As Aventuras de Rin Casaco Marrom escrita por Sem Nome


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 05 :D (este tem bastante sangue)
Desculpe a demora!



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   Capítulo 05

   Aquele em que Rin descobre com quem está lidando.

   A chuva caía na janela do trêm.  Rin observava a pequena cachoeira que se formava no vidro, quase dormindo. A paísagem não estava muito interessante, já era noite e só o que conseguia ver eram algumas árvores um pouco abaixo do pequeno morro pelo qual a locomotiva passava.

   Ela andara da Cidade dos Peixes do Sul até outra cidade próxima. Lá ela pegou um trêm e estava a caminho de Campos do Sol.

   Campos do Sol, curiosamente, não era muito quente ou ensolarado. O nome se deu em homenagem ao descobridor do lugar; não por ter “sol” no nome, mas por ser gordo e inchado como uma bola e por usar roupas amarelas o tempo todo. Rin achava que ele tinha um ótimo gosto para roupas.

   O trêm em que estava não era muito luxuoso, mas não chegava a ser um daqueles trêns velhos e lentos. Tinha assentos acolchoados vermelhos e cortininhas também vermelhas. Havia poucas pessoas nele, e a maioria estava dormindo. As luses estavam quase apagadas, para não incomodar as pessoas adormecidas e para evitar quedas de passageiros ou funcionários que estivessem andando.

   Ela olhou de relance para o passageiro sentado no lado oposto ao seu. Ele tinha barriga de cerveja e usava um chapéu grande demais para a cabeça. Imaginou porquê ele não comprava um novo, proporcional ao seu tamanho.

   Ela olhou para o próprio casaco e se deu conta de que não era ninguém para julgar, então voltou a olhar para janela.

   Rin gelou e, em um pulo, afastou-se da janela, abafando um grito. Os pelos em seus braços arrepiaram-se, como os de um gato.

   Uma funcionaria foi até ela e perguntou se estava tudo bem.

   - Eh... está tudo bem, sim – a loura forçou um sorriso – Só preciso de um pouco de água.

   A funcionaria assentiu e foi buscar um copo.

   Rin olhou timidamente para a janela. Ela não estava imaginando coisas. Aquilo era real demais, mesmo que o trêm tenha passado rápidamente por ele. Aquilo era real demais. Uma criatura curvada, pálida, com presas e garras enormes e olhos esbranquiçados.

   Ela nunca havia visto algo tão pavoroso em toda sua vida.

   Usou a cortina vermelha para tapar a visão da janela. Suas mãos estavam tremendo e seu coração estava à mil. Quase  gritou de susto quando a moça colocou o copo d´água na mesinha em frente ao assento. Estava tensa demais.

   Tentou distrair sua mente enquanto tomava a água quente sem gelo. Pensou no não livro, e em como estava sendo tola. Não conseguia nem mesmo pagar por um vinho considerado “bom”, imagine “o melhor vinho do mundo”.

   Não livro idiota, pensou, por que não pede por uma coisa mais barata?

   Pensou também no poder absoluto. Seria ele alguma coisa substancial? Mesmo que não achasse que levaria a busca até o fim, imaginava como o prêmio seria.

   Seus pensamentos foram interrompidos com um forte estrondo. Parecia que tinha vindo do teto do trêm, não muito longe dela.

   Um calafrio subiu pela espinha de Rin, que mantinha olhos e ouvidos atentos.

   Alguma coisa ruim iria acontecer.

   As outras pessoas também escutaram o ruído, e agora também olhavam para o teto.

     O barulho de garras raspando contra metal ecoaram do mesmo ponto do primeiro estrondo.

   Algo cavava e batia no metal.

   Instintivamente, Rin colocou a mala (que anteriormente estava no assento ao lado) nas costas e levantou-se, um pouco desequilibrada devido ao balançar do trêm.

   Algo cavava e batia no metal.

   Cerrou os punhos, suando frio.

   Algo cavava e batia no metal.

   Algo abriu um buraco no teto do vagão e aterrissou no chão. Algo era exatamente igual a criatura que Rin vira alguns minutos atrás.

   Todos no trêm engasgaram de medo e tentaram ir para longe do bicho. Este não se importou com a presença de nenhum deles. Parecia que farejava algo. Até que encontrou sua presa.

   Rin teve a sensação de que, mesmo a criatura não tendo pupilas,  olhava diretamente para ela. Ou talvez... Talvez para...

   A menina, em um movimento rápido, levou a mão ao casaco, sentindo o formato retângular do não livro. Pessima ideia.

   O monstro sibilou e pulou na garota, cravando suas presas no braço que tocara o casaco.

   Rin gritou, uma dor fina se espalhava por todo seu corpo. A coisa chacoalhava a cabeça, tornando as coisas ainda mais dolorosas. Ela arrastou a menina até o pequeno corredor do trêm, que separava um lado de assentos do outro, nunca diminuindo a força da mordida.

   Ela tantava golpear a cabeça do monstro com a outra mão, mas era fraca demais, ele continuava puxando e saboreando o sangue.

   Ele vai arrancar meu braço! Lágrimas de dor e de pavor escorriam pelo seu rosto. As pessoas estavam apavoradas demais para fazer qualquer coisa pela jovem que estava sendo torturada bem na frente de seus olhos.

   Pórem, ouviu-se um apito fino e prolongado e todos foram lançados para frente. Várias pessoas foram jogadas contras as mesinhas em frente aos assentos nos quais estavam em pé. O trêm havia parado.

   Rin foi lançada na direção de seu atacante, que caiu de costas, com ela logo ao lado, alíviada pelos dentes de um monstro não estarem mais penetrando em seu braço esquerdo, ainda que o corte ardesse.

   Ela não perdeu tempo em levantar-se e se afastar do bicho. Logo depois que este se levantou, a porta que ligava o vagão à locomotiva foi arrombada por outra criatura, que levava o maquinista todo ensanguentado pela perna, como uma prova de que fora responsável pela parada do trêm.

   Rin não conseguiu ver se ele estava respirando ou não.

   O monstro deixou o corpo de lado e juntou-se ao companheiro. Os dois marcharam lentamente em direção a garota, como se dissessem “pode correr, nós deixamos”.

   E ela não fez outra coisa. Correu o mais rápido que podia. Atravessou um vagão, depois outro, depois outro. Não havia ninguém naquele.

   Quando pensou que ningém a estava seguindo, alguma coisa a derrubou por trás. Ela sentiu uma dor aguda na área entre o pescoço e o ombro direito. A mesma coisa agarrou a parte de trás de sua cabeça com a enorme mão e começou a golpeá-la no chão.

   Rin sentiu o gosto de sangue e lágrimas que escorriam até sua boca, dor explodia em sua cabeça. Ela nunca imaginou que morreria assim, com o crânio esmagado por uma besta assassina. Seu ombro doía e sangrava, assim como o braço e a testa, que deixava marcas de sangue cada vez maiores no chão do trêm.

   Surpreendendemente, a coisa parou com sua tortura por um momento e saiu de cima das costas da menina, puxando-a pelos cabelos e a fazendo ficar de pé em frente ao seu semelhante. Este deixou suas garras roçarem no pescoço Rin, estava tão próximo que ela conseguia sentir o cheiro azedo de seu hálito.

   É assim que eu morro? Pensou. Procurou em sua mente algum modo de escapar. Não tinha armas, não era forte, não tinha presas e nem garras.

   Será que não?

   Com ânimo renovado, afundou as unhas, mesmo que não fossem tão longas, nos olhos do monstro à sua frente. Ela não sabia dizer se ele era cego ou não, devido aos olhos esbranquiçados, mas pelo jeito que reagiu, a resposta certamente era não. Não era cego. Os dedos da menina foram sujos com um líquido escuro que ela preferia não saber o que era.

   Ele tapou os olhos com as mãos, emitindo uns dos sons mais pavorosos que Rin já escutara. Ele tentou golpear a menina cegamente, mas esta desviou, e a vítima acabou sendo o outro monstro, que soltou grunidos parecidos com os do seu semelhante.

   Aquele que foi atacado soltou Rin do aperto e ela disparou em direção a porta que levava ao próximo vagão. Porém teve a desagradável suspresa de que estava trancada.

   Porta amaldiçoada pelos deuses do inferno! pensou desesperada. Passou os olhos por todo o vagão em busca de uma saída. A única coisa que lhe restava era a janela.

   Ela subiu na mesinha em frente a mais um assento e começou a chutar o vidro o mais forte que conseguia. As criaturas já estavam se recuperando do choque. Algumas rachaduras já estavam sendo feitas.

   O vidro era resistente. Seus inimigos já estavam indo em sua direção. Ela chutou mais forte, as rachaduras ficavam maiores até que finalmente a janela se estilhaçou em mil pedacinhos.

   Ela deu uma rápida olhada no cenário do lado de fora. Basicamente seria uma queda de vários metros para chegar no solo da floresta. Ela amaldiçoou a si mesma por não ter escolhido o outro lado do trêm para pular.

   Mas quando viu de relance as criaturas se aproximando com baba escorrendo de suas bocas sempre abertas, não perdeu tempo, pulou a janela em direção a escuridão.

   Seus pés tocaram o chão primeiro, mas o impacto a desequilibrou e Rin começou a rolar ladeira abaixo. As pedras abriam novos arranhões em sua pele, que se sujava com lama. Logo o chão voltou a ser plano, indicando que a ladeira havia acabado e o bosque havia começado.

   Rin levantou-se, tonta e dolorida, mas correu mesmo assim, sem olhar para trás. Estava tão escuro e chuvoso que ela não conseguia ver nem os próprios braços e constantemente se chocava com as árvores.

   Escutou passos atrás de si. Correu mais rápido. O mais rápido que suas pernas curtas permitiam. Escutou o barulho de algo pulando de árvore em árvore, e deu-se conta de que subir nas plantas para se esconder seria inútil.

   O espaço entre uma árvore e outra tornou-se maior com o passar do tempo, e então a paísagem se transformou em um campo aberto. Mesmo que a luz da lua estivesse encoberta pelas nuvens carregadas, Rin apreciou a falta de árvores em que pudesse colidir e onde seus perseguidores pudessem se esconder.

   Ela continuou correndo às cegas na escuridão, temendo cair em um buraco ou pisar em algum animal particularmente perigoso, mas nunca diminuindo a velocidade.

   Os passos chegavam cada vez mais perto. Rin tinha quase certaza de que as criaturas eram mais rápidas que ela, então por que não a atacavam logo?

   Malditas, estão brincando comigo.

   Rin estava cansada, seus pés doíam, assim como o resto do corpo. Não ia levar muito tempo até que desistisse de correr e se deixasse matar. Seus passos começavam a ficar mais lentos. Estava cansada. Muito cansada.

   Depois de vários passos a fraca luz da lua iluminou algo. Ela estava em frente à um muro gradeado, com arame farpado em cima. Era bastante extenso, demoraria muito para dar a volta nele. Maldição, se fosse dia, ela teria visto o muro muito antes e teria mudado de direção, a fim de não ter que dar a volta.

   Olhou para trás, ao longe avistou as criaturas. Desesperou-se, não importava se o arame farpado a machucaria, escalou a grade e abriu espaço por entre o arame, cortando os dedos e as palmas das mãos. Mordeu os lábios e tentou ignorar a dor.

   Deixou-se cair no outro lado. Engoliu em seco, isso era invasão de um terreno privado, podia se meter em vários problemas. Mas para se meter em problemas, é preciso estar vivo. Depois explicaria tudo para o dono do lugar.

   Os dois monstros também escalaram o muro, dando uma pequena vantagem para Rin. Havia algo estranho no chão do terreno, quando ela pisava sentia algo ser esmagado debaixo de seus pés, mas não deu atenção a isso.

   Rin tinha uma mão estendida, tateando o ar, para não esbarrar em nada, porém não prestou atenção em seus pés. Tropeçou em alguma coisa no chão e caiu. Sentiu uma dor intensa em seu pé direito, sem conseguir movê-lo ou senti-lo. A dor era tão forte que os músculos de seu corpo ficaram tensos e ela quase não conseguia se mover, nem mesmo conseguia gritar.

   Tentou se levantar, não permitindo que a dor tomasse conta dela, mas não aguentou e caiu novamente no chão enlameado. O pé estava quebrado, com certeza. Sua mão cortada e suja se sangue pousou em alguma coisa, provavelmente no que a fez cair. Uma pá.

   Apoiou-se nela para levantar, e depois a usou como bengala. Tirou a mala molhada e suja das costas e esperou. Não podia mais correr. Aquelas criaturas logo a alcançariam e a matariam. Mas ela não facilitaria as coisas.

   Elas já estavam em seu campo de visão. Rin apoiou todo o peso do corpo no pé que não doía e levantou a pá do modo mais ameaçador possível.

   Um dos monstros parecia mais ansioso para atacar que o outro, e ela percebeu a razão; os olhos dele estavam murchos e escuros. Ela sorriu amargamente, pelo menos deixaria uma lembrancinha para ele.

   O dos olhos murchos saltou na direção da garota. Esta conseguiu atingi-lo com a pá bem na cabeça. Mas o golpe não conseguiu atordoá-lo por muito tempo e, juntamente com o parceiro, investiu novamente.

   A pá, que até ajudou a bloquear alguns golpes, foi arrancada das mãos de Rin e ela foi derrubada. Os monstros a estavam atacando sem piedade agora. Abriam novos cortes com garras e dentes. O chão tingia-se de vermelho. Ela não conseguia fazer nada além de gritar e chorar. Era seu fim.

   Porém em um momento ela viu luz. Será que tinha morrido? Aquela luz não parecia convidativa. Parecia ameaçadora, como se dissesse “fique longe”. A luz se aproximava, e se dividia em duas. Logo Rin pôde ver uma mulher, segurando duas espadas em chamas que nem a chuva forte conseguia apagar.

   As criaturas também pararam para olhar, e foi a última coisa que fizeram antes de serem perfuradas pelas lâminas, terem suas cabeças decepadas e os corpos fatiados. As chamas foram apagadas, mas a mulher acendeu uma lanterna, para não ficar no breu total.

   Rin não tinha forças nem para mover um dedo e não sentia mais as pernas, mas a moça a pegou nos braços. Era muito bonita, mesmo com os cabelos castanhos molhados pela chuva e colados no rosto. Rin viu seus lábios se mexerem mas não escutou nenhum som.

   Fechou os olhos e caiu num sono sem sonhos.


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Notas finais do capítulo

Meiko, pessoal. Ela é demais U-U