– Edward? Edward! Você está me ouvindo?

Virei-me relutante para Alice, abaixando o livro para que ela entrasse em meu campo de visão.

– Isso é muito importante!

– Tudo bem, o que foi?

– Eu preciso que você me ajude a guardar meus vestidos!

– Alice...

– Você está lendo isso aí há muito tempo! E não tem ninguém para me ajudar!

Suspirei. Ajudar a guardar os vestidos de Alice? Aquilo levaria horas.

– Por favor!

– Tá... Vamos lá. - ela sorriu e me puxou pela mão até o seu quarto, dançando, satisfeita. - Eu realmente odeio mudanças. - murmurei.

– Eu gosto! Lugares novos, vida nova. Eu estou muito ansiosa!

– Você gosta de tudo, Alice.

– Você tem que ver o lado positivo das coisas... - murmurou, tirando um vestido azul cheio de lantejoulas do armário e dançando com ele até a mala - Às vezes não é bom ser negativo. - ela parou por um instante e olhou para mim. - Como você acha que é Forks, Edward?

– Hmmm... molhado.

Ela riu.

– Mal posso esperar para vestir roupas de frio. Aqui nós nunca as usamos direito.

– Sim, você será a mais bem vestida e mais bonita de toda a escola, não há dúvidas.

Ela sorriu, os olhos brilhando de agradecimento pelo elogio. - Como devem ser os alunos?

Olhei para baixo, para o vestido em minha mão. Os alunos daqui tratavam Alice com muita maldade, por causa de suas visões frequentes. Era por isso que estávamos nos mudando, porque semana passada a diretora disse à Esme que era melhor colocar Alice em um sanatório. Isso foi o auge.

Eu não queria dar à ela falsas expectativas sobre Forks e fiz de tudo para fazer minha hesitação em responder se transformar em distração com o vestido, mas ela percebeu.

– Eu acho que eles são ótimos. - afirmou ela, cheia de certeza em sua voz. Quando Alice afirma algo, ninguém discute. Mas mesmo ela não tinha tanta certeza quanto demonstrava, eu sabia. Eu via seu medo em sofrer em Forks o mesmo que sofria aqui.

Olhei para ela, em busca de sua atenção. Meu olhar disse tudo à ela - se eles fizerem algo com Alice dessa vez, nós iríamos tomar providência.

Ela afirmou silenciosamente, com um pequeno movimento de cabeça, e voltou ao trabalho.

Quando terminamos, haviam seis malas cheias apenas com vestidos - imagine quantas malas Alice usou para guardar todo o resto - e ganhei permissão para voltar a ler. Quando Esme e Carlisle e todos os outros finalmente terminaram de arrumar as malas, eu já havia lido umas cem páginas. Eu era o que menos tinha bagagem entre eles.

Rosalie, Emmett, Carlisle e Esme iriam em um carro atrás do caminhão; eu, Alice e Jasper iríamos em um carro atrás deles. São apenas duas horas até Forks. Jasper iria dirigir, eu iria ao seu lado no banco do passageiro e Alice atrás.

Jasper fez alguns comentários sobre o clima de Forks e a escola. Ele iria para o mesmo ano que Rosalie e Emmett, eu a Alice ficaríamos um pouco atrás. Ele disse que Carlisle tentaria um trabalho em um hospital local, já que não haviam muitos médicos, e que talvez Esme tentasse algo também.

Já Alice falou um pouco mais. Sobre o clima, as roupas, a escola, os alunos, os professores, os tipos de planta, os fins de semana, os shoppings e os animais. Parou quando paramos para abastecer e depois recomeçou como se não tivesse parado. Alice não é sempre assim, mas isso se intensifica quando ela está nervosa.

As duas horas passaram muito rápido, chegamos em Forks antes do sol se pôr. Alice desceu entusiasmada do carro - mal podia esperar para ver a casa, embora já a tenhamos visto por foto - e sorriu de felicidade, após abraçar Carlisle e Esme.

A localidade da casa - no meio da floresta - era um presente para nós; Alice, porque gostava de cuidar de jardins; Emmett, porque queria construir seu próprio campo de esportes; Rosalie, porque ficava perto de uma pequena loja que ela gostava; Jasper, porque gostava de caçar, e eu, sem motivo algum. Para mim tanto fazia o local da casa. Mas todos gostaram da ideia, então eu gostei também. Às vezes é melhor não fazer muita questão das coisas.

Os ajudantes da mudança nos ajudaram a pôr tudo para dentro e levamos o resto da noite para arrumar. Novamente, ajudei Alice a tirar seus vestidos da mala e arrumá-los em seu armário. Novamente ela falou da escola. E novamente eu repeti a promessa.

Carlisle veio ao meu quarto para entregar o material que iria precisar na escola, e minhas turmas. Li os nomes dos alunos que teriam aula comigo, sem me interessar muito por eles. Deixei a lista de lado e li a última página do livro, depois me deitei e pensei.

A verdade era que eu estava muito preocupado com o dia de amanhã - não em relação à mim. Tanto fazia se as pessoas me aceitassem ou não. O verdadeiro problema era Alice.

Estava chovendo, e me concentrei nas gotas batendo contra a janela. Mas Alice estava dormindo o quarto logo ao meu lado, e meu corpo esperava pela hora em que ela iria gritar por causa de uma visão e eu iria correr até ela para consolá-la, até que dormisse.

Isso acontecia toda noite.

Nós somos parecidos, Alice e eu. Estamos sempre em sintonia. Eu sei o que ela pensa, e não precisa dizer uma palavra para isso. Suas expressões - às vezes, nem isso - são suficientes. É assim com todas as pessoas, todas que eu conheço ao menos um pouco. Não costumo usar palavras com muita frequência.

Fui ao banheiro e repeti o que havia feito antes de me deitar outra vez - joguei água no rosto, escovei os dentes e depois desci para beber água. Todos já estavam dormindo.

A nova casa era muito grande, de modo que me senti na obrigação de conhecer ao menos alguns cômodos, além dos quartos. Havia a cozinha, que era cercada com paredes de vidro como grande parte da casa. 

Olhei através do vidro, lá fora. É claro que as árvores estavam na frente de tudo o que havia para ver, se houvesse algo.

Voltei para o quarto e sentei na cama, esperando. Mas naquela noite não ouve gritos, nem visões, nem choro, e eu percebi isso na manhã seguinte, quando acordei. Ignorei a dor de ter dormido sentado e corri para contar à Alice, que estava se arrumando para a escola. Ela sorriu, e disse que havia sonhado com a nossa felicidade em Forks.

Bem, quando Alice sonha algo, ninguém discute.