POV' Mack

- Já devem ter viajado. Droga. - Exclamei, quando nem a Tay nem a Tess atenderam o celular.

Joguei-me no sofá e peguei minha cadelinha, Bella, no colo. A pequena yorkshire mordeu meu dedo levemente, brincando.

- Só você mesmo que não me abandona, né, Bellinha? - Falei, com voz de bebê e fazendo biquinho. Porque sempre agimos como idiotas perto de cachorrinhos ou bebês?

Ela apenas lambeu meu nariz em resposta. Pensei um pouco no que havia dito. Tudo bem, havia uma pessoa que talvez não me abandonasse hoje, se eu tivesse sorte. Não custava tentar, então, soltei Bella e peguei meu celular.

Revoltada por perder a atenção para o aparelho, ela começou a mordiscar minha calça. Ignorei e disquei o número do Max.

- Mack? - Atendeu, parecendo surpreso.

- Oi! - Sorri ao perceber que ainda tinha alguém no mundo. Sim, sou dramática - Tá fazendo o que?

- Ah eu... - Ele hesitou e então abaixou o tom de voz - Briguei com meu pai de novo.

- Sério? Poxa, Max, me prometeu que tentaria se entender com ele...

- Eu tento, Mack. Juro que tento, mas não consigo de jeito nenhum. Ele parece fazer questão de me deixar irado! Chegou em casa com uma garrafa de vodka e descalço hoje. Advinha? Até a merda dos sapatos o idiota perdeu no jogo.

- Ei, fica calmo tá? - Repentinamente me senti egoísta por fazer tanto drama sem necessidade. A vida do Max era muito mais complicada que a minha e vê-lo reclamando era mais raro do que me ver saltitando de alegria. - Ele está aí com você?

- Está em casa, mas acho que apagou no quarto. Bêbado como estava, não sei como conseguia aguentar-se em pé.

- Bom, eu tenho uma sugestão - Fiquei de pé - Que tal se você...

Não pude terminar a frase pois, quando fui dar um passo a frente (maldita mania de andar enquanto falo ao telefone!), Bella mordeu minha calça com toda a força fazendo-me cair de cara no chão, levando o telefone comigo. Com o impacto, o objeto acabou no chão ao meu lado. Xingando, me recompus e peguei o aparelho, levando-o as orelhas novamente.

- Mack? Mack! - Ele parecia desesperado do outro lado da linha.

- Calma, tô viva.

- O que aconteceu?

- Bella mordeu minha calça e me derrubou.

Do outro lado, Max teve uma crise de riso monstruosa.

- NÃO VI GRAÇA! - Protestei, o que só arrancou mais gargalhadas dele.

- Ai ai... Só você mesmo pra ser derrubada por uma Yorkshire, Mackenzie...

Revirei os olhos.

- Quem mais podia ser tão tapada? Mas pelo menos fiz você rir!

- É... Pra variar. Você é a que mais consegue.

- Sei que você me ama - Brinquei. - Mas, como eu ia dizendo, quer dar um pulo aqui em casa pra se distrair um pouco? A gente pode ver filme, comer pizza e jogar video game...

- Acho que isso pode me animar - Ele pareceu um pouco melhor.

- Corre ou perde o começo do filme, cabeção - sorri, feliz por conseguir animá-lo um pouco.

- Você não começaria sem mim...

- Não duvide... - Sorri mais- Beijo

- Beijo, smurfette - Ele disse, desligando.

POV’ Tess

- Eu vou primeiro – Anunciei logo, pegando minha toalha e uma muda de roupa. Tay não se conformou.

- Não é justo! Passei a viagem inteira nervosa, preciso de um banho!

- DEPOIS de mim, até porque por causa do seu medo de barcos, você esfolou meu antebraço na vinda pra cá.

- Não tenho medo e não esfolei coisa nenhuma!

Levantei, então, meu antebraço para que ela pudesse ver. Nele, quatro marcas perfeitas de unha sangravam.

- Aut. Desculpa, Tess – Ela pareceu envergonhada – Nem notei que estava fazendo isso...

- Confesso que nem eu. Só começou a arder quando você desencravou-as do meu braço... Mas preciso lavar isso logo, sério. Prometo que não demoro.

Assim, fui logo em direção ao banheiro. Peguei a toalha, roupas, shampoo, condicionador, sabonete e, claro, meu celular escondido. Olhei no visor. Mack havia me ligado... Algumas vezes. E a Beck também. Mandei uma mensagem pra cada uma perguntando se estavam bem. Só a Mack respondeu de imediato:

“Mack: Ah, relaxa, era besteira kkkkkkkkk! Tava carente e queria saber se vocês já tinham viajado. Ignore a dramática aqui”

Respondi que sentia sua falta e perguntei se já estava melhor agora. Ela disse que sim, que o Max estava indo vê-la.

“Tess: Aaaaah, o Max né? Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk! Divirtam-se então ♥ agora tenho que ir antes que me descubram no celular. Beijo Mack, te amo!”

Enviei e, colocando o celular na pia, liguei o chuveiro.

Pendi a cabeça pra trás e deixei que a água caísse no meu rosto. As pequenas gotas faziam cócegas nos meus lábios e meus ombros começavam a relaxar. As marcas de unha que a Tay deixara no meu braço durante o trajeto no barco ardiam em contato com a água e eu estava cansada da viagem. Suspirei e fechei os olhos.

Dois segundos depois os abri novamente, assustada com a terrível música altíssima que invadiu o ambiente repentinamente. De onde vinha aquilo??? Era a mistura mais tosca de funk com pagode que uma pessoa conseguiria fazer em toda a história da humanidade! Concentrei-me e identifiquei o som como sendo o do quarto ao lado. Droga, aquelas patricinhas do A8. Bufei e me enrolei na toalha, pegando meu celular.

Nunca fui de bater boca. Claro que, quando me provocavam de maneira mais séria ou faziam algo à minhas amigas, eu não hesitava um segundo em partir para o ataque (até porque no meu caso, força não era um problema). Mas uma música daquela, estava pra nascer o ser humano que fosse me obrigar a ouvir.

Sendo assim, passei o olho nas músicas que tinha nele. Infelizmente, a maioria das músicas pesadas que eu tinha estavam no meu ipod... Então teria que me contentar com alguma das que estavam alí. Fiquei em dúvida entre duas mas optei por "I hate everything about you", de Three Days Grace. Coloquei o volume no máximo e voltei pra dentro do box.

Agora, eu mal podia ouvir os gritos escandalosos daquela cantora barata de funk/pagode/sei lá o que era aquela coisa tosca. Eu não era roqueira, nunca fui. Gosto de algumas músicas porque o Tim me mostrou, mas prefiro um estilo mais pop, pra ser sincera. Mas pra combater uma música horrenda daquela, nada melhor do que um rock beeeem alto.

Ouvi, beeem baixinho ao fundo, um som que reconheci como uma gargalhada da Tay quando o plano deu certo e as garotas do quarto ao lado diminuíram o volume da “música” delas. Ri internamente também e continuei a tomar meu banho, me perguntando o que a Tay estava realmente achando de tudo aquilo...