Unnatural escrita por aLexo


Capítulo 3
(Leon) Traumatizo com praias




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    Eu me preparava para sair. Havia dormido demais e já eram nove e vinte, mas o nosso ponto de encontro ficava a poucos minutos de casa. Na tarde anterior, eu havia ficado mais de meia hora em uma loja de roupa - é muito tempo para um garoto - para escolher uma para aquele “encontro”. Não. Não era um encontro. Eram só duas pessoas em um lugar, juntos, conversando...

    “Pai, você viu as chaves?”, é interessante o jeito que as coisas sempre somem quando você mais precisa ou quando está atrasado, e elas sempre aparecem quando você esquece totalmente de sua existência.

    “Estão na mesa da TV”, ele disse. Já estava acostumado. Não havia uma vez em que eu não perdia algo antes de sair de casa.

    Me despedi e saí correndo em direção à Av. Atlântica, onde tinha marcado com Gih e tentava inventar uma desculpa por chegar atrasado. As melhores eram que eu me perdi ou que meu pai havia me prendido em casa até eu arrumar o quarto.

    Quando cheguei, ela ainda não estava ali. Não pude evitar, minha mente pensou mais de mil motivos macábros para ela não estar ali, mas quando o miléssimo primeiro iria se formar eu a vi, correndo em minha direção. Bermuda jeans, uma camisa sem manga, ela usava um rabo de cavalo e um boné com a palavra “Diretor” escritas.

    “Desculpe o atraso! Eu me perdi!”, ela disse e começou a olhar para uma rua atrás de mim, “Não acredito! Aquela ali é a rua do meu hotel!”, ela não parecia irritada, na verdade ela começou a rir, era mais como se achasse engraçado o fato de andar mais a toa.

    Eu ali, só olhando, calado... Ela começou a sorrir com uma cara de “o que você fez?”. Depois que eu saí daquele transe, foi difícil convencê-la de que eu não tinha feito nada. Começamos a andar pela avenida e conversar sobre diversos assuntos - quando eu digo diversos, eu digo de carros que viámos na rua até os cantores de hoje -, mas quando eu perguntei sobre a família dela, ela esquivou.

    Eu tinha achado estranho o fato de seu pai, John, não estar com Karine na praia, porque antigamente eles não saiam de perto um do outro. Sempre muito unidos. Ela só me contou que no mesmo ano em que eu me mudei, seus pais tiveram um bebê chamado Ronan, mas contou aquilo como se fosse um segredo muito bem guardado. Sabia que ela estava me escondendo algo, mas decidi não comentar.

    “Já é meio dia, o que acha de almoçarmos?”, não podia acreditar, o tempo passou tão rápido que eu nem vi, e, eu queria ficar mais tempo com ela até não vê-la denovo por sei lá quanto tempo. Ela aceitou.

    Fomos para um restaurante legal perto da praia. Tudo estava perfeitamente bem e normal até que a energia acabou. Poderíamos continuar a comer normalmente - já que estava de dia e o restaurante tinha janelas -, se não fosse pelo barulho ensurdecedor de muitas pessoas gritando e correndo, vindas da praia.

    Saímos para ver o que acontecia. Era uma cena pandemônica. Pessoas correndo em todas as direções e gritando, parecia a cena de Guerra Mundial Z,  mas o que realmente chamava a atenção era um furacão maior que qualquer prédio por perto. Parecia estar a alguns quilômetros de distância, mas isso não diminuia seu tamanho. Aparentemente havia submergido em menos de trinta segundos e era feito por água.

A cena era por um lado fantástica, mas por outro destrutiva.

O furacão tinha uma coloração inusitada; em sua maior parte, era verde azulado - ou azul esverdeado -, mas no topo, era fácil perceber tons de amarelo. Eu nunca havia ouvido falar de furacões feitos de água, mas por mim, eles não deveriam ter coloração amarela.

Mesmo a alguns quilômetros de distância, aquilo podia ser sentido - e era forte. Pus-me a observar aquele furacão. Ele não parecia estar se movendo, talvez por estar muito longe, mas ele só ficava ali, parado, assustando banhistas. Foi então que pensei numa possibilidade:

    “Giovanna, aquele não é o mesmo local onde estavam aquelas nuvens ontem?”, eu gritei e ela me fitou. Eu podia ver o medo em seus olhos, mas ela parecia estar tentando se lembrar. Naquele momento, eu ouvi ao longe, no meio de muitos gritos, um homem dizer “É o apocalipse!”, eu não sabia bem o que ele havia dito ali, mas era um senhor inteligente, pude notar depois.

    Foi assustador. Estávamos ao lado de uma árvore velha, com raízes bem longas quando ela se soltou do chão e foi voando na direção do furacão. Uma de suas raízes bateu no meu rosto, fazendo um corte, mas ao me recuperar, pude ver que Gih estava inconsciente indo um direção ao oceano. Corri e cheguei a tempo de pegá-la antes que fosse engolida pelo mar.

    Gritei desesperado por socorro. Parecia que a cidade toda havia ficado silênciosa. Não havia barulho de nada. Nesse momento, uma grande gota de sangue caiu na roupa de Gih. Eu pus a mão no rosto e senti molhado. Desmaiei.

    Era dia. Eu acordei com dor de cabeça no meu velho e aconchegante quarto no lado leste de Manhattan. Nathan, meu melhor amigo, estava mexendo em seu Facebook no meu laptop - eu odiava isso. Nathan e eu nos conhecemos aos 9 anos. Ele foi meu primeiro amigo quando cheguei em Manhattan.

    “Ei! Sai do meu PC!”, eu disse, mas minha voz estava fraca.

    “Pensei que nunca mais ia acordar!”, ele deixou o computador e se sentou na cama, “Você está bem?”.

    Nathan é um daqueles que te zoam e são chatos ás vezes, mas que sempre vai estar do seu lado quando precisar - a menos que ele esteja a fim da mesma garota que você, aí o negócio muda de figura. Ele era alguns meses mais velho que eu, tinha cabelos pretos um pouco desarrumados - parecia que nunca haviam conhecido um pente - e olhos cor de mel - que funcionavam muito bem com as garotas...

    “Estou.”, eu notei que ele parecia realmente preocupado comigo, até demais, por isso, completei: “Eu acho... Por que?”

    Ele me olhou estranho, depois para a porta, provavelmente para verificar se alguém estaria nos ouvindo - ou talvez para ver se não tinha nenhuma câmera - e perguntou: “Você realmente não se lembra onde conseguiu essa cicatriz?”, e me deu um espelho.

    Havia ataduras no meu rosto. Tentei me levantar, mas nesse momento senti muita dor. Era como se todos os meus ossos estivessem quebrados e havia algo palpitando no lado direito do meu rosto. Não sei como não senti aquilo antes, porque agora era insuportável.

    De repente, todo o meu corpo ficou dormente. Se aquilo tudo foi real, então o furacão também foi, e... Gih! Eu havia me esquecido totalmente dela. Como eu pude esquecer dela? Onde ela estava?

    "Onde está a Giovanna?", eu perguntei. Minha voz saiu desesperada, e aquilo expressava perfeitamente como eu me sentia. Eu tinha que saber sobre ela. Nesse momento, um pensamento ruim chocou minha espinha. Não. Ela tinha que estar bem. Ela está bem!

    Nathan me olhava. Eu devia parecer muito fraco. Sentia minha pele fria. Pensei em quanto de sangue eu teria perdido até que alguém me tirasse daquele lugar. Eu tentava tirar aquela imagem da minha mente, mas ela sempre voltava. Meu pai entrou no quarto.

    "Filho...", ele parecia assustado. "Você vai ficar bem...". Mais uma vez, ele foi capaz de ler minha mente: "Sua amiga, ela está bem. Ela não teve ferimentos graves".

    Uma sensação de alegria extrema encheu minha alma. Eu deitei na cama e imediatamente caí no sono.

    Eu acordei em um gramado. Havia muitas pessoas reunidas, mas nenhuma prestava atenção em mim. Todas elas trajadas em túnicas brancas e algumas tinham detalhes em vermelho, azul ou verde.

    Percebi que havia um grande templo ali perto, em cima de uma montanha. Ele brilhava muito ao bater do Sol, talvez fosse feito de ouro, e tudo que eu conseguia enxergar eram pilastras e esculturas do estilo clássico.

    "Todos! Silêncio!", ouvi a voz grossa de um homem, mas ao me virar, deparei-me com uma criatura fantástica. Era uma gárgula, uma escultura gótica de pedra - que parecia um pouco o Moe dos Simpsons - viva. Tinha asas pequenas mas muito afiadas nas pontas, pernas de bode com pés de lagarto e olhos azuis, mais azuis que os céus, e brilhavam.

    "Obrigado, Ígneos", disse um homem alto e musculoso que acabara de entrar no meio da multidão. Tinha cabelos castanhos e louros espalhados pela cabeça. Seus olhos eram azuis como o céu, não tão azuis como os de Ígneos, mas brilhavam numa mesma intensidade.

    Junto a ele, entraram dois outros homens. Um era um pouco gorducho, tinha longos cabelos pretos e encaracolados e um rosto risonho, usava uma túnica alaranjada e era bem bronzeado. O outro homem era muito alto, tinha a pele um pouco queimada de Sol. Seu cabelo era muito preto, chegava a brilhar, mas seu rosto deixaria qualquer garota louca. Ele parecia aquele vampiro da série “Diário de um Vampiro”. Também parecia ser um homem brincalhão e divertido.

    "Obrigado.", voltou a dizer o homem de olhos azuis, ele parecia estar feliz. Era o único em um traje totalmente branco. "Primeiramente gostaria de agradecer a todos por estarem aqui hoje... Esse é o dia mais feliz da minha vida.”

    Foi então que percebi do que se tratava. Naquele instante, uma mulher, vestida em panos prateados e folhas silvestres, se aproximou da multidão. Tinha longos cabelos castanhos e usava uma coroa de louros. Seus olhos eram verdes e ela era simplesmente linda, não havia como contestar.

    


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