Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 8
O primeiro emprego




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/384593/chapter/8

Renato foi fazer um café fresco, enquanto isso, Nicolas mostrava seu quarto a Melina. Ela, particularmente, ficou encantada com a única foto que ele tinha de sua mãe, uma moça falecida muito jovem, ruiva, cabelos lisos e longos e olhos cor de esmeralda. Nicolas era muito parecido aparentemente com ela, eles têm a mesma ingenuidade nos fundos os olhos e isso agradou a Melina profundamente.

— Como ela se chamava? – Melina perguntou, sem conseguir tirar os olhos da fotográfica entre seus dedos.

— Carolina. – ele respondeu baixinho. Também olhando para a foto.

— Você sente falta dela? – Melina repentinamente perguntou, deixando a foto sobre a cômoda bem organizada e olhando com seriedade para Nicolas a espera da resposta.

— Não muito. Quando pequeno, eu sentia mais. – ele confessou, sem conseguir olhar diretamente para ela. Sorria levemente. — Não é fácil pra mim. Eu não tenho lembranças alguma dela. Há não ser as que meu pai relata quando tem vontade.

— Deve ser difícil pra ele também. – ela se sentou na ponta da cama, de olho em cada detalhe daquele cômodo bem planejado e perfeitamente bem organizado.

O silêncio entre os dois permaneceu impacto, até Renato bater de leve na porta acompanhado de xícaras com café.

— Soube que você está a procura de uma emprego Melina – não era uma pergunta. Estava mais para uma afirmação. — Nicolas comentou comigo.

— É. Eu gostaria muito de encontrar um emprego que fosse compatível com meus estudos...

— O que acha de trabalhar conosco no Focinho Molhado? Não pagamos grande coisa, mas seria muito gratificante termos você como funcionaria, trabalhando conosco dia-a-dia.

Focinho Molhado é o Pet Shop do pai de Nicolas. Onde ele trabalha desde os seus quatorze anos ajudando o pai como auxiliar geral. Com o tempo, Nick foi adquirindo experiência. Hoje, ele tem mais experiência e faz coisas que um dia jamais imaginou que faria. O trabalho além de ajuda-lo com o orçamento da família, ajudou-o também a melhor se comunicar com as pessoas, além de só aumentar a paixão que ele tem por animais, o que levou a fazer a mesma faculdade que seu pai, hoje um veterinário graduado, considerado um dos melhores profissionais da região e mais respeitado também.

— Bom... Eu nem sei o que dizer – Melina não conseguiu conter a alegria. Olhava para Renato e olhava para Nicolas, alternando. — Fico muito agradecida com a oportunidade. Mas eu não sei fazer nada...

— Nicolas pode te ajudar. Não é mesmo filho? – Nick assentiu. Estava tão feliz quanto Melina. Só de pensar na possibilidade que ele teria de passar mais tempo ao lado de sua amiga. — Foi ele quem sugeriu que eu comentasse com você a respeito do trabalho.

Melina olhou para Nicolas cheia de ternura e abraçou-o pela primeira vez. Sentindo seus braços fortes apreensivos em volta do seu corpo, inalou o perfume de sua colônia impregnando no colarinho de sua camiseta e pode sentir também o cheiro doce do xampu em seus cabelos recém-lavados.

— Muito obrigada! De verdade – Melina sorria. — Quando posso começar? Estou tão ansiosa!

— Amanhã você passa lá depois da aula para gente conversar melhor a respeito, tudo bem? – ela assentiu animada. — Vou deixar vocês a sós, quaisquer problemas me chamem. Estarei na sala de estar assistindo ao noticiário.

Renato se foi, levando consigo as xícaras vazias de café.

Nicolas sentou-se ao lado de Melina sobre a cama, ela rapidamente se virou para ele ainda sorrindo sem acreditar no que acontecia ali.

— Obrigada por falar com seu pai – ela acarinhou com o polegar as costas de sua mão. Ele, sentindo-se mais a vontade a sua aproximação em relação a ele, não recuou.

— Você merece – ele sorriu timidamente. Deixando a mostra suas belas covinhas. — Então, o que faremos o resto do dia? – de repente Nick teve uma grande ideia. — Vem! Vou te levar para conhecer dois seres muito especiais para mim.

A casa de Nicolas é um sobrado espaçoso, de fachada pintada de salmão, uma garagem na frente e um jardim nos fundos. Onde Melina foi surpreendida por casal de grandes cachorros da raça Boxer de pelagem caramelo, peito branco, focinho e olhos negros.

— Essa é Linda – Nicolas acarinhou o menor deles. — E esse é o veloz, Lupi.

Os dois jovens passaram o resto do dia no jardim brincando com os cachorros que apesar de grandes, eram dóceis, carinhosos e animados. Corriam de um lado para o outro, cansado Melina rapidamente. O céu acinzentado aos poucos foi se escurecendo e Nicolas e nem Melina perceberam. Estavam tão envolvidos em brincadeiras e tão entusiasmados um ao lado do outro que nem notaram que já a noite ganhava o céu e as horas passavam depressa.

De longe, pela janela da cozinha, Roberto observava discretamente a diversão do jovem casal.

— Meu Deus! Já são oito da noite! – Melina verificou no visor do celular. — Está tarde, preciso ir.

— Eu levo você. – ele disse prontamente. — Espere só um minuto, vou buscar um casaco.

Melina sentia o vento gelador bater de encontro ao seu corpo enquanto caminhavam até o seu prédio. Como havia saído cedo de casa não se preocupara em pegar um casado mais resistente ao frio que fazia nos últimos dias, acabou se arrependendo de não ter dando tanta importância.

Pelo canto do olho, Nicolas percebeu que ela tremia de frio, batendo o queixo e ao mesmo tempo tentando disfarçar. Ele nem ousou a perguntar, já sabia qual seria sua resposta. Apenas tirou o casaco que acabara de pegar no quarto e estendeu a ela.

— Tome o meu casaco. Vista. Você está tremendo de frio. Pode pegar um resfriado.

— Mas e você? – ela olhou preocupada, aceitando ao seu pedido. Um gesto de um verdadeiro cavalheiro.

— Não se preocupe comigo. Eu vou ficar bem. – ele sorrio e continuaram a caminhar sem trocar nenhuma palavra.

De frente para o prédio, Melina se virou para ele e já ia tirando o casaco para devolver, mas ele a impediu.

— Fique com ele. Fica melhor em você – ele sorria lindamente. Melina suspirou agradecida, voltando a se vestir.

— Não quer subir? Poderíamos... – ele não deixou que ela terminasse a frase.

— Obrigado. Melhor eu voltar para casa. Amanhã temos aula cedinho. É preciso dormir cedo.

— Você tem razão. – ela sorriu, depois beijou seu rosto, pegado o de surpresa. — Obrigada pelo casaco. Devolvo depois.

— Não tem importância. Fique o quanto precisar. – foi a ultima coisa que Nicolas disse até se despedir e voltar para casa.

Melina pensou muito sobre o nome emprego durante as aulas, quando devia, na verdade, se manter atenta. Mas estava muito empolgada e ansiosa até o encontro que teria mais tarde com o pai de Nicolas, o proprietário do estabelecimento.

Melina e Nicolas caminhavam vagarosamente até onde ele trabalha, os dois conversavam sob o céu nublado. Ao chegar de frente à loja, Melina ficou deslumbrada com o que encontrou. Focinho Molhado é um grande lugar, a fachada pintada de amarelo e desenhos em formatos de patas de cachorro por toda parte em preto. Além da porta de aço, para a segurança, há também a porta de vidro, onde fica bastante visível que ali se comercializa tudo que é necessário para os animais. Ou quase tudo.

Em letras grandes e visíveis está escrito:


FOCINHO MOLHADO


PET SHOP E CLINICA VETERINÁRIA.


Nicolas conduziu Melina até a entrada da loja, o doutor Renata já estava à espera do casal. Os três se cumprimentaram, e logo em seguida, Renato chamou Melina para subir até o seu consultório para poderem conversarem. Nicolas ficaria no piso térreo, na loja, onde colocaria seu avental e começaria o trabalho.


Melina sentou-se na cadeira de couro de frente para a mesa de Renato, onde ele se acomodou. Ela não conseguia deixar de sorrir. O consultório apesar de simples transmitia um ar de aconchego. Com porta-retratos por toda a parte, de Renato e Nicolas, além dos adesivos de animais expostos nas paredes brancas.

— Seja bem-vinda Melina – Renato também sorria. — Fico muito feliz que tenha aceitado ao meu convite. Será uma honra que você faça parte da nossa pequena equipe. Apesar de não pagarmos lá grande coisa, como eu já havia comentado.

— Não tem problemas doutor Renato...

— Bom, além de você e Nicolas, há também nosso motorista, Timóteo, e outra funcionaria, uma senhora aposentada de meia idade, que nos auxilia sempre que possível: Dona Isabel. – ele pausou, certificando-se de que ela compreendia. — Abrimos a loja e consultório de segunda a sábado. Porém, você precisará apenas vir na segunda, quarta e sexta. Para que o trabalho não venha pesar nos estudos. Não quero complicações...

— Doutor Renato – Melina interrompeu de forma educada. — Se o senhor precisa, eu virei todos os dias da semana. Sem problemas algum. Farei de tudo possível para conciliar o trabalho com os estudos.

Renato gosta do jeito de Melina. Ela é adorável.

— Estou certo disso. – ele sorriu ainda mais. — Mas não será necessário, Melina. Será melhor assim. Mas vamos combinar dessa maneira: caso eu precise de você nos dias que você tem folga, nós conversaremos, está bem?

Ela assentiu.

— E quando eu poderia começar? – ela foi objetiva. — Eu pouco sei fazer, mas posso começar limpando o chão, algumas prateleiras, qualquer coisa.

Renato soltou um riso.

— Nada disso. Você poderá começar agora mesmo. Fechamos todos os dias às sete da noite. Mas se você precisar sair mais cedo, fale comigo, sempre que for necessário. Em relação aos serviços, Nicolas vai de dar algumas dicas e sugestões e ensinar a você o que for necessário, com o tempo você pegará prática e adquire experiência.

Os dois acertaram as coisas por mais dez minutos e ao termino Melina desceu até a loja e se encontrou com Nicolas no final de uma dos corredores, próximo a venda de coleiras.

— Venha! – ele a pegou pela mão. — Vou lhe apresentar os outros dois. Eles também trabalham aqui.

— É. Eu sei. – ela o acompanhou. — Mas depois, você me ensina o que é necessário? Quero começar logo.

Nicolas soltou um risinho.

— Claro. Eu ensino sim.

Nicolas entrou-se com Timóteo e dona Isabel.

Timóteo é um homem de seus trintas e tantos anos, baixinho e rechonchudo, com uma barba por fazer. Isabel é uma senhorita, que muita lembra a avó de Melina, magrinha de pele sensível.

Os dois logo simpatizaram com a novata.

— Se precisar de algo mocinha, é só me procurar. – disse Isabel, antes de voltar ao seu trabalho. Ela limpava algumas prateleiras.

— Seja bem-vinda Melina. Caso precise de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, seja em assunto profissional, ou só quiser conversar ou pedir alguma favor. Me procure, ficarei grato em lhe ajudar.

Em seguida, Nicolas apresentou a Melina o restante da loja, deixando-a a par de tudo.

A loja apesar de grande, é toda bem organizada e planejada, tudo em seus devidos lugares, chão e prateleiras limpas. Alguns dias o movimento dos clientes eram mais constantes, outros dias, quase não tinha o que se fazer, além de limpar e organizar.

Há principio, para poder começar, Nicolas ensinou a Melina tudo que ela precisava saber. Ele logo deduziu, que com sua habilidade, leveza e jeito, carinho em fazia as coisas com atenção e determinação, ela logo saberia de tudo, tanto quanto ele. Era só uma questão de tempo.

O primeiro cliente entrou na loja meia hora depois, dona Isabel fez menção de ir até a simpática mulher atende-la e direciona-la, mas Nicolas apenas com um simples gesto pediu que ela deixasse por conta de Melina.

Ao entender que ela quem deveria se aproximar da mulher e perguntar o que ela queria, se precisava de ajuda ou de algo, Melina sentiu-se estranhamente amedrontada. Não saberia como fazer. Era sua primeira cliente. E se caso não levasse jeito para a coisa e acabasse perdendo seu primeiro emprego?

De longe Nicolas observou a reação de sua mais nova amiga, decidiu que ele deveria agir de alguma forma. Se aproximou da jovem, enquanto a cliente olhava algumas prateleiras, e pegou-lhe a mão com carinho. Nunca antes havia tomado a iniciativa de toca-la. Pareceu tão mais fácil do que ele imaginou que seria.

Olhou no fundo dos olhos dela.

— Vai, é sua vez. – ele sorria docemente. — Não tenha medo. Vai dá tudo certo. Confie em mim.

— Eu confio. – Melina conseguiu sorrir. Com Nick segurando a sua mão, passando-lhe firmeza e confiança, tudo parecia tão mais fácil, como se com ele tudo fosse possível. — Eu vou.

Melina se aproximou cuidadosamente da cliente, esboçou um sorriso, e imaginou se ele teria soado convincente ao invés de amedrontado. A cliente retribuiu o sorriso e admirou a jovem e bonita vendedora.

— Posso te ajudar senhora? – a voz de Melina saiu fraca, quase inaudível.

— Pode sim – a cliente se virou para a prateleira a sua frente. — Minha cachorrinha ainda é um filhote, brincalhona e bagunceira, ontem mesmo comprei uma coleira para ela, mas ela acabou destruído, mordendo até arrebentar. Será que você poderia me sugerir uma coleira com um material mais resistente? Se é que você me entende.

— Entendo. – Melina ainda sorria. Dessa vez sua voz saiu mais firme e menos desastrosa. — Comigo aconteceu o mesmo, quando minha cachorrinha era um filhote. – as duas sorriam com cumplicidade. Afinal, elas se entendiam. Haviam passado pela mesma situação. — Me acompanhe, por favor – Melina conduzia a mulher até o corredor seguinte. — Eu sugiro que a senhora compre...

A venda aconteceu com sucesso. Melina sentia o coração querer sair pela boca de tanta emoção.

— Meus parabéns! – Nicolas a abraçou forte. — Você foi ótima! Se continuar assim, fará muito sucesso entre os clientes. Sofro o risco até de perder o meu posto de melhor vendedor.

Os dois riram.

Aquela noite, depois do trabalho, Melina jogou-se sobre sua cama, pegou o celular dentro da bolsa e discou o numero que sabia de cor.

Thomaz atendeu ao terceiro chamado, ouviu sua namorada relatar animadamente como havia sido o primeiro dia de trabalho. Ela estava tão atônita mergulha em uma alegria inabalável, que ele quase ficou feliz por ela. Quase. Se não fosse os tantos problemas sem solução que ele tinha deixado de lado para atendê-la.

— Fico feliz por você querida – ele foi doce. — Mas estou até a cabeça de problemas para solucionar. Me desculpe, mesmo. Tenho que desligar. Teremos outras oportunidades para conversar.

— Tudo bem. Eu entendo – Melina não se aborreceu. Nada estragaria a alegria que ela sentia. Nem a falta de tempo do seu namorado quando ela tinha algo de importante a lhe dizer. Algo que havia acontecido com ela. Um marcante mais que especial.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Luz Dos Olhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.