“Quando você vai embora eu conto os passos que você dá

Você percebe o quanto eu preciso de você agora?

Quando você vai embora

Os pedaços do meu coração sentem a sua falta

Quando você vai embora

O rosto que eu conheci também me faz falta

Quando você vai embora

As palavras que eu preciso ouvir para conseguir passar o dia

E fazer tudo ficar bem...

Eu sinto sua falta”

Juvia Lockser se sentou no canto do minúsculo quarto e chorou o quanto pode. Não via o fim das lágrimas. Seu peito ardia, queimava e as lágrimas eram sua única maneira de expressar tudo que sentia nas últimas horas.

Ela virou a cabeça um pouco, porém o suficiente para ver todas as fotos. Memórias. Jogadas fora, agora. Por ele. Soluçou alto. Não se importava de fazer barulho. Não havia mais ninguém com ela. Esse pensamento a fez querer largar tudo e correr atrás dele.

“Gray, como pude deixar você sair da minha vida de maneira tão súbita? Juvia... Juvia te ama. Com todo o coração, como nunca amou alguém” O orgulho de Lockser a impediu de dizer tais frases.

No quarto vazio, apesar de todos os móveis e apesar dela mesma, se perguntava se poderia ter sido diferente. Poderia?

Lembrou-se de tudo o que acontecera nas últimas quatro horas.

“Gray Fullbuster não é o que chamariam de razoável. Seu cabelo negro, seus olhos ônix, seu corpo másculo e tão bonito. Ah... Juvia sabia muito bem disso. Porém, o que encantava Juvia não era a aparência do garoto gelado, e sim, sua personalidade. Apesar do que aparentava na primeira, segunda, terceira, quarta impressão, era maravilhoso.

E ela soube disso muito bem quando Gray parara de rejeitá-la.

Não era por mal, Gray só tinha medo de se ferir, e um medo ainda pior de ferir outra pessoa. Mas Juvia Lockser nunca desistira dele, até que ele se deixou perder-se nos encantos da garota. Quantos anos tinham? Dezessete? Dezoito? Parecia que passara tanto tempo...

Naquela quarta Juvia tinha preparado um jantar para Gray. Depois do trabalho, ficou andando de um lado para o outro pela casa, arrumando tudo, cozinhando, sendo quase uma empregada. Mas valia a pena, afinal, era o Gray-sama, não qualquer um.

Colocou a mesa quando ele tocou a campainha.

Juvia se levantou correndo. Tinha usado um vestido roxo, um pouco rodado, para a ocasião. Fazia sete anos que estavam juntos.

Ficou se ajeitando em frente a porta fechada. Tudo seria perfeito, ela tinha certeza. Abriu a porta.

Seu coração bateu forte.

Como sempre, Gray estava impecável, calças jeans pretas, uma jaqueta de couro por cima da blusa azul, seu cabelo um pouco despenteado. Ele deu um breve sorriso a Juvia e entrou. Deixou os sapatos e ficou esperando Juvia parar de encará-lo.

– O que foi? – perguntou, um pouco corado. – Tem algo de errado?

Juvia balançou a cabeça.

– Não – disse. – Nunca tem.

Juvia segurou a mão de Gray e literalmente o arrastou até a mesa. Ele olhou assustado para o banquete.

– O que é isso? – perguntou, mexendo na rosa cor de chá que Juvia colocara em um pequeno vaso.

– Uma rosa. – respondeu.

– Não, eu falo, tudo isso..? Quem mais virá? Achei que seria só nós dois. – Gray suspirou e Juvia sorriu em seu interior. – Só espero que não tenha convidado Lyon.

Juvia revirou os olhos.

– Não, somos só nós dois. E é uma ocasião especial. – Ela sorriu. Sentia o calor de estar no mesmo lugar que Gray. Era assim toda vez. Não parecia que tinham se conhecido fazia oito anos*.

Eles se sentaram.

– Itadakimasu! – juntaram as mãos e falaram juntos.

Gray começou a comer sem rodeios, mas Juvia não tocou na comida. Não estava com fome. Continuaram um tempo em silêncio. A sala de jantar de Juvia era minúscula, a mesa de mármore tinha espaço apenas para dois. O suficiente.

Depois de um longo tempo comendo, Gray empurrou o prato.

– Já enchi. – anunciou.

Juvia concordou.

Ela ouvia muitos comentários, sobre os dois não serem um casal normal, não ficarem conversando sem parar. Juvia não ligava. Sabia que o amor dos dois era silencioso, misterioso e profundo.

– Juvia, eu tenho algo para contar. – Gray falou depois de muito tempo.

Juvia piscou os olhos.

– Sabe o meu amigo, Gajeel**? – Gray não esperou uma confirmação de Juvia. – Ele me ofereceu um emprego nos Estados Unidos.

O queixo de Juvia caiu.

– O quê? – Quase emitiu um grito.

– É isso. A proposta é boa e eu vou aceitar.

Juvia começou a ficar irritada. Morar, quantos quilômetros de Juvia?

– Você quer morar, quantos quilômetros mesmo?, longe de Juvia? – Juvia perguntou. Não podia ser verdade.

Gray a observou por um momento para ver se a garota estava falando sério.

– São apenas 12521 quilômetros, Juvia. E não, eu não quero morar longe de você. São sete anos juntos, poxa. Eu vim aqui te chamar para vir comigo.

E é isso. Direto. Mas Gray Fullbuster errou o alvo.

Juvia bateu na mesa ao se levantar da cadeira.

– Você quer simplesmente sair do nosso país? Do país onde tudo começou? Onde nossos amigos e nossa nação está? Por um trabalho? – Juvia colocou uma mão na testa. – Não parece ser você, Gray.

Gray se levantou também.

– Juvia, você pode ir no mês que vem. Eu vou daqui a cinco horas. – Ele respirou fundo. Finalmente soltara a bomba. – Mas eu vou voltar pra levar você junto.

Juvia olhou incrédula. Iria viajar daqui a cinco horas e nem ao menos avisara com antecedência?

– Então é assim, você só chega e fala: estou indo pro Japão daqui a cinco horas, e você tem um mês pra arrumar as malas e abandonar tudo para ir comigo?

– Não falei isso.

– Mas subentende-se. – Juvia saiu da mesa e ficou cara a cara com Gray. Ele era mais alto, mas já estava acostumada a olhar para cima.

– Então é assim Juvia? Realmente quer jogar tudo que passamos fora? – Ele olhou para o chão.

– Não, mas não me deixa escolha. – No momento em que Juvia dissera isso, tampou a boca. Queria voltar atrás. Mas agora que começara, tinha de terminar.

– Eu não acredito Juvia. – Gray se direcionou para a porta.

“Entre na frente dele” pensou Juvia. Não se moveu.

– Eu vim aqui... Eu vim aqui para... para fazer um pedido. Para construirmos nossas vidas juntos, legalmente. – Ele dava passos lentos.

“Juvia, vá, impeça-o”. Ainda estava digerindo tudo o que acontecera, ficou parada.

– Eu vim aqui pra te fazer um pedido. – Ele continuou, com a mão na maçaneta. Parou. – Eu te amo, Juvia, não queria que acontecesse isso.

“Vá Juvia, diga que o ama, diga que ele é o homem da sua vida, diga que vai tentar aceitar isso, diga que só precisa de um tempo, por favor, diga Juvia”. Ela não falou nada.

– Me desculpe o incomodo. – Disse Gray Fullbuster, antes de bater a porta ao sair.

“Ele iria me pedir em casamento? Como recusou? Vá atrás dele! Vá Juvia, antes que seja tarde demais” mas ela não foi. E ficou duas horas olhando para a porta onde o amor da sua vida acabara de sair.”

E então foi para o quarto, onde estava até agora, chorando. E daqui há uma hora ele sairia do Japão, e então ela o perderia para sempre.

Juvia levantou os olhos e viu uma fotografia dos dois. Ele estava segurando ela, quando se ferira. Levy tirara essa foto, pois sabia que Juvia iria recordar esse momento. Ela estava certa.

E seu peito parou de doer. E ela limpou as lágrimas, levantando-se. Sabia o que fazer. Iria atrás dele. Ele era seu, não poderia sair da sua vida tão rápido.

Saiu correndo pelo corredor. Uma hora. Esse era seu tempo.

Ela tinha uma hora.

Quem sabe poderia pará-lo?

Quem sabe ainda pudessem ver as estrelas...

"As horas batem indiferentemente para todos e soam diferentemente para cada um."

Citação- Autor: Diane, condessa.