Lábios Rachados escrita por Lábios Rachados


Capítulo 1
...E foi assim que conheci Chris Harrison


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Então, antes de você começar a ler esse capitulo que esta aqui embaixo, gostariamos de avisar que esse é primeiro capitulo é só uma introdução, quase um prologo! E gostariamos de dedicar essa fic a Valdemar Pinto de Queiroz, Georg Herz e principalmente ao Wagner Highvoltage. Boa leitura!



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Mais um dia como todos os outros, o despertador me acorda às 5h45min, mas só levanto às 6h. Começo a me vestir. Coloco uma calça jeans, uma jaqueta de couro por cima de uma camisa xadrez de flanela e meu All Star. Faço a higiene pessoal e desço as escadas, vou até a cozinha e sento à mesa com meus pais e meu irmão mais velho, Jasper. De café-da-manhã, minha mãe, como sempre, prepara quase que um banquete – ovos, bacon, panqueca com maple syrup, suco de laranja, cereais e french toast –, mas como não sinto tanta fome de manhã, como apenas os ovos com bacon, enquanto meus pais conversam sobre a festa que vai haver na igreja este final de semana.


Não gosto muito de ir à igreja, me sinto odiado, mesmo que todos gostem de mim – pelo menos por enquanto –, afinal ainda não sabem a “aberração” que sou. Este assunto me deixa chateado, então deixo metade do meu café-da-manhã no prato e vou para o colégio, com a mesma desculpa de sempre: ''Estou atrasado''.

No caminho, percebo que esqueci meu celular em casa. Até voltaria para pegá-lo, mas chegaria atrasado, e por mais que o professor seja um gato, não posso receber mais detenções esse mês, senão meus pais me matam.

Estou há uns quatro quarteirões da minha casa, e olhe! Um vizinho novo. Ele é alto, possui cabelo louro escuro, pele bem clara e olhos grandes que, se não me engano, são azuis. Parece ter uns 20 anos e não para de olhar para mim, enquanto segura uma caixa com os dizeres ''Cuidado, frágil'' e conversa com um dos caras da mudança. Ele está se mudando para a antiga casa dos Reynolds. Já fui lá uma vez, quando criança, é uma casa de três quartos muito bonita. Ele provavelmente estava se mudando com os pais ou a namorada, mas ficou me olhando com um sorriso estranho e eu apenas acenei envergonhado e continuei meu caminho.

Consegui chegar poucos minutos antes do sinal bater, mas mesmo assim todos nos corredores me olhavam e sussurravam algumas coisas. Fui até meu armário e fiquei esperando Fred – o garoto que tem o armário acima do meu –, parar de conversar com os amigos e sair de frente do meu armário, para que eu pudesse pegar meus livros e fosse para a aula, mas ele só saiu quando o sinal bateu. E então chequei meu horário para ver qual era o primeiro período – história americana –, e peguei meu livro.

Caminhei pelo corredor já vazio e entrei na sala de aula, obviamente sendo o último a entrar, sussurrei um pedido de desculpas para o meu professor e peguei um lugar em uma das últimas carteiras, e então todos tiveram que se levantar para a oração matinal. Fechei os olhos e suspirei – ser ateu em uma escola católica não é legal –, mas meus pais não cedem, preferem pagar uma escola religiosa a não pagar por uma pública que não ensine suas crenças.

Como sempre, não prestei a mínima atenção nas aulas, apenas fiz rabiscos em meus cadernos e na hora do almoço não fui para a cafeteria, apenas comi um biscoito que comprei no dia anterior e fui à biblioteca com meu iPod e meu livro.

Assim que cheguei em casa, me deparei com a minha mãe sentada à mesa da cozinha. Com um olhar sério, ela disse:

– Sente-se, Jason. – sento-me em sua frente e ela retira algo do bolso e coloca em cima da mesa. Ai, meu Deus! É o meu celular!

Ela continua a olhar fixamente para mim, e alguns segundos depois, diz:

– Quem é Paul? O que esse garoto quer com você? Aliás, o que você quer com ele? Jason – meu coração está quase saltando, estou com o choro entalado na garganta, mas não quero chorar na sua frente –, você é gay?

Fico calado por alguns segundos, e quando estou prestes a dizer algo, sou interrompido:

– VOCÊ É GAY?! – Ela diz palavra por palavra, como se estivesse cuspindo. Posso até sentir o nojo embargado em sua voz.

– S-Sim. Sou... Mas isso não muda nada, eu... – sou interrompido mais uma vez.

– NÃO! Você não é gay! Você não pode ser gay! Não vou ter um filho gay, está ouvindo? Vou falar com o seu pai hoje mesmo e tomaremos providências. Ah, e seu celular fica comigo! Terei uma conversa com esse seu namoradinho.

– M-Mas, mãe... – ela se levanta e vai para o quintal, eu a sigo –, Sou o mesmo garoto com quem você conversou hoje pela manhã – disse em baixo tom, com a voz já embargada pelo choro.

Subo as escadas, vou até meu quarto, deito na minha cama e tento não chorar, mas é em vão. Em poucos segundos, estou em prantos. Abraçado ao meu travesseiro, ouço músicas para tentar abafar o som de meus pais discutindo no andar de baixo e choro até adormecer.

Acordo às 3h. Estou morrendo de fome, então desço as escadas na ponta dos pés para não acordar os meus pais e vou até a cozinha. A luz está acesa, e ao dar mais alguns passos vejo que meu pai está sentando à mesa, comendo biscoitos e tomando um copo de leite. Isso me faz ficar com o choro entalado na garganta mais uma vez.

– Me lembro de quando você tinha seis anos... Era só mais uma criança normal, que era acordada por seu pai toda madrugada para tomar leite e comer uns biscoitos. – disse tão subitamente que fui pego surpreendido.

– Também está com fome? – pergunto, sem olhar em seus olhos.

– Na verdade, não consegui dormir. – ele responde.

Assim que termina de falar, faz um gesto, como se tivesse oferecendo um biscoito. Sento-me ao seu lado, pego o biscoito e molho no seu copo de leite.

Sempre gostei muito do meu pai. Éramos muito próximos e, principalmente, amigos. Nesses últimos anos, quando descobri minha sexualidade, fui me distanciando, não sei bem o porquê, foi algo natural.

– É difícil saber que o seu filho é uma abominação, né? – soltei, por fim.

– Não! Meu filho não é uma abominação! – ele se vê em meus olhos e continua. – Você vai melhorar... Sábado você vai sair comigo. Estive pensando em comprar um carro velho para arrumarmos o motor, você vai ver como é bacana! Ah, e domingo vamos à igreja! Contamos ao padre o que está acontecendo com você e logo, logo ele vai achar a solução para este problema.

– Eu não vou melhorar! EU NÃO ESTOU DOENTE! – grito. – Acha que reformar um carro vai me fazer diferente? Vai me fazer gostar de mulheres? Ou que um padre vai achar uma cura mágica para isso? Eu não escolhi ser gay, eu nasci gay e não posso mudar quem eu sou.

Subo as escadas correndo e vejo minha mãe parada frente à porta do seu quarto com um olhar de reprovação, e Jasper frente à porta do seu quarto, com um olhar assustado.

Tudo o que eu quero agora, é desaparecer. E que meu pai pare de bater na porta do meu quarto.

Não consegui dormir, eu não consegui pensar no que iria acontecer daqui pra frente. E o Paul?! Ele é meu amigo "colorido", só não é namorado porque mora em outro estado e até hoje não conseguimos nos ver pessoalmente. Conhecemos-nos por Facebook e desde então nos falamos por Skype e trocamos mensagens de texto o dia inteiro. Eu o ajudei a se assumir para o pai dele e ele queria fazer o mesmo comigo, mas eu não tive coragem o suficiente, agora ele vai entender porquê.

Quando começou a amanhecer, peguei minha mochila da escola e minha carteira e desci, eram cinco da manha. Levantei-me cedo para não encontrar meus pais, apenas escrevi um bilhete notificando que eu sairia mais cedo e saí. Fui vagando pelas ruas a procura de algo para fazer às cinco da manhã, eu não iria à escola, decidi isso noite passada.

Eu estava com os fones no ouvido, ouvindo minha lista de músicas depressivas no iPod, mas tive de guardá-lo já que a bateria estava em vinte por cento e não queria que acabasse. Resolvi então escutar o silencio, de manhã cedo é bem silencioso aqui, foi quando escutei alguém dedilhar um violão e tocar perfeitamente uma música que eu conhecia bem. Olhei em volta para ver quem seria e descobri que era o novo vizinho – cujo nome eu ainda não sabia – Ei, você está tocando “Love for a Child”? – perguntei excitadamente.

– Mas é claro! Eu adoro essa música, pensando bem até que se encaixa um pouco na minha vida, agora…

– Jason – falo enquanto aperto sua mão.

Após passarem-se alguns segundos, ele retoma o assunto:

– Meus pais se separaram quando eu tinha nove anos, ouço essa musica e simplesmente me identifico. Você quer entrar pra conversar mais?

Faço um sinal positivo com a cabeça. Assim que entro em sua casa, vejo que está exatamente igual da última vez que vi. Só algumas cadeiras e criados-mudos coloridos, e cheiro de tinta fresca.

– O cheiro está muito forte? – preocupou-se ele. – É que passei a noite pintando alguns móveis. Não gosto de coisas normais. Gosto de cores, e pintar me acalma bastante.

– Sim... Os móveis ficaram lindos. Bom, de onde você é? – disse, tentando puxar assunto.

– Los Angeles. – um sorriso torto surge em seu rosto. Tenho que confessar que é bastante sexy.

– Nossa... E o que um cara de Los Angeles está fazendo numa cidadezinha como Burchintown? – Burchintown foi o lar de muitos artistas famosos. Vários músicos vêm para cá em busca de inspiração. Mesmo sendo uma cidade pequena, é bem inspiradora.

– Não sei... Sempre gostei de cidades pequenas. E foi aqui que nasceu um dos meus maiores ídolos, a formação original de The Jackasses.

– Foi isso o que eu imaginei... Mas e sua família?

– Você faz muitas perguntas. – ele dá um sorriso torto mais uma vez. – Quero que fale um pouco sobre você.

São nessas horas que esqueço até o meu nome.

– Bom, sou um garoto de quase dezessete anos, ateu, filho de pais cristãos... Posso ser sincero? – faço uma pequena pausa. – Não sei muito sobre mim.

– Entendo – diz ele, rindo –, na sua idade eu também não sabia muito sobre eu mesmo.

– Quantos anos você tem? – perguntei curioso.

– Dezenove – ele olha fixamente para mim. – Mas, me diga, você não precisava estar no colégio? – preocupou-se ele.

– Sim, eu faltei hoje. Saí de casa sem tomar café-da-manhã nem nada, não queria ver meus pais...

– Nossa! Você deve estar morrendo de fome, quer comer alguma coisa?

– Eu geralmente nego, mas estou realmente faminto! – disse, rindo envergonhadamente. – O que você tem para comer?

– Você gosta de ovos com bacon? – pergunta ele, abrindo a geladeira.

– São meus favoritos! – dou um sorriso.

– Ótimo, pode se sentar enquanto faço. – ele fala apontando para a mesa da cozinha.

– Você é muito gentil! – falo sorrindo, já me sentando.

– Então, agora me conte, por que você quis sair cedo de casa hoje? – diz ele, enquanto frita os ovos com bacon.

– Érrr... Eles descobriram que eu sou gay. - falo com certo nervoso exposto na voz.

– Ai! – Chris faz um careta. – Sei como é...

– Acredite, você não sabe. – retruquei.

– Sei sim, eu também sou gay. – tivemos uma inevitável troca de olhares.


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Notas finais do capítulo

No próximo capitulo:
Jason briga com sua família e recebe uma proposta de Chris. Será que ele vai aceitar?

"Não estou fazendo isso porquê te amo. Estou fazendo isso porquê me preocupo com você."

O segundo capitulo estreia dia 12.07.13 ás 18:00.


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