O Adeus De Willy Wonka escrita por dayane


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Porque amava como se fosse viva.

Não tardou chegar milhares de cartas na porta da fábrica, e o senhor Bucket sabia que seu filho havia feito a escolha certa.

Passou anos convivendo com Willy Wonka e, mesmo sendo repreendido em todos os jantares, o jovem criador da fábrica sempre levava o trabalho para a mesa de jantar. Sua esposa não sentia alegria nenhuma em ver seu filho conversando com Willy sobre novas criações ou preços sugeridos e nem mesmo das aulas que Willy dava durante o jantar.

Mas era só passar um minuto, que Willy esquecia-se da repreensão e exclamava alguma ideia genial que havia passado por sua cabeça.

E não era só isso, os pais de Charlie não suportavam a ideia de Willy interromper as tarefas de casa da escola.

O senhor Bucket, acompanhado de sua esposa, resolveram, certo dia, que estava na hora de conversar com Willy. Precisavam esclarecer que Charlie, além de ser herdeiro da fábrica, era uma criança em desenvolvimento e que o futuro exigia estudo.

Porém Willy explicou que o futuro de Charlie já estava concretizado, que o jovem poderia ter tudo o que desejasse, mas que ele teria que batalhar mais do que todos naquela casa imaginavam.

“Eu entendo que a escola é uma fase mágica. Já fui dessa idade e nunca me senti tão desconfortável. Usava aparelho e todos me humilhavam ou zombavam de algo que eu não queria usar, mas que meu pai me obrigava. Sabe, Charlie é a pessoa que eu mais amo neste mundo. Amo mais do que os Oompa Loompas. Mais do que minha fábrica. Amo, porque ele é como eu sou. Amo, porque o amo, assim como me amo. Charlie não precisa da escola, mas mesmo assim deixo-o ir. Um dia, ele vencerá muitas batalhas.” O chocolateiro corria de um lado ao outro da sala de invenções. Não olhava para os pais de seu herdeiro, apenas falava e andava.

E aos poucos os pais de Charlie passaram a amar Willy, como se o homem alto e magrelo fosse, também, da família.



Charlie sentiu o estômago se revirar assim que o táxi aéreo começou a se mover.

– Porque eu sou tão estúpido? Nada vai acontecer, nada vai acontecer, nada vai... Eu vou morrer!

Pensava desesperado e nem se deu conta de que o avião já estava estabilizado no ar. Os dois passageiros que estavam ao lado de Charlie riam do desespero estampado no rosto dele.

Vergonha.

Devia ter escolhido a primeira classe.

Bom pelo menos foi isso que Charlie sentiu ao abrir os olhos ao perceber que riam dele. Encolheu o corpo e puxou as pernas para a poltrona, sentia-se como no dia em que visitou a fábrica com seu avô.

Naquele dia, sentiu-se inferior por ser o mais pobre daquele grupo. Seu avô estava tão fascinado por rever o cara que mais admirava que nem percebeu que havia uma mimada estupidamente rica, um viciado em filmes, um chocólatra que iria ter diabetes em breve e uma maluca famosa por bater recorde.

Enquanto Charlie e seu avô só tinham uns trapos que chamavam de roupas e um coração mergulhado em bondade.

Vergonha foi o que aquelas crianças passaram ao não conseguir controlar seus defeitos. E com esse pensamento Charlie ergueu o corpo e sorriu.

Foi por passar o tempo todo com vergonha, ele lembrou, que ganhou de presente a maravilhosa fábrica.

Charlie fez questão de abrir os dois primeiros botões da camiseta e pedindo licença, passou em frente aos dois companheiros. Ergueu o corpo até sentir sua bagagem de mão e tirou, de dentro dela, a gargantilha. Depois caminhou para o banheiro.

Colocou a gargantilha e arrumou a roupa. O objeto brilhava destacando-se e Charlie sorriu com o resultado. Willy Wonka foi incrível ao criar aquela gargantilha, pois além de combinar com todas as roupas, ela tinha um destaque magnífico em todo e qualquer conjunto de terno ou roupas casuais.

Abriu a porta do banheiro e ouviu um gemido.

– Auth!

Charlie saiu desesperado do banheiro minúsculo do avião e viu a moça caída com a mão no rosto.

– Você está bem? - Os olhos arregalados e a voz banhada em desespero chamou a atenção da moça. Ela riu. - Deixe-me te ajudar! Desculpe-me, eu sou um desastrado! - Ergueu a mão para ajudá-la e a puxou. Com o puxão os corpos se chocaram e a moça gemeu. - Desculpe, desculpe, desculpe!

– Tudo bem, relaxa isso acontece muito comigo. - Ela riu e olhou para o garoto. - Ah, o garoto com medo de avião!

– Ana? - Os olhos perderam o desespero e adquiriram alívio. - Nossa, como o mundo é pequeno!

– Ou será que meu trabalho me permite ter estes encontros malucos? Em fim, já superou seu medo?

– Não. Eu nem tive como me apresentar para você.

– Não precisa. Você é Charlie Bucket Wonka.

– Como? - Teve a pergunta interrompida pelo dedo indicador da moça que apontava para a gargantilha. - Ah, isso explica muitas coisas.

– Mas eu sabia que te conhecia de algum lugar, só não me lembrava de onde.

Charlie despediu-se da moça, que precisava desesperadamente usar o banheiro, e não conteve o sorriso ao ver a cara espantada dos companheiros de viagem indesejados. É claro que eles voltaram a rir da cara de Charlie no momento em que o táxi aéreo começou a pousar.

Saiu bufando do aeroporto e entrou mais relaxado no táxi. Antes, despediu-se de Ana e agradeceu ela com alguns chocolates Wonka que comprou de uma loja.

O taxista, quando reconheceu Charlie, não parou de falar ideias estúpidas. A viagem para a fábrica parecia mais demorada que o normal e uma fraca dor de cabeça começava a atingir Charlie.

E a fraca dor de cabeça tornou-se uma forte enxaqueca ao chegar na fábrica.

O dia havia começado menos frio e os Oompas Loompas estavam felizes pela volta de Charlie. O senhor Bucket tomou o café cantarolando e lendo o jornal do dia. A fábrica funcionava perfeitamente e a demanda do novo chocolate estava começando a crescer.

Além disso, fazia um bom tempo que não havia paz naquela casa e Charlie parecia feliz ao anunciar os dois chocolates.

Suspirou e provou mais um pouco do café que preparou para si. Não era um grande apreciador de café, mas estava enjoado demais para arriscar um chocolate quente. Com os lançamentos, passou tanto tempo comendo chocolates, que o corpo pediu uma pausa.

Enquanto apreciava a bebida quente e descansava os olhos, o teve sua atenção voltada para a entrada da pequena casa velha, que ainda mantinham guardada dentro da fábrica, e ficou petrificado.

– Bom, pelo menos a fábrica está funcionando melhor do que eu imaginei!

Charlie não soube quantas vezes tentou formular alguma frase. Também não sabia dizer se o silêncio predominou por segundos, minutos ou horas. Ele só soube formular uma única brincadeira irônica:

– Eu não sabia que defuntos se preocupavam com suas coisas materiais.

Charlie mantinha um olhar firme e irritado.

– Você sabe que eu não morri, afinal, tentou me alfinetar com uma declaração feita pelo Mike Tevee. Eu não sei por que você ainda não me serviu uma boa xícara de chocolate quente e por que você achou que ia me atingir com ele?

– Eu não queria te atingir com o que ele disse e sim com minha confirmação sobre o que ele disse.

Charlie estava irritado, mas não queria demonstrar. A voz rouca estava fraca, assim como no dia em que ele recusou a primeira proposta de Willy. Aquela conversa seria pesada e não teria tons brincalhões – a não ser os falsos tons brincalhões de Willy.

– Por que você está triste? - O chocolateiro questionou.

Os olhos do mais velho analisaram o menor. Nunca permitia que nenhum sentimento de Charlie passasse despercebido. O chocolateiro maluco podia não declarar, mas sempre sabia com exatidão o que se passava na mente das pessoas que estavam em sua fábrica.

– Willy, por que abandonou a fábrica?

– Ah, para estrelinha! Para! Para! Para! Eu odeio quando você me olha com essa carinha triste e de criança abandonada!

Willy levantou do sofá e esperneou enquanto puxava os fios, agora, pintados com a cor de antigamente. Quem o visse, não diria que ele já estava tão velho.

– Willy, me responda! Eu preciso de um alívio! - Willy observou o garoto e logo cruzou os braços emburrado. - Willy, eu perdi muita coisa em pouco tempo! Preciso de algo que me permita dormir novamente!

– Você cometeu um erro que me fez voltar. - Willy mudou o assunto e ficou sério. Tão sério como apenas Charlie podia ver. - Como ousa lançar dois produtos e ainda restringi-los a um mesmo país?

– Eu sei o que estou fazendo!

– Não sabe não! - A voz aguda de Willy demonstrava toda a raiva que sentia pelo ato impensado de Charlie. - Sabe quanto vai custar isso?

– Não. - Willy bufou enquanto corria as mãos por entre os fios.

Charlie ainda era infantil demais para assumir a fábrica. Notando a reação de Willy, Charlie emendou rapidamente:

– Mas sei que o mundo vai desejar ter esse chocolate e por favor não desvie o assunto!

– Eu me arrependo. - O chocolateiro soltou sério. - Não quero mais que tome decisões enquanto eu estiver vivo.

– Isso vai ser impossível!

– Não vai não, Charlie, a fábrica ainda está em meu nome, logo eu decido se você toma ou não decisões.

Os dois se encararam por um longo tempo.

Charlie havia sido surpreendido e sentia-se traído por uma das últimas pessoas que conhecia tudo sobre o jovem herdeiro. E agora Wonka queria lhe tirar o direito que ele mesmo havia lhe dado. O dono da fábrica usava seu poder sem nem pensar.

Como Charlie amou aquela fábrica...

Desde da primeira vez que ouviu a história por seu avô, apaixonou-se pela fábrica e agora que a possuía, Willy Wonka queria lhe tirar o prazer de cuidar dela.

– Senhor Wonka – Respirou com profundidade. Precisava se acalmar ou choraria. - Acha, mesmo, justo isso? Eu tomei cuidado para não entristecer os Oompas Loompas! Eu fiz e te ajudei a criar diversos produtos, eu ainda ajudei o senhor a fazer as pazes com o seu pai. Eu cuidei de você! Eu... Eu...

– Isso não importa. - Observou a tristeza aumentar nos olhos da criança adulta.

– Importa para mim! Você não sabe quanto eu gosto dessa fábrica! - Os olhos ganharam desprezo. - Se não posso tomar nenhuma decisão, é porque o senhor não precisa de mim!

A gargantilha foi arrancada com fúria assim como a porta fora fechada.

Willy sorriu.



Charlie jogou as roupas com fúria em uma mala qualquer.

– Você não vai! Não vai, não vai e não vai! - Falava com chocolate de pelúcia surrado. - Nem insista!

Charlie parou tudo o que fazia. Ainda segurava uma camisa quando observou a pelúcia e lembrou-se do dia em que ganhou. Riu por um momento e caminhou até a cama, onde se sentou. Pegou o objeto com suas mãos aveludadas e se permitiu abraçá-lo.

– Não sabia que ainda dormia aqui, achei que tinha se mudado para o meu quarto. - Willy surgiu pela porta e Charlie soltou o objeto chamando a atenção de Willy. - Ah eu lembro-me do dia em que te dei essa pelúcia. Ah, quantos dedos furados...

Willy sorriu em meio ao devaneio.

Charlie levantou-se e caminhou com calma para Willy:

– Acho melhor o senhor ficar com ele.

– Ham... - Willy engasgou assim que segurou a pelúcia. - Estrelinha, você sabe que tudo o que eu faço, faço por algum motivo.

– Menos chocolate.

– Isso! - Willy sorriu. - Menos Chocolate! - Pegou a mão do garoto e caminhou até a cama, onde se sentou e guiou Charlie para fazer o mesmo. - Seus pensamentos são parecidos com os meus, mas você, estrelinha, tem uma doçura marcante. Você me ensinou a perfoar.

– A que?

– A per...perdoar...

Willy desviou os olhos e Charlie tocou o rosto de Willy.

– Por que você foi embora Willy?

– Estrelinha, você é a pessoa que eu mais gosto neste mundo. Mas, eu não sabia se você estaria preparado para cuidar da minha fábrica. Ela é meu bem mais precioso, é o único combustível que eu tinha para viver. Passamos ótimos anos juntos e você estava se tornando um ótimo chocolateiro. - Willy sorriu e Charlie o copiou. - Você cresceu e isso me preocupou, afinal adultos são pessoas chatas e que obrigam as crianças a crescerem. - Torceu o rosto em desgosto.

– Já disse, eles fazem isso porque nos amam.

– Eu sei, mas fiquei com medo de que isso te atrapalhasse a se tornar tão ou mais brilhante que eu. - Willy suspirou. - Estrelinha, eu tive muitas escolhas para fazer durante minha vida e eu só percebia, que tinha que escolher algo, quando viajava.

– Isso explica muitas coisas.

–Nessa última viagem eu percebi que estou ficando muito velho e, enquanto tingia meus cabelos perfeitos – O chocolateiro apalpou os fios castanhos - Eu vi que não tinha certeza se você estava preparado para o que vai enfrentar no futuro.

– E por isso foi embora?

Willy sorriu com pesar e tirou do bolso a gargantilha de Charlie.

– Eu fui embora porque estava perto de ter mais um lançamento e não tínhamos nada concretizado. Eu estava desesperado. - Willy soltou uma risada demonstrando que estava envergonhado e tomou a liberdade de colocar a gargantilha em Charlie enquanto continuava - Foi ai que eu percebi que era a melhor forma de ver como você cuidaria da fábrica sem mim. - Correu o dedo pelo símbolo da gargantilha e sorriu - Mas você foi muito melhor do que eu imaginava. Encerrou a guerra contra Mike Tevee e lançou dois chocolates.

– Mas você não gostou da forma como lancei.

Os olhos de Charlie ficaram chorosos.

– Eu menti. Na verdade eu fiquei abismado com a forma que você agiu, matou três coelhos com uma barra só! - Charlie riu. - Mas temos que reduzir a quantidade de versões que você fez!

– Só há uma versão, o que muda é a embalagem e uma essência qualquer. Charlie disse risonho. Willy impressionou-se com o a criatividade de Charlie. O garoto não tardou a explicar - Se a pessoa achar que está chorado de felicidade, ela vai chorar por estar feliz. O que ela sentir vai ser puro psicológico.

Os olhos de Willy brilharam. Ele sempre imaginou que as pessoas tinham um psicológico fraco, mas nunca acreditou que realmente pudesse criar uma linha de chocolates que usaria tal arma a seu favor.

Charlie explicou que ele selecionou uma quantidade de Oompa Loompas para testar e que cada um estava se sentindo diferente dos outros. Dois ainda choravam pela morte da senhora Bucket, ambos eram muito apegados a ela. Charlie comentou que explicava - com a ajuda de Doris, a Oompa Loompa que conhecia sua língua - para cada um deles que aquele chocolate ia agir de uma determinada forma. Todas as vezes funcionava.

Willy admirou-se com a façanha de seu aprendiz. Naquele dia, sentiu-se orgulhoso e desnecessário.

E por isso, sentiu que a vida estava deixando de ser doce.


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Notas finais do capítulo

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