Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 74
- Denise.


Notas iniciais do capítulo

Sendo meu primeiro dia de férias me senti na obrigação de fazer esse capitulo. Vcs terão mais 5 capitulos antes da história acabar.



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O calor poderia ser o único elemento capaz de destruir seu foco.  A estação do ano não era das mais calorentas, ainda sim a pele sempre acostumada ao frio intenso do sul tinha que banhar-se com protetor solar. Algo que só teve contato três vezes em sua vida.

Ainda sim gostava da Flórida e de toda energia latina que ela tinha. Queria conhecer a fundo desse tempero futuramente, mas precisava concentrar-se em sua atual prioridade.

Pensava que deixar Mystic Falls exigiria mais emoção de sua parte, só que estava completamente enganado. Assim que seu carro atravessou as fronteiras de estado cada vez mais longe parecia que a felicidade emergia a ponto de atravessar seu corpo.

MIAMI. O destino final era um tanto incomum para sua personalidade. As cores alegres, o povo simpático e alegre, a energia sempre em alta. Damon sentia-se o oposto e exatamente por isso a escolheu como destino, escolheu dar uma chance para novidades. O custo de vida barato e a alta oportunidade de emprego vieram para somar na sua decisão.

Mas esse lado só conheceria futuramente. Por enquanto não precisava fazer contas sobre quanto poderia gastar naquele mês. Internou-se na reabilitação da Flórida no segundo dia de chegada e sua única responsabilidade financeira era a mensalidade, o restante eles cobriam.

Seria a ultima chance que daria para si mesmo. Apesar de que a motivação era maior nessa especifica ocasião. Antes era como um forçado estando em clinicas como aquela para satisfazer outros. Agora era um atleta, que passava pela dor pela satisfação pessoal de uma medalha de ouro. Queria o orgulho de quem amava, mas também queria o seu orgulho próprio de volta.

Nas reabilitações interioranas da Virginia em que esteve antes, cerca de duas horas de Mystic Falls, a variedade não era muita. Homens brancos de meia idade com problemas alcóolicos, conservadores, que dirigiam caminhões, usam palitos de dente e ouviam Elvis Presley. Ou adolescentes emos na qual, entediados com a vida resolveram experimentar algo os entretecem.

No cenário atual, havia pessoas de vários países, raças, idades e histórias. Afinal Miami era uma das cidades mais diversas pela quantidade de imigrantes que chegavam todo dia. Suas enfermeiras, uma era Colombiana e outra da Austrália, já seu colega de quarto era um legitimo filho do Kansas.

Como cada um fora parar no mesmo lugar ele já esquecera, eram tantas histórias. Principalmente nos dias de terapia em grupo.

Contou sobre uma mulher em uma dessas terapias. Na segunda, ainda ontem. Não mencionou nomes, ou muito menos a idade nem a situação.

A frequência com qual pensava nela ainda era mais do que o normal. Ou seja, sempre que tinha um momento para refletir ou simplesmente ficar em silêncio. Os pensamentos eram tão variados quanto seus novos vizinhos de clinica. As vezes pega-se imaginando chegar em Nova Iorque, no prazo combinado e torcer para que Elena estivesse envolvida e apaixonada por outro. Tudo para evitar que ela viesse a se decepcionar com ele, por qualquer desastre que pudesse cometer no futuro.

Observou o vasto jardim florido do quintal, soltando um suspiro fundo. Era um lugar bonito e aconchegante, sem dúvidas. Imaginava o paraíso daquela forma. Irônico pensar que apesar da vista e do lugar, conseguir sair limpo que era a grande vitória.

Voltou para a cama, cansado de observar a lua. Leu mais algumas páginas de um livro qualquer antes de pegar no sono.

—--x----

— E porque essa decisão agora? – Grace perguntou com um riso no rosto, enquanto as duas atravessavam a rua em um movimentado dia de Nova Iorque. Assim como todos os outros dias.

— A maioria dos estilistas consegue costurar, mas só o básico. São muito bons mesmo com os desenhos. – Explicava detalhadamente, mas com um animo desconhecido em sua voz. – Quero ser diferente. Poder supervisionar tudo quando começar a trabalhar e ser capaz de entender de tudo também.

Grance a encarou com orgulho.

— Então quer ser estilista?

— Sim. – Disse convicta. – Eu sempre quis. Não acho que vou precisar de faculdade ou de nada do tipo, porque é algo que eu sei que já tenho conhecimento. Andei vendo as grades curriculares de universidades e é como se tudo que estivesse lá, eu já soubesse. – Entristeceu ao pronunciar a ultima frase.

Era alguém de certa forma famosa e tinha ciência que seria mais fácil para ela conseguir apoio e realização profissional, tanto que nem precisaria de universidade para conseguir chances mais rapidamente. Por isso gostaria de ir para a universidade, para que não pensassem que só teve suas oportunidades por ser uma privilegiada.

Bom, teria que ignorar. Stella McCartney teve privilégios, mas se não tivesse o talento não teria longevidade.

Ao menos já tinha a resposta pronta.

— Eu fico feliz que você tenha pensado em mim pra fazer esse curso com você. – Grace falou em agradecimento. – Eu sempre costurei, mas acho que vai ser legal conhecer gente nova também, sair de casa, ter algo pra fazer.

— Por isso que pensei em você. Precisa sair mesmo. – Incentivava. Elas caminhavam pelas ruas como duas abelhas que acabaram de encontrar um favo de mel.

Elena almejava aproveitar para passar esse tempo com Grace e com Stefan. Queria ser parte daquela família e estar perto deles fazia sentir-se perto de Damon também.

— E como é que você tem estado? Vi você bastante na tv esses dias, noticias ruins até. – Grace arriscou aquele assunto com hesitação. Não sabia se ela gostaria de falar sobre isso.

Elena respirou fundo, tentando disfarçar o desanimo.

— Foi complicado no começo. Muitos fotógrafos me seguindo, mais que o normal. Muitas mensagens, telefone não parava de tocar. – Chegou a atirar seu celular na parede, por algum milagre não quebrou. – Mas agora as coisas estavam voltando ao eixo.

— Graças a deus. – Aludiu Grace com as mãos em direção ao céu.

Mais alguns passos em seguida, ainda caminhando pela mesma calçada, chegaram até o prédio laranja e preto. Era comercial, por isso deveria haver outras atividades no mesmo andar, só que em salas diferentes. Dança, artesanato, informática.

A sala onde as aulas de costura aconteciam era no quinto andar, sala 53. Segundo o cartão em que Elena tinha na bolsa.

Como duas crianças animadas para a manhã de natal, elas adentraram ao edifício.

—--x---

O silêncio costumava ser comum desde que chegou. A comunicação entre Miranda e John parecia fria e as filhas da madrasta passavam a maior parte do tempo fora. Mas nem o pai e nem a atual esposa pareciam abalados com o espaço entre ambos. Elena há algum tempo já entendia a razão pela qual.

Ao atravessar a porta de entrada da sala, a ausência de vozes parecia ainda mais incomum. Antes eram como se houvessem pessoas, mas que estivessem caladas. Já hoje, não parecia haver ninguém.

Acendeu as luzes no interruptor da sala, que ligava também os restantes dos cômodos. Ainda nada.

Estaria mesmo sozinha? Estariam dormindo?

O relógio marcava 19h50min. Não era tarde o bastante para nenhuma das opções, caso eles houvessem por sair, nesse horário ainda estariam se arrumando.

O dia passara rápido, após matricular-se com Grace no curso de costura, foram ao shopping comprar materiais para as aulas e também futilidades. Almoçaram e ela disse que Damon só havia ligado duas vezes, saiu de Mystic Falls. Mas não informou onde estava.

Elena desconfiou daquelas palavras, não era do feitio de Damon fazer algo assim com a mãe. O que deve ter ocorrido fora dele contar, mas pedir para que guardasse segredo de si. Não insistiu, preferiu não. Afinal, era o combinado. Passou um trator por cima de seus desejos e impulsos e engoliu uma salada que desceu amarga.

Deus, que saudades que tinha dele.

Seguiria para as escadarias em direção ao quarto, quando um barulho de talheres lhe interrompeu. O interesse fora imediatamente despertado. Não estava só.

Alguns dias atrás teria subido direto sem dizer nada, mas ao menos por hoje, considerou a ideia, de que talvez quem fosse merecesse saber que estava ali. Ao menos um ‘’ já cheguei’’ E tchau, cada um seu canto.

A convivência não mudou. Não melhorou, não piorou. Na verdade não havia convivência para que algo acontecesse, seu vocabulário era menor que um monossílabo.

Seguiu o som vindo da sala de jantar, cautelosamente. Mais alguns passos e estava na soleira da entrada, surpreendeu-se por não encontrar uma companhia junto a John.

Era só ele, perante uma mesa de jantar farta.

— Comendo no escuro? – Elena disse, após alguns segundos o observando.

John assustou-se. Pensou que ela subiria direto.

— Esperando alguma de vocês aparecerem. – Deu os ombros, com descaso. – Janta comigo?

Não respondeu. Apenas sentou-se em uma das cadeiras, mantendo uma distância agradável e serviu-se em seguida.

Há poucas semanas daria o trabalho de enviar um enfeitado ‘’ não’’ com pitadas de grosseria. Estava cansada daquela situação e acima de tudo não queria fazer daquele período um inferno mais.

— Como foi o dia? – John questionou após alguns minutos de bocas que só abriam para receber alimento.

— Foi bom. Fui com a minha sogra me inscrever em um curso de costura. – Fez questão de usar a palavra sogra. John teria que ter em mente que para ela, aquele tempo não mudaria nada.

— Então a ideia de ser estilista está de pé?

O pai parecia contente com aquela decisão.

— Acho que no fundo sempre esteve.

— Dou todo meu apoio. – Sorriu animado. – Qualquer contato que precisar, qualquer ajuda. Não tenha vergonha de me pedir.

Elena refletiu as palavras dele por um segundo. Não queria parecer orgulhosa, mas seus planos eram outros.

— Eu agradeço, mas acho que, dessa vez, eu quero fazer sozinha. Quero encarar as dificuldades e conseguir isso independente do meu sobrenome.

— Você sabe que tem talento, Elena. Não seria uma privilegiada só pelas suas condições.

O que ele sabia sobre lutar por algo de qualquer maneira? Sua mente disse, mas ela calou-se.

— Sei o que estou fazendo. Não se preocupa. – Limitou-se apenas naquilo. – Estou planejando com calma, ok? Escolhi minha profissão, escolhi o homem que eu quero comigo e estou escolhendo meus caminhos pra chegar nisso. – Disse decidida, levantando-se depois. A comida estava pela metade. – Vou dormir, amanhã tenho aula.

Sem aguardar respostas, saiu do cômodo deixando-o lá.

—--x---

A natureza parecia em descanso aquele dia. Para sua inspiração não era o melhor momento. Gostava dela viva e cheia de detalhes. O parque imitava o verde ao redor, vazio e quase que sem vida.

Talvez uma quarta feira cinzenta não fosse o melhor dia para sair em busca de algo para desenhar. A vida naquele dia estava escondida.

Ainda sentada ao banco da praça passeou o olhar em mais uma caça. Nada. Pelo visto seu papel voltaria em branco para casa. Nesse meio tempo que viajou pelo local com seu olhar, não reparou na presença de uma mulher que acabara de sentar-se no mesmo banco que ela, cada uma em uma ponta.

Ela tinha um bebê no colo.

Elena encarou o rosto daquela moça com cuidado para que a mesma não percebesse que a encarava. Era muito bonita e era jovem. A pele negra chegava até mesmo a brilhar, assim como a do bebê. Um menino. Os trajes eram simples e não pareciam tão agasalhados conforme o tempo pedia.

Apesar dela não reparar que a encaravam, pois olhava para frente, a criança percebeu e sorriu para Elena soltando uma gargalhada.

O som acordou a mãe e elas finalmente se olharam.

— Como ele se chama? – Elena perguntou rindo para a criança.

— Leroy. – Um forte sotaque veio da parte dela.

Era Jamaicana, com certeza.

— E você sorri pra todo mundo assim Leroy? – Sua voz ficou mais aguda, enquanto se comunicava com a criança.

— Acho que ele gosta de você. O que é raro, desde que chegamos ele parece assustado.

— Eu imagino. Quanto tempo?

— Ele tem sete meses.

Ela sorriu sem graça.

— Me refiro ao tempo que chegaram.

— Ah sim. – Ambas sorriram. – Quase duas semanas, estamos ficando na casa de uma amiga, que já está aqui há alguns anos. – Elena reparou que ela parecia triste enquanto falava.

— Daqui a pouco ele se acostuma melhor que você, vai vê. – Soou esperançosa. – Sou Elena, a propósito. Você é?

— Denise. – Disse tímida. – Muito prazer, Elena.

— Se serve de consolo pra você, eu nasci aqui. Já tive em tanto lugar bonito no mundo e realmente, pra mim essa é a melhor cidade de todas.

Denise não pareceu animar-se.

— É que nunca é fácil né. A cidade que eu venho nem ao menos esgoto tem direito. Moro em um abrigo, há alguns anos aconteceu um terremoto na Jamaica e... Ainda não nos recuperamos. Vivo nesse abrigo há dois anos e as condições são péssimas e mesmo assim, eu sinto saudade.

Diante das condições de vida na qual ela retratou, Elena não pode imaginar um motivo para ela sentir saudades.

— Não entendo. – Foi sincera. Sua voz ainda estava em choque. – Porque sente saudades se veio pra cá em busca de algo melhor?

— É questão cultural mesmo. Você tem saudades da sua cultura, da sua comida, dos seus costumes. São coisas pequenas, mas o bom de Nova Iorque é isso. Tem gente de todo mundo, então várias culturas, vários costumes.

Interessada no assunto, Elena aproximou-se dela e virou seu corpo em direção à mulher.

— Como chegou? – Perguntou sem hesitação, Denise parecia ansiosa para conversar com alguém também.

— Essa minha amiga é Jamaica/Americana, então tem as duas cidadanias. Ela foi embora, um ano antes do terremoto e mês passado foi junto com o programa da UNICEF e nos encontramos. Ela me ofereceu ajuda.

Elena franziu a testa.

— Que programa da UNICEF? Não entendo. – Olhou o bebê, que já dormia.

— A UNICEF oferece um programa pra enviar pessoas pra países que sofreram desastres e serem voluntários. São lugares que precisam, pois não tem muitos médicos, não tem comida, não tem água potável. Então precisa de pessoas pra ajudar a chegar essas coisas.

Um pouco abatida, Elena começou a refletir sobre a situação que Denise lhe contava. Sem comida, sem agua, sem condições humanas. Uma realidade muito diferente da que ela ou qualquer pessoa que conhecia, tinha. Crianças assim como aquela que dormia no colo de Denise. Nunca havia feito caridade, nunca havia pensado sobre tais coisas, nunca havia nem sequer ouvido sobre esse terremoto que agora lhe contava, ou pouco sabia o que significa as siglas da UNICEF.

Denise não parecia muito mais velha do que ela e parecia tão mais madura. Isso só no olhar. Talvez fosse isso que Isobel quisesse para ela.

Talvez fosse isso que precisasse.

— Me diga, Denise. Qualquer pessoa pode se inscrever pra ser voluntário?

Denise pensou um pouco.

— Não tenho certeza. Mas acho que sim. Pra se inscrever é só entrar no site mesmo, acho que tem um questionário.

— Então, a pessoa se inscreve e se passar vai pra Jamaica fazer trabalho voluntário, ok? – Repetiu o obvio para organizar seus pensamentos. – E você sabe por quanto tempo?

Com aquela sessão de pergunta, a expressão de Denise acendeu pela suposição que sua mente teve.

— O tempo que você quiser. – Disse. – Você tá interessada?  Quer ir pra Jamaica e ajudar?


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