Quem é o Pai da Minha Filha? escrita por Jessica_94


Capítulo 16
Armadilhas da mente




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– Pare, pare, eu não aguento mais!

Mônica colocou as mãos na cabeça para abafar os seus próprios gritos, que vinham de outra direção, embora muito próximos.

– Calma, você que quis vir aqui, eu só realizei o seu pedido.

– Eu não pedi nada!

Mônica estremeceu quanto ouviu um grito de dor, tremeu por que sabia que era a si mesma gritando. Era horrível, e o pior é que não podia parar.

– Faça alguma coisa, ele está machucando ela, ele está ME machucando!

– Eu não posso fazer nada, meu bem, se pudesse faria.

A voz não era sincera, ela não se importava com o sofrimento de dela. E Mônica percebeu isso.

– Me tire daqui. Me tire daqui! - Mônica já chorava, não conseguia conter as lágrimas. Em um lado ela chorava, no outro ela gritava. Era o maior desespero que Mônica já tinha vivido.

– Tudo bem, meu amor, estou aqui por você.

– FAÇA PARAR! - Mônica já gritava tanto quanto a sua outra eu.

– Está bem!

O cenário de terror passou a se derreter a volta de Mônica, tudo que antes pareceu tão sólido se dissolveu até cair pesadamente no chão, revelando assim a antiga sala de paredes de pedra.

Embora ainda estivesse abalada, ver aquela sala, trouxe um alívio imenso para Mônica. Apesar disso, ela precisava de apoio, alguém para abraçar, para dize que tudo ficaria bem. Ela precisava de boa companhia, que aquela voz não poderia ser.

– Meu bem, você está bem? A imagens foram muito fortes?

Mônica só queria se afastar daquela voz, o máximo que pudesse e que aquelas quatro paredes permitiriam. Cambaleando, se apoiou em uma das paredes e deslizou até o chão. Seus olhos ainda banhados em lágrimas, procuravam o dono da voz nas paredes, sem nunca o vê-lo.

– Eu te odeio! - Mônica derramou todo o seu sentimento nessas palavras, e logo sentiu que cairiam mais lágrimas.

– Me odeia? Mas como se eu sou parte de você? E tudo que eu fiz para que você conhecesse o pai da sua fi...

– Não fala da minha filha! - quase todas as lágrimas dos olhos Mônica secaram com a chegada da raiva. Não queria que a filha fosse metida no meio daquele cenário de horror, não queria pensar que ela nasceu através de um estupro. Era horrível só de pensar.

– Calma, não precisa ficar assim. Tudo que eu fiz foi só mostrar o que você já queria saber...

– Cala a boca! - aquela voz estava ficando cada vez mais irritante para Mônica.

– Meu Deus, como você está brava, eu só quis ajudar mostrando o seu futuro...

– Mentira! - Mônica já não tinha mais vontade de chorar, e sim de brigar.

– Como mentira? Está dizendo que não me importo com você?

– Estou dizendo que o futuro que me mostrou é mentira!

– Você quer acreditar que é mentira, pois não quer acreditar que terá de passar por uma violência como esta, para ter a sua filha.

A raiva de Mônica se misturou ao desespero, dor, medo. Eram tantas emoções, que Mônica não se importou em parecer frágil ao abraçar as próprias pernas e a se balançar como se fosse um bebê, não era, mas naquele momento precisava tanto de colo quanto um.



Ramona desceu correndo as escadas, quase tropeçando, eles tinham de estar em algum lugar. Não poderiam simplesmente sumir no ar, sua mãe provocou alguma armadilha, e tinha quase certeza de qual era.

Ramona desceu mais um degrau, e se deparou com Mônica, Cebola, DC, Magali e Cascão. Todos desmaiados, no degraus da escada.

Ramona pôs a mão na boca instintivamente. Aquilo era culpa dela, ela disse palavras, e palavras tem poder. Cabia a ela consertar, e tirar seus amigos das armadilhas.



– Não está curioso, Cebola? É o seu futuro.

Cebola estava tentado à ceder ao "presente" oferecido pela voz. Mas sabia que mexer com o futuro era algo perigoso, além do que tinha muito medo do que pudesse ver.

– Não tenho certeza...

– Mas você não quer saber sobre seu futuro com a Mônica?

É, a voz sabia jogar.

– Eu posso esperar daqui alguns anos.

– É muito tempo, pra quê esperar se o seu futuro está literalmente na próxima porta?

Era isso, a voz dizia que na porta da frente - a única que tinha iluminação na parte de dentro - continha o futuro de Cebola. Era tão fácil, tão ao alcance das mãos. Mas Cebola sabia que não era tão louco, para ouvir conselhos de uma voz sem rosto.

– Por que tem outras portas? - Cebola quis ao máximo desviar o assunto, e consequentemente, a tentação.

– Cada porta para um futuro diferente, reservei a da frente pois é a que mais se assemelha com a direção de suas escolhas. Mas fique à vontade para investigar as outras portas!

Definitivamente, a voz sabia jogar.

– Por que a da frente é a única com luz? - estava muito tentado a abrir aquela porta, precisava desviar a atenção, tanto da voz quanto a sua própria.

– Gostou? É metáfora. Quer dizer que seu futuro é brilhante.

Isso fez com que Cebola desse um passo inconscientemente para a direção da porta. Tinha caído na armadilha.

– Brilhante? - mais brilhante ainda eram os olhos de Cebola, brilhando de ambição.

– Mais que brilhante, fantástico! Tudo que você vai conseguir, a fama que vai ganhar, o dinheiro.

– Eu... Eu vou... - Cebola queria saber se ele seria o dono do mundo, mas parecia que a voz já sabia a pergunta, e talvez a resposta.

– Isso só você pode ver.

Cebola decidiu enfim, se aproximou e abriu a porta.



Magali via as ondas no seu prato de sopa, era hipnotizante, nunca ficou tão concentrada em um prato de sopa por tanto tempo sem come-lo. Mas logo depois veio o medo, pois viu imagens no caldo da sopa. Uma imagem deprimente, de uma senhora gorda, com olhos chorosos, se entupindo de doces. Nunca vira cena mais triste, se comoveu pela pobre senhora que nem sabia o nome.

– Quem é ela? - Magali perguntou, embora não esperasse que a voz respondesse.

Porem a voz, maldosamente, respondeu:

– É você.

Magali chegou para trás, pressionando o corpo no assento. Sua face retorcida em tamanho horror, para imagem da sopa.

– Não é possível... - Magali se negava a acreditar, enquanto via a imagem da pobre senhora devorar um bomba de chocolate de uma só vez.

– Meu bem, tudo é possível. Quando se está depressiva ou você como de mais, ou de menos. Deu para ver qual foi a sua escolha.

Magali voltou a olhar para a sopa, era horrível acreditar que um dia estaria assim.

– E por que eu estaria depressiva?

– Por que o Joaquim te deixou.

Os olhos de Magali se encheram de lágrimas " não , o Quim não" pensou.

– Por que...?- Magali queria respostas.

– Por que você o traiu com o seu professor!

– É mentira! - Magali não queria acreditar que seria tão sacana a esse ponto.

– Mas é verdade!

– NÃO! - Magali gritou, e jogou o prato de sopa no chão.



– Então é isso? - DC estava incrédulo - Se eu tocar Metálica no piano o meu futura vai aparecer?

– Isso mesmo! - A voz respondeu.

– Maneiro!

DC foi para o piano sem objeção. Começou a tocar uma de suas músicas da Metálica, embora não tocasse piano, sempre teve talento para qualquer instrumento musical.

O cenário foi coberto por uma fumaça preta que saia do piano, mas antes que nublasse tudo, Do Contra parou de tocar.

– Por que parou ?- a voz estava irritada.

– Por que eu deveria continuar?

– É o seu futuro!

– Pois é, e faço dele o que eu quiser.

Embora não a visse, DC sabia que tinha tirado a sua inconsciência do sério.

–´Por favor, DC, volte a tocar - a voz parecia se controlar ao máximo.

– Não, obrigado, o piano não é muito a minha praia.

– Sabe por que você não quer ver o seu futuro? - a voz atacou - Por que você sabe que vai perder a Mônica. Você disse que não se importaria de lutar a vida toda por ela, esperar por ela, mas a verdade é que você não quer ver a sua própria cara de derrota!

DC não disse nada, apenas voltou a tocar.




– O que é isso? - Cascão não soube como foi parar naquele lugar, tinha fechado os olhos durante todo o percurso, com medo de a água lhe alcançar.

Cascão analisou o local, ele conhecia aquele lugar...

– Você está no centro de São Paulo - a voz respondeu.

– E o que eu estou fazendo aqui?

– Procure por você mesmo e saberá.

A princípio Cascão achou que se tratava de alguma frase filosófica, até que ele, literalmente, encontrou a si mesmo.

Cascão vislumbrou uma pessoa que parecia muito com ele, mas ele não queria que parecesse tanto.

– O que é isso? - Cascão repetiu a pergunta.

– É o seu futuro - a voz respondeu.

– O quê? - Cascão olhou para o outro cara - Aquele não pode ser eu!

Cascão tinha visto era um cara com roupas gastas e puídas, completamente imundas, e nas mãos algo o qual ele torcia para ser apenas um cigarro.

– Como foi que eu cheguei aqui? Era para eu estar em um estádio de futebol!

– É, você tentou algumas vezes, mas desistiu depois da trigésima rejeição.

– Trigésima? - Cascão não podia acreditar,

– Pois é, o pior foi que você se dedicou tanto ao futebol, que repetiu de no quatro vezes.

– Quatro vezes?

– Sim, depois de repetir a quarta, você tentou o supletivo.

– Aí eu passei, né? Todo mundo passa no supletivo!

– Você não.

Cascão ficou arrasado, não queria acreditar que aquele era o seu futuro. Era terrível, pior do que planos infalíveis.

Uma gota de água se ouviu, quer dizer, foi ouvido pelo Cascão, que tinha ouvido aguçado para essas coisas. Uma gota d'água caiu perto do pé do Cascão, o que o fez saltar e se remexer.

– Cascão... - aquela voz não era aquela que o tinha trazido para aquele lugar, era outra, feminina.

– Cascão, não ouça - a outra voz disse.

– Cascão... - Ramona, era Ramona.

Tudo a volta de Cascão começou a se embaçar, a tremer, se dissolver. Mas durou apenas alguns segundos, e logo tudo se estabilizou.

– Cascão, lute! É tudo mentira!

Cascão quando se virou, tinha exatamente alguém igual a ele o olhando com uma carranca. Mas não era o carinha com o "cigarro".

– Não! - o cara disse.

Ah, era o dono da voz.



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