Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 62
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer a todos que acompanharam Luz dos Olhos até aqui. Devo agradecimentos também, mesmo àqueles que abandonaram no meio do caminho ou até mesmo àqueles que não comentaram ou não se manifestaram. Obrigada a todos do fundo do meu coração. Mil vezes obrigada. Nunca haverão palavras suficientes para expressar o tamanho da minha gratidão por vocês leitores. Deixo um beijo a cada um de vocês que fazem tudo valer a pena.
Esse é meu segundo trabalho finalizados e estou grandiosamente satisfeita. Vocês são maravilhosos! ♥
Bom, agora sim, depois de enrolar, agora vocês finalmente poderão saber quem é o escolhido de Melina. Leia esse ultimo capítulo com muita calma e atenção. Não percam nenhum detalhe. Espero que vocês possam compreender essa escolha. E um detalhe muito importante, é que esse capítulo, diferentes dos outros, é narrado em primeira pessoa. Portanto, há três narradores: Nicolas, Henrique e por fim, Melina. Para que vocês possam entender melhor o lado de cada um.



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Naquela noite, ela havia feito uma escolha. A escolha que mudaria para sempre o rumo das nossas vidas. Éramos três. Agora somos apenas eu e ela. Sim, eu fui o escolhido. Ela me escolheu, mas meu coração já havia escolhido a ela desde o momento em que entrei naquele laboratório no primeiro dia de aula na faculdade, desastradamente cai no chão, todos riram, menos ela. Melina foi à única que não riu, se importou com o meu bem estar e não teve vergonha alguma de ir até mim puxar papo. Mesmo eu sendo estranho, tímido, reservado e um tolo. Sem saber, naquele momento, na nossa primeira conversa e troca de olhares, escolhemos um ao outro.

Não vou mentir pra vocês, no inicio as coisas foram acontecendo naturalmente. Fomos nos tornando amigos, depois melhores amigos e por fim amigos inseparáveis. Apesar dos contratempos, barreira e conflitos que surgiram com o tempo, como Analu, que atualmente está fazendo acompanhamento psicológico para se livrar daquilo que ela acha que sente por mim. Amor. Mas não é nada disso. Amar não é querer o mal da outra pessoa. E sim, o contrário. Amor é o que sinto por Melina, desde o inicio. Carinho, admiração, desejo (independentemente do tipo de desejo). Amor é o que Henrique sente por Melina, que mesmo depois da sua escolha, ele não tentou matar nem a ela e nem a mim. Simplesmente aceitou, pois amar é querer o bem da outra pessoa.

Naquela noite, quando ela desceu as escadas, percebi que eu e Henrique tivemos a mesma reação. Esperávamos a mais de horas pela aparição dela. E aquilo estava me deixando maluco, porque eu já não sabia mais o que fazer. Além do meu desejo de subir aquelas escadas, entrar naquele quarto e tira-la dali e leva-lo comigo mundo a fora para vivermos em paz longe daquela loucura.

Henrique estava calado tanto quanto eu. Não nos falamos. Ou melhor, o silêncio era aterrorizante. Sabíamos que estava acontecendo algo, mas não sabíamos exatamente o que. O mais curioso, foi que ele nem perguntou nada do porque Analu pular em cima de Melina com uma faca nas mãos. O motivo que só ela descobriu. E sabe-se lá porque e eu estava com uma vontade louca de dizer a ele toda a verdade. Seria mais justo se ele soubesse da verdade. Contada por mim e também por Melina, pois eu sabia, ela contaria a ele. Pois ela uma garota adoravelmente justa.

Resolvi quebrar o silêncio e começar a contar tudo desde o início, tentando explicar a ele com todos os detalhes. Ele me ouviu calado e atento. Não tive medo e nem vergonha de expressar meus sentimentos, por mais horríveis que soassem. Meu amor por Melina era/é capaz de qualquer loucura. E quando eu terminei de falar, ele só baixou o olhar e pensou por alguns segundos. Pensei que ele iria chorar.

— No fundo, eu já sabia. – foi tudo que ele disse entre um meio sorriso e outro. Depois nos calamos novamente.

Depois de um tempão que pareceu eterno, Melina reapareceu e chamou primeiro ele pra conversar.

Meu coração bateu mais forte, com medo. Será que ela deixaria pra trás tudo que vivemos na noite antes de Analu aparecer com a faca? Tive medo que ela pedisse pra eu esquecer o ocorrido, assim com ela pediu pra eu esquecer o nosso beijo. O primeiro beijo. Mas eu nunca esqueci e nem fiz questão de apagar de mim.

Não sei exatamente por quanto tempo eles conversaram, mas foi um tempão. Trancafiados naquele quarto lá em cima. Fiquei sentado, no começo. Esperando. Depois me levantei impaciente e andei de um lado pro outro. Roí todas minhas unhas das mãos e quase arranquei meus cabelos de impaciência. Fui também até a grande cozinha de luxo, bebi um pouco de água. Olhei pela janela e nada. Olhei as horas e nada.

Quando Henrique voltou a aparecer, estava sozinho. Deu um rápido aceno, passou por mim e se foi sem dizer nada. Percebi que por mais forte que ele tentasse parecer, no fundo estava destruído. Seus olhos estavam repletos de lágrimas e ele tentava segura-las. Quem sabe pra deixa-las desmoronar longe dali. Com mais privacidade. Mas eu não sabia se isso era positivo ou algo negativo.

Corri até lá em cima e fui ver como Melina estava. E como já era de se esperar ela estava destruída em pedaços. Juntei todos eles, recoloquei no lugar. Sabia que eles jamais voltariam a ser o mesmo, mas nos olhos dela ainda me restava um pingo de esperança. Coloquei-a pra dormir. Melina me pediu que eu não saísse do seu lado. Eu não sai, mesmo ainda não sabendo o que havia acontecido ali. Fiquei ali com ela sobre a cama, aninhados, passando a mão por seus cabelos e sentindo seu perfume. Com medo de não pode senti-los depois. E ela acabou dormindo sem me dizer nada. Foi melhor assim.

No outro dia, acordamos juntos bem tarde. Quando abri meus olhos, ela já tinha os dela nos meus. Estava acordada há algum tempinho me olhando. Fiquei envergonhado, como sempre. Mas não deixei isso me afetar. Me aproximei para sela-la com um beijinho, e ela permitiu ainda sem dizer nada. Acho que aquilo foi uma resposta positiva de que tudo ficaria bem dali em diante.

E mesmo sem ela ter dito nada pelo resto daquele dia, eu logo soube, eu fui o escolhido. E logo me senti o cara mais sortudo do mundo por tê-la só pra mim. Maravilhosa do jeitinho que ela é sem tirar ou acrescentar nada. Do jeitinho que ela é, do jeito que conheci e me apaixonei aos poucos, facilmente.

Há muitas definições para o amor. Mas nenhuma dela se enquadra no tamanho do meu sentimento por ela. As palavras são poucas, os gestos são pequenos. Dentro de mim tudo é imenso, sempre transborda, porque nem sempre há espaço para aquilo que cresce cada vez mais, dia após dia. Um amor que só aumenta com o tempo e nem sei onde isso vai parar. Tenho medo só de pensar.

Não digo que o nosso namoro vai durar para sempre, até que morramos velhinhos cheios de filhos. Sei que é essa a nossa vontade assim como a de qualquer outro casal que se ama de verdade. É nisso que eu penso todo o tempo quando estou com ela. Onde é que vamos estar dali dois anos, cinco, dez ou vinte. É incerto. Tudo é muito incerto, assim como a minha vida pode acabar amanhã sem eu antes eu ter realizado todos os meus sonhos. Mas nada disso importa. O que eu quero é ficar perto dela pelo tempo que for necessário para nós dois e se amanhã não for nada isso, caberá a mim guardar todas as nossas lembranças dentro do meu coração em um lugar onde ninguém vai tocar ou tira-las de mim.

Melina é tudo que eu preciso e tudo que eu sempre quis na minha vida. Minha primeira namorada, meu primeiro beijo. Quem sabe até minha única mulher. Minha esposa e minha única companheira na vida.

Quando estou ao lado dela, não é como se fossemos o tempo todo um casal de namorados. Ainda é tudo muito novo pra mim. Cada dia uma nova descoberta. É como se nunca tivéssemos deixado de ser amigos. Aqueles velhos amigos que caminham de manhã, levam os cachorros pra passear no parque, conversam durante a aula ou estudam no final da noite no meu quarto. E acho que isso é o que mais me agrada em nós. Pois acima de tudo, somos amigos. E o amor entre uma amizade nunca pode acabar se ela for mesmo real.

ALGUNS DIAS DEPOIS DO CASAMENTO

Estamos em dos quartos no apartamento. Quarto que antes Melina dividia com Daniele, mas que agora, mudou. Melina se mudou para o quarto ao lado junto com Ariela. Daniele, agora, tem o quarto só para ela e a bebê, Manuela. Assim elas têm o espaço necessário. Até que um dia, Rafael compre a casa que tanto deseja, e elas se mudem com ele. Por enquanto, estão todos em suas casas. Ele no apartamento em cima com os amigos e ela aqui, conosco.

Daniele pediu que passássemos a tarde com pequena Manuela para ela dar uma saída com Rafael. O que me pareceu justo, já que a bebê consome quase todo o tempo dela. Demos a ela uma folga.

Melina está segurando Manuela nos braços e balançando de um lado para o outro. A garotinha se acostumou a só dormir quando se é balançada. Costume. E eu estou logo ao lado, olhando para as duas.

Em dias como esse, que me lembra ter uma família, fico me perguntando se algum dia chegaremos a ter um filho, parece cedo, mas é sempre bom pensar, se esse filho se parecerá com ela ou comigo.

. — Espero que o nosso filhinho seja ruivo como você – ela comenta, como se lesse meus pensamentos.

Dou risada, surpreso tamanha coincidência. Estávamos pensando na mesma coisa no mesmo momento.

. — Acho que nunca vou conseguir demonstrar essa felicidade imensa que eu sinto quando estou com você. – eu digo a ela, acanhado, mas digo.

Melina sorri, tímida, bem natural.

Manuela dorme e é colocada no bercinho. Melina e eu deixamos a porta aberta, caso ela acorde poderemos ouvir da varada. Melina está debruçada sobre o parapeito da varanda e eu estou logo atrás a enlaçando com meus braços sentindo seu corpo pressionado no meu e o perfume dos seus cabelos no meu rosto.

É tudo tão gostoso. Mal posso me conter.

. — Que diria que te conhecer iria resultar nisso?

Ela se vira, contente por me ouvir, entrelaça meu pescoço e me beija lentamente. Sou muito romântico, um tolinho, a maior parte do tempo. Tenho a necessidade, sempre que estou perto dela, de alguma forma demonstrar o que sinto. Incansavelmente, tentando de alguma forma fazer com que ela compreenda o tamanho do meu sentimento.

— Eu te amo, Nicolas. – nos entreolhamos. O brilho dos seus olhos cor de avelã cruza com os meus. . — Sei que já disse isso pra mais outro dois. Mas nunca será da mesma maneira. Não importa quantas vezes amaremos em toda a vida, nunca será da mesma forma.

Isso me alivia. Porque sei que ela tem razão. Sei que ela já amou outros dois e teve momentos bonitos com eles assim como nós estamos tendo agora. Mas cada qual tem suas particularidades. Serão lembranças dela com eles, parte de Melina. Eu jamais poderia arrancar dela ou tentar tirar. Aconteceu. No passado. E ficou lá pra trás, por mais significante que foram. Ficou lá e eu estou aqui.

~*~

Estou na sacada do meu prédio. Um pouco antes de o sol nascer com Dimmy no colo – o cachorro, o Beagle que adotei um pouco antes de terminar com Melina. Ele é espaço e gosta de ficar no colo enquanto acarinho seus pelos curtos. Dimmy foi o nome que ela escolheu pra ele, uma das poucas coisas que eu pedi a ela depois do termino. Eu devia isso ao animalzinho e devia isso a mim mesmo.

Ele foi tudo que restou dela além das memorias. Uma pena que Dimmy não tenha podido conviver com a melhor pessoa que já conheci na vida. Mas sei que um dia, pode levar anos, estaremos recuperados, eu e ela, ao ponto de voltarmos a nos ver e conviver bem.

É fácil se apaixonar por Melina. Qualquer um ficaria de queixo caído, assim como eu fiquei, tamanha sua beleza interior e exterior. Por isso foi tão difícil perde-la. Mas eu, assim como algumas outras pessoas, já sabia que no fundo, ela amava Nicolas. Bastava admitir um pro outro que o que sentiam era muito mais que amizade.

Não fiquei com raiva de nenhum dos dois, pelo contrário. Sei que Melina está em boas mãos ao lado dele. E isso me conforta, pois sei que Nicolas não permitirá que nada de mal lhe aconteça. Assim como eu faria. Ele é a pessoa certa para ela. Por mais difícil que isso seja de admitir. Nunca duvidei do contrário. Foram feitos um para o outro e mesmo que não dure uma vida toda, vão fazer de tudo possível para chegarem próximos disso.

Aquela noite, quando ela me chamou pra conversar primeiro, eu já tinha em mente, mais ou menos, o que estava por vir. Enquanto subíamos as escadas até o quarto, eu um pouco mais atrás dela, tentei ao máximo me segurar. Não queria chorar antes do tempo. Primeiro eu ouviria o que ela tinha pra dizer, mesmo que Nicolas já tivesse me contado. Queria ver os olhos de Melina e sua expressão ao dizer a verdade, assim eu poderia ter a certeza ou não, se seria certo abrir mão dela para o outro, assim, sem questionar ou fazer nada a respeito.

Ela teve muita dificuldade em dizer as palavras. Chorava muito e soluçava enquanto limpava os olhos. Vê-la chorar partiu meu coração tanto quanto ouvir o que eu já sabia. Eu nunca gostei de vê-la sofrer, nunca quis seu mal. E sabia, mesmo sem que ela precisasse dizer, que ela também não queria me ver sofrer, pois se sentia culpada.

Não acho que ela tenha que se sentir culpada. Afinal, quem pode mandar no próprio coração? E se ela o ama, o que eu poderia fazer além de aceitar a verdade? Nada. Apenas ouvir e aceitar.

Difícil foi. Não houve coisa pior. Quando o que eu mais queria era viver uma vida toda ao seu lado sem precisar de mais nada além da sua companhia. Ela foi o que eu sempre quis. Esperei por muito tempo até tê-la em meus braços. Namoramos por alguns meses. Foram poucos, mas o suficiente para tornar nossas lembranças inesquecíveis.

Sinto falta dela. Todos os dias. Principalmente ao acordar e vê que ela não está ali ao meu lado. E ao me deitar, saber que no outro dia não a verei igualmente aos outros dias. A ausência dela em minha vida foi muito difícil lhe dar nos primeiros dias depois da nossa separação.

Mas dizem que o tempo cura. E eu verdadeiramente acredito muito nisso. O tempo vai passar. Vou me acostumar e me adaptar. Talvez eu nunca vá me recuperar, sei que isso será pouco provável, mas as coisas vão melhorar com o tempo. O tempo me conforta, além de saber, que onde quer que Melina esteja, ela estará feliz com a pessoa certa. Ela fez uma escolha. Quem sou para julgar?

E quando eu dizia, que sempre estaria com ela, eu falava sério, mesmo que não estejamos lado a lado. Eu sou como o sol em dias nublados. Seguirei seus passos e a acompanharei, mesmo que ela não sinta a minha presença e não possa me ver recoberto pelas nuvens.

Pego meu violão, na cadeira ao lado, e encaixo em meu colo de uma maneira que não incomode a Dimmy que dorme tranquilamente sem nenhuma preocupação. É mais um sábado qualquer que poderíamos estar fazendo qualquer outra coisa. Ter saído com meus amigos, estar caminhando lá fora ou jogando videogame com meu irmão. Mas não, eu estou aqui, parado e sozinho curtindo meu momento.

Lembro-me que quando não tínhamos muito que fazer e estávamos juntos em meu quarto, eu pegava o violão e cantava para ela mesmo sabendo que não tinha lá uma voz muito boa para a música. Mesmo assim Melina gostava, me aplaudia e elogiava.

Nesse momento, começo a tocar uma canção. Atualmente ela é uma das minhas favoritas. Pois se encaixa perfeitamente na situação na qual estou vivendo agora.

O resto é nada mais (Sonho de um Visconde) da Banda Fresno.

Eu não fui ao casamento dos pais dela. Mesmo depois de três meses após nosso termino. Eu ainda não me sentia preparado para reencontra-la e vê-la com ele. Um dia estarei. Por enquanto não. Prefiro me manter distante e em recuperação. Mas sei que quando ela percebeu que eu não iria, ela me entendeu. Seria melhor assim, não só pra mim, como também pra ela. Melina foi um marcante muito importante na vida para se esquecida de um dia para o outro. Na verdade, eu nem sei se quero esquece-la. Sei que, além disso, não é algo que se jogue ao vento como se não tivesse um significado e uma lição.

Não sei se algum dia encontrarei alguém como ela. Acho que nem quero. Porque sei que ninguém se comparará a Melina. Ela é única e estará sempre em meu coração, trancafiada em sete chaves onde ninguém vai chegar e tira-la de mim. Ninguém. Melina sempre fará parte do meu passado. Só do passado. E eu, uma hora outra, sei que vou ter que seguir enfrente, talvez encontre alguém legal por ai que possa compartilhar uma vida a dois.

Por enquanto, vou seguir enfrente sozinho. Apenas eu e Dimmy e as lembranças de um passado do qual não me arrependo. Vou focar na minha carreira. Vou estudar e não pensar em mais nada além de mim mesmo. Mas estarei sempre preparado, caso um dia, o amor resolva bater em minha porta e me dar uma segunda chance.

ALGUNS MESES DEPOIS

Estou no ultimo semestre do primeiro ano da faculdade antes do recesso e as festas de fim de ano. Acabo de finalizar meu ultimo exame de uma das matérias que considero mais difícil.

Caminho rapidamente entre os corredores da faculdade ignorando tudo a minha volta com a mochila presa em um dos ombros. Preciso chegar ao trabalho a tempo, há muitas coisas importantes para serem resolvidas em um pequeno prazo de tempo.

Como já era de se esperar, sempre que estou atrasado e com pressa, algo ruim acaba acontecendo pra piorar a situação. Não sei bem o que aconteceu, mas quando dei por mim, minhas coisas já estavam espalhadas todas pelo chão. Precisei agir rápido, ignorando quem havia esbarrado em mim acidentalmente. Deveria ser um babaca qualquer que não olha pra onde anda ou que esteja tão atrasado quanto eu. Só sei que preciso pegar minhas coisas rapidamente antes que sejam pisoteadas.

— Me desculpe. Deixa eu te ajudar. – ouço uma voz ao meu lado. Há alguém abaixado ao meu lado me ajudando a recolher minhas coisas.

— Obrigado. – viro-me para olhar pela primeira vez e conferir quem foi o culpado por aquele acidente.

Fico surpreso ao vê-la. Esboço um sorriso tímido. Meu coração acelera mais rápido e me sinto estupido por isso.

Ela é linda! Tem os cabelos castanhos cortados em Chanel com as pontas repicadas em constaste com sua pele alva e seus olhos são de um acinzentado magnifico. Cor de olhos raros.

— Eu sinto muito. – ela sorri sem jeito. — Eu sou Lara. – ela entende as mãos para um cumprimento. Não consigo parar de olhar pra ela, admirado. — E você, quem é?

— Eu sou Henrique – aperto sua mão. — Prazer.

Não sei bem dizer. É uma sensação prazerosa, apesar da insegurança. Sinto que já a conheço de algum lugar, mesmo sem conhecer. É uma sensação parecida de quando me deparei com Melina pela primeira vez no corredor do colégio no ensino médio.

Sinto um pingo de esperança crescer dentro de mim. E me pergunto se o amor está me dando uma segunda chance. Se aquele encontro seria algum sinal do destino ou do acaso. E se eu estaria preparado para recebê-la em minha vida ou se estaria exagerando imaginando coisas muito além do que ela realmente são.

Não sei. Mas quero arriscar.

~*~

Estou com Nicolas. Ele foi meu escolhido. Preferi a luz vermelha e o calor do seu toque que a luz azul e o gélido de suas mãos. Sei que o vermelho e calor combinam bem mais comigo que o azul e o frio.

Mas confesso, que mesmo com Nicolas, ainda penso em Henrique na maior parte do tempo. Não que eu esteja arrependida por estar com Nicolas e não com Henrique. Pelo contrário. Fiz a escolha certa. A resposta estava em meu coração. Mas eu me preocupo com Henrique, penso onde ele estaria, o que faria e se estaria feliz ou se encontrou uma nova pessoa para preencher o vazio que deixei em seu coração.

Há algum tempo, recebia ligações anônimos durante a noite. Um pouco antes de dormir. Duvidei que pudesse ser Thomaz, quando batesse a saudade. Mas então, me enganei. Só poderia ser Henrique. Eu tive certeza quando em uma das ligações, mesmo ele não dizendo nada e não se identificando, no fundo, além da sua respiração, eu ouvi a música que costumava tocar quando estávamos juntos.

When I Was Yours Man do Bruno Mars.

Essa sempre seria a nossa música, entre muitas outras, ela é a mais especial pra mim. E sempre que a ouço, fecho os olhos e penso nele, pois o amei demais por um longo tempo. Talvez por anos. E eu não poderia deixar de me lembrar dele mesmo depois do fim.

O que vivemos estará sempre comigo. Assim como a sua presença constante em minha vida. Exatamente como ele dizia. Não é uma presença física, é algo muito, além disso. Algo mais profundo.

Quando Nicolas me pega pensativa, sei que ele percebe e sabe exatamente no que estou pensando. O melhor é que ele não se importa e me entende muito bem. Como sempre entendeu. Nick, é muito mais que um namorado, ainda é meu melhor amigo. A única pessoa que conhece a mim melhor que qualquer outra. Até mais que meus pais.

Minha vida não poderia estar melhor. Hoje, tenho tudo que eu sempre quis. Meus pais estão casados com outras pessoas, pessoas que eles amam de verdade. Tenho os melhores amigos do mundo e uma sobrinha, a Manuela, que cresce a cada dia. Meu primeiro namorado, Thomaz, mesmo morando há quilômetros de distancia acabou se tornando um bom amigo. Nos falamos sempre por telefone. Sua família sempre vem me ver. Daniele enfim se acertou com Rafael. Ariela com Marcos. Não tenho noticias de Marcela, e apesar de tudo, espero que ela esteja bem. Vovó ainda é o espelho de pessoa que eu quero ser quando for mais madura. Ainda faço faculdade de medicina veterinária e me desempenho a cada dia. Ainda trabalho na loja do tio Renato que hoje é o meu sogro. Nicolas é o meu namorado e eu sou feliz ao lado dele.

Eu não mudaria nada e nem acrescentaria. Apesar de sentir muita falta de Henrique. Especialmente dos nossos momentos. Aqueles, antes mesmo de começarmos a namorar, quando ele aparecia de repente e me fazia surpresas. Os passeios tão prazerosos e divertidos. Gostaria que isso nunca tivesse mudado entre nós dois.

De repente, sinto que há algo que eu possa fazer. Mas temo estar enganada. Talvez ainda não seja o tempo certo. Talvez eu deva esperar um pouco mais. Alguns anos talvez.

Aprendi que devo confiar na voz que vem do meu coração. Ela tem sempre razão e as respostas estão todas ali. No momento, ela diz que eu não estou enganada. É hora de agir. Se eu não agir, vou perder algo muito valioso pra mim. E não é o que quero mesmo depois de tudo.

Pego meu telefone celular no criado-mudo e disco aquele antigo numero que sei de cor.

Quantas vezes eu liguei pra ele quando mais precisei e Henrique sempre me ajudou?

Chama. Chama. E ele não atende. Encarando o visor do celular, fico me perguntando se ele estaria me evitando. Ou talvez esteja ocupado demais para me atender.

Melhor tentar outra hora.

Não! – a voz diz. Volto a telefonar.

Então, ele me atende quando menos se espera. É bom ouvir a voz dele, mesmo depois de meio ano sem ter noticias suas. Sinto-me reconfortada e não me arrependo do que acabo de fazer. Quando eu namorava Thomaz, sabia que Henrique se arriscava muito por mim. Por vários motivos. Ele aparecia sem dizer ou telefona sem avisar. O que me irritava bastante, mas era só um jeito de disfarçar que eu realmente adorava quando ele aparecia de repente. Amava tudo que ele fazia, até mesmo quando me provocava. É hora de retribuir os favores.

Conversamos por um longo tempo, até eu reunir coragem o suficiente para fazer um convite.

Ele aceita. No sábado de manhã nos encontramos no parque. Vejo-o de longe se aproximar devagar. Bonito como sempre. Nada mudou e nunca vai mudar. Ao seu lado, caminhando animadoramente está o seu cãozinho, Dimmy. Que também é uma parte de mim. Já que Henrique o adotou na intensão de que o animalzinho fosse um filho para nós. E ele é, acredite. Filho de pais separados.

Bel, minha cachorrinho que também veio para o passeio, balança o rabinho, agitada. Está empolgada com o programa que elaborei para esse sábado. Algo que pudesse agradar a todos.

— Me atrasei muito? – ele sorri torto. Admiro-o.

— Por um momento pensei que não viria. – suspiro aliviada.

Caminhamos lado a lado. Conversando. Henrique faz perguntas sobre a minha atual vida. E eu faço as mesmas perguntas, curiosa.

Quando ele me olha, sinto meu rosto corar. O que sinto por ele ainda está acesso dentro de mim. Mas isso não me incomoda. Ele é muito importante pra mim. E não quero perde-lo, mesmo que não tenhamos dado certo. Diferentemente de quando terminei com Thomaz, com Henrique tudo é mais intenso, ele é bom e me faz bem demais.

— O Nicolas não achou ruim nos encontrarmos?

— Nenhum pouco. – sorrio satisfeita, falando a verdade.

O sol do fim de tarde reflete nos cabelos de Henrique, deixando-os mais claros, quase dourados. Suas bochechas estão rosadas, ficam assim quando ele pega sol. E eu acho tudo muito bonito. Sempre achei. Ele é um garoto muito bonito e tentadoramente encantador de um jeito único e natural.

Quando chega a hora de nos despedimos no final daquele passeio, o abraço forte, apertado. Sinto o cheiro do seu perfume. E sinto também que as partes remendadas do meu coração se preenchem de uma sensação reconfortante. Como uma cura. Como se finalmente as coisas estivessem em seus devidos lugares, no momento certo. E quando o vejo partir, não há dor, e sim um alivio enorme de saber que ele está bem. Como eu gostaria que estivesse ou ainda melhor do que eu esperava.

Em casa, ao anoitecer, Nicolas já está me esperando. Eu nem preciso dizer nada. Ele mesmo pergunta. Pergunta como foi o encontro e o passeio com os cãezinhos. Não deixo de fora nenhum detalhe. Sei que ele está interessado e não pergunta só por perguntar ou porque está com ciúmes ou algo do tipo. Nicolas realmente se importa. Ele até gosta de Henrique. Diferentemente do começo. Quando os dois não gostavam um do outro por puro ciúme. O que é relevante.

Se vida já estava feliz mesmo quando faltava um pequeno detalhe, ficou ainda mais empolgante agora que tudo está completo, ao saber que Henrique está bem o suficiente para voltar a me ver. Ele até chegou a dizer que está saindo com uma garota, Lara. Mas que não tem certeza de nada. Fico feliz por ele. Ele merece. É adorável, doce e qualquer uma seria feliz ao seu lado. Ele é incrível e merecedor.

Nicolas está quase caindo no sono ao meu lado. Seus olhos insistem em se manter aberto enquanto falo mesmo quando eles querem se fechar. Solto um risinho e resolvo me calar.

— Não pare, por favor. Gosto de ouvir o som da sua voz.

Ele sorri e eu sorrio pra ele. Cada vez mais impressionada tamanha sua beleza. Seus fios ruivos e seus olhos esverdeados.

Impressionada como a vida ainda pode me surpreender mesmo quando acho que não sou merecedora.

— Eu amo você.


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Notas finais do capítulo

Espero, sinceramente, que não estejam decepcionados comigo e com o final que eu dei a eles. Eu sei que muitas aqui preferiam ao Henrique. Mas eu posso me explicar, caso você não tenha gostado de Melina escolher ao Nicolas. Na verdade, quando eu pensei em escrever essa história, na minha cabeça eu já tinha um final para ela. Mas conforme eu fui escrevendo, assim como vocês, fui me apaixonando pelo Henrique e ainda mais pelo Nicolas. Mas o que realmente importa aqui, é que os três tiveram um final feliz, e mesmo que nem sempre o autor possa nos satisfazer por completo, há sempre uma lição. E a lição é a que fica.
Mais uma vez eu agradeço. E espero que vocês, todos, tenham gostado do final. Eu não vou parar de escrever, como já disse uma vez, é o que eu gosto de fazer. Então, quem quiser acompanhar as minhas próximas histórias, é só dá uma olhadinha no meu perfil. Sempre haverá coisas novas.
Beijão! ♥



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