Não era algo comum de se acontecer, o acampamento meio-sangue estar calmo daquela forma.

Por esse motivo, a falta de movimento àquela hora da manhã acabou bem rápido.

Todos pararam pra ouvir o que a garota tinha a dizer. O movimento de campistas saindo de seus chalés e se direcionando até a casa grande interrompeu o silêncio da manhã, e era óbvio pra todos que estavam ali que havia um problema de comportamento naquela garota, mas atitude ela tinha até demais.

É claro que, no início, ninguém entendeu o que ela estava dizendo. Era uma confusa mistura de palavras. Sonho, noite, presa e Ártemis era o que mais saía da boca dela.

Os outros campistas estavam começando a se acostumar com a irreverência daquela garota. Uns, inclusive, achavam que era uma pena as caçadoras não a terem encontrado antes que ela pudesse chegar ao acampamento, como contou que passou um mês tentando depois dos ocorridos com sua mãe.

Metade dos campistas concordava que a história dela era bastante estranha, achavam que ela ainda estava escondendo algo. A outra metade, não queria dar palpite nenhum sobre ela. Encrenca, era o que parecia estar gravado na testa de Bruna Donovan, e por mais que não quisessem admitir, muitos ali tinham medo de dormir no mesmo ambiente que ela.

Então, sim, todos esperavam uma reação dessas vindo dela. Não era estranho, afinal, que a garota nova estivesse se descabelando em frente à casa grande e parecendo querer estrangular Quíron e o único deus que realmente frequentava aquele acampamento – não porque quisesse, é claro.

Mas ninguém, absolutamente ninguém esperava que outro campista estivesse no meio da confusão, tão desesperado quanto Bruna parecia estar. E era por isso que todos estavam curiosos com toda a confusão de vozes.

– Eu tenho que sair desse acampamento agora!

– Eu tenho que sair desse acampamento agora, não se meta!

– Nenhum dos dois vai sair, vocês não têm perm...

– Ninguém vai me impedir de sair desse lugar, eu tenho q...

– Cala a boca e me deixa falar. Uma missão, eu recebi uma missão!

– De quem? O Oráculo não está no acampamento, como você pode ter recebido uma missão?

– Eu tive um sonho...

– Eu tive um sonho...

– Parem de falar ao mesmo tempo, ninguém aqui atrás tá entendendo...

– Calem a boca, eu não consigo ouvir o que ele tá falando...

– Louis, Bruna, todos os semideuses têm sonhos, e muitos deles são enganados pelos sonhos, pode ser uma armadilha...

– Não foi uma armadilha.

A voz interrompeu toda a confusa gritaria, porque não vinha nem de Quíron ou dos dois campistas que pareciam desvairados em frente a ele.

– Ah, Mark, não me diga que você também teve um...

– Um sonho. Sim, eu tive um. E era uma missão. Acredite em mim, Quíron. Você sabe que eu não brincaria com uma coisa dessas.

– E eu brincaria? – Louis já estava indo pra cima de Mark quando recebeu um olhar severo de Quíron.

– Como você pode ter tanta certeza, Henderson? – o diretor do acampamento perguntou, ignorando o fato de que os outros dois campistas envolvidos na confusão não pareciam a fim de conversar. E ignorando também o fato de que os outros campistas queriam que ele falasse mais alto pra que todos pudessem ouvir.

– Porque não foi um sonho comum – Mark olhou no fundo dos olhos de Quíron, depois olhou para Louis e então para Bruna, em quem se fixou pra dizer a última frase. – Foi uma mensagem de um dos deuses.

Um “Oh” coletivo foi ouvido, e Quíron franziu a sobrancelha, assim como o sr. D, que antes parecia mais preocupado em mandar algum sátiro descascar uvas pra ele do que com o que estava acontecendo ali.

– Foi uma mensagem de um dos deuses. – Quíron repetiu, como se para ter certeza que ouviu direito, e então a garota assumiu de volta seu ar superior.

– Agora você acredita que eu recebi uma missão?