Katniss havia acabado de acordar, Gale não se encontrava presente no quarto, então ela logo deduziu que ele já tinha partido, cedo e sem se despedir. O que a chateou muito, mas sabia que no fundo ele só não queria a incomodar, então afastou esse pensamento da cabeça e pegou sua agenda na qual tinha os pontos turísticos que ela iria visitar todos os dias.

Piazza delle Erbe era o ponto turístico da vez, e como ficava pertinho do hotel e ainda mais perto da casa de Julieta, o que lhe economizava tempo e dinheiro. Com esse pensamento foi até o banheiro e fez sua higiene matinal, não demorando mais que meia hora no banho e logo correndo para se vestir.

Olhou todas as roupas que tinha em sua mala, mas por fim, escolheu um vestido, um sapato baixo e sua bolsa, colocou com presa o caderno, câmera de foto, celular e mais algumas coisas dentro dela e depois saiu do quarto. Estava com medo de ser muito tarde e que não desse para fazer tudo o que estava programado.

Não teve que andar muito para que chegasse ao local desejado, tinha várias barracas, algumas vendiam presentes, alimentos, entre outras coisas. Katniss apenas observou tudo, comprou algumas coisas e passou em um restaurante para tomar café, depois seguiu para a casa de Julieta, que era o ponto mais esperado da viagem.

Não demorou muito para que Katniss chegasse e se deparasse com várias moças, de todas as idades, chorando ou se lamentando por algo. Logo ficou horrorizada, sabia que ali era como se fosse o Muro das Lamentações, mas nunca imaginara ou pensará o quanto ruim era. Uma mulher de sua idade passou por ela e Katniss a olhou preocupada queria pergunta-la o que tinha acontecido, mas tinha vergonha de tal ato. E se ela lhe respondesse que não era de sua conta?

Então com esse pensamento resolveu apenas seguir até o muro onde continha várias cartas, que ela deduziu ser para Julieta. Tinha pessoas tirando fotos, um homem apertava o seio de uma estátua e ela achou aquilo horrível, e outras chorando enquanto escrevia alguma carta, isso a deixava triste.

Pegou seu caderno dentro da bolsa e uma caneta, depois se sentou ao lado de uma menina que escrevia uma carta também, começou a escrever o quão horrível se sentia em estar ali ao lado de todas elas e não poder fazer nada. Depois passaria tudo para o seu laptop. Mas foi interrompida no meio do texto quando a menina ao seu lado começou a soluçar.

– Você está bem? – perguntou Katniss, mas depois se repreendeu, é claro que não estava bem. A menina apenas balançou a cabeça no gesto de “não”. Katniss sentiu que, mesmo sem conhecer aquela menina, deveria confortar ela. – Desculpe, eu sei que não é de minha conta, e juro que irei entender se você não quiser falar sobre isso, mas o que aconteceu?

A menina loira de olhos azuis levantou a cabeça e olhou nos olhos acinzentados de Katniss, nele viu compaixão, e sentiu que Katniss, talvez, fosse tudo o que ela precisava. Uma amiga. Parou de soluçar e enxugou algumas lágrimas do rosto, quando decidiu por fim, responder a boa moça que estava em sua frente.

– É apenas uma historia boba de amor – falou e Katniss a olhou alarmado, o amor nunca é bobo, o amor é um sentimento lindo, pensou ela.

– Olhe, eu não sei o que aconteceu, mas o amor nunca é bobo, o amor é o sentimento mais lindo que se existe. Eu sei que aconteceu uma coisa ruim com você, mas não desista do seu amor – a menina olhou para Katniss e uma lágrima caiu, sabia que podia confiar nela, e por isso resolveu conta-la.

– Sabe, eu tinha um namorado. Estava tudo perfeito, até eu decidi apresentar ele a minha família, meu pai enlouqueceu e o chamou dos piores nomes possíveis, falou mal da família dele e tudo o mais. Tudo por uma briga entre famílias, agora não podemos ficar juntos – a jovem menina voltou a chorar baixinho e Katniss sentiu raiva por ela, raiva do pai dela por ser tão idiota. A jovem olhou no seu relógio de pulso e depois olhou para Katniss, enxugando algumas lágrimas, e se levantou do banco se despedindo da Everdeen. – Obrigada por me ouvir, talvez outro dia o destino faça com que nos encontremos outra vez... A proposito meu nome é Glimmer Capelotti. Foi um prazer conhecê-la.

– Uma pena que você tenha que ir, mas lembre-se, siga sempre o seu coração. O meu nome é Katniss, Katniss Everdeen.

(...)

Depois que a pequena jovem, Glimmer, havia ido embora, Katniss se concentrou em seu caderno e começou a escrever, escreveu sobre tudo o que lhe tinha acontecido até agora, o quanto Verona era linda e incrível e que as pessoas eram gentis, estavam nas anotações e nas descrições dos personagens. Sim, ela estava escrevendo um livro sobre a sua viagem, mas não sabia como essa historia iria acabar, afinal.

Quando deu por si, já estava tarde e ela teria que voltar para casa. A casa de Julieta não tinha mais ninguém, apenas ela e seu caderno. Assim, sem barulhos de choro ou soluços ela aproveitou para olhar o local. Era linda, completamente linda. O muro estava cheio de papeis de todos os tamanhos e cores.

Uma mulher com uma cesta entrou e parecia que nem tinha percebido que Katniss estava ali sentada. Começou a recolher as cartas que estavam no muro e as colocava na cesta. Katniss ficou pasma enquanto observava. Ela estava roubando as cartas?

Por mais que seu instinto fosse ir lá e confrontar e mulher que estava a pegar todas as cartas, ela achou melhor apenas observar, sem fazer barulho nenhum, pegou o caderno e o guardou dentro da bolsa. A menina que estava recolhendo as cartas demorou ate que chegasse a ultima, mas quando chegou apenas se virou e foi embora.

Katniss levantou e a seguiu pelos becos antigos de Verona, até que ela parou em uma casa, que mais parecia um escritório do que uma residência. Chegou perto da porta e pensou duas vezes antes de bater, como que ela iria abordar a menina morena? Mas afastou todas as duvidas e perguntas da cabeça e bateu na porta. Ninguém atendeu, mas sabia que tinha mulheres lá dentro, pois escutavas as vozes que conversavam alegremente. Então sem parar para pensar, ela girou a maçaneta e abriu a porta.

Sentadas em cadeiras e ao redor da mesa que estava cheia de cartas, que Katniss logo reconheceu como as cartas que estavam no muro, estavam quatro jovens moças, rindo enquanto conversavam e por isso nem notaram a presença da Everdeen na sala.

Katniss bateu na porta mais uma vez, só que agora ela se encontrava dentro da sala. Todas olharam em direção a ela, e abriram um sorriso. A menina que recolheu as cartas foi a primeira a falar.

– Hey, temos uma visita meninas – levantou-se da cadeira e veio em direção à Katniss com um lindo sorriso no rosto e a Everdeen sobe nesse momento que aquilo não era um roubo de cartas. Elas faziam alguma coisa com elas. E era isso que ela precisava saber. – O seu nome é...?

– Katniss, Katniss Everdeen – respondeu e estendeu a mão para cumprimenta-la e a seguir a moça a sua frente fez o mesmo. – Desculpa ter entrado assim senhora...?

– Annie, Annie Cresta. Oh, por favor, não me chame de senhora, eu nem sou tão velha assim – as duas sorriram e Katniss assentiu. – Mas em que posso ajuda-la?

– Ah, na verdade em nada, eu estava lá na casa de Julieta e você apareceu e recolheu todas as cartas, fiquei curiosa para saber o que fazia com elas e acabei te seguindo – um pouco envergonhada, Katniss abaixou o olhar, sabia que não devia e nem poderia ter seguido Annie, mas a curiosidade falou mais alto.

– Não fique envergonhada Katniss. Não tem problema. Você é escritora? Jornalista? – Annie estava curiosa em relação à moça, pois a tinha visto escrever em um caderno.

– Na realidade, eu verifico fatos, mas eu sonho é escrever um livro e estou tentando fazer um enquanto estou em Verona – respondeu Katniss. Annie assentiu e sorriu para ela. – O que você fazem com as cartas?

– Nós respondemos oras, pode nos chamar de Secretarias da Julieta. – Katniss riu, era um nome estranho. E ela tinha achado graça daquilo. – Você poderia nos ajudar, e aí você poderia escrever um pouco sobre isso no seu livro. – Katniss nem precisou pensar para saber a resposta. Ela estava curiosa e queria muito saber mais sobre o trabalho daquelas moças, então a respondeu com um aceno de cabeça e com um largo sorriso no rosto foi se apresentar as outras que ali trabalhavam. Seria uma tarde longa, e ela estava mais do que animada para responder uma carta, e principalmente, para envia-la.