Tudo sempre começa da mesma forma: sinto o cheiro da terra molhada,sinto as gotas do orvalho caírem no meu rosto e eu abro os olhos. Me levanto ainda sem enxergar um pouco por conta da luz do sol e me pergunto que lugar é aquele. Quando olho para as minhas roupas reparo que estou vestida igual a Ahri do jogo League of Legends e,não são só as roupas,eu também tenho nove caudas e orelhas de raposa. Que diabos é isso?? Saio andando ainda meio tonta e sem entender a situação,quando de repente uma faca passa raspando na minha bochecha. Não sei quem a atirou mas não fico lá para descobrir. Saio correndo floresta adentro até que chego a uma clareira aonde,do céu,descem espécies de "anjos". Eles estão por todos os lados e não parecem amigáveis. Quando tudo parece estar perdido,eu acordo com o barulho do meu despertador. Então começa mais um dos meus dias monótonos da minha vida monótona.

Eu me chamo Aria,tenho 15 anos e sou uma gamer. Tenho longos cabelos pretos e olhos cor de mel. Os poucos amigos que tenho me apelidaram de Ahri,aquela garota meio raposa e meio humana do jogo League of Legends. Nunca me enturmei com as outras garotas por ser assim. Elas me chamam de esquisita por gostar de coisas que nenhuma garota normal gostaria e mantem distância de mim. Meus dias se resumem em ir pra escola,voltar pra casa,ver mais uma vez meus pais brigarem,me trancar em meu quarto e passar o resto do dia jogando. Não é uma rotina que eu goste,mas não posso fazer nada quanto a essa rotina. Minha vida está cada vez mais monótona e eu encontro o único refúgio nos meus jogos. Sempre escuto meus pais me falarem que estou viciada e que preciso socializar mais,mas eu não preciso disso. Não preciso de pessoas falsas que me abandonam quando eu mais preciso.

Mais um dia da minha vida monótona havia começado. Tomei banho,escovei os dentes,vesti o uniforme,fiz um rabo de cavalo desajeitado e fui pra escola. Mais uma manhã chata com aulas chatas se passou. Quando eu estava indo embora,ouvi uma voz me chamando:

— Aria! Espera ai! — Era o Tony,um dos meus poucos amigos. O seu nome verdadeiro era Antônio,mas ele preferia que o chamassem assim. Era um garoto de pele muito branca,olhos pretos e cabelos castanhos.

Eu me virei surpresa.

— O que?

— Os garotos vão lá pra casa jogar ps3 hoje,quer ir também? — ele perguntou.

— Ah...eu tenho um compromisso pra hoje à tarde. — Menti. Não queria ir porque não queria me juntar aqueles "amigos" dele. Eram uns idiotas com quem não vale a pena perder tempo.

Tony estufou as bochechas,cobriu a boca e segurou a barriga como se estivesse com ânsia de vômito e soltou uma gargalhada.

— Compromisso? Você? Conta outra,Aria. Todo mundo sabe que você não sai nem pra ir na padaria da esquina. — Disse ele ainda gargalhando.

— É sério,Tony. Tenho que ir a um lugar com a minha mãe hoje. É especial. — Menti novamente. Eu não iria nem amarrada.

— Descupe — Disse Tony sem graça — Não sabia. Então fica pra próxima,não é?

— Claro. Até mais. — eu disse,dando as costas para ele.

O clima está frio,parece que vai chover. — Pensei.

Chegando em casa,já ouvi o barulho da discussão e decidi nem avisar que cheguei. Simplesmente subi as escadas e me tranquei no meu quarto que,sem nenhuma surpresa,estava bagunçado. Fazem dias que não arrumo isso,mas não ligo.

Liguei meu computador e enquanto ele iniciava eu fui trocar de roupa. Tirei o uniforme e vesti uma blusa de manga comprida e um shortinho que sempre costumo usar dentro de casa. Tirei o rabo de cavalo e finalmente soltei os meus longos cabelos negros.

Desci para jantar. É pizza,pelo menos uma coisa boa no dia.

O jantar sempre é do mesmo jeito. Todo mundo calado,só o barulho dos talheres se batendo contra os pratos de porcelana,até os meus pais acharem mais um motivo para brigar.

Terminei meu jantar,lavei a louça e subi silenciosamente para o meu quarto.

Quando sentei na cadeira do computador ouvi uma leve batida na porta.

—  Entre. — Eu disse.

Quando eu me viro para olhar quem está atrás,é minha mãe com aquela velha cara de choro. Disse:

— Filha,sente-se aqui. Vamos conversar.

— Eu já sei sobre o que quer conversar. — Pensei.

— Você sabe que a situação entre eu e o seu pai está complicada — Ela começou — Eu não asseguro que vá durar muito mais tempo. Vamos pedir o divórcio mês que vem para dar um tempo para você se acostumar com a ideia.

— Mãe,eu não preciso me acostumar com a ideia. — Falei — Faz tanto tempo que vocês brigam dessa forma que é como se eu não tivesse pais. Ninguém me dá atenção,ninguém se importa como eu estou,ninguém se importa com nada na minha vida.

Ela ficou em silêncio. Sabia que tudo que eu falei era verdade,mas nunca se importou antes.

— Vou te dar um tempo para pensar — Disse ela saindo do quarto e encostando a porta.

Me virei imediatamente e voltei irritada para o computador. Decidi jogar League of Legends antes de dormir um pouco. Adoro cochilos à tarde.

Escolhi o campeão e assim a partida começou. Depois de 50 minutos de partida,vitória. Foi uma boa partida.

— Acho que vou jogar um pouco de xbox — pensei comigo.

Liguei o vídeo-game e comecei a jogar Metal Gear Rising.

— É melhor parar — Disse para mim mesma — antes que eu passe a tarde toda aqui.

Olhei para a tela,vi o Raiden e pensei que personagens de jogos tem tanta sorte. Não precisam viver nesse mundo normal e sem graça.

— Eu queria poder entrar num jogo. — disse irritadamente.

Mal fechei a boca e um grande buraco se abriu na minha parede.

— Que diabos é isso?

Do buraco surgiram Chell e Lara Croft.

— Finalmente te achamos,escolhida. — Disse Lara sorrindo.

— Hã? Estão me confundindo com alguém. Por favor se retirem do meu quarto. — Eu disse assustada.

— Eu acho que não. — Disse Chell atirando na outra parede do meu quarto assim que o outro buraco na parede atrás delas se fechou. — Chegou a sua hora — e elas me empurraram para dentro do buraco e pularam depois.

Caímos num lugar escuro e úmido.

— Droga,Chell. Tinha que nos fazer parar logo aqui? — Disse Lara irritada.

Chell a olhou irritada.

— Ainda bem que sempre tenho uma tocha de reserva para essas horas. — Disse Lara aliviada.

— Desculpe,mas onde nós estamos indo?? — Disse eu,ainda sem entender nada.

— Gameland,Aria. — Disse Chell.

Lara acendeu a tocha e fomos caminhando por o que parecia ser uma caverna.

— Espere,como você sabe meu nome? E que lugar é esse? — Perguntei assustada.

— Todos sabem,você é a escolhida. É o refugio de todos os,digamos,mocinhos dos jogos. — Disse Chell.

— Chegamos. — Disse Lara.

Uma luz forte bateu em meu rosto e quando consegui abrir meus olhos,só vi um tipo de floresta. Nada de anormal.

— Isso é a Gameland? Estou indo para casa,isso foi uma péssima brincadeira de mau gosto. — Disse eu,irritada.

— Se não fosse então o que você acha que estaríamos fazendo aqui? — Disse Lara.

Ela tinha razão. Se não fosse real elas nem sequer teriam aparecido no meu quarto de repente.

— Então cadê todo mundo? — Eu perguntei.

— Escondidos. Escondidos do grande mal que paira por essas terras. — Disse Chell.

— A situação está feia,Aria. Imagine um vilão,ele sozinho já é um grande problema,certo? Agora imagine todos os vilões juntos. — Disse Lara. — Entende a situação?

Eu fiquei boquiaberta.

Então escutamos um barulho de passos. Alguém correndo estava vindo em nossa direção.

Lara preparou seu revolver e apontou. Mas quando ele surgiu ela o abaixou na hora. Era um homem gordinho,usava um macacão azul e um boné vermelho e tinha um bigode engraçado. Era o Mário.

— Mamma mia! Aria,finalmente. — Disse ele.

— Por que todos ficam surpresos ao me ver? O que eu tenho de tão especial pra esse mundo? — Eu disse.

— A nova invenção do Eggman é um perigo enorme para todos nós. Ele pretende juntar todos os vilões num corpo só e se ele,ou melhor,eles conseguirem ficarão quase invencíveis. Bem,seriam invencíveis se você não estivesse aqui,Aria. Você é a nossa única salvação. — Disse ele.

— Eu? Salvação? Mas o que uma garota inútil de 15 anos pode fazer contra todos esses vilões juntos? — Eu disse assustada.

— Você já os derrotou uma vez,Aria. — Lara falou — Por que não pode derrotar outra vez? Você guarda o poder que todos nós precisamos. É a nossa única esperança. Se não nos ajudar,nós vamos desaparecer para sempre.

Continua...