Por Laura

            Eu estava sentada em minha cama ainda sobre o olhar inquisidor, não sabia se ela me julgava ou me compreendia depois do meu desabafo, acho que nem eu me compreendia inteiramente, minha vida nos últimos dias tinha virado de ponta cabeça e já não tinha mais certeza de nada, mas não podia ficar parada esperando pra ver o que iria acontecer a seguir eu tinha que tomar uma atitude e tentar tomar as rédeas da minha vida novamente.

- Laura você esta nervosa, confusa, mas eu te entendo diante de uma situação dessas acho que é normal, mais dizer que ira encontrar o Ferreira hoje... Laura como você pretende encontrar um homem que você nem conhece em meio a um baile de carnaval?

- Não sei Isabel, não sei como irei encontra-lo mais vou fazer o possível, eu já confirmei ele vai estar lá fazendo pesquisas para uma matéria sobre os cordões carnavalescos para o Correio da republica não é muito mais é o que eu tenho.

- Mas essa não era uma matéria para o Paulo Lima fazer?

- Aparentemente eles estarão competindo, o Guerra ira publicar a melhor matéria.

- Como você sabe ele avisou isso quando solicitou a matéria?

- Não ele deixou o Paulo Lima no escuro mais acabou deixando escapar isso quando nos encontramos hoje a tarde.

- Tirando o Paulo lima do escuro...

- Sim mais estou com a cabeça tão cheia que não sei se irei colher informações o suficiente para escrever uma mateira boa o suficiente para vencer o Antônio Ferreira.

- Para com isso Laura você escreve muito bem pode sem sombra de duvidas vencer essa empreitada.

- Acho que não Isabel, eu escrevo bem mais o Antônio Ferreira escreve com uma sensibilidade que beira a perfeição além do que... o que foi Isabel porque você fez essa cara?

- Nada.

- Como nada Isabel eu te conheço... anda desembucha.

- Sei lá Laura com você falando assim desse jeito dele fica difícil imaginar que ao encontra-lo no baile você ira cortar relações.

- Não brinca com isso Isabel, não me deixes mais culpada do que já estou.

- Tudo bem não esta mais aqui quem falou! Mais se pretendemos ir para o baile do carnaval deste ano é melhor nos arrumar... te encontro na sala para sairmos assim que eu terminar de me arrumar.

- Esta bem Isabel eu vou tomar um banho rápido já me arrumo.

            Depois que a Isabel deixou o quarto ainda fiquei algum tempo sem sair do lugar pensando em como iria encontrar o Ferreira no meio de tanta gente e também em como iria falar para ele que não queria mais a troca de correspondências que eu mesma tinha começado... decido-me por pensar em algo na hora e começo a me mexer, guardo novamente as cartas que ainda estavam espalhadas na minha cama e vou para o quarto de banho para me refrescar e em pouco tempo estou na sala sentada no sofá esperando pela Isabel para podermos sair, a demora não foi muito grande e logo a Isabel adentrou na sala vestindo a sua fantasia de pierrô me chamando para sairmos mais ao me ver ela para estagnada no meio do caminho.

- Estou pronta nos podemos ir... Laura você vai assim para o desfile?

- Porque Isabel tem algo de errado na minha roupa?

- Sim esta tudo errado na sua roupa... Laura é um desfile de carnaval você deveria estar vestindo uma fantasia.

- Isabel eu não vou pra me divertir, eu vou a trabalho.

- Eu não vou sair com você vestida deste jeito.

- Ótimo você quer que eu saia primeiro ou sai você?

- Ah Laura deixa de ser estraga prazeres eu quero ir com você minha amiga... além do mais eu tenho uma fantasia aqui guardada que eu acho que ficara perfeita pra você.

- Isso é mesmo necessário Isabel?

- Por favou Laura, faz isso por mim.

- Esta bem Isabel cadê essa tal fantasia?

            Ela me devolve um sorriso tão agradecida por ter-me convencido que é difícil ficar imune e eu acabo devolvendo um sorriso um pouco mais contido pra ela e a acompanho até o seu quarto para vestir a fantasia que ela tinha e dizia ser perfeita pra mim. Começo a vestir a fantasia que a Isabel me entregou, é uma fantasia maravilhosa de seda na qual eu passo a mão com carinho, é rosa eu visto e fica muito bem no meu corpo, pois é de mangas curtas desce marcando a cintura e cai em pontas por sobre uma sapatilha que parece de cristal, atrás possui um par de asas com pedrarias como no vestido e para completar a máscara e a varinha mágica seria bom que os meus problemas fossem resolvidos por magica.

- Laura você ficou linda amiga!

- E você quer que eu acredite? Você esta falando isso só para eu não desistir de ir, pelo menos de consolo eu terei essa mascara assim fica difícil de me reconhecerem.

- Ótimo sua boba coloque a mascara e vamos logo, pois se não perderemos a melhor parte de desfile.

            Não demoramos muito para chegar na rua do Ouvidor que estava tão animada que logo me despertou das minhas inquietações e pude ver como a minha tia Celinha estava certa ao dizer que isso seria bom para me distrair, pude perceber isso assim que coloque os pés naquele lugar, assim que me desviei do primeiro grupo de jovens que passou por mim, todos bem animados e fantasiados... algum tempo depois de chegarmos encontramos a tia Jurema e paramos para nos falar.

- Vocês estão lindas minhas filhas achei que não vinham mais...

- Nem fala tia tive de convencer certa pessoa a vestir a fantasia.

- Mais porque isso minha filha a sua fantasia é linda.

- Obrigada tia Jurema mais a senhora sabe que eu não estou aqui para me divertir eu vim a trabalho.

- Nada te impede de brincar um pouco, vai me dizer que esse ritmo não te contagia nem um pouco?

- Pra falar a verdade eu estou adorando tia Jurema, eu nunca vi a Ouvidor tão animada.

- Então aproveita minha filha... e voltando ao assunto eu falei de você para o diretor do cordão Flor do Brasil, é aquele ali de colete e gravata vermelha o nome dele é Ciço, ele aceitou trocar algumas palavras com você, assim que a folia esfriar vai lá falar com ele.

- Obrigada Tia Jurema isso vai ser ótimo para a matéria eu nem sei como te agradecer.

- Imagina minha filha, se divirta e assim que der você colhe informações para a sua pesquisa.

            Eu segui o conselho da Tia Jurema, não posso dizer que me entreguei a folia dos cordões mais me distrai bastante, mas sempre atenta as movimentações a minha volta queria mostrar a verdade em minha matéria e não aquele exagero que costumavam publicar sobre o carnaval, o que eu via hoje não tina nada a ver com desordem ou manifestações de gente barbara o que eu via era uma alegria contagiante eram em sua maioria pessoas pobres se divertindo com suas fantasias humildes e era essa verdade que eu queria mostrar em minha matéria, o outro lado da história que ficava obscuro por causa do preconceito de tantas pessoas.

            Assim que eu reparei que a folia estava mais amena eu resolvi que era a hora de me aproximar do Ciço e assim o fiz estava louca para saber o que ele tinha a me dizer sobre os cordões.

- Com licença...

- Pois não?

- Seu Ciço?

- Sim sou eu e a moça quem é?

- Eu sou...

            Eu abro a minha boca para me apresentar mais paro assim que reparo na aproximação do Edgar, não imaginava encontra-lo no desfile ele estava caminhando em nossa direção e eu sinto meu coração acelerar, a boca secar e várias outras sensações que não saberia ao certo como descrever, será que ele me reconheceu mesmo com essa fantasia...