Bem ao Lado escrita por Alessa Petroski
Ele andava pela escola, na segunda-feira, com passos de alguém que não tinha motivos para se arrepender. No entanto, por conhecer a verdade, eu sabia que o que faltava a ele era a consciência e o arrependimento, de fato. Hoje ele vestia uma blusa polo de bom moço em um tom ameno de verde, as calças jeans azul que eu sabia que ele só vestia quando eram passadas a ferro e os sapatos de camurça vermelha o vendiam a todos como um homem decente.
Um grupo de garotas risonhas impediu minha visão dele por alguns segundos e tive que ficar na ponta dos pés e esticar a cabeça para todos os lados algumas vezes para vê-lo cruzando o corredor. Na verdade, mal o vi. E o que vi apenas foram seus cabelos loiros inconfundíveis. Em um mar de cabelos escuros, Vini Fiore era igual a uma lâmpada em meio a um quarto escuro.
– Achei você - falou Katrina puxando meu braço.
Imediatamente sua presença me acalmou. Ela usava uma saia longa marrom e uma blusa verde, ambos esvoaçantes.
– Ai, flor, sinto muito - ela fala e pela primeira vez no dia, recebi aquilo como sendo a verdade.
Grande parte dos meus colegas e o corpo de professores inteiro haviam me dito a mesma coisa, sem nem ao menos mudar o tom de voz. E em todas elas, eu sabia que era mentira.
– Eu sei que sente o mesmo - sorri.
Katrina retorceu as mãos e suas pulseiras farfalharam. Havia algo em seu olhar que denunciava um sentimento mais forte. Um sentimento bom, mas diferentes dos demais que ela exalava. Como se fosse algo mais ardente.
– Parece que tem algo para me falar - arrisquei.
– Bom... - ela torceu os lábios.
– Esquece. Não precisa me contar.
– Acho que preciso. Quer dizer tenho certeza. Mas... Penso que não é a hora.
Não consegui pressioná-la apesar de minha crescente curiosidade. Katrina titubeara tanto que me comovera.
Seguimos juntas para o refeitório e preferi esperar até o fim da aula para pressionar Vini. O dia na escola estava difícil demais e eu podia adiar o ponto máximo de dificuldade por mais algumas aulas.
Vozes praticamente berraram no refeitório, e seus donos pouco ligavam para o que acontecia além de suas bolhas frágeis de futilidade. A uma mesa redonda de tampo azul estavam meus amigos. Elli estava compenetrada em um assunto com Joseph, que no máximo deveria girar em torno de um assunto intelectual e no mínimo, na bomba que explodira bem no comecinho da aula: que Márcia estava grávida e pronta para esconder a identidade do pai de seu filho, mesmo todos sabendo quem haviam doado o esperma.
Sebastian arregalou seus olhos de gatos para mim e limpou a mesa - que ele sujara picotando papel - com a manga da sua blusa.
– Qual é a do papel? - indaguei.
– Fico nervoso e picoto - ele respondeu quase quicando na cadeira.
Bem, quase era um eufemismo. Ele estava quase saltando da cadeira.
– Qual o problema?
– Nenhum... Quer dizer, hoje estreia um filme e eu queria saber se quer ir comigo - ele disse a meia voz, mas o admirei por olhar diretamente nos meus olhos.
– Claro. Seria bom abstrair. Todos topam?
Joseph riu e tapou a boca com a mão.
– Fala sério! Você é burra ou se faz?
– Não entendi - falei embora entendesse muito bem.
– É óbvio que ele quer ir com você ao cinema. Sozinha. Vai ser filme de terror, Dom Juan? - ele se dirigiu a Sebastian que demonstrava cara de paisagem.
– Não exatamente. É mais geek mesmo. Com zumbis e coisa e tal. Se quiserem ir, seria bacana - ele deu de ombros.
– Tenho um compromisso - Katrine quebra o silêncio.
– Vou falar com Lucius - anunciou Elli.
Quase caí da cadeira.
– Para quê?
– Quero visitar a Giane e sei que ele pode me levar ao hospital de noite, sem problema algum.
– Ata - relaxei.
– Por que o interesse? - indaga Joseph astuto e por pouco não revelei o motivo.
– Achei inusitado – dou de ombros.
– Então... Você vai? - indaga Sebastian.
Demoro um minuto para recordar para onde iria e Joseph ri.
– Claro - falei - Às sete?
– Quer que eu te pegue em casa? - Sebastian perguntou.
– Você tem carro? - indaguei surpresa.
– Já tenho 18. Repeti de ano - ele disse em tom de quem pede desculpas.
– Legal - falei sorrindo confiante para ele.
Ele sorriu cúmplice e me senti envergonhada em seguida por conhecer pouco deles. Prometi a mim mesma que iria passar um dia inteiro com cada um deles, individualmente, para conhecê-los melhor.
– Ninguém perguntou. Mas respondo mesmo assim: - falou Joseph - Tenho um jantar de família. O maior saco.
Olhei surpresa Joseph e todos fizeram o mesmo diante ao seu linguajar.
– Não creio nisso - Elli bateu com a mão espalmada na mesa.
– Isso só foi para corroborar o que penso sobre andar com gente de baixo nível - Joseph diz empinando o nariz e logo em seguida ri.
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