Give Me Love – Novatos escrita por Giulia Bap


Capítulo 17
Capítulo 16 – Laranja por vermelho – AGORA


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer muito, mas muito mesmo ao NagatoUzumaki pela recomendação, eu juro que dei tantos pulinhos quanto possível por fração de segundo. *-* Além disso, acho que vocês deviam ler a fic dele, Gustavo, que está no iniciozinho. Apenas recomendando, porque mesmo não tendo ficção é emocionante :3.
Espero que gostem do capítulo e desculpa a demora! Seeya!!!!!!!!



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“Hm, bem, onde você fica?” Igor diz, abaixando o volume do rádio. Ele tagarelou todo o tempo depois que terminamos de comer. Eu não sabia bem sobre o que ele estava falando. Videogames, jogos de tabuleiro, filmes e animações. E apesar de não entender, sua voz me acalmava, e ele consegue fazer com que até mesmo assuntos em que eu sou completamente leiga se tornem interessantes. Eu fico muda, deixando-me levar pelas piadas – inclusive as sem graça – e rindo loucamente enquanto ele se delicia com a capacidade de me fazer gargalhar. Voltando à pergunta inicial… Onde eu fico? Gaia não disse nada. “Vai ser estranho se eu disser que não sei? Tem algum hotel próximo?” Pergunto, olhando pela janela. “Estou apenas querendo ajudar e juro que não sou um serial killer. Quer pelo menos passar a noite na minha casa? Minha mãe cozinha muito bem. Não me sinto confortável te deixando num desses lugares sujos.” O garoto fala tudo muito rápido, isso me faz rir. Bem, eu preciso ajudá-lo, nada melhor que ficar por perto. “Ok.” Gaia, provavelmente, já contava com a hospitalidade do garoto quando me mandou sem rumo para Oneonta.

A casa é aconchegante. Mary, mãe do loiro, é tão simpática e agradável como o filho. E é verdade, cozinha muito bem. Achei esquisito que ela não tenha tido um surto quando entrei na cozinha. Se fosse eu trazendo para casa um estranho, minha mãe teria um derrame. O quarto em que me hospedo tem cores claras, a roupa de cama é branca e rendada, os móveis cor de açúcar mascavo. Bichos de pelúcia em todos os cantos. Encima da cama de solteiro, em meio a almofadas, pendurados na porta do guarda-roupas e dentro dele. “Era o quarto de Taylor.” Dou um pulo ao ouvir a voz de Igor, vinda da soleira da porta. Automaticamente, largo a ovelhinha de pelúcia que eu acariciava como se fosse de verdade. Que ridículo. “Taylor?” Pergunto. Igor está pensando, provavelmente, que conheço sua árvore genealógica. “Minha irmã mais nova.” Um sorriso sem graça corre em seus lábios. “Ela está viajando?” Pergunto. Esse quarto parece tão vivo, como se alguém tivesse o deixado poucos segundos antes de eu ocupá-lo… “Ela está morta.”

A angústia sólida que o loiro deve estar vendo nos bichos de pelúcia derrete e escorre por suas entranhas, depositando-se no fundo dos olhos marejados. Eu o entendo. “Sinto muito.” Murmuro, minha mão automaticamente recorrendo ao conforto macio da ovelhinha de mentira. “Você é a primeira a dormir aqui depois da morte dela. Espero que não seja uma experiência, añh, mórbida.” Ele sorri, eu retribuo. “Não, ela… Ela parece ter sido uma pessoa doce.” “Ela era. Hm, boa noite.” Vira-se, já deve estar no meio do corredor quando eu respondo. “Boa noite.” E então fecho a porta.

Sei que é um pensamento egoísta, mas uma ideia me vem a cabeça: se Igor sente o mesmo que eu, a falta de uma irmã, pode querer me ajudar com a vingança que eu procuro a todo tempo ignorar. Mas não há forma de deixar para trás um sentimento tão incômodo.

Taylor fez vários desenhos atrás dos móveis. É doentio e ridículo ficar enfiando-me debaixo da mesa e arrastando o criado-mudo, além do guarda-roupa e da cama de solteiro, para olhar a arte em canetinha colorida da garota. Em sua maioria, frases bonitas e corações flechados, coloridos com as mais diversas cores. Contenho uma risada. É irônico demais até para mim. Volto todos os móveis para seus devidos lugares e vou fazer o que preciso fazer. Como tomar um banho, trocar de roupa por uma que não esteja cheirando a bolor. Apesar de estar planejando ser o mais breve possível, não posso deixar de me demorar na água quente. Arrasto meu corpo para debaixo da ducha e deixo as gotas tomarem forma de mãos delicadas, massageando meus músculos retesados. Há algo de mágico nisso, que me fez terminar meu banho e escovar os dentes numa espécie de transe e, antes que possa perceber, já estou debaixo de dois edredons bem recheados, deitada na cama de Taylor. Agora sim a ideia de dormir no quarto parece mórbida, mas o sono derruba qualquer barreira que a consciência crie para que eu possa ter uma noite normal.

É uma noite quase toda livre de sonhos, mas ao amanhecer meu subconsciente dispara em pequenos relances, imagens de Henry emolduradas em preocupação. O ruivo de joelhos, arames entrelaçados em seus pulsos mantendo-o de braços abertos, preso. O vermelho do sangue satura o laranja ardente de seus cabelos. O chão que já havia sido branco agora é uma mescla nojenta de sangue e barro espalhada por pegadas humanas. Aberração, murmura uma voz masculina completamente segura de si, mas que parece distante demais para que Henry ouça. Conselheiro. Levanto da cama num salto, despertando bruscamente. O suor tornou minha pele grudenta. Estou ofegante. Ah céus, quero poder ter notícias! Livrar-me de uma vez por todas desse pesadelo ou enfrentá-lo do jeito certo. Faço o de sempre, bloqueio todas as lembranças que tenho de Lois Lane e procuro concentrar-me em coisas bobas, como tomar banho.

Dessa vez meu corpo clama por água gelada. Minha cabeça e meu peito estão fervendo, estou literalmente em chamas. Troco o pijama de flanela por regata e calça jeans; deixei todo o guarda-roupa elaborado em NY. Acabo enfiando-me num suéter depois que o calor do pesadelo se esvai e deixa a brisa gélida de Oneonta fazer seu trabalho. Não me acordaram cedo, cheguei na cozinha às oito horas. Deixaram o café-da-manhã posto; santa seja a hospitalidade do interior. Apesar de não precisar comer, sinto-me atraída pela aparência crocante das torradas e o aroma doce das panquecas. Além disso, humanos comem. Ninguém precisa ficar sabendo que eu não sou um. Vou roendo um pedaço de queijo enquanto limpo a mesa e lavo toda a louça quando acabo. Sou rápida, e não quero que Mary me veja como uma folgada.

A porta de entrada é bem ali, na copa. Talvez pareça meio esquisito, mas é confortável. Não está chovendo, mas a ventania me faz pensar duas vezes antes de colocar o pé para fora da casa. Há uma pequena “calçada” de arenito cercando o asfalto maltratado. Vou andando pelo meio-fio até avistar Igor sentado dentro de uma casinha à parte. É quase como uma oficina, mas, me aproximando um pouco mais, posso entender do que se trata. Vários artefatos de madeira estão pendurados na parede por alguns pregos. O chão é pouco visível por conta das ferramentas e lixo, tudo espalhado. O garoto no centro, vestindo uma camiseta larga de mangas longas dobradas e jeans escuro surrado, abre um sorriso fofinho quando me vê. Devo dizer que ele é um doce. “Você parece muito preocupada.” Fala sem realmente me encarar.

“Eu estou. Deixei alguém importante para trás para fazer algo importante por aqui. Já não sei mais se fiz certo.” Desabafo. Ele abre um sorrisinho. “Um garoto?” “Aham.” Sei o que ele está pensando. Está pensando que pode consertar tudo relacionado a amor, afinal, é um cupido. Ainda me vê como uma garota dessas que ele flecha todos os dias. E, pela primeira vez em tempos, me permito fazer uma coisa que já havia esquecido como é.

Chorar.


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Notas finais do capítulo

FALLEN - IMAGINE DRAGONS
http://www.youtube.com/watch?v=0Zo1_BvKa7A



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