A faculdade não foi lá tão difícil como eu imaginava, tirando o fato de que novamente eu sempre era ignorado. Era difícil quando o professor fazia trabalhos em grupo e ninguém queria fazer comigo. Tudo corria bem até o dia da minha formatura, quando o inesperado iria acontecer e minha vida mudaria completamente de rumo.

Foi num sábado qualquer, quando eu finalmente havia recebido meu diploma. Meus pais ficaram muito orgulhosos de mim, afinal, mesmo com todos esses obstáculos consegui me formar. Eu tinha sérias dúvidas se alguém me aceitaria em algum emprego. Meus pensamentos foram interrompidos pelo meu pai:

- Então, família, o que acham de um passeio no parque para comemorar? Eu pago o sorvete! - disse ele sorrindo.

- Podemos visitar o urso polar do zoológio do parque? - perguntei.

Meu animal favorito era o urso polar. Eu tinha uma breve admiração por animais que se adaptam ao gelo, como pinguins, focas e leões-marinhos, mas o meu favorito era mesmo o urso polar. Acho que tínhamos muito em comum: gostávamos de gelo, vivíamos solitários, éramos fortes e bonitos, e tínhamos que suportar dias difíceis na solidão do frio. O urso do zoológico não era muito diferente - sim, era O urso, só tinha um lá - e eu gostava muito dele. Apelidei-o de Coldy, porque lembra cold, que em inglês significa frio. Eu tinha um afeto muito grande com o bicho. Entreolhavamos um para o outro em silêncio. Era um olhar tão profundo que entedíamos um ao outro.

Tudo estava correndo bem, crianças correndo por aí, turistas fotografando monumentos históricos, casais enamorando-se em bancos, vendedores felizes em suas barracas, famílias brincando como se tudo estivesse ocorrendo bem. Meu pai fez o que prometera, comprara três sorvetes, um de morango, um de chocolate e um sorvete duplo nos sabores de napolitano e tutti frutti. Minha mãe gostava de morango e ficou com o mesmo, já meu pai pegou o de chocolate. Como prêmio pelo meu esforço, meu pai deixou eu ficar com o sorvete duplo, já que estava com meus sabores preferidos.

- Tome, meu campeão! Você merece!- falou-me enquanto me entregava o sorvete.

- Obrigado, pai! - agradeci sorrindo.

Era para tudo ter ocorrido bem, até anoitecer. Meu pai havia feito uma aposta e ganhou 1 milhão e meio de reais. Puxa! Ficamos bastante felizes. Esse era o dia mais feliz de toda a minha vida. Mas mal sabíamos o que nos aguardava. Cometemos o erro de ter ficado um pouco mais no parque, sendo que ele estava quase vazio, e de termos estado numa área muito longe da via principal. Éramos alvos perfeitos para qualquer um. Quando viramos numa esquina, vi um homem se aproximar e o reconheci de relance: era um homem qualquer escondido num canto do lugar da aposta. Ele olhava para todos de um modo estranho, como se esperasse que o ganhador fosse logo embora para roubá-lo. Quando percebi, já estava ouvindo:

- Mãos para cima, isto é um assalto! - anunciava ele enquanto sacava a arma. - Sei que você acabou de ganhar 1 milhão e meio de reais e eu quero eles para mim! - dizia referindo-se ao meu pai.

Meu pai tentou conversar com o bandido em vão, e ele ameaçava atirar se não entregasse logo o dinheiro. Porém, no meio de uma ameaça, ele disparou sem querer na cabeça do meu pai e acho que isso deve té-lo matado. Fiquei parado em choque. Ele e minha mãe eram as únicas pessoas que me amavam e gostavam de mim, e num estante ele vai embora, morto por um bandido. Minha mãe gritou, e o ladrão se assustou e atirou nela sem querer. Resultado: fiquei sem as duas úncias pessoas que me amavam e que gostaram de mim de verdade em toda a minha vida, e fiquei órfão no mesmo dia que outrora era para ser o mais feliz da minha vida. O ladrão correu assustado sem pegar o dinheiro. Chorei na solidão daquele lugar. Agora eu estava sozinho naquele mundo, e tudo culpa de um desgraçado homem que vive uma vida de crimes. Chorando no vazio, jurei a mim mesmo vingança.