Unnatural escrita por aLexo


Capítulo 2
(Giovanna) Converso com um velhinho por 4 horas.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/388990/chapter/2

    Foi difícil me conter naquela hora. Eu não via Leon a quase uma década e pode parecer estranho, mas algumas semanas atrás eu estive pensando nele. Talvez porque com o divórcio dos meus pais eu tenha me sentido um pouco sozinha. Talvez do jeito que Leon me dizia. Sua mãe havia sumido dias depois que ele nasceu e ele achava que a culpa era sua. Ele podia sem parecer lembrar mas tenho certeza que aquilo ainda assombrava sua cabeça.

    “Filha! Me ajuda aqui.”, minha mãe gritou pra mim - o que era desnecessário, já que eu estava a menos de dois metros de distância dela. Ela estava arrumando as coisas.

    Adiaram a competição de surf por medo de uma tempestade, mas eu não me importava, na verdade seria até melhor, queria conversar com o Leon sem a minha mãe por perto. Quando eramos crianças, ele sempre ficava sem jeito perto dela.    

    “Aquele garoto, Leon, vocês eram bastante amigos, certo?”. Era incrivel como ela conseguia sentir quando eu estava pensando num garoto. Eu olhei para ela com uma expressão confusa, mas sabia muito bem o que ela estava perguntando; se eu estava "gostando" dele.

    Naquele momento, uma imagem do último dia em que vi Leon veio a minha mente. Já estávamos no final do inverno na cidade de São Francisco. Eu tentava colocar na cabeça do pequeno Leon de 9 anos que não nevaria naquele ano, mas ele era muito cabeça dura. Vestia quatro jaquetas e dava para ver muito bem que ele estava com muito calor mas ele não tiraria.

    “Hãn? Sim.”, minha voz saiu um pouco mais fina do que ela deveria, então achei melhor completar, “Sabe... amigos de infância... e nós brincávamos muito...”. Ela me olhou com um olhar de ‘tudo bem, mas vou perguntar depois’.

    Estávamos no hotel quando eu ouvi um barulho irritante vindo do meu celular. Não sei por que eu usava aquele toque, mas significava ‘nova mensagem’. Eu fui me arrastando até o móvel em que ele estava e dei uma olhada, e, logo minha expressão mudou: era do Leon. Dizia “Queria me encontrar com você mais cedo.”. Era pequeno, mas era o suficiente para me deixar animada por horas.

    “Quem era?”, de repente minha mãe aparece na porta do meu quarto e eu quase deixo o celular cair. Ela nunca perguntava sobre ligações ou mensagens do meu celular - sabia que a maioria eram da operadora -, mas eu sabia que ela tinha um objetivo.

    Andei em direção a ela lentamente e, ao passar por ela, sussusurei “Leon” em sua orelha. Bem mais dramático do que as garotas de 14 anos geralmente fariam mas tenho que dizer que foi um pouco divertido ver a expressão de confussão em seu rosto enquanto saia do lugar.

    Enquanto descia em direção ao saguão, pensava sobre o que responder. Não podia ser nada muito meloso, que fizesse ele achar que eu estava a fim dele. Nem algo muito sem sentimento que fizesse ele achar que eu mal queria vê-lo.

    “O que foi? Parece preocupada.”, eu nem havia percebido, mas estava sentada ao lado de um homem. Ele tinha pele negra e barba branca como seda e uma voz firme e grossa, usava roupas típicamente britânicas, mas não tinha sotaque inglês.

    Nem parece que você está em outro país quando todos a sua volta falam a sua língua, mas naquele momento nem pensei nisso. Aquele senhor parecia ser amigável, mas eu não queria contar a verdade para ninguém naquele momento - nem eu sabia. Ele ameaçou se levantar dali mas eu insisti que ficasse.

    “Eu só estou um pouco pensativa.”, respondi. Ele me olhou mais profundamente e me senti um pouco mais confortável com aquilo, não sei porque. “Qual o seu nome?”.

    “Pode me chamar de Aido... Giovanna...”, naquele momento fiquei muito assustada. Mas vi que ele olhava para meu celular, onde uma mensagem tinha acabado de chegar: “Giovanna, recebeu minha outra mensagem?”. Ele se apressou “Desculpe. Eu sou um pouco curioso.”

    Geralmente eu começaria a brigar com qualquer pessoa que tentasse ver minhas mensagens, de crianças a senhoras de 99 anos, mas eu simplesmente não via razão para me zangar com aquele homem, então só acenti com a cabeça e fui responder a mensagem: “Sim. Ás nove e meia está bom para você?”.

    “Bem... Foi bom conhecer você, garotinha.”, Aido levantou como se estivesse atrasado para algo, talvez uma ópera, “Se precisar de algo, estou no apartamento 404”, e saiu apressado pela porta do saguão. Foi então que eu notei que já eram nove horas da noite.

    Cheguei ao apartamento e encontrei minha mãe e meu pai sentados conversando bem concentrados, tão focados que nem me notaram entrando. Era estranho. Eu tinha ficado na portaria aquele tempo todo e não havia visto meu pai passando, nem ele aparentemente teria me visto.

Fui até meu quarto cautelosamente para não chamar atenção. O que quer que estava acontecendo ali, parecia ser algo sério. Ao chegar, encontrei meu irmãozinho Ronan brincando com alguns carrinhos em cima da minha cama.

    "Posso brincar também?" - eu disse e ele me deu um carrinho rosa. Crianças são criaturas interessantes. Nem precisavam se comprimentar e já saíam brincando.

    Eu adorava aquele garoto. A pele era um pouco mais escura que a minha, tinha cabelos castanhos encaracolados - iguais aos de meu pai - e olhos completamente acinzentados. Era curioso. Minha família inteira - os que eu conheci - tinham olhos claros, já Ronan tinha olhos cinzas.

    Ele corria de um lado para o outro, fazendo círculos em volta do quarto com um carrinho de corrida roxo. Eu tentava acompanhá-lo, mas a energia de um garoto de 5 anos era incontáveis vezes maior do que a de um adolescente que ama a sua cama.

    "Ei, Gih! Quando chegou?", meu pai emergira na porta do quarto e me abraçou. Faziam algumas semanas que eu não o via, mas ele continuava do mesmo jeito de sempre: camisetas sociais surradas, calça jeans azul e sempre uma barba por fazer para completar.

    "Eu cheguei faz um tempinho. Achei melhor não atrapalhar você e a mamãe. Como está?"

    Ele fingiu que não ouviu. Pegou Ronan no colo e disse que tinha que ir porque o voo saíria em duas horas. Eu me despedi. Gostaria de ficar mais um tempo com meu pai, mas minha mãe estava esperando na porta então decidi não me intrometer. Eles agiam bem diferente depois do divórcio. Era como se nem se conhecessem, não, era pior, era como se um não suportassem a presença um do outro, mas tinham que conviver todos os dias...

    Meu pai e Ronan saíram do apartamento e, assim que os dois entraram no elevador, minha mãe comunicou:

    "Estou grávida.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sugestões são bem-vindas.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Unnatural" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.