Confiança escrita por Camila J Pereira


Capítulo 38
Decisão


Notas iniciais do capítulo

Será que agora Edward dá o primeiro passo?



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Edward

Mesmo me arrastando a responsabilidade puxava os meus calcanhares e tive que ir trabalhar e lá eu não me afoguei no álcool, mas na papelada. Parecia que não tinha mais fim. Comunicados, reuniões, reorganização de funcionários. Não consegui nem respirar, mas tive tempo de pensar em Bella e se ela estava tão atolada em trabalho como eu. Do jeito que ela estava se saindo bem no estúdio, com certeza estava atolada também. Certo dia Dave foi conversar comigo e depois que ouvi as palavras proferidas por ele, fiquei sem reação. Não podia creditar no que ele me propôs com a maior naturalidade.

- Então, você quer que eu o ajude a denegrir a imagem de Stevenson? - Eu indaguei devagar, ainda não acreditando.

- Eu não usaria essas palavras. - Dave Williams retrucou, contrariado. - Ele está numa situação difícil porque não consegue realizar seu trabalho. Sua unidade esta afetando todo mundo, puxando todos para baixo.

- E você quer que meu relatório torne as coisas ainda piores para ele? - Conclui com uma estranha calma até para mim. Desde que assumi o novo cargo, conseguia ver o jogo empresarial sendo jogado de uma perspectiva totalmente diferente. Infelizmente, o jogo não me agradava nem um pouco.

- Eu só disse que você deve enfatizar os problemas de produção que ele está causando. - Dave tornou irritado. - Mas o relatório é seu. Escreva o que quiser.

- Obrigado.

- Você esta no cargo há pouco tempo e talvez não perceba o quanto é importante responsabilizar a pessoa certa. Entre a minha cabeça e a dele, prefiro que seja a dele.

- Claro. - Concordei com uma ironia que Williams não captou.

- E nesta empresa é preciso cuidar dos amigos. - Meu ex-chefe concluiu num tom significativo.

Que amigo era aquele, que tratava os funcionários daquela forma?

- Pense a respeito. - Williams sugeriu, levantando-se.

Eu o observei enquanto saía e pensei no quanto ele me desagradava.

Às minhas costas os raios de sol atravessavam as janelas do meu novo escritório e se refletiam sobre a enorme escrivaninha. Desde que assumi o novo cargo, passei a maior parte da semana viajando. Sempre uma série de reuniões aborrecidas, quartos de hotéis impessoais e comida ruim e sem Bella para chamar ao telefone ou para me esperar em casa. A falta de tempo era a minha desculpa para não procurá-la, mas eu sabia que também estava protelando.

Como novo vice-presidente, tinha de conhecer meus novos funcionários. Mas as viagens não eram a pior parte do cargo. Noite após noite, ouvia a voz de Bella falando sobre a minha integridade, lembrava-me de seus olhos avelã marejados de lágrimas.

Nas quatro longas semanas que assumi o cargo, havia sido chamado várias vezes para endossar práticas nas quais não confiava totalmente. Quase como político, tinha de manter as linhas de comunicação abertas entre mim e meus colegas, não apenas por minha causa, mas também por causa de meus subordinados, as pessoas que confiavam em mim. Por eles, muitas vezes tinha de ceder em vez de impor a minha opinião.

Nesse período, contatei Michael Topher, meu ex-colega, agora consultor autônomo. Para a minha surpresa, contudo, minhas conversas giravam principalmente sobre as atividades de Michael e não sobre as minhas. Segundo as informações dele, o ramo de consultoria não era tão instável quanto eu imaginava.

Analisei o relatório a minha frente e totalmente desanimado com o meu emprego. Durante anos de trabalho árduo sempre tentei me convencer de que teria tempo para formar uma família, que poderia relaxar mais tarde quando atingisse esse ponto. Mas aqui estava eu, sem um dia sequer para descontrair. Não havia espaço para lazer, para uma família. Não era assim que queria criar meus filhos.

O telefone em minha mesa tocou.

- Edward Cullen.

- Ei, que tal é ser o chefão? - Reconheci a voz de Dean, um colega de trabalho. Antigamente eu e o Jasper andamos muito com ele, mas nos afastamos por incompatibilidade de caráter. Dean era um aproveitador, um oportunista, era o tipo de cara que queria se dar bem em todas as situações e é claro que era isso que ele queria agora ligando para mim.

- Olá Dean.

- Pois é amigo, agora que você está aí em cima, estou com vontade de lhe fazer um favor.

- É mesmo? Que surpresa. - Retruquei secamente.

- Pois é. É que eu sou um sujeito legal.

- E que favor seria esse?

- Achei que, já que terminou com a linda e deliciosa Isabella, você gostaria de substituí-la. - Ele falou malicioso e eu senti meu sangue ferver.

- Do que você está falando? - Falei irritado.

- Uma acompanhante. Quero dizer, você tem de levar alguém nesses eventos com os figurões e andei conhecendo umas candidatas ótimas.

- Não, obrigado. - A ideia de sair com outras mulheres me fez sentir mal.

- Tem certeza? Pense a respeito. - Dean sugeriu. - São garotas muito apresentáveis, se é que você me entende.

Eu entendia e me senti enojado com a inferência.

- Escute Dean, ando meio sem tempo agora. Além do mais, não posso sair com ninguém, a única mulher com quem eu sairia é Bella. - Falei irritado.

- Então, está apaixonado mesmo?

- Completamente Dean. E espero que da próxima vez que se referir a ela, seja com um pouco mais de respeito. - Disse secamente.

- Tu-tudo bem. Desculpe-me, eu pensei que...

- Preciso desligar Dean, até mais. - O interrompi e desliguei o telefone.

Senti as minhas mãos suando e um nó no estômago. Eu não poderia substituir Bella como uma lâmpada queimada, simplesmente eliminá-la de minha vida e colocar outra mulher em seu lugar.

Em instantes, uma imagem se formou em minha mente: Bella me esperando em casa, segurando um bebê no colo, e mais um ou dois sentados a seu lado, todos com os cabelos castanhos. A insubstituível Bella, com seu sorriso maravilhoso e olhar brilhante.

Olhei para a parede a minha frente sem enxergar coisa alguma. Sentia a falta dela e durante a noite era mais difícil. Inúmeras vezes peguei o telefone para ligar para ela. É claro que Bella não me rejeitaria, eu tentava enfiar isso na minha cabeça, ela não recusaria me ouvir. Contudo, sempre desistia ao me lembrar das lágrimas, das palavras que me acusavam de vender minha alma.

Bem, aqui estava eu, seguro e só. Eu não poderia mais protelar.


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