Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 9
O telefonema no momento errado


Notas iniciais do capítulo

Sweet Bela obrigada pela recomendação! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/384593/chapter/9

Melina ficou um bom tempo esperando seu pai, depois do segundo dia de trabalho, estava na casa de sua avó, na esperança de se encontrar com ele, para lhe contar os últimos acontecimentos. Seu pai, sem sombra de duvidas, é um dos seus melhores amigos. Ele tinha que saber quão maravilhada ela estava se sentindo ao conseguir aquele emprego que mudaria muito coisa em sua vida.

Sem escolhas, afinal, ele tinha ido trabalhar, como sempre, ela contou tudo a sua avó. Que enquanto fazia chá e preparava panquecas, ouviu tudo com atenção e ficou orgulhosíssima de sua neta. Que não muito diferente do seu filho, é determinada, convicta do que quer, e que não precisa passar por cima de ninguém para obter o que deseja.

Mesmo assim, Melina não desistiu da ideia de esperar seu pai chegar, para que eles pudessem conversar. Ela sabia que tinha que acordar cedo no outro dia para ir a faculdade e que agora, também precisava trabalhar depois da faculdade, mas esperou por seu pai. Chegou até cochilar do colo de sua avó, enquanto ela lhe alisava os cabelos.

Acordou num pulo ao ouvir o ranger da porta principal. E lá estava seu pai, com um ar de cansado, parecendo mais velho do que realmente é. Melina correu para abraça-lo. Como quem não se veem há anos.

— Tenho tanto a te contar papai – Melina seguia com seu pai até o final do corredor. Onde era seu quarto. Seu pai estava calado, realmente muito cansaço, mas Melina não poderia esperar. E Alberto não poderia deixar de ouvir sua preciosa filha.

Ainda com as roupas que vestiu naquela manhã antes de sair para o trabalho, ele sentou-se a cama deixando o banho e a troca de roupas de lado, ouvia sua filha com atenção. Melina tagarelava animadamente sem parar. Tinha toda a atenção de seu pai só para ela.

Ela só percebeu depois de muito tempo que ele acabou adormecendo com sua falação. Ela não o culpou, afinal, havia trabalhado o dia todo, parecia tão cansado quando chegou, nem tomara um banho, nem trocou de roupas e acabou deixando o cansaço amolecer seu corpo até dormir.

Melina sorria admirada, observando sei pai dormir, mesmo que ainda estivesse sentado.

Sem fazer muito barulho, ela tentou move-lo, para deixa-lo de maneira confortável, com a cabeça sobre o travesseiro. Melina pegou no antigo armário um velho cobertor e cobriu o corpo de seu pai. Como se ele fosse uma criança.

— Boa noite papai – ela se encaminhou até a porta. Apagou as luzes e colocou a mão sobre a maçaneta. Estava pronta para partir e deixa-lo descansar. — Eu amo você.

Mas antes que ela pudesse fechar a porta, seu celular tocou escandalosamente no bolso de trás do seu jeans apertado.

Melina não soube se fechava a porta depressa, ou se tentava abafar o som do toque com as mãos. Optou por fazer os dois ao mesmo tempo. Por sorte seu pai estava tão exausto que nem acordou.

— Alô – Melina atendeu ao telefone. Encaminhando-se até a saída da casa de sua avó. Melina passou por Alexandra depressa, acenou um “até logo” e saiu sem mais palavras. — Quem está falando?

O outro lado estava mudo. Ninguém disse nada.

— Alô? – Melina insistiu impacientemente. Abria a porta do seu carro. No céu escuro caia uma garoa fina e gelada.

Ela se sentou na direção, ainda com o aparelho pendurado ao ouvido. Ainda ninguém havia dito nada.

Maluquinha? – foi tudo que disseram depois de um longo tempo. — É você?

— Quem está falando? – Melina estranhou tamanha intimidade. Tentou recapitular em sua mente quem se referia a ela como “maluquinha”. Por fim, ela não se lembrou de ninguém. Estranho.

— Oi. Sou eu. Lembra-se? O cara que bateu com o carro na traseira do seu. Naquele dia, chovia, você saiu feita louca dentro do seu carro por uma avenida movimentada – ele pausou dramaticamente. — Você é realmente muito doida.

O jovem ria. Melina sentiu a raiva subir entre as veias.

— O doido aqui é você – ela disparou. — Ficou maluco? Sabe que horas são agora para você está me ligando depois de tanto tempo depois do incidente? – eram onze e meia da noite. Tarde demais. — Você quase acordou meu pai...

— Ei, espere. Me desculpe. Eu tenho meus motivos para te ligado depois de tanto tempo. Estive ocupado com a primeira semana na faculdade. É tudo muito novo pra mim – ele se desculpou. — Como eu poderia saber que meu telefonema poderia acordar o seu pai...

— Simples – ela estava mesmo nervosa. Como poucas vezes se sentia. Melina não tem o hábito de se irritar com qualquer coisa. Mas só a voz daquele garoto definitivamente a tirou do sério. — Da próxima vez não ligue!

— Mas eu fiquei de ligar. Lembra? Ou esqueceu-se do incidente? Nossos carros se chocaram. Acidentalmente amassei a traseira do seu...

— Como eu poderia esquecer? – ela riu de maneira irônica. — Mas depois de quase um mês, era melhor não ter ligado. Eu mesma já resolvi o amassado do meu carro.

Ele ficou sem saber o que dizer.

— Era só isso? – ela quebrou o silêncio. — Eu preciso ir para casa! Já tarde! Tenho que desligar...

— Ei, não. Espere! – ele protestou. — Eu sinto muito por tudo. Pelo incidente, e por ter quase acordado seu pai. Eu não tive a intensão...

A voz doce dele era quase convincente. Mas só fez Melina ficar ainda mais irritada em ter que ouvi-lo. Ela poderia simplesmente desligar na cara dele e ligar o carro para ir embora. Mas por alguma razão não teve coragem, no fundo sentiu compaixão.

— Acho que não começamos muito bem – ele prosseguiu. — Gostaria de me encontrar com você...

— Para que? – ela foi grossa. — Não precisa mais se preocupar com meu carro. Eu já o concertei.

Na verdade, Alberto quem havia mandado concertar.

— Para que? – ele pareceu intrigado com a pergunta. — Para que possamos conversar melhor. Quem sabe até nos conhecer.

— Não, obrigada. Eu estou bem assim. Quanto mais você se manter distante, melhor pra mim.

Ela queria se poupar de sentir-se tão irada. Ele não causava sensações agradáveis nela. Por mais incompreensível que isso possa parecer.

— Não entendo – ele disse. — Maluquinha... Me dê uma chance? Umazinha? Eu prometo...

— Maluquinha é o caramba – ela o interrompeu. — E, por favor, não faça promessas vazias. Você não pode garantir nada.

— Realmente, não posso. Mas eu poderia mostrar o melhor que eu posso ser. Você nem me conhece e...

— Por favor, não insista – ela respirou fundo. — Eu realmente não te conheço. E seria melhor assim. Não tenho muito que se esperar de alguém que grita comigo no transito mesmo depois de ter batido no meu carro ou que me apelide sem ao menos me conhecer.

— Ei. Mas a culpa foi tudo sua! – ele elevou o tom. Imediatamente se sentiu mal. — Desculpe, outra vez. – ele voltou ao tom normal, um tom doce e leve. — Eu posso reverter essa situação.

Melina concluiu que por mais que dissesse não, ele insistira a ter convence-la do contrário. Ela acabou cedendo. Não poderia ficar ali parada dentro do seu carro discutindo com ele, insistindo em um assunto que poderia não ter fim. As ruas costumam ficar violentas tarde da noite, Melina poderia acabar se metendo numa fria.

— Está bem – ela suspirou. — Você venceu. Me ligue outra hora e marcaremos esse tal encontro. – Melina revirou os olhos. — Mas, por favor, me surpreenda. Não seja um babaca como você está sendo agora e como foi aquele dia.

— Combinado – ele sorriu satisfeito. — Te ligo outra hora e conversaremos. Eu te prometo. Não. Melhor. Eu vou te mostrar que posso ser melhor do que isso.

Despediram-se e Melina foi embora dali o mais rápido que pôde, duvidando muito que ele lhe provaria o contrário.

~*~

Era sábado à noite, Melina estava no banho enquanto Thomaz esperava por ela sentado sobre sua cama, folheando uma revista. Ela está demorando muito. Nesse momento, o celular de sua namorada tocou sobre o criado mudo. Thomaz pensou duas vezes antes de atendê-lo. Não tinha esse costume. Mas algo o impulsionou.

— Alô? Quem está falando? – Thomaz logo reconheceu a voz masculina do outro lado da minha. Quem seria?

— Oi. Sou Thomaz. Namorado da dona desse telefone. – ele soou um tanto grosseiro. — E você, quem é?

— Ah. Me desculpe. - Henrique engoliu em seco. — Acho que liguei no momento errado. Por favor, diga a ela, que eu liguei para saber como estão as coisas.

Antes que Thomaz pudesse perguntar que coisas seriam essas que ele estava tão interessado em saber, o outro desligou. Nem ao menos de identificar.

E pior, o que Thomaz diria para Melina quando ela saísse do banho? Omitiria o telefona? Ou diria a ela que um garoto havia ligado para saber que como estão as coisas? Thomaz não sabia. Estava enciumado. Sabia que Melina foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida. A garota mais doce, sincera, carinhosa que ele já conheceu. Qualquer um seria capaz de se apaixonar por ela facilmente, assim como ele. Com essa ideia rodando em sua cabeça, ele sentiu estranhamente ainda mais enciumado. Não queria perder Melina de jeito nenhum. Ou ele estava exagerado? Foi só um telefonema...

— Thomaz? Thom. – a voz fina vinha de muito longe. Thomaz nem reparou que Melina estava ali, diante dele. Já vestia, penteando os longos cabelos. — Ei.

— Ah. Oi querida – ele esboçou um sorriso. — Então, ligaram para você enquanto esteve no banho.

— Você atendeu? – Melina ficou surpresa. Thomaz nunca ultrapassava os limites. Não que ela tivesse temendo por esconder algo, pelo contrário. Apenas ficou surpresa com a atitude dele.

— Sim. Atendi. Desculpe – ele desviou o olhar. Um tanto constrangido por suas atitudes. — Ele não se identificou.

— Ele? – Melina ficou ainda mais surpresa. — Quem será? Eu não estava esperando o telefonema de ninguém.

— Não sei. – Thomaz deu de ombros. — Mas não gostei nada dessa situação.

Melina se aproximou tentando conter o riso.

— Por acaso, você está com ciúmes? É isso mesmo? – seu tom foi de brincadeira.

— Sim, estou. – Thomaz confessou. Não tinha porque esconder. Melina é sua namorada. — Louco de ciúmes!

Melina finalmente gargalhou.

— Oh Thom – ela sentou-se ao lado dele, segurando-lhe as mãos e com seus lábios bem próximos dos deles. — Você já deveria saber...

— Eu sei Melina. Eu sei. – ele se afastou. — Sei que você só tem olhos para mim. Mesmo assim, não é algo que eu consiga conter, tenho medo de te perder. Você é adorável, bonita, encantadora. Qualquer um seria capaz de...

— Não diga isso. – ela o interrompeu novamente se aproximando dele. — Eu sou só de você.

Thomaz ficou satisfeito com o que ouviu. Sorrio para ela e a envolveu em seus braços. Dando-lhe um forte abraço. Ele tem tanto medo de perdê-la, mas sabe que isso não será capaz, eles se amam tanto, não tem como isso acontecer.

— Está pronta? – Thomaz levaria Melina para jantar aquela noite, os dois vinham combinando esse momento há dias.

— Estou. – disse ela pegando sua bolsa. E passando rapidamente seu gloss. — Vamos?

— Vamos! Mas antes me dê um beijo – ele a puxou pela cintura de encontro seu corpo. — Você está linda!


~*~



O jantar foi maravilhoso. Melina e Thomaz aproveitaram para conversar e passar o resto da noite juntinhos. Trocando carinhos e palavras de amor. Como há tempos não faziam. Mais tarde, ele a levou até em casa. Melina tirou seu vestido preto e os sapatos altos, limpou o rosto removendo a maquiagem e prendeu os cabelos em um rabo alto.


Daniele lia um livro sobre a sua cama, estava tão entrosada em sua leitura, que mal falou com Melina. Ariela já tinha ido dormir. Afinal, era tarde da noite. Marcela, não muito diferente das outras vezes, foi para a casa do namorado.

— Estou sem sono – Melina comentou mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa. — Vou tomar um copo com água.

Encostada no pé da pia, Melina bebia sua água, de frente para janela. Olhando para o céu escuro sem estrelas daquela noite.

— Melina! – Daniele gritou do corredor, assustando a jovem. — Seu telefone está tocando!

Melina correu para atender, antes que acordasse Ariela. Antes de atender, agradeceu Daniele que voltou a sua leitura.

— Oi. – Melina ia em direção à sala de estar. — Quem está falando? Thomaz é você? Esqueceu-se de algo? – Só poderia ser ele.

— Não. Não é o seu namoradinho quem está falando – Melina ignorou o tom de ironia. Sabia quem era. Era ele. Claro! Outra vez ele ligando no momento errado. — Eu liguei mais cedo e...

— Ficou maluco? – Melina não deixou que ele terminasse a frase. Ela estava nervosa outra vez. Ele a tirava do sério. — Porque você resolve ligar sempre no momento errado?

— Como eu poderia saber? – ele já havia dado aquela desculpa uma vez. Ela provavelmente não acreditaria. Arrependeu-se imediatamente do que disse e de ter telefonado. — Desculpe.

— Tudo bem. – ela se acalmou. — O que queria? Quer dizer, o que você queria quando ligou mais cedo?

— Falar com você, só isso. – ele falou rápido demais. Quase sem pensar. Como se fosse automático. — Estive pensando muito em vo... – não era isso que ele deveria ter dito. Outra vez se arrependeu, xingando mentalmente a si mesmo. — Você não me disse que tinha um namorado.

— Não disse porque ainda não tivermos tempo para ter um conversa decente, lembra-se? – ela soltou um risinho. — Engraçado! Você tem tanta facilidade de mudar de assunto, assim, de repente.

— Não tivermos porque você está sempre irritadinha comigo!

— Você! Quem me tira do sério – ela disparou. De repente o comentário fez com que os dois se calassem. — Mas então – ela quebrou o silêncio que causou. — Porque me ligou mesmo?

— Para dizer que vou te buscar ai amanhã para aquele nosso encontro amigável. Mas antes que eu me esqueça, preciso saber o seu endereço. Não sou adivinho!

— Engraçadinho – Melina não riu. — Mas amanhã? Já? Você nem sabe se eu tenho compromisso.

— Imaginei que não. Ou vai me dizer, que você tem mesmo algo de realmente interessante para fazer em um domingo qualquer?

— Pensando bem – ela refletiu. Ele temeu sua resposta. E se ela tivesse? Estragaria todos os seus planos. — Eu não tenho mesmo.

— Ótimo! Te pego ai amanhã as duas. Você terá uma grande surpresa. - Ele desligou. Deixando Melina intrigada.

Ela estava deitada em sua cama, Daniele já dormia, as luzes estavam todas apagadas. Melina olhava para o céu através das janelas, pensando no telefona do garoto e lembrou-se do dia em que o reencontrou. Ele estava tão bonito de baixo da garoa, assim com ela, todo ensopado. Enquanto ela olhava para ele, ele estava tão irado, culpando-a pela batida que ele causou na traseira de seu carro.

A verdade, é que Melina já o conhecia de outros tempos. Nem fazia tanto tempo assim que tinha o visto pela ultima vez no ensino médio. Mesmo de longe, ela sempre admirou sua beleza. Ele tem os traços de um garoto de menos de dez anos. É tão bonito e natural.

Pena que ele nem a reconheceu. Será que ela estava tão mudada assim? Ou para ele, aquele tempo, não teve tanta importância quanto teve para ela?



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários são sempre bem-vindos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Luz Dos Olhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.