Confiança escrita por Camila J Pereira
Alice
Foi assustador ver meu irmão naquela situação. Quando Jasper entrou no apartamento sustentando Edward no seu próprio corpo, não reconheci aquela pessoa como o meu irmão. Queria que ele relaxasse e ficasse menos despreocupado, assumisse a sua idade, tirasse o peso que carregava nas costas, mas não dessa maneira desmiolada.
Enquanto Jazz o levava para o quarto ele pronunciava palavras desconexas, mas que ao mesmo tempo diziam tudo. Podia-se ouvir sair dos lábios dele repetidas vezes o nome de Bella e pedidos de perdão que se misturava com ameaças de morte para Jacob. Só não entendi quem era Quil, que ele agradecia, mas ao voltar para a sala Jazz me contou que era o nome do barman que avisou onde Edward estava.
Agradeci ao Jazz por ter ido buscar o meu irmão, mesmo sendo amigos isso não era obrigação dele. Pedi a ele que ficasse aquela noite comigo, não queria ficar só com o Edward daquele jeito. Dormimos abraçadinhos no meu quarto.
Logo cedo, fiz um café bem forte para Edward, ele precisaria e peguei um remédio e um copo com água para ele tomar. Com certeza aliviaria a dor de cabeça que ele teria. Enquanto Jazz levantava e tomava o seu banho, eu caminhava bem devagar até o quarto do meu irmão. Abri a porta lentamente para não sobressaltá-lo e o vi completamente jogado na cama. Sentei na pontinha da cama e fiquei observando-o, rezando para que ele reagisse depressa. Ele se mexeu e eu vi que logo acordaria. Ed gemeu algumas vezes e se mexeu cada vez mais até que abriu os olhos e olhou diretamente para mim, eu sorri para ele.
- Bom dia, maninho!
Edward
Meu corpo parecia afundar de tão pesado, eu sabia que estava na minha cama, embora não soubesse bem ao certo como eu tinha parado lá, mas o fato é que eu estava. Mexi-me um pouco na cama e constatei que além de pesado estava dolorido. Então me lembrei de que tinha bebido muito a noite passada. A cada movimento que eu fazia um gemido escapava da minha boca. Tive a impressão que alguém estava comigo no quarto e então abri os olhos para me deparar com a minha irmã e o seu grande sorriso. Porém havia alguma coisa de errado em seus olhos, estavam tristes.
- Bom dia. - Pigarrei para a minha voz voltar ao normal, estava áspera.
- Trouxe isso pra você. - Ela me mostrou um comprimido e um copo d’àgua.
- Ai! - Gemi ao tentei levantar e coloquei a mão na cabeça que doía muito.
- Imaginei que sentiria muita dor de cabeça. - Ela estendeu as mãos para que eu pegasse o que ela trazia. Sentei devagar na cama, para evitar sentir mais dor e peguei o comprimido e a água e tomei o remédio. Depois devolvi o copo a ela.
- Obrigado.
- E então, a bebedeira adiantou em alguma coisa? - A baixinha falou parecendo uma autoridade.
- Sim, por alguns instantes. - Voltei a deitar, repousando a minha cabeça no travesseiro. - Mas... Não vale a pena. - Falei ao senti outra pontada na cabeça.
- Que bom que chegou a essa conclusão. - Ela cantava as palavras me repreendendo. Peguei o meu outro travesseiro e coloquei sobre o meu rosto.
- Ok, ok, ok Alice. Não precisa me dizer nada. - A ouvi suspirar pesadamente.
- Tem um café bem forte e quentinho te esperando. Vai te fazer bem, pelo menos era isso que você falava para o Emm quando ele chegava bêbado em casa. - Eu levantei um pouco o travesseiro, separando-o do meu rosto o suficiente para que eu desse o meu olhar mortal para ela.
- Desculpe. - Ela falou sem se sentir realmente culpada. - Você me deixou preocupada Edward. - Ela disse sincera.
- Desculpe. - Agora eu que falava, jogando o travesseiro para o lado.
- O que aconteceu Ed? - Eu desviei o meu olhar do dela sem conseguir dizer nada. - Fala pra mim, por favor! - Ela esperou que eu dissesse alguma coisa e como eu não disse ela levantou. - Você precisa tomar um banho e....
- Eu precisava vê-la Alice. - Comecei sem olhá-la. Minha irmã parou e ficou me olhando. - Estava desesperado, rastejaria aos pés dela implorando que me aceitasse de volta. Mas foi tarde demais. - Minha voz estava cheia de arrependimento e mágoa. Alice voltou a sentar ao meu lado. - Quando cheguei lá, vi o Black saindo do apartamento dela, todo dono de si, rindo... Eu fui um idiota e agora não tem mais volta. Eu sabia que ela amava o Black, mas cheguei a pensar que eles não voltariam mais. - Eu não conseguia evitar as lágrimas.
- Ed... - Alice acariciou o meu rosto. - Vo-você pelo menos falou com ela?
- Não! Com que cara eu iria falar?
- Ed, acho que você foi precipitado. Você deveria fazer o que foi fazer, falar com ela. Eles podem ter terminado, mas ex-namorados também podem ser amigos. Eu vi nos olhos de Bella e em todas as atitudes dela o quanto ela é apaixonada por você. Vocês precisam se dar uma chance, ter essa conversa. - Eu encarei a minha irmã, impressionado pela maturidade que ela demonstrava.
- Acho que você pode ter razão. - Eu sorri, tentando parar de lamentar. - Estou te aborrecendo, fazendo você desempenhar um papel que não é seu, de irmã mais velha.
- Não Ed, estou desempenhando o papel de irmã apenas. Bom... Mas quero deixar claro aqui que eu ainda quero ser a inconsequente e meio desmiolada de nós dois.
- Tudo bem. - Rimos.
- Vai procurá-la? - Eu parei para pensar um pouco. Acho que deveria fazer isso pelo menos para pedir desculpas por tudo que disse.
- Sim. - Alice sorriu esperançosa.
- Maravilha! Agora levanta e vai tomar um banho para tomarmos nosso café. - Ela já saltitava na minha frente.
Ficou decidido que eu procuraria Bella para me desculpar, mas eu não sabia quando. Mesmo se ela tivesse voltado com o Black eu devia isso a nós dois. No dia seguinte eu tentei ir, mas com o meu novo cargo eu tinha que sair de reunião para reunião e não tive tempo. Teria que fazer alguma coisa sobre isso logo.
Bella
Apoiei a escada na parede externa do estúdio, munida de balde e rolo de pintura, subi e comecei a pintar. Nas duas semanas que se seguiram à briga com Edward, entrei mesmo num ritmo frenético de atividades. Promovi uma faxina profunda no estúdio, coloquei cortinas novas e pintei quase todo o exterior da casa com a ajuda de Âng. Sentia falta de Edward. Pensava nele, preocupava-me com ele. E para quê afinal? Ele tinha o que queria.
- Você não pintou ali. - Âng me alertou por trás de mim.
- Está ficando ótimo, não é mesmo? - Comentei cobrindo a falha na parede.
- Está sim. Conseguiu dormir ontem?
- Consegui. - Menti alegremente. Minhas noites estavam sendo um inferno de desespero e desejo, mas não pretendo perder a sanidade e o equilíbrio emocional.
- O interior ficou lindo. Você tem trabalhado demais. - Ela repetiu a mesma coisa que vinha dizendo sempre.
- Há muita coisa para fazer. - Também repeti a minha resposta.
- Bem, eu adoro trabalhar, mas essa explosão de atividade me preocupa. Tem certeza de que esta bem por causa do Edward?
- Não seja ridícula, eu estou ótima. - Eu falei tentando manter um tom tranquilo e animado.
- Espero que sim.
- Nunca estive melhor. Veja, terminei.
Âng limpou o pincel um trapo e observou o trabalho concluído.
- Ainda bem que o local é pequeno. Já não aguentava mais o cheiro de tinta.
- Ficou lindo! - Constatei descendo da escada.
- Mesmo assim estou preocupada com você. - Âng estava mesmo insistente no assunto que eu queria evitar.
- Não precisa. - Eu garanti. Amo o estúdio e meu trabalho, mas a proximidade com Edward me deixava transtornada. - E não precisa ficar preocupando as outras pessoas com suas paranoias. - Falei encarando-a, lembrando-me do episódio com Jake no meu apartamento. Ela me olhou como se lamentasse e tive que rir da cara assustada que fez.
- Desculpe Bella.
- Tudo bem, pelo menos tudo ficou certo entre nós dois. Ei, estou pensando em me mudar para Minnesota e me juntar a banda de rock de Rosie. Ela me convidou.
- Você perdeu o juízo? - Âng me olhava com olhos arregalados.
- Claro que não. - Repliquei fechando a lata de tinta sem encarar a minha amiga. - É que parece divertido e não tenho passado muito tempo com ela desde que partiu...
- Bella! - Âng me agarrou pelos ombros. - Ponha os pés no chão. Você não toca nenhum instrumento e não confia muito na sua irmã. Sei que está sofrendo por causa no Edward, mas não faça isso. Não desista deste lugar e do seu trabalho!
- Não estou desistindo. - Menti. - E eu posso cantar. - Falei lembrando das palavras de Rosie. - Além do mais, muitas pessoas trabalham na produção do show.
- Bella, não! - Âng falou firme.
Fitei o rosto preocupado da minha amiga e senti meu falso controle cair por terra. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu deixei todo o meu sofrimento vir à tona.
- Mas dói tanto... - Eu sussurrei.
- Eu sei. - Âng me confortou. - Eu sei.
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