Vocês ainda não me conhecem, mas espera que eu me apresento já. Sou uma garota comum, moro numa favela com minha mãe. Meu pai foi morto por causa de tráfico, ninguém mandou ele se meter com bandidos! Ele vivia pouco tempo comigo, vivia mais nesse mundo perdido das drogas do que com a própria família, ele dizia que tudo o que fazia era para melhorar nossa situação financeira, mas na boa? Se fosse para ter uma melhora que fosse de outro jeito, porque desse eu sinceramente não gosto e nem nunca gostei. Preferia ser pobre a ter uma vida de bandida. Ele também era viciado em jogo e foi assim que ele perdeu toda nossa fortuna, éramos talvez uma das famílias mais ricas de toda a cidade, mas graças a ele perdemos tudo por volta dos meus oito anos. Ele morreu quando eu tinha uns treze anos. Se você está se perguntando, meu nome é Elena. Tenho dezesseis anos e estou no pré-vestibular, sim, sou adiantada. Estudo numa escola de baixa renda, mas ainda assim não é pública, afinal com a educação desse país ninguém vai pra frente... Minha mãe é lavadeira, lava a roupa da comunidade toda... Eu trabalho há uns seis meses na casa de um ricaço, Teodoro Fonseca, ele é dono de uma rede de hotéis super chique, cinco estrelas... Ele vive só, não sei o que aconteceu sobre sua mulher ou nem mesmo se ele tem filhos, sei que o “velho” é bacana. Estamos no mês de Julho e estou de férias da minha escola. Agora durmo todo dia lá no serviço. Minha parceira de trabalho já está a oito anos trabalhando na casa dos Fonseca, ou do Fonseca, no caso. Ela se chama Maria, é como minha segunda mãe, me ajuda em tudo que pode no trabalho e vive fazendo comidas um tanto deliciosas para mim. Segunda-feira? Primeiro dia de “férias”, afinal que férias que eu tenho? Trabalho de segunda a segunda pro “seu” Teodoro.

Levantei na manhã de segunda, ainda com os olhos fechados já que eles se negavam em abrir-se pra ver o que os esperavam nesse um mês de “férias”. Fui me guiando até o banheiro com as mãos e assim que fiquei de frente para a pia briguei com meus olhos e forcei-os a olharem o quão ridícula eu estava com meu pijama de frente para o espelho brigando com uma parte do meu próprio corpo que negava obediência a mim. Eu não me achava tão bonita. Tinha os cabelos castanhos. E os olhos em algum tom de marrom comum, nada muito extraordinário! De jeito algum sou um tipo de mulher que faz os meninos enlouquecer, eu acho, sei lá! Minha mãe vive me lembrando do quanto sou esquelética, coisas de mãe, sabe? Eu até que gosto de mim. Tomei um banho ligeiro e coloquei meu uniforme de trabalho, fiz o famoso “rabo de cavalo” e comecei minha rotina de trabalhos.