Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 46
- Mudanças.


Notas iniciais do capítulo

Fala meninas, olha rápido aviso: Semana que vem não poderei postar. Já me adianto em desculpas, mas não vai dá :(
Curtam mto esse capítulo e obrigada as garotas que favoritaram a história, passamos os 100 favoritos e se consideram MDA uma de suas fics preferidas, mas esqueceram de favoritar; Favoritem, quanto mais favoritos mais leitores podem aparecer.
Não recemos recomendações essa semana :( e agradeço aos comentários que fizeram no outro cap em respeito às criticas.
Boa leitura.



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Num rápido abraço de despedida, Elena beijou sua bochecha e sorriu. Seus olhos brilhavam desejando um ‘’ Fique bem. Vá com Deus’’. ‘’Boa sorte’’. Sentimentos verdadeiros compartilhados por todos que faziam parte daquela despedida.

Jenna se afastou dos braços de Elena, sendo substituídos pelos de Isobel que de modo agitado a apertou com toda força contra seu corpo. A ruiva não reclamou; Pelo contrario, fez o mesmo.

– Tem certeza que tem que ir mesmo, Jenna? – A mulher resmungou ainda nos braços da irmã caçula. – Fica mais... Fica.

A mais nova sorriu.

– Bem que eu queria. – Gemeu em queixa. – Fazer o que, trabalho é trabalho... E quando ele chama, não pode ignorar.

De certa forma, ela já sentia internamente que era hora mesmo de ir. Seu objetivo com aquela hospedagem era ajudar sua irmã nos primeiros meses de mudança. Afinal, Isobel passara por uma transformação tão repentina e ao mesmo tempo de enorme porte. Traição, divórcio, mudança de um lugar para outro completamente o oposto, ainda mais com filhos tão habituados com suas rotinas diárias. Era muito para qualquer um aguentar de uma vez só. Veio, ajudou-a no que pôde, fez companhia, deu conselhos.

Era hora mesmo de voltar para sua vida e deixar sua irmã seguir a sua, provando para John, na qual sempre considerou Isobel tão frágil e dependente do próprio, que tinha forças necessárias para seguir em frente, feliz, numa vida sem ele.

– Vou sentir sua falta. – Disse Isobel esfregando as mãos pela pele clara do rosto de Jenna, que sorria com aquele momento tão familiar.

– Para com isso boba. – Sorriu terna. – Juro que nos aniversários, natais, feriados eu dou um jeito de aparecer por aqui. Não vão se livrar de mim tão fácil.

Não queria que a futura saudade trouxesse tristeza. E sim a certeza de que o amor que as duas tinham era, de fato, superior. Ainda mais quando se lembrava das inúmeras brigas que ela e Isobel tiveram no passado, por conta de John; Já que na época, não havia aprovado o casamento da irmã com ele. Ninguém da família aprovava.

– Tia o ônibus chegou. – Avisou April, com a voz um pouco a cima do tom.

Em reflexo a noticia, Jenna tateou por suas malas atrás de si, mas Jeremy já tinha por elas em suas mãos. Caminhando até o meio-fio da rodoviária esperando o automóvel parar e em seguida, o bagageiro se abrir.

Após algumas cerimônias, ela pôde subir em ordem há outros passageiros.

– Boa viagem! – Gritou Isobel, enquanto April e Elena acenavam para a mulher da janela.

Junto ao carregador, Jeremy adentrava as malas da tia no local de praxe.

A ruiva acenou-os de volta, enviando rápidos beijos. Ao olhar em volta, Elena percebeu que não eram os únicos a executar tal cena. Crianças, velhos, adultos, não necessariamente nessa ordem. Todos se despediam de maneira igual; Abraços, beijos, dezenas juras de saudades. Com diferença de que alguns choravam e outros não.

E mesmo sem querer, na típica vida suburbana dos americanos, uns imitavam aos outros. Não só nas despedidas, mas como em costumes diários. Pais indo para o trabalho, filhos na escola, mães cuidando da casa. Em algumas residências, um gato. Outras um cachorro. Sentia-se tão enquadrada naquela vida que nem se incomodava mais, só observava. Não apenas os outros, mas a si mesma e a sua família.

Sentia como se já houvesse dito essas mesmas frases milhares de vezes.

Mas o que havia mudado?

Ela?

Talvez...

O que fazia sua mente pensar tanto nas mesmas palavras era não saber se suas mudanças viriam a ser boas ou ruins.

O ônibus se fora em poucos minutos. Varias mãos em conjunto acenavam para respectivas outras mãos, que acenavam de volta, de dentro do veiculo. Logo as mesmas mãos, tanto as de dentro quanto as de fora se partiram de volta para seu destino final ou para suas casas, para que em seguida novas mãos pudessem repetir o mesmo ato.

–--x----

– AH! – Suspiraram os quatro em alivio, jogados ao sofá. Isobel logo tinha de voltar ao consultório, onde diversos pacientes a esperavam, já que devia ter acumulado, pelo tempo gasto na rodoviária. Jeremy e Elena, ambos haviam de adiantar os estudos para as provas de semana que vêm que com o acidente, principalmente para ela, se atrasou. Já April, queixava-se da quantidade de trabalhou escolares, que com a queda da internet anteontem, se interrompeu. Tudo teria que se resolver entre o dia atual e o seguinte.

– Quem levanta primeiro? – Perguntou a mãe, desanimada. Os olhos fechados, na esperança de talvez conseguir adormecer de repente, ou ter a sorte de sofrer um desmaio.

Elena gemeu em reluta.

– Eu é que não saio daqui tão cedo.

– Eu to é com sede. – Falou Jeremy, bocejando ao mesmo tempo. Ainda banhado pela preguiça, tomou um leve impulso apoiando-se numa das pernas da mãe e no braço do sofá.

April iria levantar junto a ele, mas desistiu no momento em que retirou a cabeça da almofada.

– Traz um copo pra mim também, Jer? – Ela pediu.

– Nem pensar. Levanta madame.

– Ai Jer, por favor. To cansada.

– Eu também. – Retrucou já na metade do caminho a cozinha.

Por mais gentil e calmo que Jeremy seja, por suas vezes, também conseguia ser tão teimoso quanto Elena. Mesmo que fosse um simples copo d’água, April sabia que ele não obedeceria por sua vontade.

Em desistência, ela rolou os olhos levantando-se no mesmo desestimulo que o rapaz.

– Saco. – Murmurou o seguindo.

Ouvindo os passos se distanciarem corredor a fundo, Isobel continuou com os olhos fechados. Elena também não abriu os seus.

Um sorriso fraco se desenhou no rosto da mãe.

– Dois já foram... – Brincou.

– Nem que a gente tenha que lutar até a morte, mas eu vou ser a última a levantar daqui.

Mesmo que dito com bom humor, Isobel hesitou em pronunciar aquelas palavras.

– Sabe o que eu penso sempre nessas horas de preguiça? – Inquiriu ainda com aquele sorriso no canto da boca. Elena gemeu algo incompreensível, como se indagasse um ‘’o que?’’ para a pergunta da mãe. – Penso que eu devia fazer que nem aquelas dondocas ‘’amigas’’ nossas de Nova Iorque; Que se divorcia, continua sem trabalhar e vive de pensão de ex-marido.

– Ou ex- maridOS. – Adicionou Elena, em ênfase ao ‘’os’’.

Isobel riu em baixo som, mas logo seu riso desapareceu. Dando lugar a expressão de pensadora.

Os olhos das duas já estavam abertos, e os da mãe encaravam o teto.

– Engraçado como é a vida, não é? Antes... O dinheiro que eu ganhava no meu consultório de dentista, ia tudo pra uma poupança reservada pra emergências ou só pra ter unzinho extra mesmo. Seu pai sempre fez questão de sustentar tudo que a gente gastava, pra me deixar trabalhar foi um sacrifício. Ajudar nas despesas então... Nem pensar. – Elena preferiu ficar em silencio; Falar de John era sempre uma das coisas que menos gostava. Percebendo o vazio vindo da filha, Isobel tentou reanima-lá. – Dá até pra vê de onde e de quem você puxou esse orgulho todo. – Sorriu timidamente. Mas Elena continuou no mesmo vazio; Também não gostava de ser comparada com ele. Não mais. Sabia o quanto se pareciam e aquilo para ela já era uma cruz suficiente a ter de carregar. E ser lembrada de todo aquele peso, só ressaltava sua repugnância.

Percebeu o desapontamento de sua mãe com seu silêncio. Desde o acidente, intuía o quanto Isobel tentava resgatar de alguma forma a harmonia entre as duas, por conta daquela última briga.

Era hora de pôr um ponto final naquilo.

– E hoje... Aquele dinheirinho e aquele consultório, considerados tão coadjuvantes, sustentam uma casa e uma família inteira praticamente. – Disse, sem precisar fingir sua sinceridade. Poucas vezes fora tão transparente com Isobel como naquele momento.

Agradecida com as palavras, apanhou a mão da filha depositando um suave estalo. Sorriu para ela; Dessa vez não só com os lábios, mas também com os olhos. Que pelo brilho, valera como o riso mais belo de todos.

Outra vez a alegria sumira do rosto da mulher, dando lugar aos pensamentos de preocupação.

– Ainda mais agora... Com essa mudança tão repentina.

Elena deteve-se por um momento. Não entendeu a razão para aquele tom de voz tão fúnebre da mãe.

– Como assim TÃO repentina? A gente já sabia que a tia Jenna não ia ficar muito tempo aqui; Só alguns meses no máximo, ela mesmo disse desde o primeiro dia.

Isobel também hesitou em falar. Estava pensando. O esforço para que escolhesse bem as palavras certas era claro.

– É que eu não to falando só da Jenna, meu amor. – As sobrancelhas de Elena se elevaram, no decorrer de cada silaba. – To falando do Damon.

O gélido suspiro que tentou escapar por sua garganta em forma de grito, fora aprisionado pelo trincar de seus dentes. O rosto, desde as sobrancelhas até o queixo, completamente franzidos. Esforçando-se para manter escondido todo seu desespero pelas palavras ouvidas.

Houve uma curta pausa, onde uma Elena esperançosa orava internamente para que estivesse sendo vitima de uma piada.

– Como assim... Tá falando do Damon? – A voz quase que não saiu. Por estarem tão próximo, Isobel pôde escuta-la de maneira nítida.

A mãe não pareceu perceber todo aquele temor na fala da filha. Continuou a falar normalmente.

– Ontem ele veio falar comigo e disse... Que por problemas pessoais, vai ter que sair daqui.

Outro grito veio a ser preso dentro de si, dessa vez as lágrimas foram à companhia do berrar na solitária cadeia que se construía perto de seu coração. O peito doía e o esforço do franzido rosto, para conter lágrimas e gritos já estava prestes a se romper. A opção mais inteligente era sair dali para que sua mãe não desconfiasse de sua reação.

Ainda sim, uma parte interna latejava na ânsia de resposta; De querer saber mais. Se perguntasse para Damon, quando fosse tirar satisfações com ele (sim, faria isso) as chances dele mentir eram enormes.

Precisava ser forte e aguentar mais um pouco.

– Problemas pessoais? Mas ele não disse mais nada? Não disse por quê? – Perguntou, tentando conter-se ao máximo.

Os dentes trincados e a expressão dura fazia sua voz sair mais grossa do que o habitual.

– Não; Só falou que eram coisas muito intimas mesmo e que não ia poder ficar. Que tinha conversado com um amigo e que moraria com ele num apartamento, perto do antigo prédio que ele morava.

– Nada mais? – Proferi frustrada.

Isobel pensou por alguns segundos.

– A gente conversou bastante, e no final nós fizemos um acordo. Eu propus, e ele aceitou... Não queria, mas acabou aceitando de tanto que eu insisti. – Elena refreou-se para que não apertasse a mão de Isobel, ainda delicadamente abraçada com a sua. – Eu falei que... Deixaria o quarto vago e que tava disposta a esperar que ele resolvesse o que tem que resolver e quando quisesse voltar, seria só me avisar.

– Então vocês não romperam o contrato de aluguel? – Indagou Elena, embora soasse mais como uma conclusão.

– Não, por enquanto não.

Elena nem ao menos piscava. Cada palavra parecia como alimento dado ao desespero que sentia.

– Como assim ‘’por enquanto não’’? Você mesmo acabou de dizer que ele aceitou voltar quando resolvesse as coisas dele.

Agora a mãe havia percebido seu estresse. Tentando reparar a gafe, Elena desviou os olhos para baixo e acalmou a respiração, conseguindo relaxar o rosto, antes contraído por completo em tentar manter as aparências.

Cessando a expressão desconfiada, Isobel retomou a conversa.

– Por mais que ele tenha concordado com o que eu ofereci, eu ainda acho que ele aceitou só por educação, pra ser gentil. O consultório tá indo bem... Eu posso deixar o quarto vago por uns seis meses, mas pelo visto ele não vai voltar.

Sentindo que não havia mais o que se dizer, Elena optou pelo vazio externo. Ao contrario de seu interior que se debulhava em lágrimas. Isobel também encarava um ponto qualquer da sala, embora seu dedo circulasse em movimentos leves contra a pele de Elena, que sentia uma calma cócega.

Sair em silencio e subir para o quarto, poderia vir a ser a saída perfeita para as desconfianças de sua mãe. Mas também precisava da solidão para que pudesse simplesmente tirar a mascara que tanto abafava seu rosto.

– Tá certo que ele não é... A minha pessoa favorita no mundo, mas até que já tinha me acostumado com ele aqui. – Falou constrangida, mesmo que estivesse mentindo soou verdadeiro o suficiente para Isobel. Ela olhou de lado para Elena, e sorriu de forma contida, interrompendo o carinho que fazia na mão da filha.

– Acho que seus irmãos pensam a mesma coisa... Vou falar com eles ainda hoje. Talvez até... Vocês briguem por aquele quarto; Você querendo transformar num ateliê pequeno pro seus desenhos, o Jeremy querer fazer um laboratório pros estudos e a April uma biblioteca particular. – As duas riram baixo.

– Vou chamar eles... – Avisou Elena levantando-se do sofá. O desalento estampado em seu rosto e postura se majorava a cada passo seu em distancia a mãe. Andou, ou melhor, rastejou-se até a cozinha onde encontrou a figura dos irmãos sentados a pequena mesa, comendo um macarrão com queijo. – A mãe quer falar com vocês. – Disse simplesmente, no mesmo martírio e desanimo. – Terminem de comer e vão conversar com ela.

Preferiu não ficar para ouvir as mesmas palavras de novo. Não tinha certeza se iria conseguir ouvir tudo aquilo outra vez e manter a dissimulação intacta em seu rosto. Caso contrário, sucumbiria ou se tornaria um zumbi. Saiu sem mais delongas ou avisos e subiu as escadas ainda que na mesma velocidade um caracol. Suas pernas estavam fracas demais para sequer andar de modo considerado normal.

Alcançou a maçaneta do quarto, impulsionando-se adentro do cômodo como uma pequena bola de pin-ball. Cambaleou até a cama que a recebeu friamente ao jogar todo peso de seu corpo no tecido gélido do lençol de seda. Esperou um rio de lagrimas descer por seus olhos, mas nada veio. O rosto continuava franzido; Tudo em seu corpo era incapaz de relaxar, porque chorando ou não, nada mudaria o fato de que Damon iria embora por sua causa.

Pelo que fez. Do que fora obrigada a fazer por conta de Mason e suas ameaças.

Sentindo o fracasso a corroendo por nem ao menos conseguir extravasar suas reações, desistiu de chorar. Mantendo toda a dor na parte interna de si; Entendia agora quando afirmavam que chorar não é algo tão ruim, pois tira de dentro grande parte das agonias, deixando que o tempo as leve. Mas o que faria? Se nem ao menos isso conseguia fazer.

Mesmo que contra sua vontade, sua mente montava por inteiro as cenas do momento em que fosse falar com ele. Ensaiava suas falas, seus gestos. Ao fim, a própria Elena sabia que nada do que seu pensamento planejava seria concluído.

Acho que esse é o verdadeiro significado da realidade. Pensou ela, fechando os olhos tentando de alguma forma expulsar todo aquele teatro de si, e idealizar algum tipo de paz num mundo onde essa palavra nem ao menos existe.

Mas algo era certo, Damon não escaparia de uma conversa.

–--x---

A gélida brisa do ar-condicionado do carro debatia-se nas pontas brancas das folhas a cima do banco do passageiro, impedidas de voar apenas por um objeto qualquer que as seguravam. Um suspiro sôfrego escapou pelas narinas ao encarar a pilha de provas para corrigir. Não odiava seu trabalho, apenas odiava o momento na qual sua vida se encontrava. Momento este que consequentemente o fazia querer repelir tudo ao seu redor.

Apanhou os papeis de modo preguiçoso, mais uma vez expondo sua falta de desejo em ter que trabalhar. Desligou o automóvel e fez os mesmos movimentos rotineiros em sair e tranca-lo com o alarme. De certa forma apreciou por alguns segundos esses gestos tão habituais; Em pouco tempo, apesar de continuarem particularmente iguais, eles mudariam de endereço. Pensar que aqueles eram seus últimos dias naquela casa era como pensar que aqueles eram seus últimos dias de vida.

Ao adentrar a casa o sentimento se fez maioral, os olhos azuis carregados pela nostalgia que viria futuramente. Olhou a lareira, sem fogo, relembrando da tarde em que ele e Elena passaram ali. As mãos quentes alcançaram o tecido do sofá a frente; Sentiu a textura por breves segundos no balançar do vai e vem dos dedos. Absorveu o aroma amadeirado do lugar assimilando a sensação caseira que o ambiente impregnava. Adorava aquela casa.

O cheiro, os móveis, o estilo aconchegante. Era tudo que sempre sonhava em morar e construir uma nova história longe de todos os males que sua vida acumulou. Durante anos, tudo que almejou fora felicidade e paz. Conseguia enxergar agora que era uma meta impossível; Não existe plenitude; Ao menos não para sempre.

Balançou a cabeça, expulsando de si aqueles pensamentos. Chega de se martirizar. Pensou Damon. Estava com sono e ainda tinha muito trabalho a se fazer e terminar. Caminhou até a cozinha e acalcou a maçaneta do quarto, adentrou ao cômodo e acendeu as luzes, colocando as folhas das provas em cima da cama. Com toda certeza não teria o mesmo conforto no sofá cama da casa de Ric como tinha ali.

Retirou o casaco, pendurando num cabide qualquer. Estava calor ali dentro, abafado. Não se lembrara de ter fechado a janela antes de sair, e agora estava até trancada. Junto com a luz do banheiro que também estava acesa.

Não precisou investigar, a fundo, a razão para tais estranhezas. Uma sombra feminina balançou-se contra a porta do toalete, vindo em direção ao quarto. Observou calado a sombra ganhar forma, cada vez mais; Respirou fundo e fechou os olhos, preparando-se para o que vinha. Elena saiu do toalete na qual o esperava. Os braços cruzados e uma carranca no rosto, contendo a raiva e a ânsia por uma explicação imediata. Mas tinha que manter a calma, afinal ambos possuíam muito que se dizer um para o outro.

– Há quanto tempo tá ai? – Ele perguntou numa mistura de tédio e ironia.

– Uns vinte minutos, mas acho que isso não interessa agora. Não é? – Damon não respondeu, nem precisava, afinal. Pressentia que talvez fosse melhor economizar garganta. – Soube que vai se mudar... Pra onde?

A voz serena dela, o fez hesitar em responder.

– Pra casa do Ric. – Falou ainda tímido. – A gente conversou, antes de eu vim morar aqui ele já tinha proposto que eu ficasse um tempo lá...

Aquilo não surpreendeu Elena. Totalmente contra o relacionamento dos dois, Alaric com toda certeza ofereceria até mesmo seu próprio carro para Damon dormir se fosse preciso. Tudo para que os dois tivessem apenas a sala de aula como ambiente principal e fossem somente aluna e professor.

– Você falou bem... ‘’ Antes de você se mudar pra cá’’ ‘’Antes de você ter um lugar pra ficar’’ Agora, você já tem. Então pra que fazer isso? – Esforçou-se, mais uma vez, para conter a ira por tamanha besteira que Damon estava prestes a fazer.

Não era preciso um alto QI para saber a resposta daquela pergunta, mas queria ouvir dele. E o próprio também sabia disso.

– Você sabe a resposta. Então pra que eu tenho que falar? – Resolveu não entregar seu orgulho tão facilmente.

Ela riu, mas não era uma risada típica; Era repleta por escárnio e amargura.

– Quem sabe pra não ser tachado de covarde? Pra pelo menos demonstrar que um pingo de dignidade comigo, pra...

– Dignidade? – Ele a interrompeu, fingindo-se por confuso. – Você teve dignidade comigo quando armou aquele plano idiota com seus amigos? Quase fazendo o que fez. Teve?

Os lábios de Elena contraíram-se pelo grito que quis irradiar de si. Sua mãe estava no trabalho, seus irmãos seguiram direto para Grill depois da escola, junto com Anna; Ninguém os ouviria. Poderiam berrar o quanto quiserem.

– Se você pelo menos ouvisse o meu lado da história, você saberia que eu tive dignidade. Não foram em todos os momentos, mas em grande parte deles. Talvez até nas partes principais. Só que pra você é sempre assim, não é? – Disse o encarando com desdém. – Você não escuta o outro lado... Melhor, pra você não existe outro lado, só o seu. O dono da verdade sempre, todas às vezes.

Houve uma curta pausa. Damon empinou o queixo, numa expressão pensante, no qual ao mesmo tempo exibia o deboche que fazia pelas palavras dela.

– Engraçado isso, você fala como se de nós dois eu fosse o único egoísta, o único que só se preocupa com o próprio bem estar e que só vê o seu lado. A diferença é que só um de nós assume, e com toda certeza não é você. Você mente, mente quantas vezes for necessário pra quem for preciso só pra não precisar assumir seus erros. Existe uma diferença mínima entre o egoísmo e a hipocrisia, mas pelo menos eu sou só um deles... Já você, é os dois. E o pior, não assume ser nenhum.

Em seco, Elena engoliu cada palavra sentindo o peso das frases ecoando fundo em seu peito. Dessa vez não quis chorar, quis morrer.

– Ok então. Você venceu. – Exclamou, tentando parecer impertinente. Elena respirou fundo; Não chora, não chora. Ela pensou. – Mas se você defende tanto a sua honra... Pelo me diz por quê. Porque tá fazendo isso? – Sua voz falhou perante o marejar de seus olhos. Ainda sim, conseguiu manter as lágrimas dentro.

Os de Damon, aos poucos, também se viam acumulados por água.

– É tão importante assim pra você ouvir? É tão importante pra sua autoestima, pro seu ego? Tá bom, eu falo. – Deu os ombros, em descanso. – Eu não consigo morar na mesma casa da mulher que eu to apaixonado. É tortura... Não existe masoquismo pior nesse mundo do que a convivência com alguém que você ama e não pode ter. Dane-se a razão, se é errado, se é orgulho... Pra mim não dá mais.

Elena podia sentir um nó se formar em sua garganta. Não sabia ao certo o que sentir; Ódio? Decepção? Tristeza?

Cada vez percebia que eram os três, e talvez até um pouco mais. Elena infelizmente sabia o que Damon falava; Já esteve na mesma posição em se encontrar apaixonada por ele, sendo que o mesmo nem ao menos sabia. E de certa forma, as coisas não haviam mudado tanto, já que ainda continuava apaixonada, até mais do que antes e que, mesmo por razões desiguais as anteriores, ainda não podia tê-lo.

– Pra mim tudo isso não passa de covardia. De medo seu. – Acusou-o rispidamente. Surpreendendo-a por sua reação, Damon não se abalou pelas palavras.

– Você tá certa. – Disse franco. – É medo mesmo, é covardia minha tem toda razão.

– Tenho? – Murmurou, sem compreender.

Damon assentiu confirmando.

– Tem... Como eu falei antes, eu não sou um hipócrita; Eu assumo meus medos. – A angústia tomou conta do tom de voz do rapaz. – Dizem que quando você passa por muita coisa na vida, por muito sofrimento você aprende a ser forte... Comigo sempre foi ao contrário, me ensinou a ter medo, a passar a imagem de duro pras outras pessoas, a fugir de tudo. E agora não tá sendo diferente, eu to fugindo de você.

Os olhos de Elena se abaixaram em voltaram ao chão, estava com vergonha. Seria muito tola em pensar que não estava mais a mercê de Mason; Era difícil, mas tinha que ignorar e não se deixar abater pelas palavras de amor ou de dor dele. Contou mentalmente até dez e acalmou a respiração, querendo exercitar uma espécie de Ioga cerebral para que a compostura não cedesse à vontade de beija-lo e esquecer que existia um mundo lá fora.

Diante do silencio dela, Damon voltou a falar.

– Eu já falei varias o quanto eu admiro a sua coragem. E admiro... Muito. Mas você só...

– Só tenho porque nunca passei por nenhum sofrimento, não é? – Elena o interrompeu, de maneira fria. Não tem jeito, ele sempre vai me ver como uma menininha mimada. Pensou frustrada.

Damon suspirou pesadamente.

– Eu vou embora, Elena. A gente tá aqui falando e falando... E no final não vai adiantar de nada porque eu já me decidi, é o que eu quero e é assim que tem que ser.

Não havia mais volta, Damon acabara de deixar claro que fora estúpida em tenta-lo fazer mudar de opinião, ou talvez considerar suas palavras. Pensar duas vezes, segundo dito popular. Conformismo para ela, perante a decisão dele, era algo tão distante quanto Nova Iorque. Sentiu uma dor aguda no lado esquerdo do coração, sintomas similares ao de um enfarto; Não era. Seria muita sorte ter um enfarte nessas horas e Deus com toda certeza não lhe daria essa dádiva.

Os choques da perda e da dor se camuflaram em sua necessidade em ser forte. Ignorou que suas pernas estivessem fraquejando ou que a respiração estivesse fraca. A náusea tomava conta de si e seu próprio corpo agia como um antibiótico.

A voz de Elena era escassa, mesmo que seu corpo e expressão mantinham-se firme, toda sua fraqueza fora exposta a Damon no momento em que voltou a falar.

– Pois eu desejo que você seja muito feliz. – Tentou ser indiferente. Fracassou.

– Não desperdice suas orações pedindo que eu seja feliz, Elena... Eu nunca fui feliz.

De inicio Elena não estranhou as palavras dele. Era fato; Damon nunca fez questão de esconder que não era feliz, e mesmo que escondesse, não seria difícil de ver. Ainda sim, seria obvio. Em seguida, um arrepio forte percorreu seu corpo em espiral, junto a sentimento de confirmação.

Os olhos de Elena se embaçaram em lágrimas pela descoberta que havia feito de si mesma.

– Sabe que cada vez mais eu vejo que eu também não.

Sentindo-se como dois jogados ao exílio, o silencio mais uma vez voltou. Dessa vez era diferente, não para pensar no que se dizer ou simplesmente e sim, pois não havia nada mais para dizer.

Seriam dois miseráveis desesperados por amor e felicidade? A resposta os amedrontava.

– É melhor você ir. – Disse Damon, querendo afastar tudo àquilo de sua mente, e com a presença dela ali seus pensamentos melancólicos se intensificavam.

Elena sentia o mesmo. Não queria mais ficar naquele quarto.

– É... Eu vou indo. – Murmurou tímida, caminhando em direção à porta. Apanhou o gélido metal da maçaneta em suas mãos abrindo a porta. Parou. Encarando o rapaz à frente, de cima a baixo por alguns segundos, com aquele mesmo sentimento padecente em si. – Já que você falou que é perda de tempo rezar pela felicidade, posso pelo menos desejar que você tenha uma boa mudança? – Perguntou seriamente, não era um pedido qualquer.

– Se é o que você quer, eu fico agradecido. – Sua voz quase que falhou. Ambos não entendiam o motivo para tamanha formalidade um com o outro; A teoria de Damon era que após tantas injúrias, alguma hora a educação tinha que anunciar presença novamente.

– É o que eu quero... E é o que eu farei. – Anunciou em brandura, antes de sair do quarto em direção ao seu.

Aquela havia sido a pior despedida de suas vidas.


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Notas finais do capítulo

Pronto meninas, desculpem os erros de português é q não tive tempo de corrigir. E leiam as notas iniciais, caso n tenham lido.