Supernatural: Destiny. escrita por theblackqueen


Capítulo 14
Phantom Of The Opera.


Notas iniciais do capítulo

Olá mishamigos ♥ Eu prometi que não ia desistir e aqui estoy yo. Passei o dia com dor de cabeça e de garganta, mas não parei de escrever.
Terceira fase!
Como eu disse, foco maior nas nossas caçadoras, mas o Winchester ainda vão aparecer.
Uma frase para esse caso: Nada é o que parece!
~~
Eu vou alternar. Posto um capítulo de Destiny, depois de TLC. Então tenham paciência comigo *chavestyle*

E quero ver quem adivinha em que parte da quarta temporada se passa esse episódio (paralelo a um caso).
Bjs



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–~-~-~-

Stratton, Nebraska.

28 de dezembro de 2008.


A garota era ruiva – um tom natural – e tinha um par de olhos verdes. Já o homem era alto, cabelos claros, olhos azuis. O corredor estreito pelo qual caminhavam era cheio de portas. Pararam em frente a uma delas.

— Mais uma vez obrigada, senhor Willborn. — Disse simpática. — Nem posso acreditar que me juntei a vocês na apresentação de ano novo.

— Você é muito talentosa, Ashley. — Carlo Willborn, o diretor, disse. — Seja muito bem-vinda.

Ela sorriu tímida.

Assim que Carlo e Ashley se despediram a garota entrou no camarim. Se apressou em caminhar até o espelho onde observou seu reflexo. Estava tão orgulhosa de si mesmo. Era um sonho virando realidade. Agora era a estrela do grupo, agora sua carreira ia decolar.

Ashley Crush fazia parte agora de uma apresentação de ano novo no The Royal Teatro, um antigo teatro da cidade, um dos mais tradicionais. Um musical apresentando o ano novo no oriente. O grupo era formado por alguns bons cantores líricos e antes a estrela do show era Evelyn Mason, uma grande cantora da cidade. Evelyn foi encontrada morta em casa, o laudo apontava hipotermia. Depois disso, o grupo procurou por alguém que pudesse substitui-la e Ashley apareceu.

A ruiva sentou-se em um dos sofás pequenos existentes na sala e tratou de relaxar, com o script nas mãos. Ela se pôs a repassar todas as canções e as falas. Naquele dia teria um ensaio importante. De repente sentiu em sua pele um ar gelado, a temperatura despencou. Talvez fosse problema no aquecedor. Ela subiu o olhar – encarando o espaço à sua frente – e se arrepiou imediatamente. Podia jurar ter visto um vulto. Respirou fundo e saiu da sala.

O início do ensaio foi perfeito. Ashley tinha a voz de um anjo. Mas algo começou a acontecer com ela. Sua voz começou a falhar. Desafinar. Era estranho. Ashley já era experiente, sabia muito bem que aquilo não era normal. E todas as tentativas falharam. O ensaio tinha sido um desastre e ela agora temia perder a grande chance da sua vida. Ela voltou para o camarim se perguntando por que justo agora?!

Ela sentou-se, confusa. Sentia o frio lhe envolver. Sentiu seu corpo bem lentamente amolecer. Era sono, um sono intenso. Ashley dormiu. E ela deveria estar dormindo mesmo, porque em seu sonho estava diante de um ser pálido, de cabelos muito negros e lábios rosados.

Precisamos conversar. — A voz do ser soou rouca.

Aquele era de longe o sonho mais realístico que Ashley já teve.

E o mais fatal.

–~-~-~-


Sioux Falls, South Dakota.

31 de dezembro de 2008.


Estacionamos o velho Mustang na frente de um ferro velho. Fiquei meio surpresa por perceber que o Mustang era o carro que mais durou com a loira, ela já o dirigia por mais de dois anos. Mas desta vez eu que estava dirigindo. Um merecido descanso para Melizza. Aliás, foi ideia dela nós passarmos o ano novo com Bobby Singer.

Foi um ano corrido. Mas todo o ano para um caçador é assim. Melizza só agora é que se mostra mais alegre, depois da morte de Dean parecia se culpar. Ela tinha esperança de poder ajudar. Ela chegou a pegar um dos demônios que encontramos em uma caçada e tentou arrancar qualquer informação, mas não deu certo. E eu liguei para Sam depois da morte de Dean, mas ele nunca retornou. Eu nem poderia imaginar a dor que ele sentia. Só esperava que ele estivesse bem.

Batemos a porta. Passos lentos e um homem abriu a porta. Seu olhar de imediato parou em Melizza. Houve um desconfortável silencio. Não que ele não reconhecesse Melizza, Bobby era do tipo desconfiado mesmo.

— Ainda lembra de mim, tio Bobby?

— Mel?! — Bobby franziu a testa, me olhou por um segundo e depois se voltou a loira.

— Viemos passar o ano novo aqui. — Ela disse. — Claro, se o senhor não tiver compromisso.

Bobby demorou mais um tempo nos encarando, depois sorriu de leve.

— Não, claro que não. — Ele nos deu passagem. — Podem entrar.

Eu e Melizza entramos. Trazíamos sacolas de compras que fizemos pelo caminho. Cerveja, alguns doces, frango e outras coisas para cozinhar.

— Faz muito tempo que eu não venho aqui. — Melizza comentou, olhou ao seu redor, a sala de Bobby. — Eu deveria ter uns dez, onze anos.

— É, você era uma garotinha a última vez que eu te vi. — Concordou ele. — Lembro que você e seus pais vieram aqui nas férias, uma vez.

— Bobby é meu padrinho de batismo. — Melizza comentou comigo.

Mas eu já sabia da história. Bobby, assim como os Haverlle, era um velho amigo da família Ruso. Um dos primeiros caçadores que o pai de Melizza conheceu assim que chegou nos Estados Unidos. Bobby era um grande e esperto caçador. Conhecia bem as coisas, sabia de tudo um pouco.

Ele me olhou por um momento.

— Você é Elisabeth?!

— Isso. Elisabeth Casttle. — Estendi a mão em cumprimento. — Elisa, se quiser.

— Já me falaram de você. — Me cumprimentou. — E disseram que você caça com a Mel. Se ela puxou ao pai deve ser teimosa feito uma mula.

Eu ri.

— Ah, que isso tio Bobby?! — Mel fingiu indignação. — Eu sou um amor de pessoa.

— Trouxemos algumas coisas para o jantar. — Eu comentei.

— Não precisava, crianças. — Disse ele. — Eu poderia ir a cidade arranjar alguma coisa.

— Capaz! Conseguimos um bom dinheiro em um bar. — Mel disse. — A Lili é boa na sinuca.

— Culpada. — Levantei a mão.

— Caçadores... — Resmungou divertido.

— Além do mais nós três merecemos. — Ela acrescentou. — No último fim de ano estávamos caçando um Wendigo em plena passagem de ano.

— Poderíamos aproveitar os fogos da próxima vez. — Comentei. — Um Wendigo queimando em colorido?!

— Que espetáculo! — Disse Bobby, eu nem sei se ele havia entrado na brincadeira ou estava me achando maluca. — Eu vou levar as sacolas até a cozinha, sentem-se que eu já volto.

— Quer ajuda? — Melizza perguntou.

— Eu ainda posso levar três sacolas, Mel. — Retrucou, mas não em tom zangado, era mais ironia.

— Esse é o tio Bobby. — Mel riu-se.

Nos sentamos no sofá. Esperamos – não por muito tempo - Bobby voltar e sentar-se à nossa frente. A primeira impressão que tive de Bobby foi a melhor possível. Ele era simples, diferente da maioria dos caçadores que já se acham super heróis. Acredite, cruzamos com muitos assim.

— O que vocês têm feito ultimamente? — Perguntou. — Não sei nada de vocês desde West Virginia.

Melizza se mexeu um pouco desconfortável. A lembrança de Dean ainda lhe fazia mal. Pensar que ele estava no inferno. E era compreensível essa nossa falta de informação nesse momento. Durante todos esses meses as caçadas foram duras. Viajamos. E nosso único contato foi com Ellen.

— Estivemos caçando como loucas na maior parte do tempo. — Disse a loira em resposta. — Até fomos a Puerto Rico caçar um chucopiro.

— Um o quê? — Ele franziu a testa.

— Chucopiro. — Mel repetiu. — Nós batizamos.

— É a cruza do Chupa-Cabra com um vampiro. — Expliquei. — Não faço ideia como isso aconteceu.

— E eu nem quero imaginar. — Mel torceu o nariz.

— E os demônios? — Indagou.

— Nada. Encontramos uns dois ou três desde de então. — Comentei. — Eles fogem de nós como o diabo foge da cruz.

— Como assim?

— Sempre que há casos de possessão, quando chegamos eles já viraram fumaça. — Mel disse. — É sempre assim.

— Depois que deram fim ao demônio que matou o seu pai?

— Exato. — Melizza confirmou, o que fez Bobby coçar o queixo.

O primeiro demônio que encontramos estava criando confusão lá para as bandas da divisa com o Canadá. Era só isso que queria mesmo. Possuía um pobre coitado, fazia ele cometer atrocidades e depois saía. Melizza o sondou, tentou saber de algo sobre Dean. Uma solução. Nessa época ele ainda estava vivo. Mas só o que o demônio disse foi que Dean ia para onde deveria ir. O exorcizamos. Meses depois esbarramos com outro em New Jersey. Foi no susto e o exorcizamos. Nessa época Dean já havia ido para o inferno e eu estava em meio as minhas pesquisas. Inúteis, claro. A última vez que esbarramos em outro foi mais proveitosa, ele despejou informações de bom grado. Ao que entendemos, ele seguia ao demônio que Sam matou – que eu chamo de Roy, pois foi assim que o conheci – e disse que Roy mesmo sendo insano, era melhor que a líder atual. Líder que o estava caçando. Lilith era o nome. Eu já o havia ouvido antes. E foi o último. Depois disso todos fugiam quando chegávamos na cidade por algum motivo.

— Eu queria perguntar se sabe alguma coisa do Sam. — Perguntei, Mel enrijeceu os músculos automaticamente sentada ao meu lado. — Desde West Virginia não sabemos nada dele.

— Sério que vocês não sabem? — Ele nos encarou incrédulo.

— O que aconteceu? — Confesso que fiquei apreensiva com a forma que Bobby falou, esperei uma notícia ruim. — O que houve com Sam?

Melizza me olhou como se dissesse não consegue ser menos sutil?

Ignorei.

— Algumas coisas inacreditáveis aconteceram esse ano. — Disse Bobby com cuidado. — E eu esperava que vocês soubessem.

— O que foi, tio Bobby? — Mel estreitou o olhar.

— Bem... Já ouviram falar de anjos?

A pergunta não podia ser mais estranha.

E nem a história.

Pois bem, Dean havia sido salvo – arrancado do inferno literalmente – e por um anjo. Um anjo de sobretudo. Bobby nos contou do dia em que o Winchester chegou em sua casa e de tudo que foi acontecendo desde ai ao redor de nós. Dean tinha um trabalho a fazer. Uma tarefa divina. Lilith não era só mais um demônio, ela era o demônio. Por mais estranho que pudesse soar, os 66 selos estavam sendo rompidos um a um por ela para que Lucífer saísse do inferno e o mundo virasse uma grande bagunça do diabo. O apocalipse batia à nossa porta.

Melizza estava chocada no final da história. Em seus olhos uma mescla de alegria e raiva. Fomos até a cozinha no fim da tarde para cozinhar.

— Desgraçado! Idiota! Filho da mãe! — Resmungou enquanto retirava o frango da embalagem.

— Pobre frango. — Balancei a cabeça.

— Eu fiquei quase um ano com o coração na mão e ele ai, sorridente, sem ter a coragem de pegar o telefone e dizer que estava vivo! — Dizia entredentes.

— Melizza, relaxa.

— Elisa, me deixa cozinhar quieta...

— Mas... — Tentei protestar.

— Sai antes que eu te asse.

Encarei ela por alguns segundos.

— Exorcizamus Te...

— Ah, que engraçado! — Ela abriu um sorriso amarelo.

Sorri em resposta e dei meia volta, na sala encontrei Bobby fazendo uma ligação. Para os Winchester.

— Não é uma boa ideia. — Adverti quando ele me disse. — Melizza pode acabar mandando o Dean para o inferno, de novo.

— A Miss Simpatia herdou o gênio da mãe. — Comentou desistindo da ideia, pelo menos por agora.

Sorri sentando a sua frente, no mesmo lugar onde estávamos antes.

— Bobby... — Comecei incerta. — Se os garotos falaram de tudo o que aconteceu em West Virginia, eles contaram o que...

— O demônio te disse?! — Ele completou e eu assenti. — Sim Elisa, eles contaram. É claro que eu pesquisei sobre isso o máximo que eu pude. Eu acho que uma coisa assim não se pode ignorar.

— Eu também pesquisei.

— Espero que tenha tido mais sorte que eu. — Disse ele. — Não havia nenhuma passagem ou profecia relacionada a isso nos livros que eu tive acesso.

— Profecia?

— Você por acaso acha que um demônio teria um filho só para constituir família? — Ele ironizou. — Existem lendas sobre Cambions, são filhos de demônios, e essas lendas se repetem em dezenas de culturas. Mas nesse caso o demônio precisa apenas possuir a mulher e gerar a criança. Mas pelo que eu soube, o demônio disse que estava possuindo o seu pai e ele engravidou a sua mãe de um jeito... Normal... Podemos dizer assim.

— Eu fiz uns exames, Bobby. — Comentei. — Todo o tipo de exame de sangue possível. Esperava uma anomalia. Qualquer coisa. Meu sangue é normal.

— É, como eu disse você não se enquadra nas lendas comuns. — Bobby continuou. — Mas não podemos descartar nada, Elisa. Honestamente, a verdade é que esses príncipes, tudo que existe a cerca deles é sombrio e vago. São responsáveis por trazer a destruição, arrancar todo o mal do inferno e jogar na Terra. E com tudo que está acontecendo, os selos e o diabo, eu não tenho um bom pressentimento sobre isso. — Pausou. — Não é que eu esteja dizendo que você é realmente filha do desgraçado, mas eu no seu lugar estaria preparado para tudo.

Eu assenti.

E pela primeira vez alguém havia sido honesto, franco. Bobby havia dito tudo que eu pensava, embora as pessoas insistissem em amenizar toda a situação. Era o que eu sentia. E isso me dava medo.

A noite de ano novo foi tranquila.

Talvez não tão luxuosa quanto nas casas ao nosso redor. Cerveja, frango com arroz e legumes refogados, e um bolo de morango e cereja. O que mais poderíamos pedir? Naquela noite não falamos de caçadas, casos ou sobre o fim iminente do mundo Nem mesmo dos Winchester – assunto que deixaria Melizza muito irritada naquele momento. Só sobre antigas histórias, coisas bobas, demos boas gargalhadas. Era isso que as pessoas normais faziam, não é?

Na TV alguma programação sem graça. Bobby resolveu ligar o rádio em certo momento. Ironicamente começou a tocar Don’t Stop Believin’, do Journey, bem perto da meia noite. Bobby botou no volume máximo. Nós saímos para frente para vermos os tímidos fogos colorirem o céu.


Some will win, some will lose. Some were born to sing the blues.

Oh, the movie never ends. It goes on and on and on and on...


Strangers waiting. Up and down the boulevard.

Their shadows searching in the night.

Streetlights people. Living just to find emotion.

Hiding somewhere in the night.


Don't stop believin'...

Hold on to the feelin'...

Streetlights people...


E foi 3... 2... 1...

Os fogos explodiram no céu. Não muitos. O lugar onde estávamos não era muito privilegiado. Mesmo assim algumas brilhantes cores surgiram no céu. Azul, vermelho, verde, amarelo. O vento bateu no meu rosto e a única coisa que eu consigo descrever foi a agonia que surgiu, um aperto no peito, eu poderia chamar de péssimo pressentimento. 2009 prometia ser um pesadelo em inúmeros sentidos. Mas acho que só eu senti isso. E ao meu lado, Bobby e Melizza gargalhavam com as cervejas nas mãos.

— Feliz ano novo, tio Bobby!

— Feliz ano novo Mel. Elisa.

— Feliz ano novo.

— Feliz ano novo, Lili!

— Feliz ano novo, Mel!

A casa de Bobby não era grande. Além do próprio quarto dele que ficava no final do corredor, existiam apenas outros dois pequenos quartos. Do mesmo jeito que o resto da casa, cheios de livros velhos em caixas pelos cantos. Bobby tinha uma impressionante coleção de livros. Melizza ficou com um quarto e eu com o outro, que não tinha mais que uma cama de solteiro. Eu não dormi bem a noite. No pouco tempo que dormi tive um sonho; Sonhei com o céu – o que vimos horas antes na virada do ano – o mesmo tom de azul marinho, com estrelas desfocadas e espalhadas por toda a imensidade. Eu vi sangue pintar o céu, exatamente como se fosse o teto de uma casa onde uma lata de tinta é impulsionada para cima. Eu acordei calma. Não realmente um pesadelo daqueles onde você acorda assustada. Eu só sabia que algo grave estava por vir. E a única coisa que conseguia pensar era nas palavras de Bobby. O fim do mundo estava ao nosso redor, eu poderia ser filha de um demônio. Mas me forcei a pensar que isso não era necessariamente uma condenação. Se da luz as trevas surgiram, por que não poderia ser ao contrário?

Me levantei quando notei os passos de Bobby pela casa. Devido ao apoio que ele dava aos outros caçadores, ele sempre acordava cedo. Nunca se sabia quando um deles ia precisar. Mel ainda tardou a se levantar, e claro que a ressaca a acompanhou por boa parte da manhã. Eu comecei uma pesquisa, fui atrás de algum caso. Não havíamos planejado ficar mais de um dia em South Dakota. A maioria dos sites falavam das festas de ano novo em várias partes do mundo. As festas em praias brasileiras são um encanto, aliás. Mas no final consegui achar algo. Então nos despedimos de Bobby depois do café.

— Se cuidem, crianças! — Falou o velho caçador enquanto abraçava Mel parada do lado de fora da porta.

— Pode deixar, tio Bobby. — Melizza respondeu sorrindo. — O senhor também, hein?

Bobby assentiu.

Eu tinha ido levar as bolsas ao Mustang e em seguida me aproximei dos dois. Eu e Bobby nos despedimos de forma rápida com um abraço.

— E mandem notícias! — Pediu me encarando. — Caso precisem de algo não hesitem em ligar.

— Claro. — Sorri.

Eu e Melizza voltamos para o carro. Eu até insisti em dirigir, mas Melizza era teimosa. Pegamos a estrada em direção a Nebraska.

— Essa garota... — Comecei a explicar enquanto lia o texto em um site de um jornal local onde encontrei um artigo sobre uma morte ocorrida há três dias atrás. — Ashley Crush...

— Crush? — Me cortou torcendo o nariz. — Parece nome de stripper.

— Ela era cantora. Cantava em boates.

— Com um nome desses ela deveria adorar um microfone. — Disse com a voz maldosa.

— Melizza! — Franzi a testa, reprovando-a.

— É o efeito do porre. — Disse com cinismo. — Ok, fofinha. Continua ai.

— Fofinha? — Revirei os olhos. — Então... Ela conseguiu um trabalho de cantora em um musical de fim de ano. Um daqueles tradicionais. E essa parecia ser a grande chance da carreira dela. Mas ela foi encontrada no camarim do teatro, morta. Congelada. E segundo o laudo do legista, foi de hipotermia.

— Algum ar condicionado maluco?

— Não. — Respondi. — A sala em perfeito estado.

— A garota virou sorvete do nada? — Ela perguntou. — O que pode ser?

— Eu não sei. Pensei em um fantasma. — Comentei. — Acontece que o grupo da peça, que se chama Oriental, tinha uma outra vocalista. Evelyn Mason. E ela foi encontrada há duas semanas morta por hipotermia em casa.

— Bom, isso nos dá uma longa busca. — Concluiu bufando.

— Nem tanto. — Respondi. — Descobri que existem umas histórias bem sombrias ao redor do teatro e do dono fundador. Manuel Royal. Dizem que ele era extremamente ciumento e a mulher, Eva, era a estrela de um dos espetáculos. Ele teve um ataque de ciúmes e bateu na mulher. Ela se defendeu como podia e jogou um castiçal antigo, cheio de cera quente das velas que estavam queimando. Ele ficou deformado. Depois buscou vingança, matou a mulher e se matou.

— Interessante. O fantasma que fez bico de figurante em House Of Wax voltou para matar as cantoras por que?

— Eu não sei. — Cocei a cabeça. — Vamos ter que dar uma olhada por ai.

— Feliz ano novo! — Ela disse aumentando a velocidade do Mustang.

A viagem só demorou algumas horas. Sete ou oito, aproximadamente. E teria demorado menos se não tivéssemos parado umas 34 mil vezes ao longo do caminho para ir ao banheiro ou comer. Necessidades humanas, eu sei. Ao fim da tarde estacionamos em frente a um motel chamado El Paraiso. Por mais irônico que fosse, claro. Melizza estacionou cantando a plenos pulmões, enquanto eu ainda estava concentrada em pesquisar mais sobre o caso.

Hello Daddy... Hello Mom... I'm your ch-ch-ch-ch-ch Cherry Bomb. — A loira cantarolava ao meu lado. — Hello world, I'm your wild girl. I'm your ch-ch-ch-ch-ch Cherry Bomb.

Desci do Mustang e em seguida Mel me seguiu, com algumas bolsas nas mãos. Só o básico. O resto sempre deixávamos no porta-malas do carro bem protegido com todas as armadilhas. Nos hospedamos.

— Quarto 23, segundo andar. — Disse a moça entregando as chaves.

E devo admitir, o motel era de longe o mais limpinho que encontramos nos últimos meses. Sem cheiro de cigarro, bebida, mofo nas paredes. O único defeito – nada é perfeito, infelizmente - era o fato de não ter um elevador. E eu não gostei nada do formado da construção. Não é chilique de aspirante a arquiteta. O motel realmente dava a impressão de ser um labirinto. Quando chegamos no topo da escada, nos deparamos com um longo corredor à nossa frente. Mais à frente ainda tinha mais dobradas e logo na entrada do corredor, um outro corredor, formava a espécie de um “T” – eu acho – e do lado esquerdo umas duas portas, do outro lado outras duas. Era a direita a nossa acomodação. Bem na entrada do lado direito havia uma velha escada de madeira que não dava para nenhum lugar. Só estava ali, fixa ao chão. Como as escadas de bombeiro, essas comuns que as pessoas têm em suas casas para eventualidades. E todos os seus degraus eram enfeitados com vasos de flores reais, perfumavam o ambiente devo dizer. Passamos pela escada e entramos no quarto logo ao lado, o nosso.

A noite foi tranquila. Mais tarde saímos para comer qualquer coisa. E eu logicamente estava louca de vontade de ligar para os Winchester, mas a loira não saiu do meu lado. Pelo menos não a maior parte do tempo. Nós não podíamos ir atrás de informações naquela hora. O jeito era esperar.

Na manhã seguinte nos levantamos bem cedo, fomos a uma cafeteria e nos apressamos, dividindo as buscas. Melizza foi falar com o grupo, uns garotos que faziam a peça com Mason e com Crush. Já eu fui ao IML – e sim, essas coisas tocaram para mim – e também tínhamos que ir ao local em que ocorreu os fatos, mas isso teria que ser a tarde, então também fui a procura de informações sobre Manuel Royal e sua esposa, Eva.

Da minha parte – ao que diz respeito ao corpo no IML – podemos dizer que não tinha nenhum sinal. O EMF não detectou nada também. Ashley parecia ter sofrido uma morte natural. Comecei a duvidar do meu faro para casos quando descobri que Manuel e Eva Royal foram cremados. A história ainda era real. E havia a possibilidade de algo ligar o espirito de Manuel a Terra. Cheguei a cogitar que talvez o espirito atacasse garotas que tivessem traição em seu histórico, ou algo assim. Mas Melizza teve mais sorte que eu, afinal.

— Os garotos disseram que Crush havia sido aceita no grupo há poucos dias. Que nos testes ela tinha uma bela voz. Mas no ensaio ela desafinou total, tipo um piano caindo sobre um gato rouco. — Contou Mel assim que entrei no Mustang.

Dessa vez eu dirigia, ela comia salgadinho.

— Quem a encontrou?

— O diretor. — Respondeu. — E o corpo?

— Intacto. — Disse pensativa. — E a tal Evelyn? Conhecia a Ashley?

— Não. Mas tem uma coisa.

— Que coisa? — Enruguei a testa.

— Os garotos descreveram Evelyn Mason como satanista de carteirinha, ela era sinistra. — Explicou. — Colecionava livros satânicos. Era do tipo mega hiper gold super dark.

— E a Crush?

— Essa eu não sei. Mas a outra ela daquele tipo que corta a cabeça da galinha só por diversão.

— Eu já entendi, Melizza. — Revirei os olhos. — Vamos ir ao teatro hoje a tarde.

— Desde quando você dá as ordens? — Fingiu indignação.

— Cala a boca! — Disse ao sair do carro, assim que estacionamos em frente ao motel.

— Hey! — Protestou me seguindo.

Meu olhar parou por um instante em uma garota – poucos centímetros mais baixa que eu, cabelos negros e roupa justa – ela estava esperando algo ou alguém escorada em um carro cinza. Ela também nos olhava, o que podia ser explicado por Melizza e sua mania de falar alto que todo o tempo chamava a atenção, mas logo desviou o olhar. Atenta a todos os movimentos dentro do motel. Eu me arrepiei ao passar por ela. Parei e olhei para trás. Eu jurava que a conhecia. Era uma sensação tão familiar que não podia ser só impressão. Ela me encarou.

— Que é? Nunca viu não, é? — Seu tom era ríspido. — Babaca!

Melizza estranhou minha atitude, mas acabou se metendo.

— Qual é, minha filha? — Melizza deu um passo a minha frente. — Se a fofinha acordou com o pé esquerdo não é culpa de ninguém. Ducha fria e um namorado funciona, sabia?

— Quer arranjar briga, sua loira oxigenada? — Retrucou sem se mover, desdenhosa. — Aconselho procurar um terreiro de brigas de galinha.

— Ora, sua...

— Melizza, vamos! — Puxei.

Aquela garota me deixou inquieta.

Mesmo depois de entrarmos no motel, eu a observei por uma janela. Ela esperou por algum tempo mais, depois subiu no carro e saiu.

Eu a conhecia... Só não sabia de onde.


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