Impávida. escrita por Lucas Piascentini


Capítulo 10
Capítulo 10 — Avermelhada.


Notas iniciais do capítulo

NOVAMENTE, peço perdão pela minha demora, como sempre. Dessa vez, eu JURO que não irei demorar mais tanto para atualizar aqui. Demorarei uma semana, duas, no máximo. Eu vou escrever capítulos mais curtos, pois preciso terminar essa história, não quero deixá-lo sem fim. Eu preciso mesmo. Enfim, vou terminar isso aqui o mais rápido que puder. Amo essa história, mas já estou ficando cansado... Por isso, peço a vocês leitores que me deixem reviews! Por favor!



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Alaric ainda está em minha mente, quando fecho meus olhos e me escondo nos cobertores, escutando apenas o barulho forte da chuva que cai no chão do lado de fora. Não me sinto bem, sinto-me como se tudo aqui dentro de mim estivesse prestes a explodir. Como se tudo que eu sempre pensei que fosse real, agora fosse diferente. Eu não sei o que sinto. Jamais saberei, mas de uma coisa eu tenho certeza, eu amo o Alaric e daria minha vida por ele.

Durmo por um longo período, e quando acordo, sei que não estou na mesmice do meu mundo. Estou no plano espiritual, sentada em frente à cama de Alaric, como se meu corpo estivesse conectado ao dele e eu tivesse que cuidar dele. Pelo menos, acredito que este seja o motivo. Ou talvez, seja apenas um engano meu. Talvez eu esteja aqui por algum outro motivo. Levanto-me do chão frio, não que eu sinta, mas sei que está. Na verdade, no mundo espiritual tudo parece mais frio. Até os sentimentos se tornam menos intensos. A vontade. Os anseios. Todos parecem desaparecer, mas na verdade, não estou preocupada com meu irmão, só agora que percebo, estou preocupada comigo. Com as minhas dúvidas. O que eu realmente sou. Uma onipotente do tipo impávida, eu tenho medo do que isso pode significar.

— Olá. — Alguém diz. Uma voz que desconheço.

— Quem é? — Pergunto da maneira mais conveniente que encontro em meu cérebro, tentando não ser rude, nem mal educada.

— A resposta das suas perguntas. — A voz é feminina e ri. Só então, percebo que é uma mulher, negra e um tanto quanto acima do peso, que está deitada ao lado do meu irmão na cama.

— O que você está fazendo ai?

Falo mais alto do que gostaria, e ela sorri.

— Aproveitando do que a vida me deu de melhor. Imortalidade, e a sombra, onde posso me esconder e fazer o que eu bem entender com quem eu quiser. Por exemplo...

As mãos dela descem até a perna do meu irmão e chegam até as genitálias dele.

— Sua pervertida!

Ela sorri.

— Ninguém vai ouvir, exceto eu, garotinha.

Contenho-me.

— Então, se você é a resposta das minhas dúvidas, quem eu sou, o que eu sou e porque estou aqui?

Novamente o sorriso daqueles dentes deformados, tortos, e horríveis me encaram.

— Ora, você é do tipo bem direta, não é? — Ela diz sorrindo e me encarando, como se eu fosse algo que ela fosse devorar. — Bom, você é uma onipotente.

— Mas o que diachos é ser onipotente?

Ela levanta, e caminha a passos lentos até mim, chega bem perto que sou até capaz de sentir o cheiro que ela emana do corpo: suor. Em sussurros ela diz:

— Você é a dona das suas ações. Você controla o mundo a sua volta. Nem Deus, nem ninguém escolhe o que você quer. Você tem o poder de não ser persuadida nem por fé religiosa, nem por homens, governos. Você toma conta de você mesma. E isso, te dá o maior dos poderes, a coragem. Ou seja, o que lhe torna impávida. A sua coragem e sua fé de poder faz o que você quiser. Conjugar mais de um elemento. Matar sem fazer nada. Fazer tudo o que você desejar. E isso que assusta a todos os outros seres, isso que assusta os elementares, essa força que só os onipotentes possuem.

________________________________________________

Quando me levanto não estou na minha cama, tampouco no meu quarto. Não estou em um lugar que eu conheça e sinto cheiro de menta... Menta.

Peter.

Tudo faz com que minha mente se ligue a ele, e penso então, agora que minhas emoções estão à flor da pele em Alaric. Meus olhos estão ainda abrindo, estão pesados. Parece que eu não dormi, parece que estou acordada há horas.

— Bom dia.

O meu mundo parece desmanchar.

Você já parou pra pensar que o homem é a causa de tudo? Que eu sou a causa das minhas atitudes e que por conta delas eu acabo causando nas outras pessoas, no ambiente em que vivo, desilusões tanto amorosas quanto qualquer outra que leva em conta o sentimentalismo ou a racionalidade? Eu sou a causa das minhas escolhas erradas e moribundas. Eu escolhi me deitar com Peter.

Eu não consigo parar de sentir um vazio que começa a consumir meu corpo e, este vazio para de consumir-me, quando sinto as mãos de Peter dançar sobre meu corpo. Sinto-me cheia. E essas mãos, oh, essas mãos! É como se eu estivesse sendo uma vitima de um estupro, mas um que eu mesmo gostaria de sofrer, por que eu gostar de tê-lo, e que não posso tê-lo. Por que não posso tê-lo? Por causa do meu irmão, Alaric.

Odeio ser possuída tão facilmente por aqueles que amo e sou incapaz de entender, então, que onipotência é essa que me rege. Eu não deveria ser a pessoa que faz as minhas escolhas próprias – e sim, eu sei que é um pleonasmo – sem interferências algumas? Consequentemente entendo que talvez o sentimento seja uma exceção para isso que as pessoas chamam de onipotência.

Eu me sinto como fogo.

Peter está sobre mim, me beijando suavemente, beijando meu pescoço. Para minha felicidade, não estamos nus. Aliás, para a felicidade de Alaric. Para minha, tudo seria melhor se estivéssemos lá eu e ele numa uniformidade que eu poderia chamar de uniformidade do amor. Beijos, caricias – talvez até mais que isso.

— Eu te amo.

O sussurro dele me atinge como uma bomba. Ele não pode me amar. Não podemos nos amar. Alaric... Ele deveria amar o Alaric, mas isso não seria possível, não é?

— Preciso ir embora. — Digo por fim.

— Você não me ama, não é?

Não respondo. Ele levanta, reparo perfeitamente naquele corpo esbelto. Todo desenhado, como se tivesse sido esculpido para me seduzir. Tudo nele me levava a querê-lo, tudo me fazia querer beijá-lo. A bunda perfeita, o sorriso perfeito. O olhar... A voz...

É curioso como a paixão nos faz ver as pessoas não exatamente como elas são. Eu sou incapaz de sentir, por exemplo, o cheiro nojento que qualquer boca emana quando acorda. Ou ele já tinha feito a higiene bucal ou eu simplesmente me negava a achar que ele não era o que eu imaginava que era. Ele era, quer dizer, é simplesmente o cara mais lindo que eu já vi em toda minha vida. Pergunto-me o que eu fiz para sentir aquilo, o que eu fiz para algum Deus ou alguma coisa assim me fazer sentir isso por alguém nada perfeito, porém perfeito para mim. Desde os traços oculares, quanto à voz grossa e suave, e ao mesmo tempo mandona dele. Eu não queria isso.

— Eu te amo.

Ele sussurra quando percebo que ele está atrás de mim, me beijando. Sinto o corpo dele passar no meu, eu sou incapaz de dizer alguma coisa. Eu estou feliz, e triste, estou morta de ódio por amar alguém que meu irmão ama. Estou morta de ódio por não conseguir me controlar e apenas deixar que o impulso me leve para o que ele deseja. Para um beijo inesquecível, para um dia inesquecível.

Estou na cama dele, agora, sentindo os beijos macios dele, delicados, sobre o meu corpo. Não estou preparada para dizer o que eu realmente sinto. Não estou preparada para dizer tudo o que tenho a dizer.

Eu sou como o vermelho. Quente, apaixonante e doentio. Doentia, pois lembro o sangue. Quente, pois lembro o calor, porque quando você associa o calor a alguma cor é inevitável vir alguma cor que saia da minha tonalidade, da tonalidade vermelha. Quem sabe um vermelho que lembre a cor laranja venha a sua mente? Talvez esteja falando alguma barbaridade, me perdoe se sim, costumo achar que todas as pessoas têm pelo menos metade das ideias parecidas. Desculpe-me, me perdi no raciocínio. Quando você pensa na cor vermelha, automaticamente lhe vêm uma rosa, digo, rosa a planta, que automaticamente lhe lembra um vinho, que lhe lembra um amor. Uma noite de núpcias. Eu sou tudo isso, sou uma apaixonada louca maníaca medrosa estranha magnificamente idiota, se faltou vírgulas? Não me importo, eu não tenho vírgulas. Não sou certa, tampouco exata.

Os beijos dele me fazem sentir-me nas nuvens, como se eu estivesse flutuando sobre um sentimento vazio ou cheio, não sou capaz de explicar exatamente o que estou sentindo, sei que o vazio que possuo está sendo vagarosamente preenchido pela ultima pessoa que gostaria: Peter.

Estou tão presa nesses beijos que só agora escuto um choro baixo, vindo da porta. Não preciso empurrar Peter, ele simplesmente voa de perto de mim, como se eu tivesse invocado alguma força mística para que tirasse meu problema – também conhecido como Peter – de cima de mim.

Alaric.

Os óculos dele estão perfeitamente ajustados ao nariz, que treme enquanto a sua mandíbula, por conta do choro, entra em movimento.

A figura dele acaba com tudo que eu estava sentindo. O choro dele me destrói por completo.

Incrível é como eu, um vermelho nato, posso me machucar por machucar os outros. Acho que escolhi o elemento ideal para mim, o fogo, destrói tudo aquilo que passa por ele e caminha até as coisas para mais destruição. Estou me destruindo, destruindo Alaric e automaticamente destruindo Peter. Eu sou um monstro apaixonado. Eu sou uma maníaca louca por destruição. Eu estou me destruindo.

Acordo do meu êxtase só quando vejo Peter caído no chão, com a cabeça sangrando e Alaric batendo a porta do quarto com toda força que aqueles braços podem ter. Minha cabeça dói. O barulho do choro de Alaric foi demais para o meu raciocínio. Eu sou demais para mim mesma, quanto mais para Alaric. Forço-me a levantar e correr até Peter.

Meus pés se movem rápido.

Ponho a mão sobre a sua cabeça.

Ele está consciente.

Talvez mais do que eu.

Talvez eu seja um monstro mesmo.

Talvez eu devesse morrer.

Eu quero morrer.

Eu sou uma onipotente impávida, mas não corajosa. Tudo menos corajosa.

Eu me odeio.

Minhas mãos massageiam a cabeça de Alaric, e agora que sei da minha capacidade eu acredito fielmente que sou capaz de curar toda a dor – pelo menos física – das pessoas.

Não me engano.

Minhas mãos começam a criar uma forte luz amarelada, que começam a cicatrizar, vagarosamente, Peter. Eu não sabia se deveria ficar ali ou correr atrás de Alaric, pedindo perdão pelas coisas que tenho lhe causado. Eu me odeio, eu deveria mesmo desaparecer. Desistir de tudo que sou. Eu me odeio mais que tudo. Eu sou um monstro, uma idiota.

Eu preciso pedir perdão a Alaric, mas não posso deixar Peter


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Notas finais do capítulo

Deixem reviews! Eles me fazem continuar a história! Obrigado meus lindos!



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