About death and friendship escrita por Colorusagi


Capítulo 1
Impossible not to feel


Notas iniciais do capítulo

NÃO TENHO BETA, me informem caso tenha deixado passar algum errinho. E me desculpem pelos parágrafos sem espaço, sou uma idosa e não consigo me formatar isso direito, arg.
Os diálogos do fash back foram tirados do filme, a cena é a mesma, só que pelo ponto de vista do Spock. Algumas frases não foram incluídas por não terem tanta relevância para essa história, apenas. Incluí alguns personagens originais, mas são secundários, você nem vai notá-los.
Ah, uma das músicas que ouvi escrevendo era um instrumental muito bom, talvez ajude a deixar vocês mais no clima dramático da história. O nome da música é We Move Lightly, e o autor é Dustin O'Halloran.



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O céu estava bem cinzento naquela manhã, Spock observava. A janela ao seu lado dava uma visão parcial do pátio central do Quartel General da Frota Estelar na terra, e lá as árvores balançavam freneticamente, dando a impressão de que a qualquer minuto seriam arrancadas de seus canteiros. Esse mesmo vento trazia nuvens tão carregadas que pareciam bolos de cimento recém-misturado no céu. Provavelmente a chuva viria antes mesmo do final da tarde. “92% de probabilidade de tempestade, se o vento mantiver essa velocidade” Spock pensou, quase automaticamente.

O Vulcan estava de pé em um dos longos corredores onde ficavam as salas de reuniões, suas mãos estavam cruzadas na parte inferior das costas, seu rosto exibia a mesma expressão típica de neutralidade e seriedade enquanto aguardava seu nome ser chamado para uma reunião com seus superiores.

Já haviam se passado 6 dias, 11 horas, 37 minutos e 26 segundos desde que a Enterprise havia conseguido pousar com segurança na terra, depois de todos os acontecimentos que envolveram principalmente o Almirante Marcus, Khan e o capitão James T. Kirk. Explicar tudo corretamente a Federação não havia sido nada fácil, principalmente no que se dizia respeito a toda a conspiração que envolvia um de seus principais almirantes, foram necessárias muitas reuniões, investigações e substituições para que tudo começasse a se acertar. Burocraticamente falando, apenas.

Boa parte do quartel general havia sido destruída quando Khan chocou sua nave contra o mesmo, e aquilo levaria bastante tempo para ser completamente reconstruído. Os estudantes e oficiais foram afastados temporariamente enquanto as instalações eram reparadas, todos haviam sofrido muita pressão com os acontecimentos e mereciam um tempo de descanso. A tripulação da Enterprise não era exceção . Há 4 dias a nave havia sido mandada para a doca espacial mais próxima para começar a ser reparada, e com isso toda sua tripulação já estava liberada para voltar para casa. Até mesmo o próprio Spock tinha sido dispensado, mesmo insistindo prontamente que não havia necessidade de tal coisa seus superiores o impediram de continuar executando suas funções até que toda a Frota estivesse recuperada.

Spock nunca admitiria, sua metade Vulcan não permitiria algo assim, mas seu lado humano talvez realmente precisasse de um tempo. Apesar de ter executado perfeitamente suas tarefas de capitão substituto nesses últimos dias, por detrás de toda máscara Vulcan de perfeita lógica e indiferença, sua mente frequentemente vagava para um momento em particular, um momento que o perturbava profundamente.

Os flashs se repetiam com clareza em sua cabeça, não conseguia controlá-los. Aconteciam durante as reuniões, durante as refeições e até mesmo durante suas noites de sono acordava ofegante, revivendo aquele momento mais uma vez. Somente por lembrar-se da existência deles as imagens começavam a surgir em sua cabeça, como um filme que nunca mais queria rever ...



Estava lá novamente, correndo pelos corredores da Enterprise depois do chamado de Scotty, mesmo ele não lhe dizendo do que se tratava, dada as circunstâncias estranhamente milagrosas da recuperação da energia da nave e o tom de voz do engenheiro chefe, sabia que alguma coisa estava errada. E isso, somado a estranha ausência de seu capitão, dava-lhe calafrios que ele não estava acostumado a sentir. Quando finalmente chegou, a expressão de Scotty somente lhe confirmara o que ele infelizmente já havia deduzido.

Dirigiu-se rapidamente para a porta que os separava da radiação do duto central de energia da nave, e lá estava ele. Ele sabia que aquela porta não podia ser aberta, mas pediu que o fizesse mesmo assim, mas Scotty também não podia fazer nada, estava trancada. Abaixou-se em frente à porta, ficando na mesma altura que a figura de seu capitão estirado no chão, apoiado no batente da porta transparente. Era quase fisiologicamente impossível que ainda estivesse vivo depois de chegar tão perto de uma fonte de radiação tão intensa como aquela. E ele estava perguntando pela nave, apesar de seu estado deplorável, ele perguntava apenas pela nave.

– Você salvou a tripulação. – Spock disse, os calafrios se derramando por seu corpo como uma corrente de água fria.

– Foi um belo movimento. – A voz de Kirk estava tão fraca que era difícil de acreditar que vinha da mesma pessoa que gritava ordens da ponte, ou que distribuía sorrisos de gracejos pelos corredores da Enterprise a alguns dias antes.


Spock não conseguia entender como naquele momento ele ainda conseguia elogiá-lo por ter simplesmente ter mantido o controle da tripulação, por ter aceitado uma situação sem solução e ter agido de acordo com a lógica. O que ele fizera não era louvável, era apenas sua obrigação, e se não fosse Jim eles estaria mortos em algum lugar da terra juntos as ferragens carbonizadas do que um dia teria sido a Enterprise.

Nenhum comportamento puramente lógico jamais superaria o ato de seu capitão, e Spock sabia disso.

– Eu estou com medo, Spock. – E aquela frase era a gota d’água. Sua máscara Vulcan havia caído, seus sentimentos arrebentaram todas as barreiras que ele havia construído e já não era possível segurá-los. Seu rosto se contraiu e sua visão embaçava consideravelmente, as lágrimas queimavam seus olhos como lava.


– Como você escolhe não sentir? – Era como se aqueles olhos azuis implorassem por uma resposta, por uma forma de aliviar todo o terror da certeza da morte, e pela primeira vez em sua vida Spock não sabia o que responder. Ele tentou reprimir aquele terror uma vez, depois se deparou novamente com esses sentimentos pela ligação com Almirante Pike e descobriu que era impossível não sentir. Psicologicamente impossível, independente da raça, da idade ou da situação.

– Eu não sei...Nesse momento, eu estou sentindo. – Sua voz havia saído muito mais trêmula do que ele pretendia, mas a essa altura essa era a última coisa com que se preocupava. Seu capitão estava morrendo e ele não podia fazer absolutamente nada para impedir, isso era a única coisa que se passava por sua cabeça.

– Eu quero que você saiba por que eu não deixei você morrer...Porque eu voltei por você. – Spock não precisava que ele lhe dissesse isso, ele já sabia a resposta. Ele já sabia há algum tempo, mas era orgulhoso e lógico de mais para admitir, seu lado Vulcan o cegava para as sutilezas das relações afetivas dos humanos.


– Porque você é meu amigo. – O moreno completou, e uma lágrima escorreu por seu rosto queimando todo o caminho dolorosamente. A respiração de Kirk falhou por um segundo Spock achou que a sua também tivesse falhado, mas seu capitão ainda estava ali. Ele pousou sua mão espalmada na porta e o Vulcan cedeu a um impulso incontrolável de repetir o ato. Colocou suavemente sua mão em frente a do loiro, quase automaticamente em forma de seu habitual comprimento culturalmente Vulcan e observou seu capitão fazer o mesmo. Uma sensação tão quente, e ao mesmo tempo dolorosa, assolou-o com uma força tão grande que era difícil manter o braço naquela posição sem começar a tremer.

Seus olhos novamente se encontraram com os de Jim e ele reconheceu ali a força que seu capitão estava fazendo para respirar, era quase palpável. Spock não conseguia pensar em mais nada coerente, a única coisa que passava por sua cabeça era a vontade doentia de tocar nas mãos de Jim, somente mais uma vez. Mas aquela maldita porta ainda estava entre eles, estavam tão perto que quase conseguia sentir o calor de seu capitão através do alumínio transparente. Mas não sentia, não sentia nada além da dor cortante da completa impotência.

E foi então que finalmente chegou.

O peito de seu capitão se inflou em uma última respiração quente, e ainda olhando profundamente para seu primeiro comandante, James Tiberius Kirk morreu. Spock soltou o ar que não sabia que tinha segurado, a mão de seu capitão e melhor amigo escorregara, quebrando aquele último toque não dado e agora pendia sobre seu corpo sem vida, seus olhos que a meros segundos olhavam tão profundamente para o Vulcan agora fitavam o vazio, completamente opacos.

Aquilo era de mais para Spock, era mais do que ele poderia suportar. Ainda se manteve por alguns milésimos de segundo imóvel, tentando colocar algo em ordem na sua cabeça, mas era impossível. Conforme a tristeza e o ódio tomavam conta de toda sua existência sua respiração apenas acelerava, cada célula de seu corpo clamava por vingança. Não havia mais volta, não havia mais controle, só havia ódio ...



– Sr Spock, o senhor está bem? – Foi trazido bruscamente de volta a realidade por uma voz feminina ligeiramente preocupada. Precisou de 0.7 segundos para interpretar corretamente sua pergunta e perceber que estava com as sobrancelhas franzidas numa expressão nada típica. Voltou ao seu habitual quase imediatamente, virando-se para a mulher, que agora reconhecia ser a capitã da USS Zecovth .

– Estou bem Capitã Helene, estava apenas... Pensando. - Respondeu, observando que os corredores já estavam praticamente vazios.

– Oh, entendo. Peço perdão por interrompê-lo, mas já estão nos chamando para a reunião na sala 432. Pensei que o senhor pudesse não ter ouvido, por isso vim avisá-lo. – A mulher colocou uma mecha do cabelo castanho atrás da orelha, sorrindo docente para o moreno. Os olhos escuros do Vulcan rolaram para um relógio preso numa das paredes do corredor, havia perdido vários minutos em suas divagações. Voltou-se para a capitã, dando-lhe um discreto aceno de cabeça.

– Agradeço por seu alerta, Capitã Helene. Dirigirei-me imediatamente para a sala de reuniões. – Ela respondeu com outro aceno e também se encaminhou para a sala, onde quase todas as cadeias já estavam ocupadas.

Aquela reunião duraria cerca de 5 horas, e apesar de durante todo tempo Spock parecer inteiramente compenetrado nos temas que eram tratados, por várias vezes pegou-se lembrando daqueles olhos azuis. E o que mais lhe incomodava era que não conseguia mais se lembrar de como ele haviam sido antes, mas apenas daquele último minuto em que eles perderam seu brilho.

Quando Spock deixou a sala de reuniões uma chuva torrencial caia do lado de fora, a chuva era tão forte que toda a paisagem parecia ter sido coberta por uma cortina branca. Ele observou por mais alguns segundos o lado de fora com olhos gelados, não sabendo exatamente o porquê, nem o que procurava ali. Não se demorou, voltando a caminhar junto ao fluxo de agentes da Frota Estelar que deixavam o corredor. Estava quase chegando a um dos elevadores quando foi interrompido por um tenente que chamava seu nome.

– Com licença Sr. Spock, estou responsável pelas naves que transportarão os Capitães e me foi solicitando que perguntasse ao senhor se devo incluir seu nome na lista da nave que parte hoje. – O tenente havia parado em frente ao Vulcan, a planilha digital com os dados dos capitães e agentes de patentes maiores que não eram originários da terra em mãos, esperando por uma resposta do moreno.

Partir significava a colônia Vulcan. Significava voltar para perto de seu povo, de seus costumes. Talvez em lá pudesse meditar com mais clareza e assim conseguir assumir novamente o controle de suas emoções. Era a escolha mais lógica a fazer, dado o fato de que sua estadia na terra não tinha mais nenhuma utilidade para a Frota.

– Não há necessidade de incluir meu nome, Tenente. Ainda tenho assuntos a tratar na Terra. - Deu um breve aceno de cabeça ao tenente encarregado e entrou no elevador.

Não era mentira, Vulcans não mentem. Spock não tinha mais utilidade para a Frota naquele momento, mais ainda havia algo que ele podia fazer por outra pessoa. Logicamente falando, estar presente ao lado de uma pessoa não contribui para que ela acorde de um coma, mas a lógica já não comandava muito bem as ações do Vulcan nesses últimos dias.

Talvez fosse só mais um impulso humano que ele não conseguia entender, mas mesmo sem entender ele ainda sentia, e não iria ignorá-lo, não dessa vez. Estaria lá para ver o brilho voltar aos olhos azuis, demorasse o quanto demorasse.

 


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Notas finais do capítulo

Comentem por favor, preciso saber se ainda não perdi o jeito de escrever :3
Críticas são bem-vindas.