About death and friendship escrita por Colorusagi


Capítulo 2
The closest of happiness


Notas iniciais do capítulo

Não me matem por citar SpockxUhura, é algo que não dá pra evitar levando-se em conta que eles estão realmente juntos nesse período e não dá pra omitir ela. Mas isso não dura muito MUHAHAHHAHA q
Espero que gostem do cap, fiz com amor s2



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As gotas de chuva eram tão grossas e caiam com tamanha força que o som que faziam ao bater na grande janela do quarto fazia parecer que a mesma racharia a qualquer segundo. Era alto, contínuo e irritante. Se fosse McCoy deitado naquela cama teria acordado do coma só para quebrar a janela de uma vez e poupar o trabalho da chuva. Mas não era.

Já era a terceira vez que o médico ia ao quarto de Jim checar o painel de seus sinais vitais e eles estavam exatamente iguais, sem nem uma mísera mudança. Não havia nenhuma mudança a pelo menos 3 dias, desde que fizera a última redução nos sedativos, e McCoy não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim. Em situações clínicas normais poderia ser classificado como bom, o estado de coma não estaria se agravando e a resposta aos sedativos estava relativamente boa, mas esse não era um caso clínico normal.

Os componentes do sangue de Khan ainda eram, em sua maioria, desconhecidos. Suas propriedades de regeneração haviam sido comprovadas quando a criatura em que o médico o aplicara voltara à vida, mas se haviam efeitos colaterais ninguém sabia. Não havia tido tempo para que o sangue fosse devidamente estudado, tudo aconteceu tão rápido que o médico ainda se sentia meio tonto parando para pensar em tudo aquilo. Khan era inimigo, depois não era mais, depois era inimigo novamente; A nave ia cair, depois não ia mais; Eles estavam em fogo aberto, depois não estavam mais; Novamente a nave iria cair por falta de energia, depois a energia havia sido reinstaurada milagrosamente, depois não tão milagrosamente assim; E por fim, Jim estava morto, agora não estava mais.

McCoy balançou levemente a cabeça para afastar os pensamentos, tudo estava acabado, não havia porque remoer todos esses acontecimentos confusos e perturbadores. Olhou rapidamente para o relógio no canto do monitor, faltava pouco mais de 2 horas para seu plantão acabar; não que isso fosse muito importante, pois desde que pousaram na terra praticamente não saía daquele hospital, trabalhava 24 horas e descansava 12 quando tinha sorte. Tudo ainda estava conturbado por ali, o hospital universitário da frota estava com todos os leitos ocupados, tanto das enfermarias quanto das UTI’s, depois de todo o estrago que Khan fizera na cidade.

O médico deu um suspiro quase imperceptível, cansado. Aproximou-se da cama de Jim, recostando-se levemente, de costas para o capitão. Virou o rosto para olhá-lo, percebendo o quão estranho era ver todos aqueles aparelhos ligados a ele, praticamente mantendo-o vivo. Jim sempre tivera a saúde relativamente fraca, também tinha péssima tendência a não ser cuidadoso com seu próprio bem estar – esse último ato insano, mas louvável, era a prova disso – mas ele sempre se recuperava rápido, mesmo na maioria das vezes fugindo da enfermaria antes do tempo.

Um som na porta o trouxe de volta a realidade, a Tenente Uhura entrava timidamente na sala, parando ao vê-lo ali, parecendo surpresa.

– Oh, Doutor McCoy. Desculpe, não sabia que ele estava sendo examinado, volto mais tarde. – Ela já se preparava para sair quando o médico a respondeu, desencostando-se da cama.

– Tudo bem, eu já terminei. Estava só checando os painéis, pode entrar. – Ela entrou então, pedindo licença ao passar pela porta, vendo-a se fechar em seguida. Ela tinha um bolo de cartões, uma sacola e um pequeno vaso de flores com um girassol nas mãos. McCoy olhou curioso para todas aquelas coisas, e provavelmente não foi discreto ao olhar, pois a morena logo se explicou.

– Venho recebendo muitas ligações preocupadas do pessoal da tripulação, e alguns deles me pediram para deixar esses presentes para quando o Capitão acordar. Tem algum problema em deixar aqui? – Perguntou, segurando todos os presentes com muito cuidado. Ela ainda usava o vestido vermelho da Frota Estelar, e parecia cansada. E quem não parecia cansado, depois de todos os últimos acontecimentos?

– Não tem problema, pode deixá-los ali. – McCoy apontou para a mesa que ficava ao lado do pequeno sofá de dois lugares, encostada na parede oposta a janela. Um pequeno sorriso brotou em seus lábios, era bom ver como a tripulação realmente se importava com seu capitão – Jim ficará feliz em vê-los quando acordar. – Acrescentou, vendo a tenente depositar todos os presentes em cima da mesa, arrumando-os brevemente.

– Sim, ficará sim... É natural a tripulação se preocupar, apesar de todo o jeito dele, ele é um ótimo capitão. – Ela deu um sorriso divertido, depois continuou. – Talvez esse mesmo jeito seja um dos grandes responsáveis por isso. – A morena se aproximou da cama de Jim, quando já estava perto o suficiente para tocar as grades ao lado da cama, parou. O sorriso já se perdera quase completamente, sua expressão agora era algo entre preocupação e uma profunda gratidão.

– Ele salvou as vidas de todos nós, sem se importar com o custo a si próprio... Não existem palavras capazes de agradecer a algo assim. – O médico viu quando uma das mãos da tenente apertou um pouco mais forte a grade da cama, ele sabia que ela estava se controlando para não chorar; Ele sentiu em seu tom de voz.

– É... – McCoy concordou quase num sussurro, ninguém poderia discordar daquilo. Alguns minutos se passaram sem que nenhum dos dois dissesse mais nada, estavam mergulhados em um silêncio estranhamente confortável onde os únicos sons que podiam ser ouvidos eram os dos aparelhos e o martelar da chuva na janela de vidro. A morena foi a primeira a se mexer, virando-se para o médico depois de algum tempo, os olhos levemente marejados de lágrimas bravamente contidas. Ela suspirou levemente antes de fazer a pergunta, tentando parecer menos preocupada do realmente estava.

–Então doutor, como ele está?

– É difícil dizer, ainda é cedo. A transfusão foi muito recente, e pelo que percebemos aquele super-sangue demora mais a agir em humanos, ele está se recuperando aos poucos. Nós só podemos esperar agora. – O médico caminhara até a mesa ao lado da cama enquanto respondia, pegou sua planilha digital e voltou a se virar para a tenente que agora encarava o chão, um pouco aflita; aquela não parecia ser a resposta que ela queria ouvir. Notando isso McCoy sorriu, completando.

– Não se preocupe, estamos falando do Jim. Esse cabeça dura sai dessa. – Ela voltou seus olhos amendoados para ele, e ele soube que falara a coisa certa quando um singelo sorriso apareceu em seus lábios.

– É, você tem razão. – A tenente disse, tão baixo que o Leonard quase não pode ouvir de onde estava. Ela olhou uma última vez para Jim, antes de anunciar que já estava de saída. – Acho que já vou, então. Vim mais para trazer os presentes e saber como ele estava, não vou me demorar.

– Também já estou saindo, ainda tenho muitos quartos pra visitar antes de poder ir para casa. – McCoy disse com uma voz cansada e a morena concordou. Deixaram o cômodo logo depois, caminhando juntos pelo corredor enquanto conversavam um pouco sobre o que cada um andava fazendo naqueles últimos dias cansativos.

O médico descobrira que só naquele dia a tenente estava voltando para casa, ela havia ficado os últimos dias ajudando nas negociações da Frota com o império Klingon depois de toda aquela confusão de quase guerra; E como não era muito fácil encontrar alguém que falassem bem a língua, ela só poderia deixar as funções quando as coisas se acalmassem. Eles ainda conversaram por um tempo antes de se despedirem, McCoy seguiu para o quarto de seu próximo paciente e Uruha para a saída do hospital.

A Tenente estava quase deixando os corredores das enfermarias quando uma figura conhecida deixara um dos elevadores, um pouco a frente de onde estava. Parou de caminhar quase instantaneamente, uma inevitável surpresa se apossando de sua expressão

– Spock? – O Vulcan virou-se para ela ao ouvir seu nome, as sobrancelhas erguendo-se ao vê-la. Ela não era a única surpresa, no final das contas.

– Tenente Uhura. – Cumprimento-a com um singelo aceno de cabeça quando se aproximou, mãos cruzadas na parte da traz das costas em sua habitual postura formal. A morena retribuiu o aceno, não sabendo exatamente o que dizer em seguida.

Ela queria dizer muitas coisas a Spock; Perguntar, especificamente. Queria perguntar o porquê dele ter ficado tão ausente nos últimos 6 dias, dele não ter dado notícias a ninguém, de não ter entrado ao menos em contato com ela, quanto estavam trabalhando no mesmo prédio. Mas ela nunca perguntaria nada daquilo, e se odiava por querer fazê-lo.

Talvez pudesse perguntar essas coisas se fosse a qualquer outra pessoa, mas não para Spock. Ela presenciara a forma como ele reagira a morte de Kirk, ela vira a magnitude dos sentimentos do Vulcan em seus olhos quando ele a fitara, antes de sair em busca de Khan. Não tinha direito de questioná-lo ou cobrá-lo em nada; ele tinha sua própria forma de conviver com sua dor e Uhura teria que respeitá-la, o máximo que podia fazer era oferecer seu consolo, mas sabia que provavelmente o Vulcan negaria tal ação humana tão ilógica.

Ela ficou um tempo apenas fitando os olhos escuros de seu namorado, o silêncio ainda instalando entre eles. Um pequeno sorriso se apossara dos lábios da Tenente quando ela disse a única coisa que poderia dizer.

– Estarei no meu apartamento, se precisar. Pode chamar a qualquer hora. - Seu tom era quase triste, mesmo que ela não quisesse demonstrar isso. O que mais queria era poder fazer mais pelo homem que tanto amava, mas sabia que não era possível; o que ele precisava no momento não era ela.

Esticou-se para dar um beijo rápido no canto dos lábios do Vulcan, deixando o local antes que ele pudesse falar qualquer coisa. Por sorte o elevador ainda estava naquele andar e ela não demorou em pegá-lo, não queria que ele ao menos tentasse ler o sentimento que começava a surgir em seus olhos. Era um sentimento estranho, que ia contra tudo que ela acreditava. Um sentimento oportuno, que se aproveitava de sua impotência para se instalar e deturpar as situações, mas ela não deixaria isso acontecer. Ciúme era algo que ela não se permitiria sentir, principalmente ciúme daquela pessoa em particular.

Spock ainda ficara alguns segundos pensando sobre a frase da morena. Era uma típica demonstração do companheirismo humano e da ilógica necessidade que tinham de dar e receber apoio emocional quando em situações como aquela. Mas, apesar de ser simplesmente previsível que ela dissesse algo assim, Spock sentiu-se confortável em ouvir aquelas palavras.

A porta do elevador já havia fechado a 0.78 segundos quando o Vulcan voltou a caminhar pelos corredores do hospital, e 4.2 minutos depois ele já havia encontrado o quarto que procurava. Poderia ter chegado 1.9 minutos antes, mas por algum motivo que ele desconhecia suas pernas se movimentavam mais devagar do que pretendia. E era por aquele mesmo motivo que ele continuava em pé em frente a porta daquele quarto, sem se mexer nenhum centímetro.

Sua coluna fazia uma linha reta quase perfeita, a maioria dos músculos de seu corpo estavam tencionados e sua expressão era como uma tela em branco enquanto olhava fixamente para a pequena placa pendurada na porta do quarto.

“Paciente nº 466732 – James T. Kirk.”

Spock estava tendo dificuldade em discernir o que estava acontecendo consigo. O que era aquele sentimento que o impedia de abrir aquela porta? Era apenas uma porta, uma estrutura retangular inventada para servir de passagem de um cômodo para o outro, apenas isso.

Não ...Não era apenas isso. A questão não era a porta, e sim o que estava atrás dela. Quando finalmente passasse por aquela estrutura veria com seus próprios olhos o que antes havia apenas ouvido em comentários e relatos, e apesar de saber o que veria ali alguma coisa ainda provocava estranhos calafrios em seu estômago. E foi então que o entendimento engoliu-o como uma onda, ele havia descoberto qual era o sentimento que o incomodava tanto. Era o mesmo sentimento que o atingira enquanto corria até a engenharia naquele fático dia em que seu capitão morrera, e que agora o fazia hesitar em abrir a porta.

Era medo.

Não havia nenhum fundamento lógico para que ele sentisse tal coisa, a probabilidade de seu capitão continuar a se recuperar era acima de 60%, mesmo com todas as variáveis; ele mesmo calculara e recalculara várias vezes. Mas medo estava longe de ter fundamento lógico, e Spock sabia disso.

Concentrou-se em reprimir aquele sentimento humano por alguns segundos, focando-se apenas em fatos e probabilidades, o que provou ser bem eficaz. O medo ainda estava lá quando Spock finalmente conseguiu dar um passo para frente para ativar o sensor da porta, mas devidamente controlado, apesar de ainda pesar em seu estômago.

A porta produziu um som agudo ao abrir, era baixo, mas alto o suficiente para ecoar por todo o cômodo. As luzes estavam em 30%, o que deixava o quarto relativamente escuro, mas agradável, na visão do Vulcan; as luzes vindas dos painéis de monitoração e da janela, apesar de já estar de noite, eram o suficiente para manter a visibilidade. Spock deu um passo para dentro do quarto e a porta se fechou atrás dele, deixando-o imerso naquela escuridão.

Os únicos sons que podiam ser ouvidos eram os bipes dos monitores e o característico som do respirador que mantinha os pulmões de Jim funcionado. E a chuva, é claro, que ainda castigada ao vidro da grande janela. Qualquer outro paciente provavelmente se sentiria incomodado, principalmente com a chuva, mas não Jim. Ele não iria acordar, nem mesmo se uma banda estivesse tocando naquele cômodo.

Não havia muitos móveis no quarto; além da cama e seus aparelhos adjacentes havia apenas duas mesas e um sofá de dois lugares. Uma mesa ficava logo abaixo dos painéis, ao lado da cama, e a outra na parede oposta à janela, ao lado do sofá branco de camurça. Uma das mesas não estava vazia, mas Spock se concentraria em analisar aqueles artefatos depois; naquele momento sua atenção estava voltada para a figura que repousava sobre a cama.

Os passos em direção à cama foram tão lentos que lhe parecia que eternidades haviam se passado quando finalmente parou ao lado da mesma. Seu capitão estava deitado na cama coberto até a metade do peito, seus braços apoiados ao lado do corpo por fora do grosso cobertor branco do hospital, um aparelho com aparentemente 20,4 cm de comprimento e 9,6 cm de largura ligava-se a sua boca e nariz, auxiliando em sua respiração, ele estava pálido e levemente cianótico. Não era uma visão muito agradável, tratando-se de uma pessoa com quem se mantém laços afetivos, mas por outro lado ver o peito de seu capitão subindo e descendo, mesmo que singelamente, por si só era algo indescritível.

Essa era a primeira vez que Spock via seu capitão com vida. Quando voltara a nave trazendo Khan não pode ver Jim, o máximo que pode ver de relance foi o criotubo onde o haviam colocado enquanto era carregado para outra sala, para tratar de seus próprios ferimentos. Depois daquilo seus deveres como capitão interino o ocuparam por 85% de seu tempo, e nos outros 15% um receio quase inconsciente o impediu de se aproximar de Jim. Ninguém havia tentado aquele tipo de transfusão antes, os riscos de falha eram absurdos, e os primeiros dias eram tão críticos quanto o primeiro.

Agora ele via claramente que o que o mantivera afastado até aquele dia era o medo de ver seu capitão morrer novamente. Seu inconsciente criara algo como um sistema de auto defesa contra todo aquele turbilhão de emoções que o assolaram naquele momento, fazendo-o afastar-se enquanto as probabilidades de sucesso da transfusão ainda eram baixas; para caso Kirk morresse novamente, ele não estivesse perto para assistir e reviver todas aqueles sentimentos.

Era seu lado humano falando mais alto...novamente.

Spock reconhecia a inteligência do inconsciente humano, mas sentiu raiva do mesmo por poupá-lo por tanto tempo do que ele estava sentindo naquele momento. Seu capitão e melhor amigo estava vivo, e ver aquilo com seus próprios olhos dava-lhe a coisa mais próxima de felicidade que se lembrava de já ter sentido em muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Provavelmente a fic acabe no próximo capítulo, ou tenha no máximo mais dois. Ela era pra ser até mais curta, só pra mostrando o quanto a amizade deles cresceu depois desse incidente e tudo mais, só que eu tenho a mania de prolongar as coisas rs
E me digam se meu Spock estiver sentimental de mais, pfv >:
E deixem reviews, ela são a alegria das minhas madrugadas.