Era a primeira manhã do outono, as flores que outrora coloriam o pátio do colégio agora começavam a cair, assim fazendo com que o ar de melancolia se espalhasse por todo lugar, pelo menos ao ver de Raito e Lawliet. Os dois caminhavam de cabeça baixa pelo caminho que levava a saída, nenhuma palavra fora dita, nenhum suspiro fora ouvido, em seus pensamentos só circulava uma única pergunta: “como um sentimento tão precioso como o amor é capaz de causar tanta dor?”

Tempos atrás eles estariam conversando sobre os exercícios de matemática e jogos de detetive, pois nerds como eles são só poderiam pensar coisas do tipo, pelo menos até uma certa loira aparecer na vida deles.

- Bem classe, antes de iniciarmos a aula de hoje devo apresentar amais nova aluna da turma do terceiro ano B. – tudo começou naquele momento - Pode entrar senhorita Amane.

Uma garota de sorriso radiante adentra com movimentos delicados, os cabelos loiros lhe caiam em cascata sobre os ombros e o perfume adocicado inebriava os jovens da sala, fazendo muitas garotas torcerem o nariz de inveja.

- Muito Prazer, sou Amane Misa. Mas podem me chamar de Misa! – inclinou a cabeça levemente ao mesmo tempo em que juntou as mãos segurando sua pasta, percebia-se que aquela meiguice era natural.

Raito a observava com indiferença, imaginado que se tratava apenas de mais uma garota da elite cheia de não-me-toques. Lawliet, ao seu lado, a olhou de relance e voltou a se concentrar no último caso do jogo de detetives para tentar decifrá-lo antes que começasse a aula.

- Bem, como a turma está toda dividida em duplas e não posso deixá-la sozinha, um dos grupos vai virar trio – um alvoroço dominou a turma, as garotas cochichavam umas com as outras dizendo que não a queriam consigo, enquanto os garotos, pelo contrário, se dispunham a ajudá-la em tudo se ela se unisse a eles. Eis que o professor prossegue – Lawliet e Raito, vocês como representantes da turma serão encarregados de auxiliar a senhorita Amane em tudo que ela precisar, além de fazerem trio com ela.

- Sim senhor! – respondeu Raito levantando-se na exata hora em que a ponta do lápis de L havia quebrado, devido a força que fizera sobre o papel, ele duvidava que depois dessa conseguiria se resolver o ultimo caso a ele proposto. O primeiro representante continua – Sente-se aqui, senhorita Amane...

- Misa! – interrompeu a loira em meio a um pequeno sorriso – Me chame apenas de Misa!

- Como queira – suspira – Sente-se ao lado de L, Misa. Enquanto eu pego outra mesa para mim.

Passou-se apenas uma semana até que toda a turma se tornasse amiga de Misa, somente L e Raito ainda de mantinham inertes a ela. Parece que todo aquele encanto e brilho não chegavam aos seus olhos embora eles fossem os mais próximos a ela.

Então, misteriosamente, a loira sumiu. Fazia três dias que ela não ia à escola e ninguém tinha notícias dela, isso deixou todos muito preocupados. Os amigos representantes logo foram encarregados de fazer uma visita a garota.

Surpreenderam-se ao saber que ela morava num apartamento próximo ao prédio do colégio, isso porque apesar de toda simpatia ela transparecia pura nobreza.

- É esse mesmo o endereço! – confirmou Raito olhando pra agenda novamente.

- Vai ver a família dela queria ser mais discreta e resolveu morar aqui – explanou L dando de ombros antes de bater, logo suspirou botando as mãos nos bolsos após não obter resposta alguma – Parece que a família Amane não gosta muito de visitas. Porque eu sei que tem gente em casa, lá de baixo deu pra ver a janela aberta e a TV ligada.

- Algo não está certo! – ponderou Raito batendo na porta agora com um pouco mais de força – Misa!! Você está aí? – sem resposta - Bem, estando ou não eu vou entrar!

Com um simples click a porta se abriu e eles ficaram assustados ao ver a garota de pijama caída no chão, aparentemente, desmaiada.

- O que...

- Vamos, me ajuda aqui Raito! – disse L já levantando-a nos braços e indo em direção ao quarto – Pega o lençol dela que ta aí no chão! Nossa, ela está ardendo em febre.

Os dois passaram a tarde toda cuidando da garota, ora com compressas de água fria pra tentar baixar a febre, ora simplesmente segurando na mão dela como numa tentativa, abstrata, de lhe passar alguma forma de força vital. Eles começaram a ficar temerosos, pois ela simplesmente não reagia. E assim passaram a madrugada, até que ambos adormeceram segurando cada um uma mão dela.

Lá pelas cinco da manhã, o vento frio da janela aberta acariciou a pele de Misa que lentamente despertava. As maçãs do rosto agora estavam um pouco mais coradas, porém ela ainda tinha o semblante abatido.

 Por um breve momento a solidão lhe apertou o coração, mas quando viu os garotos ali segurando suas mãos ela sentiu que nada mais lhe afetaria e que agora sim teria um sono seguro e tranqüilo.

- Obrigada – foi a única palavra que conseguiu proferir antes de adormecer novamente.

O primeiro a acordar foi Raito que tocando no ombro de L o acordou também, sabiam que já haviam perdido a aula da sexta feira, mas o que mais importava era o bem estar da Misa. Mas por que? Isso não faria diferença alguma para eles, era o que imaginavam.

- Ela não está mais com febre! – constatou L ao pôr a mão na testa da loira.

- Ainda bem! – disse o outro esticando os braços – Nem acredito que passamos a noite inteira aqui cuidando dela. E olha só ela dorme...

- Como um anjo – completou L com o olhar perdido.

Raito sentiu um nó na garganta naquele momento. Sim, ela realmente parecia um anjo, mas deveria ser só pra ele. Então por que L teve que fazer aquele comentário?

- Eu tenho que ligar pra casa, pros meus pais não ficarem preocupados – disse ele rispidamente indo até a sala, tentando afastar alguns pensamentos que não o agradavam. Enquanto isso, L foi lavar o rosto na tentativa de acordar. Percebeu o olhar matante que seu amigo lhe lançara e por isso tentava, com a água, abafar uma faísca de sentimento que insistia em se manter acesa em seu peito.

Depois de um café da manhã na cama reforçado, e comprado é claro, pois os amigos não sabem fritar nem um ovo, Misa já estava mais revigorada.

- Bem, parece que você já está bem melhor! – Raito deu um sorriso sincero – Fico feliz com isso.

- Mas onde estão seus pais Misa? Por que estava sozinha quando desmaiou? – L questionou, já que essas indagações lhe corriam a mente desde que a encontraram ali caída.

- Meus pais – a loira iniciou com as lágrimas beirando seus olhos – Meus pais foram assassinados há três meses!

A surpresa era iminente, estava estampada nos olhos dos dois que a observavam sentados ao seu lado. Três meses era o tempo que ela estava no colégio, isso significava que apesar de toda a dor da perda dos entes queridos, ela permanecia com um sorriso rosto, enquanto  em seu interior a vida frágil desabava, talvez fosse esse o motivo da fraqueza dela. Teve uma hora que já não havia como fugir da cruel realidade. Ela, por saber que jamais veria seus pais novamente, sofria tanto emocionalmente como mentalmente o que a fez esquecer do próprio corpo, fazendo assim com que ela ficasse muito fraca.

- Sinto muito Misa! – responderam.

- Sabe, eu não queria... que eles tivesse morrido, era pra eu estar no lugar deles, mas como cheguei atrasada eles ainda não haviam ido trabalhar. Se eu tivesse chegado na hora que eles tinham marcado, hoje eles estariam vivos! – sem conter as lágirmas a loira abraçou Raito, escondendo o rosto em seu peito.

E L, apesar de entender o sentimento da garota, se sentia incomodado com a cena. Mas quando se levantou pra ir embora, sua mão foi segurada por Misa.

- L fique, por favor! – disse baixinho entre soluços – Você dois são meus únicos amigos! Eu tenho medo de ficar sozinha de novo, por isso fiquem comigo, eu imploro.

E ali, abraçados, os três iniciaram uma relação de carinho especial que viria a ser o motivo da pior dor já causada a eles um dia.