Bem ao Lado escrita por Alessa Petroski


Capítulo 29
Capítulo 29




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Acabei adormecendo no carro com a cabeça grudada a janela, o pescoço em um ângulo meio doloroso. Sai do carro quando ele parou em frente a nada pequena cabana dos Fiore’s, que na verdade não pertencia a eles, mas sim ao dono do lugar, um homem com um bom número de décadas na costa e nenhum herdeiro para quem deixar tudo aquilo.

O Acampamento Carvalho Branco, mais conhecido como Acampamento de Feriados, se estende por uma grande área, tendo sua metade povoada por árvores antigas. Árvores que poderiam dar mais espaço para a construção de cabanas, pois tínhamos apenas 30 contando com a enorme cabana principal, mas o dono do lugar era um ambientalista e não importava quanto oferecessem, ele nunca iria acabar com a área verde. O que me deixava muito contente porque eu levava a sério o que a diminuição da quantidade de árvores faria com o mundo.

Papai teria que levar o carro para o estacionamento coberto assim que levássemos as malas para dentro como era a norma. Surpreendeu-me ver meu pai tirar do carro as enormes malas da Cat enquanto ela corria para a cabana, gritando o nome do seu irmão.

– O senhor vai levar as coisas dela?

– Cavalheirismo nunca morre – ele respondeu se dobrando sob o peso de uma das três malas dela.

Meu pai estava com 44 anos, ou seja, não era mais um garoto com força e energia borbulhando na superfície. Enquanto ele tirou as malas do porta malas eu já havia levado as minhas para a varanda da frente.

– Deixa que eu levo, pai – falei descendo a escada padrão de poucos degraus.

– Tem certeza? – ele parou para olhar bem em meu rosto.

– Assim nos instalamos mais rápido porque o senhor tem que guardar logo o carro.

– Certo – ele foi até a porta do motorista, mas parou com a mão na porta – Seu quadro ficou lindo.

– Aproveite ele então, aquilo não vai se repetir – retruquei começando a arrastar as malas para a varanda para evitar olhar para ele.

Meu pai se voltou para mim e pensei que ele iria dar um sermão sobre como eu não podia ignorar meus dons. Preparei-me para ouvir sem falar nada.

– Fico feliz que esteja aqui, Ruby – ele me puxou para um abraço.

Não o abracei nem fiz esforço para ele me soltar até que ele resolveu de vez a entrar no carro e saiu com ele pela pequena estrada de tijolos vermelhos. Um nó se formou em minha garganta e por pouco não chorei. Voltei-me para a entrada da cabana e vi Vini parado ali. Ele estava usando uma blusa cinza e um short laranja. Aquilo foi como outro golpe, mas era provável que ele não tenha percebido que veio me receber a porta com a mesma blusa que me emprestou na primeira vez que fui a casa dele.

Não havia acontecido nada demais, apenas sujei minha blusa com o molho de uma massa, que a mãe dele afirmava ter preparado justo para o nosso primeiro almoço juntos, a família dele e eu. Eu estivera muito nervosa e ele apenas tirou a blusa do próprio corpo e a jogou para mim por cima da mesa, ignorando o olhar de repreensão da mãe e a risada do pai. Acabei rindo junto com o pai dele e isto serviu para me deixar mais a vontade. Vini piscou para mim e eu soube que ele havia feito aquilo para me deixar mais tranquila.

Perguntei-me onde aquele garoto havia ido parar para ter feito o que fez. E me lembrei de que naquela época ele já havia sido um canalha com Giane.

– Precisa de ajuda, Ruby?

Ele sorriu, os lábios rosados se abrindo e deixando uma fileira de dentes muito brancos a mostra.

– Apenas com as coisas da sua tia. Eu cuido das minhas – respondi exasperada.

– Como quiser.

A porta de madeira se abriu e Isabella saiu dela, vestindo uma calça social e uma blusa de mangas com estampas de flores. Como sempre ela estava elegante. Ela se encaminhou até mim e me abraçou. Isabella apesar da frieza aparente era muito ligada a braços e fazia isso todas as vezes que me via quando eu estava com o filho dela. Não gostei nada daquilo porque parecia que nada havia acontecido e que ainda estávamos juntos, o filho dela e eu.

– Venha, querida, vou lhe mostrar o seu quarto – ela me soltou, mas o seu perfume de rosas já havia tomado minha roupa.

Fiquei com um quarto no segundo andar maior do que o que eu tinha em casa. Havia um banheiro ali também, mas ele era em tons neutros assim como o quarto, com as paredes cobertas por um papel bege com flores amarelas por todo o lugar. Lá dentro havia uma cama de casal com um lençol laranja opaco, um guarda roupa pequeno e uma cômoda, onde depositei meus livros ao lado de um jarro de flores do campo. Um jarro que deveria ter sido ideia de Isabella, mas que eu sabia que havia sido o Vini que escolhera minhas flores preferidas. Ele sabia quis eram assim como o Lucius.

Eu trocaria facilmente aquelas flores vivas por aquela que residia em meu quarto e se encontrava murcha.

A janela na parede oposta a da porta era enorme e ficava na parte da frente da casa. Senti-me atraída pela vista daquele lugar. Pela janela vi não somente as cabanas tanto do meu lado esquerdo quanto as do lado direito, mas também o campo de futebol cercado pelos dois lados por arquibancadas. Além havia a área onde aconteceria boa parte das refeições porque ali havia uma churrasqueira feita de tijolos nada ecológica e uma cozinha industrial devidamente equipada. Claro que havia duas piscinas, uma para adultos e uma para crianças, mas ela pouco me interessava porque ficava cheia de gente.

Liguei para Giane.

– Help – ela foi logo dizendo.

– Adivinha em qual cabana estou?

– Na cabana real com seu ex.

Abri a boca espantada.

– Como sabe?

– O fofoqueiro do meu irmão te viu entrando aí – ela fez um barulho com a boca como se tivesse acabado de espocar uma bola de goma de mascar. – Eu não queria ser você.

– Muito reconfortante, Giane, era esta palavra amiga que eu estava procurando.

– Que bom, estou na cabana 18 e preciso de um repelente de mosquitos bem forte – ela choramingou.

Encerrei a chamada e fucei minha bolsa a procura do que ela pedira. Não fazia muito tempo que eu estava ali e já havia sido picada ou mordida, sei lá o quê, por vários mosquitos. E sabia que a tendência era piorar.

Por isso que eu odiava mato e se parecesse uma cobra eu voltava para casa a pé, mas voltava logo.


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