tenso. Chegamos mais perto para ver quem chamava. O número no visor trouxe toda aquela tensão de volta: 666. Quando vimos, o telefone parou quase que instantaneamente.

    Leon pegou o celular com um pedaço de papel e colocou no bolso como se fosse uma bomba. Ele olhou para mim com uma expressão séria e decidimos descer para a parte da casa que eu conhecia e onde não haviam iPhones jogados - é interessante que ninguém perguntou de quem era aquilo.

    "Quer ir para minha casa?", eu perguntei quando chegamos à sala de televisão, onde ela permanecia intocada.

    "Quer ir mesmo?", Leon perguntou como se eu fosse doido - nunca neguei nada -, e completou: "Quer dizer... para fora?"

    Até hoje não sei como consegui convencê-lo a sair de casa, mas ele concordou e nós saímos correndo em direção à minha casa. Todas as ruas que passamos estavam desertas e mais escuras do que o normal. Quando chegaram a um terreno baldio próximo a minha casa, eu anunciei contente "Estamos quase lá!" - mal sabia eu que aquilo deu o mesmo resultado do que se eu tivesse dito "Não pode ficar pior".

    "Ou não...", disse Leon quando um vulto verde e prateado havia acabado de se materializar bem na frende dos dois jovens que ficaram paralizados.

    Tinha a forma de uma cobra e parecia ter mais de vinte metros de comprimento, com asas gigantescas cheias de penas douradas e prateadas, sem falar das - muitas - fileiras de dentes pontiagudos e amarelos. Sua pele era verde musgo, na verdade, deveria ter musgo lá mesmo.

    A criatura parecia observar atentamente nós dois, foi então que percebi. Ela não tinha olhos. Eram apenas órbitas vazias de onde escorria um pouco de líquido prateado. Mas aquilo conseguia nos sentir. Esperava um movimento para dilacerar nossos corpos.

    BAM!

    Foi inacreditavelmente rápido. A criatura nem viu direito o que a atingiu - nem eu. O que consegui ver foi a explosão de poeira dourada que saiu voando quando algo acertou o monstro. Era até bonito de se olhar, mas eu e Leon não ficamos lá admirando as luzes vindas do monstro. Corremos o mais rápido possível para a casa de Nathan. Logo que chegamos no quarto, o telefone tocou.


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