The Hardest Part escrita por mahribbs


Capítulo 1
Eu estive esperando por você, querido




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"Dizem que o amor é lindo.
Dizem também que, quando você ama, você não mede consequências, não se importa com o que vem depois, você apenas... Ama.

Bem... Foi isso o que eu fiz."


Descalça, eu caminhava na areia pela terceira vez na semana. Aquilo estava virando um hábito novamente, quase um vício: caminhar na praia.


Isso porque eu nem gostava de sol.

Deveria ser no máximo seis e meia da manhã. Eu sei, parece loucura uma pessoa de férias da faculdade não dormir até as duas da tarde, ainda mais quando a faculdade é a minha. Mas, no meu caso, eu dormia apenas até as seis. Depois disso levantava, tomava um banho, calçava meus chinelos e ia até ali.

Era estranho, mas me fazia bem. Todos os dias da semana que eu não ia até lá, passava mal-humorada. Mas quando eu ia, o dia, as pessoas, as coisas, a vida parecia mais bonita.

E era, afinal, estando ali, sentindo a areia nos pés, o vento no rosto e ouvindo o barulho do mar, era difícil ter alguma preocupação.
Acenei para o senhor Clark, que passou correndo ao meu lado. Ele era um ótimo vizinho e, acredite, apesar dos quase 80 anos, ainda estava em forma, "forte como um touro" como ele mesmo dizia.

Larguei meus chinelos, que eu carregava nas mãos, e sentei-me em cima deles para não sujar meus shorts. E, da mesma forma que acordar cedo se tornara rotina durante essas férias de meio de ano, aquilo também se tornou: sentar na praia e olhar o mar, até mais ou menos oito horas, quando os turistas e as pessoas que gostavam de se exercitar começavam a encher o local. Quase conseguia me sentir com 17 anos de novo, embora os meus problemas, aos 22, sejam bem mais complexos do que os que eu tinha na mesma época do ano, cinco anos atrás.

Fiquei ali por bastante tempo, como de costume. Quando finalmente me levantei, foi só pra comprar uma água de coco da barraquinha que acabara de "estacionar" por ali. Dessa forma, aproveitando o solzinho da manhã, vendo a cidade enquanto ela ainda estava limpa e livre dos turistas, tomando minha água de coco, era difícil pensar em algo ruim.

Esse, na verdade, era o motivo de ir ali tantas vezes quando era mais nova. Eu costumava pensar que tinha problemas demais, que pensava demais. Então arrumei essa mania: descarregar todas as energias negativas, todas as frustrações, as tristezas e tudo o que me deixava pra baixo na praia. Garanto: adiantava.

Parece uma rotina sem-graça, eu entendo. Ir à praia pela manhã, fazer porcaria nenhuma e depois voltar pra casa. Mas eu, na verdade, gostava de ter este tempo fazendo nada. Gostava da sensação de não ter peso nenhum nas costas. E morar em frente à praia era uma vantagem enorme. Com a minha preguiça, eu nunca seria capaz de sair do outro lado da cidade pra vir até aqui de manhã. Não mesmo.
Tomando minha água de coco e olhando para aquele mar tão conhecido, era difícil acreditar que tudo de fato acontecera. Que aquele inverno e comecinho de primavera de cinco anos atrás foram reais. Já estávamos em julho de 2012!

Olhei no meu relógio de pulso, somente por hábito, porque não olhei realmente que horas eram. Me perguntei a que hora eles chegariam.

Sorri sozinha ao lembrar o dia em que Luke tacou uma bola na minha cara e de como parecia que eu tinha ido até a praia durante todos os primeiros meses de 2007 para esperá-los. E, embora tenham demorado um pouco, eles vieram.


"Larguei meus chinelos na areia e me sentei em cima deles, não querendo sujar meus shorts. Abracei minhas pernas e apoiei meu queixo no joelho, olhando pro mar e suspirando. Ele estava revolto, agitado.

Exatamente como eu me sentia.

Odiava brigar com minha mãe. Odiava mais ainda o fato de estar certa e perceber que ela nunca admitiria isso.

Suspirei pesadamente, mas nem pude completar o ato, já que levei uma bolada na cara.

Sério, de onde diabos aquela merda havia vindo?!

Olhei pros lados, sobressaltada. Não tinha ninguém na praia àquela hora!

– Lucas, não acredito que você fez isso! - ouvi uma voz de homem dizer e virei pro lado, vendo um garoto de uns dezenove ou vinte anos caminhando com dificuldade até mim, enquanto outro garoto que parecia ter oito corria em volta dele - Desculpa, moça... Eu não teria dado a bola pra ele se eu soubesse que ele faria isso!

Eu estava irritada - e com a cabeça doendo, diga-se de passagem -, mas respirei fundo, afinal, o garotinho (que devia ser o tal do Lucas) era apenas isso: um garotinho.

– Tudo bem... - resmunguei, massageando a testa - Não tem problema.

– Não, é sério, me desculpa! - o garoto insistiu e só nesse momento reparei direito nele.

Vestia uma calça azul marinho e uma blusa regata branca, que deixava à mostra seus braços nem tão fortes nem tão magros. O cabelo estava bagunçado e ele piorava a situação, passando nervosamente as mãos por ele. Por um momento me perguntei por que ele estava de calça e tênis, já que, mesmo sendo julho, não estivesse frio.

– Tudo bem, relaxa! - tranquilizei-o.

– Anda, Lucas. Peça desculpas! - O garoto disse, voltando-se para o menor, que estava meio que se escondendo atrás dele.

– Não, sério... Não precisa - assegurei. Aquela cena já estava ficando meio constrangedora. Sem falar no fato de que agora eu queria rir da cara de desespero tanto do maior quanto do menor.

– Desculpe... - ouvi uma voz que mais parecia um miado vindo detrás do garoto-dos-cabelos-bagunçados. Não pude evitar sorrir, mesmo que aquele miado viesse do garoto que tinha acabado de acertar uma bola na minha cara. E não foi uma bolada fraca.

– Está desculpado, Lucas - eu disse, abrindo um sorriso pro garoto. Nunca gostei muito de crianças, pelo menos da maioria, mas às vezes apareciam algumas com as quais eu simpatizava. Lucas era uma dessas crianças.

Tinha os cabelos castanhos muito lisos. Os olhos azuis brilhavam de um jeito único e ele tinha várias pintinhas pelo rosto. Era um pouco gordinho, pude ver pois estava sem camisa, apenas com uma bermuda vermelha.

– Olha, me desculpa mesmo! - o maior tornou a falar e eu assenti, me levantando.

– Deixa pra lá, acontece.

Ele balançou a cabeça e, meio sem graça, começou a se afastar.

Fiz o mesmo, afinal, a bolada na cara foi um sinal de que os turistas estavam chegando, era hora de sumir dali.

Calcei os chinelos e, lentamente, ainda alisando a testa no lugar em que a bola havia batido, segui para o prédio onde eu morava. Com sorte, minha mãe já teria saído e eu teria algumas horas de paz.

Pena que sorte era uma coisa que eu quase não tinha..."
 

Aquele dia, cinco anos atrás, mudou tudo o que eu costumava pensar, que eu costumava ser... Aquele dia mudou toda a minha vida.

E lembrar toda a história que começou exatamente nesta praia era o que me trazia de volta à ela todos os anos, sempre na mesma data. Embora tudo esteja intacto em minha memória, lembrar aqueles meses aqui é diferente. É como se eu quase conseguisse reviver aquele tempo, que foi o início de tudo.

Eles chegariam mais tarde, então qual o problema de lembrar-me daqueles meses agora? Afinal, eu teria mesmo que fazer alguma coisa enquanto eles não chegam.

Lembrar aqueles meses é uma boa opção.


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