Ecos Caleidoscópicos escrita por DannyMandT


Capítulo 8
Capítulo 8 – Um sobrevivente tenta sempre


Notas iniciais do capítulo

“Porque até as estrelas queimam
Algumas até mesmo caem sobre a terra
Temos muito a aprender
Deus sabe que valemos a pena
Não, não desistirei.”

(I won’t give up – Jason Mraz)



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Na cozinha, encontro-me com Jared, Melanie e Jamie que acertam os últimos planos da incursão. Eles sorriem, felizes com a expectativa do sucesso, ansiosos por terem a companhia de Peregrina. Então me dou conta de que também sinto falta da voz cautelosa e dedicada de Peg. Por mais estranho que pareça, ver Melanie é como ver uma pessoa inteiramente diferente. Ela ainda é uma desconhecida, aquela voz familiar agora entoa uma força diferente, os gestos do corpo são astutos e imponentes.

O olhar atento dela se deleita ao observar tudo ao redor, como se ela cultivasse a satisfação de ter o controle novamente. No entanto, um breve segundo parece desconfortá-la e ela retrai um pouco o corpo e volta a dedicar-se, com um empenho maior, à busca de um corpo para Peregrina. Aquilo me deixa extasiada: ironicamente, quem mais parece sentir falta da Alma invasora é sua antiga hospedeira.

Dirijo-me ao balcão, cumprimento Trudy com um sorriso e vejo seus olhos se iluminarem por isso. Ela debruça sobre o balcão e me dá um abraço aconchegante. Retribuo e quando ela me solta vou para uma das mesas comer o jantar. Sou recebida com sorrisos cuidadosos e cumprimentos tímidos, é como se eles estivessem com medo de me machucar, apesar da culpa nãos ser de ninguém.

Melhor, de quase ninguém.

Pego-me verificando o resto da cozinha e entendo o motivo do ambiente estar tão agradável: Lacey não está presente. Nem Sharon ou Maggie. Esse pensamento final chega a quase me assustar. Enquanto como, fico alheia à conversa sobre o dia de trabalho das pessoas ao meu redor, meu pensamento concentra-se em Melanie e no amor que ela cultivou por Peregrina. Apesar de tudo, aquele pequeno momento observando-a me fez notar como ela é grata a Peg e o quanto quer retribuir.

É um sentimento obtuso e extraordinário, o amor.

* * *

Os dias passaram estranhos, mas cada vez mais normais.

Como Trudy estava dando assistência à Candy com o corpo de Jodi, eu assumi seu lugar na cozinha. Era bom passar o dia na companhia de Rebecca e Heide, nós conversávamos sobre coisas triviais e cantarolávamos canções antigas enquanto preparávamos as refeições ou cuidávamos da louça. Foi uma boa forma de retomar as relações, de perceber melhor a companhia e o carinho dos meus amigos e até mesmo de cultivar minha tolerância à Lacey. Sem querer me gabar, mas estou muito surpresa e satisfeita com meu progresso nesse último aspecto.

Fiz várias visitas ao Doc, Ian e Kyle para levar-lhes as refeições ou simplesmente pra conversa um pouco. Engraçado, eu me sentia mais a vontade em meio aos Oshea naquele momento. Quer dizer, nós somos muito amigos, mas a circunstância foi diferente: compartilhávamos um sofrimento de amor, cada um do seu jeito, em certo grau, entretanto, estávamos no mesmo barco errante na escuridão das incertezas.

Confesso que fiquei surpresa quando ouvi Candy comentar com Trudy que Kyle havia decidido reinserir a Alma no corpo de Jodi. Houve um momento de hesitação por minha parte sobre aquilo, mas no momento em que cruzei com Kyle, quando voltava da câmara do rio onde eu estava lavando algumas vasilhas, e ele me cumprimentou com uma careta típica, eu fiquei feliz.

Kyle tinha uma feição cansada, mas aliviada. Ele resolveu aceitar, seguir em frente, buscar uma nova chance. Eu pensei então: “Se Ogrão Oshea é capaz, eu com certeza sou.” e depois ri, não pude evitar.

A volta de Melanie, Jared e Jamie causou comoção em muitos de nós. Peregrina estava fazendo mais falta que qualquer um podia imaginar. E quando Jeb e Doc decidiram esperar alguns dias, antes de inseri-la no corpo pequeno e frágil que os outros três trouxeram, os ânimos ficaram divididos nas cavernas.

As pessoas não sabiam se queriam que mais um de nós acordasse para nos der mais esperança, ou se queriam a pequena Alma que havia conquistado seu espaço entre nós de volta logo. A verdade é que um pequeno grupo achava a espera insuportável, porque queria Peg de volta e nenhuma outra opção seria mais satisfatória e feliz.

Descobri-me como parte desse pequeno grupo.

Sinceramente, eu não queria novas adições, eu só queria que todos ali permanecessem seguros e unidos e queria, desesperadamente, resgatar aqueles que ali não estavam. Não seria possível com Walter. Não seria possível com Wes e isso me despedaçava por dentro. Mas era possível com Peg, e eu mal podia esperar para que ela estivesse junto à família de novo. Porque nós somos uma grande, confusa e divergente família.

Então tentei fazer com que esses dias não fossem tão longos e torturantes. Conversei com Melanie, que é muito inteligente, engraçada, durona e adorável. Reaprendi a ver além do ameaçador anel prateado ao redor da pupila com Sunny, que é doce, tímida e prestativa. E fiz companhia à pessoa que mais parecia que iria surtar com a espera: Ian, logicamente.

– Lily, está ocupada? – Jamie me desperta dos devaneios.

– Ah... Não. Estou só... pensando.

– Quer jogar uma partida de futebol? Melanie, Kyle, Sunny, Paige e Andy estão lá na sala de jogos, mas está faltando alguém, já que Sunny não quer jogar. – Ele explicou meio hesitante.

Jamie não é uma criança boba, ele passou por muita coisa e é muito compreensível. Eu entendo que ele está sendo cauteloso, porque sabe que isso pode me trazer lembranças felizes, e tristes também. E é por isso que eu confio nos meus amigos.

– Por que não? Talvez Ian queira assistir...

– Duvido.

– Hum... é muita expectativa, não é? Tudo bem, vamos lá.


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