Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 61
Luz dos olhos


Notas iniciais do capítulo

Depois do primeiro dia de ENEM, o penúltimo capítulo ♥



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TRÊS MESES DEPOIS

É o dia do casamento de Verônica com Jonathan e Leila com Alberto. A ideia do casamento duplo fora da própria Verônica. Ela fez o pedido há Alberto alguns meses atrás em um jantar em sua mansão. Ele não aceitou de cara. Seria uma proposta a discutir junto de Leila. Que é claro, para o bem de todos, acabou concordando. Ela e Verônica acabaram se tornando boas amigas, apesar das diferenças. Verônica motivou e incentivou Leila todo o tempo a respeito do casamento. Juntas, elas planejaram tudo desde o inicio. Verônica nem mais parece àquela mulher rude e fria do inicio do ano. O amor realmente a transformou.

O dia lá fora é lindo. O que favorece ainda mais para que o dia seja realmente incrível. Faz sol e quase não há nuvens no céu. Uma brisa suave balança a copa das palmeiras.

Melina sabe que está atrasada. Começou a se arrumar muito cedo aquela manhã de domingo, mas acabou acontecendo alguns contratempos que ela não poderia deixar pra ultima hora. Agora, a todo vapor, tentava ao máximo agir o mais depressa para não chegar atrasada a cerimonia do casamento de sua mãe e de seu pai. Casamentos que por sinal aconteceriam separadamente. Sua mãe casando-se com outro e seu pai com outra. Nada parecia mais normal. Finalmente, ela conseguira a felicidade tanto do pai quanto da mãe. Se algum dia eles não deram certo, pelo menos agora, mereciam uma segunda chance.

A cerimonia aconteceria no pátio da grande mansão de frente para o mar. A mesma casa onde alguns meses atrás Melina sentiu o maior pavor de sua vida. Nunca esteve com tanto medo. Por sorte, foi salva por Henrique. Não saberia dizer qual seria o desfeche daquela história caso Henrique não tivesse agido a tempo e impedido Analu de atingi-la. Por pouco conseguiu escapar da morte. Sim, Analu lhe acertaria em cheio.

Tais pensamentos não trazem conforto, Melina faz de tudo para se livrar deles enquanto puxa o zíper lateral de seu vestido azul claro.

Os muitos convidados, em média duzentos, estão espalhados entre as mesas e cadeiras, sendo servidos e reconfortados pelos profissionais incluídos no bufê de decoração da cerimonia.

Entre eles, está Ariela e seu namorado, Marcos. Os dois não se desgrudam desde que se reencontraram. Brigam algumas vezes, mas estão sempre trocando carinhos e juras de amor.

Marcela e Leonardo também foram convidados, e estão na mesma mesa que o outro casal. Os dois bebericam a taças de champanhe. Leonardo fala sem parar. Marcela, em seu vestido vinho e saltos agulha, está mais preocupada com outras coisas e mal presta atenção nas palavras do noivo. Mas tenta disfarçar, mostrando interesse.

Já Daniele em seu vestido longo rosa claro, já recuperada cem por cento da gravidez, está em outra mesa menor, mais afastada dos outros amigos, com a pequena Manuela nos braços.

A bebê é linda como um anjo. Seus olhos são claros como os da mãe e do pai. Um azul que às vezes se mistura com o verde. E poucos cabelos no alto da cabeça tem o tom amarelado dando contraste com sua pele dourada.

Manuela tem uma tiara cor-de-rosa presa nos poucos cabelos, ela veste um vestidinho branco com florzinha e um sapatinho branco. Já com quase três meses, desde que nascera Manuela aparenta traços delicados e sutis. Quase não chora e nem dá trabalho. É uma criança esperta, risonha, mas que passa a maior parte do tempo dormindo. Só acorda mesmo para mamar.

O pai, Rafael, está ao lado. Ele deposita um beijo cuidadoso na bochecha gorducha da filha para que ela não acorde. Rafael é um papai babão. Está sempre presente e quer o melhor para sua filha. Que foi a melhor coisa que poderia ter lhe acontecida na vida. Sua salvação e esperança de torna-se uma pessoa melhor a cada dia.

Desde o dia em que viu de perto sua filha nascer como uma luz no fim do túnel, Rafael vem se desempenhando. Procurou emprego e achou. Comprou presentes para a filha e fez uma reforma geral em toda sua vida. Descartando tudo que não lhe era favorável, tudo que lhe atrapalha e o impedia de ser alguém bom. Hoje, ele está mudado. Aos poucos vai melhorando. Está justando dinheiro e o próximo passo é dar uma vida melhor, talvez quem sabe comprar uma casa, para ele, para a filha e sua namorada. Daniele. A única que algum dia se importou de verdade com ele e acreditou em suas palavras, até mesmo quando ele não falava sério. Ela esteve ali, o apoiou e acima de tudo o amou pelo o que ele é mesmo não sendo o melhor.

— Eu amo vocês! – ele sorri para Daniele, que está ainda mais bonita aquela tarde, com seus cabelos louros emoldurando o rosto. — Não vejo a hora de o nosso dia chegar. O dia do nosso casamento!

Daniele não resiste em beija-lo. Ficar com Rafael, o desejo que ela sempre manteve trancafiado dentro de si, não foi fácil. Daniele precisou ultrapassar muitas coisas para ser aceita. Precisou fazer uma escolha. A vida é feita de escolhas. E ela escolheu ficar com ele, mas poderia ter escolhido qualquer outro. Mas preferiu ao pai de sua filha. Pois ela sente que tem um dever: estar ao lado dele. E é ali que quer ficar.

~*~

Enzo está inquieto observando sua mãe se arrumar. Ela está em uma das suítes, rodeada por outras mulheres, admirando seu vestido de noiva, arrumando seu cabelo, lhe maquiando. Tudo ao mesmo tempo.

Ele gostaria de poder de sair dali, para longe daquela movimentação que evidentemente estava deixando sua mãe louca. Enzo queria poder correr lá fora, encontrar-se com Melina, sua nova irmã de consideração. Mas havia dois poréns que o impediam. O primeiro: Melina ainda não estava pronta, onde quer que esteja, ainda estaria muito ocupada. Afinal, ela é um dos centros de atenções. Assim como ele. Filha de uma das noivas. E o segundo porém: ele não pode sujar seu traje de gala. Ninguém quer ver o filho de uma das noivas sujos ou correndo por ai com as outras crianças comuns.

— Mamãe? – ele a chama. Todas se voltam para ele curiosas, pois até então ele se mantera calado e quieto. Enzo timidamente sente as bochechas arderem. — Posso ficar com o pai Alberto?

— Claro meu filho! – ela sorri, aliviada. — Tome cuidado, Enzo.

E ele sai. Sabe que, Alberto está lá em baixo, entre os convidados como o outro noivo, Jonathan. Eles sorriem, tiram fotos e tranquilizam os convidados em relação ao atraso das noivas.

Verônica está na suíte ao lado, também rodeada de ajudantes que ajustam seu vestido de noiva, retocam a maquiagem e dão alguns toques finais no penteado.

A cerimonia se iniciará dali meia hora.

Onde Melina se temeu?

~*~

Pronto!

Ela está quase pronta. Só faltam os sapatos. Sapatos pretos de salto alto. E o ultimo retoque na maquiagem. Seus cabelos longos estão emoldurados em cachos. Seus lábios miúdos levemente pintados de um rosa claro e seus olhos cor de mel ressaltados pelo lápis preto.

Melina dá uma ultima olhada no espelho.

Ela já está pronta para sair. Sabe que, lá em baixo deve estar uma correria. Os convidados conversando entre si, os noivos preocupados, as noivas ainda atrasadas e todos disfarçando a ansiedade para aquele casamento finalmente acontecer. É algo épico.

Devagar e aos poucos ela desce as escadas da mansão segurando no corrimão. Há algumas poucas pessoas na sala de estar. Ela cumprimenta a todos gentilmente. E quanto mais se aproxima do local da cerimonia, mais pessoas vão aparecendo. Todas sorriem e param para cumprimenta-la ou dizer algo. Outros tiram fotos.

Será que todos meus amigos já chegaram?

Provavelmente todos eles. Menos um.

Quando Melina abre a porta para os fundos, é surpreendida por uma corrente de ar que balança seus cabelos e lhe atinge em cheio. Ela olha para os lados e acena. Estão todos ali. Mas sempre vai faltar alguém. Ele. Ele não vem. Disso ela tem quase certeza.

Dolorosamente, ela se pega pensando no momento em que precisou tomar uma decisão. Logo depois do incidente com Analu com a faca. Melina ficou sozinha, sem ninguém por perto e pôs a cabeça pra funcionar. É claro que não poderia adiar aquela situação. O quanto antes se decidisse entre um deles, Nicolas ou Henrique, mais tempo teria para ser feliz logo depois de sua escolha. Mesmo que isso ferisse algum deles. O outro teria que entender. Se colocar no ligar dela, sabendo que ela também sofreria, de um jeito ou de outro.

Muitos a julgam até hoje. Ela sabe disso. Muitos disseram que ela foi egoísta e cruel. Mas para Melina não é nada disso. Só não suportaria mais sobreviver dividida. O tempo todo sem saber para onde correr. Ela só queria, que quando tivesse que fugir da realidade, pensasse em uma única alternativa. Um deles. Não nos dois. Nas duas possibilidades. Isso era injusto, tanto quanto para ela, quanto para eles. Nenhum dos dois merecia algo assim. Deveria abrir mão de um. Sabendo que não poderia ficar com os dois. O outro deveria ser feliz, mesmo longe dela, uma hora ou outra, conheceriam alguém melhor para compartilhar uma vida. Mas para isso ela precisava liberta-lo.

Foi como escolher entre o azul e o vermelho.

Henrique é azul. Sua cor preferida. Ele foi sua história do passado, a qual o destino ou algo assim, lhe deu uma segunda chance de reencontrá-lo para recomeçar ou iniciar uma nova jornada. Teve ao lado dele momentos bons, prazerosos e também momentos difíceis que superaram juntos.

Nicolas é vermelho. Sua cor favorita. Conheceu ele há meses atrás, no inicio do ano, logo se identificaram e construíram juntos uma amizade que ela nunca teve antes em toda a vida. Algo bonito, muito além das palavras. Tiveram juntos também momentos bons, memoráveis, já outros nem tanto.

E por mais irônico que isso possa soar, as cores preferidas de Melina sempre foi o azul e o vermelho. Se qualquer pessoa pedisse pra ela escolher entre uma das duas ela não saberia dizer. Gosta das duas igualmente. E se fosse preciso, fugiria da escolha entre elas. Mas uma hora ou outra, a vida lhe ensinaria que dois é demais. É necessário apenas um. Uma escolha. Uma decisão.

E quando ela achou que não conseguiria, que  melhor seria não ter que escolher entre um deles ou uma das cores. Covarde, preferiria outra alternativa. Um meio de fugir da decisão. Uma voz soou forte em sua mente e repetiu inúmeras vezes, quando Melina achou que ia se desmoronar, que não haveria saída, a voz repetiu e insistiu: Vamos lá! Não desista! Continue! Você consegue. Não duvide de sua capacidade.

Foi exatamente como em um de seus sonhos.

Ela se sentiu sozinha e desesperada. Só tinha em mente uma única ideia fixa: voltar para casa. Sair dali. A vida se encarregou de colocá-la contra a parede. Do jeito mais difícil, ela teria que aprender a escolher. Primeiro, Thomaz a deixou na primeira oportunidade. E quando ela superou, seguiu em frente, a vida lhe colocou bem à frente duas escolhas. Uma luz vermelha e outra azul. Como faróis. As duas incrivelmente bonitas, as duas eram desejáveis, as duas chamativas, as duas a enfeitiçava de tal maneira que ela não conseguia se decidir, nem escolher. Gostaria de ficar com as duas. Não queria ter que se decidir.

Melina só não queria se arrepender depois.

Por mais que sentisse que seu tempo estava acabando, sentia-se inútil em escolher. E se escolhesse a errada? Sabia, as duas a levaria pelo caminho de volta para casa. Porém, uma delas, o caminho era mais curto, não haveria medo, nem dor e ela sempre estaria ali, mesmo que escondida, para lhe guiar.

A luz não precisava ser a mais bonita ou a mais forte e atraente, bastasse que estivesse sempre ali, a vista, para quando ela precisasse de ajuda. No final, ela sempre precisaria. Sempre foi assim. Ela sempre precisou de alguém por peto. E olhando assim, de fora, quase não dava pra ver diferença entre elas. Tanto Henrique quanto Nicolas estavam sempre presentes. Mas para se decidir Melina precisou levar em conta até mesmo os mínimos detalhes.

A voz do seu coração lhe dizia: No fundo, você sabe qual escolha deverá fazer. Mas teme que seja a errada. Por não quer perder a outra. Apenas siga seu coração. Você sabe qual a decisão certa a tomar e sempre saberá por mais difícil que seja. A resposta está em você.

Não havia saídas. Era hora de decidir. Ela encolheu-se em um canto escuro da suíte, levou as mãos até o rosto encharcada de lágrimas sentindo o corpo tremer e as mãos suares frio. A voz tinha razão, a alternativa certa estava em seu coração. Sempre esteve ali. Todo esse tempo ela só precisou disfarçar, fingir que não.

Tudo era muito importante e significativo. Jamais se esquecia de nada que viveu com qualquer um deles. Seriam eternas lembranças e boas histórias para contar no futuro. Mas era preciso escolher entre o toque gelado de Henrique sobre seu corpo ou a toque quente de Nicolas tocando sua pele.

Por fim concluiu que valeria a pena, qual quer que fosse sua escolha. Se ela não arriscasse, nunca saberia o que estava por vir, o que lhe era reservado. Seu coração falava alto a resposta da qual ela precisava ouvir.

Melina ergueu a cabeça, enxugou as lágrimas com as costas das mãos, levantou-se, tomou um banho que descarregou a alma e saiu do quarto, em direção ao pé da escada que a levaria ao escolhido. Os dois estavam ali àquela noite, esperando-a. Ambos sentados no sofá, um de cada lado, calados e quietos. Quando ela surgiu, os dois ergueram os olhos e sorriram docemente. Melina sentiu uma pontada no coração ao se imaginar tendo que viver sem um daqueles sorrisos que tanto lhe confortam. Mas sua escolha já estava feita, de repente nunca se sentiu tão certa do que estava prestes a fazer.

Primeiro, conversaria com os dois. A sós.

— Melina? – alguém interrompe seus pensamentos, trazendo Melina à realidade. O dia do casamento. Melina acorda de um sonho distante. Um fato que aconteceu três meses atrás. — Oi, Melina.

Thomaz se preparou muito para aquele momento. No inicio, temeu não conseguir chegar perto dela. Com medo de que sua força se esgotasse no momento em que a visse. Mas pelo contrário, quando a avistou de longe, sentiu-se fortemente impulsionado a ir falar com ela, contar-lhe como estava a vida e saber como estava indo a dela. Uma necessidade de simplesmente conversar. Com dois velhos amigos.

— Thomaz? – ela estava surpresa. E feliz por vê-lo ali depois de mais de cinco meses sem saber nada um do outro. — Que bom que veio!

Eles se abraçaram, cheios de saudade. Rebeca ao lado, sentiu-se estranhamente desconfortável. Mas não faria nada, agora ela é esposa de Thomaz. Casaram-se há um pouco mais um mês e meio atrás. E não queria dar a Thom motivos de esbofeteá-la quando chegassem em casa.

Melina falou também com Rebeca. Sem receios, sem rancor. Mas estava mesmo interessada em saber sobre Thomaz. Apesar de não terem dado certo, mesmo quando planejavam algum dia poderem se casar, era importante colocar as novidades em dia. Como se um dia tivesse sigo amigos de infância e só agora estavam se reencontrando.

Sem ser percebida, Rebeca saiu de perto deles e os deixou mais a vontade para conversar. Avistou Marcela em um canto ali perto e se juntou a ela. Vez em outra percebia que sua sogra, Monica, lhe encarava feio. Era evidente que não se gostam. Rebeca não se dá bem nem mesmo com o sogro, Vitor ou com a cunhada, Tina. Diferentemente do que um dia Melina foi para eles. Ela agradece todos os dias por está morando longe da família de Thomaz.

— Nossa amiga, que vestido é esse? – Marcela fez uma careta, analisando. — Porque não algo mais curto ou decotado? Lembro-me que você costumava a se vestir mais...

— Eu e Thomaz fizemos um acordo. – ela mentiu. A verdade é que ele não permite mais que ela use roupas indecentes. Desde que não seja pra ele. — É melhor assim.

— Hum – Marcela duvidou, mas não disse mais nada. — E você, vai ficar aqui parada enquanto ele conversa com a patricinha?

— Ora, não vejo problema – ela deu de ombros, fingindo não dar importância. Mas por dentro morria de ciúmes e nada podia fazer pelo bem do próprio casamento. — Agora eu sou a esposa dele.

A verdade, é que ao contrário do que Rebeca imaginou, não era ela quem tinha Thomaz na palma da mão. Pelo contrário, o feitiço se reverteu contra a própria feiticeira. E ele quem a têm na palma da mão, e poderia fazer dela o que bem entendesse. Para a decepção do seu falecido pai que um dia esperou bem mais dela.

~*~

— Melina, que saudades! – Tina rompeu a conversa entre o irmão e a ex-cunhada. Abraçou a amiga que há um bom tempo não via. — Lembra-se do Carlos, meu namorado?

Todos se cumprimentaram. Monica e Vitor também, que vencidos pela decepção já aceitava o namoradinho da filha mais nova sem questionar. Nada é como um dia eles sonharam para os filhos. Thomaz também se casou com uma qualquer, para a decepção de ambos. Mas isso ninguém precisava ficar sabendo. É preciso apenas fingir que nada os aborrece e que suas vidas sãs perfeitamente bem.

— Estou muito feliz que as coisas tenham dado certo pra você e que o fim da nossa história já não mecha tanto com você. – Melina comenta com Thomaz, enquanto os acompanha até uma mesa vazia.

— Eu estou feliz, Melina. Não é isso que importa? E fico feliz também que as coisas tenham dado certo pra você. – ele a abraça, reconfortado. Nada é como antes. Melina foi a melhor pessoa que já apareceu na sua vida, mas hoje, ele só quer vê-la bem. — E por falar nisso, onde está seu namorado?

Melina sorri sem jeito. Olha para os lados e percebe que ele, seu namorado, está realmente muito atrasado. Ela teme que ele chegue depois da cerimonia. Precisava que ele estivesse ali, bem ao seu lado quando ela precisasse.

Ela pede licença a família de Thomaz, depois de acomoda-los em uma das mesas e se afasta apreensiva.

Onde foi que ele se meteu?

~*~

O tempo passa depressa. E Melina está ficando cada vez mais apavorada. Procurando por todos os lados o seu escolhido, o seu namorado. Ela já falou com todos na festa, cumprimentou os amigos e os desconhecidos. Tirou fotos, conversou e comeu e bebeu uma coisinha ali e outra lá. Mas é evidente que está ficando maluca. Ele não aparece por nenhuma parte. E nem telefonou para dar explicações.

Teria acontecido algo de ruim com ele?

Ela tentou não pensar nisso. Enquanto ali, em uma das mesas, com os braços sobre os ombros de Rebeca, mostrando a todos e tudo que ela lhe pertencia. A mulher morena, corpuda, atraente e sensual é só dele e de mais ninguém; Thomaz percebe o desconforto em Melina. Ele a conhece bem. Passaram dois anos juntos e apesar de nunca ter sido um dos melhores namorados, sabe o suficiente sobre ela. Ela está preocupada com algo. Algo que não é simplesmente ao atraso das noivas, ou, especialmente de sua mãe que é sempre exagerada.

Thomaz pensa em fazer algo a respeito. Talvez possa ajuda-la se souber o verdadeiro motivo de sua preocupação. Mas então, aparece algo que verdadeiramente lhe chama a atenção. Um dos convidados, um belo rapaz de cabelos ralos e pele pálida, está paquerando sua esposa que está bem ali ao lado dele. Rebeca percebe, e ao invés de tentar evitar a troca de olhares com o desconhecido, ela simplesmente faz o mesmo, como se não fosse casada.

Bruscamente Thomaz se levanta, chamando atenção de um grupo de convidados na mesa vizinha, ele agarra Rebeca pelo braço e a arrasta para longe dali sem chamar muita atenção. Thom não quer arrumar confusão justamente no dia do casamento da mãe e do pai de Melina. Mas ele precisa fazer algo a respeito. Não pode aceitar.

— O que pensa que tá fazendo? – ele a olha friamente, apertado o dorso do braço dela. É tão assustador quando um monstro devorador.

Os olhos de Rebeca estão repletos de desespero.

Não, aqui não Thom. Por favor.

— Acha que eu não vi aquilo? – ela não responde, tem medo. — Quer que eu meta a mão em você aqui no meio de todo mundo?

— Não! – finalmente ela abre a boca. — Desculpe querido. Me desculpe? Aqui não. Por favor. Não faça nada que me envergonhe...

— Não faça você! Não me envergonha aqui diante dessas pessoas! – ele cospe as palavras sobre ela. — Em casa conversaremos.

~*~

É hora da cerimonia. Todos ficam de pé em seus lugares, de frente as cadeiras. Ao fundo, além da música, uma serenata romântica ao som do violino, há também o mar com os raios solares refletidos na água.

A primeira noiva, Verônica, entra acompanhada de Alberto, o ex-marido. O que parece muito estranho, ousado e irônico. Mas para Melina é uma cena linda, a emociona. Alberto entrega a noiva a Jonathan que já está em seu posto lá na frente e se coloca sem seu lugar no altar, do outro lado, o lado oposto. Em seguida, há uma troca de música, uma música escolhida pela próxima noiva. E Leila entra com o filho mais novo, Enzo, que é bem menor que ela. Mas a cena é linda.

Seus pais vão se casar pela segunda vez.

Melina está ali, um pouco mais pra atrás dos padrinhos. Entre eles, está Renato, pai de Nicolas e Juliana, sua atual companheira.

Melina está nervosa, impaciente e prestes a desabar ao chão ao perceber que o namorado ainda não chegou e parece que nem vai aparecer, mas nem avisou que não viria. Ficou combinando, um dia antes, que ele iria vir. Iria fazer-lhe companhia, ali, próximo ao altar improvisado. Os dois formariam uma dupla. Ficariam lado a lado. Mas algo deve ter acontecido. Melina só espera que não tenha sido algo ruim, apesar da raiva que sente dele.

Falta pouco tempo para a cerimonia dar inicio.

O celebrante de casamento, um senhor grisalho de barba por fazer, aparentemente elegante em seu traje formal, pede a todos que se sentem e fique a vontade. Ele apresenta os noivos.

Cadê você que não chega logo?

Melina balança a perna freneticamente, muito nervosa. Ele não pode estragar tudo logo agora. E ela não pode deixar transparecer que há algo errado. Justamente no dia do casamento de seus pais. Melina precisa manter a calma. Manter a compostura e se mostrar aparentemente tranquila e bem. Como se nada estivesse acontecendo.

Se é que é possível.

O celebrante abre o caderninho. Onde está anotado tudo aquilo que os noivos desejaram compartilhar com os convidados. A cerimonia será baseada na espiritualidade humana e não em religião. Mas sim na poesia e na emoção. Um diferencial. Talvez desperte o interesse das pessoas ali em volta.

Melina já desistiu. Não há mais tempo de ele aparecer. Mas depois irá precisar se esclarecer. Ela está bastante concentrada no que ouve, não quer perder nenhum detalhe daquela cerimonia e nos votos matrimoniais.

Ela se assusta quando é tocada. Sente uma mão sobre seu ombro nu direito. Vira-se rapidamente para trás. Ter certeza de que não está sentindo coisas além do esperado. E dá de cara com ele.

Ele tem no rosto o sorriso mais bonito que ela já presenciou em toda a vida. Melina suspira aliviada por ele ter chegado a tempo quando ela acreditou que seria tarde demais. Seus cabelos são reluzentes a claridade da luz do sol e seu olhos indecifráveis expressam certa emoção por estar ali.

Ele beija a maça rosada do rosto dela. Um beijo doce e suave que faz ela sorrir adoravelmente deixando a mostra seus dentes certos.

Ele se coloca ao lado dela. Onde deve estar. As mãos delas estão jogadas ao lado do corpo, sem saber onde deve coloca-las. Pra sua sorte, Melina sente que ele procura por suas mãos. O contato do braço dele roçando com o seu faz algo dentro de si tremer. Aquela típica sensação de borboletas no estomago. Uma expressão usada batente por quem está apaixonado. E é exatamente assim como ela se sente mesmo o conhecendo há um bom tempo.

Estou apaixonada cada dia a mais.

Mas não pode dizer isso a ele. Não quer atrapalhar o silencio da cerimonia. Olhando para ele, sabe que nem precisa dizer o que sente. Supostamente ele já pode perceber isso em seus olhos. Assim como ele não precisa dizer nada, pois está explicito nos olhos dele.

Você é a luz dos meus olhos. – ela abre a boca para dizer, mas não sai nenhum som. É exatamente essa a intensão.

Melina só espera que ele tenha compreendido.

E ela tem certeza que sim, quando ele sorri a aperta forte a sua mão, encaixando perfeitamente seus dedos aos delas. Essa é a resposta que ele a ouviu e compreendeu o que ela quis dizer.

Pois não há duvidas, desde o início, ele era a escolha certa a se fazer. Foi seu coração quem cansou de dizer. Ele era a luz certa para a volta para casa. Em seus braços, ela sempre sentiria como se estivesse em casa. Um lugar protegido incapaz da aproximação das maldades mundanas.

Era ali o seu lugar. Era bem ali que ela escolheu ficar.


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Notas finais do capítulo

Confesso, foi proposital não mencionar o nome do escolhido. Será que vocês são capazes de deduzir? Se não, não se preocupe, o ultimo capítulo será postado assim que eu receber bons comentários. E finalmente você saberá quem é o escolhido. POR FAVOR, NÃO SE DECEPCIONEM COMIGO! ♥



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