Meu nome é Fredy, apelido de qualquer Frederico, mas não sou qualquer um, não pelo fato de que sou corcunda, mas porque escondo um segredo poderoso em minhas costas. Meus pais sempre me escondiam o porquê de eu ser corcunda, diziam que era normal, mas eu sabia que aquilo não era normal, até mesmo para qualquer outro corcunda.

Minha mãe me dizia que eu seria bonito senão fosse corcunda. Gostaria de discodar, achava que era só excesso de amor de mãe, mas eu realmente era bonito e ninguém podia negar. Era muito difícil para mim acreditar nisso, principalmente porque eu sofria bullying, não apenas por causa da minha corcunda, mas porque eu tinha cabelos grisalhos como o gelo também. Isso meio que fazia com que os outros alunos me achassem estranho. Meu pai nunca encontrou uma explicação científica para a cor do meu cabelo - já que eu era tão jovem -, e nem mesmo minha mãe convencia os outros dizendo que eu nasci assim.

Era meio difícil saber como foi meu nascimento, até porque minha mãe preferiu me parir de forma natural em casa, escondido de todo mundo, só meu pai e ela eram testemunhas do que realmente aconteceu. Minha certidão de nascimento eu só tirei uns anos mais tarde, e meu pai dizia para o atendente do cartório de que éramos rurais, mas eu não acreditava nisso. Eu sabia que a gente era urbano, e até demais, e que nasci em nossa casa de férias localizada numa região gelada da Cordilheira dos Andes. Minha mãe dizia que preferiu o parto normal em casa porque não existia cidade por perto e a mais próxima ficava muito longe, e também porque a bolsa estourou quando estavam nessa casa, mas eu não acreditava nisso. Passei muitas das férias de meus pais naquela casa minha infância inteira, e tenho vagas lembranças de quando eu tinha 3 anos que havia uma cidade por perto da minha casa, e nem era tão longe. Mas não era uma cidadezinha qualquer, era uma cidade gigante, populosa e moderna, e não acho que seria possível construir algo desse tamanho em menos de 3 anos.

Tentei esquecer isso tudo e viver uma vida normal, mas aos 15 anos tudo estava para mudar. Como eu dizia, sofria bullying na escola e um dia eu não aguentei mais. Toda vez que eu ficava irritado, uma estranha sensação de congelamento nas minhas costas começava, principalmente na corcunda. Eu estava num lugar isolado da escola, no intervalo da aula, e um grupo de valentões vieram atrás de mim. Começaram a me xingar, me provocar intensamente, e me bater bastante. Senti aquele congelamento novamente na corcunda, mas desta vez estava mais intenso.

Olhei para um pedaço de vidro quebrado no chão e percebi que meus olhos estavam ficando brancos, o ar começava a esfriar também, mas não me importei. Senti que meu ombro esquerdo estava se abrindo, como se os meus músculos pudessem fazer isso, então de repente um osso congelado começou a sair do meu ombro. Eu teria ficado aterrorizado, se não estivesse tomado pela fúria. Como em uma reação de instinto, peguei sem hesitar o osso e o puxei para fora. Percebi que ele era longo, afiado, com diâmetro grosso e largura fina, parecia um chicote, mas ele estava congelado, então deduzi ser um chicote de gelo. Percebi que, assim que tirei o osso, minha coluna estava reta e eu mais alto ainda, devia ser essa minha aparência normal. Deduzi que a corcunda era apenas a bainha daquele osso. Era esse o segredo que minha mãe tentava esconder de todos.

– F-Fredy, o-o que foi isso? - gaguejou um dos valentões.

Não me importei com o susto dos valentões, pois eu estava tomado pela raiva, e acertei em cheio dois dos valentões. Enquanto eu chicoteava, o ar que estava na frente do chicote se tornou gelado, e as costas daqueles dois valentões se congelaram. Alguns valentões ficaram paralisados de medo e não fugiram, mas eu percebi o que havia feito e guardei o osso de volta no lugar. A corcunda voltou então. Quando notei, um deles estava voltando com a diretora em sua companhia. Fui acusado de ter trancado os valentões no freezer e de tê-los deixado delirando, mas concordei com tudo, afinal, nada era pior do que descobrirem meu segredo. Fui expulso de lá e transferido para uma escola de crianças com problemas mentais. Desde então, prometi que nunca mais faria aquilo.