Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 14
Visita ao Asilo




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Nos dias que se seguiram Andy se esforçou para não pensar em Embry, mas a lembrança dele estava sempre ali, no cantinho de sua mente, aflorando a todo instante. Bastava abrir os olhos pela manhã para que o nome dele aparecesse em seu pensamento como um fantasma, afligindo-a de amores e fazendo-a lembrar de que aquilo não fora apenas um sonho.

Todos os dias, a cada vez que pensava “Embry”, o coração batia de forma descontrolada e um sorriso brotava em seu rosto com as agradáveis lembranças que tinha dele. Todavia, não demorava muito para tudo ser sugado por algo que só poderia ser descrito como: dor.

Seu corpo parecia chorar junto a seus olhos e seu coração, ansiando estar novamente na presença do quileute nem que fosse por míseros segundos. Todas as tardes, Andy seguiu caminho à La Push, cantarolado seu mapa musical para não se perder no caminho e esperando por, pelo menos, uma hora, antes de se decepcionar com a ausência dele.

Ele não queria mais vê-la, talvez nunca mais, mas, ainda assim, ela o procurava.

E nestes mesmos dias Gregory esteve atrás dela, observando satisfeito o seu fim de relacionamento e sofrendo ao mesmo tempo, por ver sua escolhida tão abatida por causa de um "cão sarnento". O vampiro não ousara se aproximar, mesmo sabendo que ela ainda procurava pelo quileute fedorento. Ele a queria de uma forma obsessiva, desejando-a como nunca havia desejado qualquer humana ou vampira e querendo que ela o escolhesse no lugar de Embry.

Gregory preferia que ela viesse por livre e espontânea vontade e estava trabalhando para persuadi-la. No entanto, não era tolo em achar que a deixaria livre se não o escolhesse. No fim, se Andy não optasse por ele, o vampiro estava disposto a tomá-la da mesma forma.

Depois dos dolorosos e solitários dias da humana, finalmente chega o final de semana, o período de visita ao asilo e a sua avó, Dolores. Aquele era o único dia em que Andy deixava-se ser guiada por uma bengala, mesmo que não gostasse muito dela, pois, além da falta de prática, sentia sua deficiência exposta e sujeita a críticas. Mas ela sabia que não havia outra forma, pelo menos não naquelas ruas tão mal cuidadas e com calçadas cheias de irregularidades.

Ela lembrava-se muito bem do dia em que tropeçara numa das crateras na calçada, batendo a testa num telefone público em seguida... Andy suspira profundamente, tentando se concentrar na visita que faria a avó. Precisava aparentar estar bem melhor do que estivera nos últimos dias e, quando finalmente chegou aos portões do prédio, deu leves batidas no rosto antes de finalmente entrar.

― Bom dia, Andy – diz a recepcionista. – Precisa de ajuda para ir até o quarto? – pergunta solícita.

― Ela está no mesmo quarto ou foi transferida?

― Finalmente ela parece ter encontrado um quarto que goste e não pediu para trocar, continua sendo o mesmo, terceiro quarto à esquerda...

― Neste caso, posso ir sozinha, obrigada!

A recepcionista se despede educadamente e, durante todo o caminho até o quarto, enfermeiras e médicas lhe saudaram com extrema educação. Todos ali a conheciam, incluindo os próprios moradores do asilo e não demorou muito para que eles também a cumprimentassem.

Minutos depois, com duas batidas na porta, Andy finalmente estava no quarto destinado ao conforto de sua avó, abraçando-a com carinho e dando um beijo estalado em sua cabeça coberta de fios brancos.

― Minha Andy, quantas saudades, como está?

― Muito bem. – Dá um sorriso torto.

― E o menino da reserva? – pergunta sem rodeios, fazendo a neta enrijecer.

Andy se senta na cadeira ao lado da cama, como sempre fazia quando visitava a idosa. Seu corpo permanecia de lado, não tinha coragem de olhar a avó e expor todo o sofrimento que vinha sentindo.

― Não o vejo há bastante tempo, andamos nos desencontrando nos últimos dias.

― Isso é uma pena, já que gosta tanto de se encontrar com ele.

― Ele apenas deve ter coisas mais importantes para fazer – cogita.

― Mais importante que minha Andy? Impossível – rebate a idosa, como sempre uma avó coruja.

― Vovó, poderia me mostrar àquela foto novamente? – pede ela, não resistindo.

― É claro, querida!

Dolores sorri com ternura, estendendo suas mãos enrugadas em direção ao criado-mudo e apanhando a câmera digital que a neta lhe entregara há tempos. A idosa arruma os óculos na ponta do nariz, liga o aparelho com certa dificuldade e franze a testa para se lembrar como o equipamento funcionava.

― Encontrei a foto, meu amor – anuncia depois de certo tempo de procura. – Vejamos: ele está segurando a câmera acima da cabeça, tirando foto de si mesmo de cima para baixo, está sorrindo e que belo sorriso ele tem, seus dentes são tão brancos que brilham em contraste com sua pele morena avermelhada. Ele está sem camisa... Mas que safadinho, hein? Fica exibindo o tronco musculoso como se tentasse te seduzir, que pouca-vergonha – retruca –, mas seus olhos são diferentes, ele parece tão feliz em tirar a foto que uma mistura de sentimentos parece cintilar neles.

Houve um soluço após sua rápida descrição, e, quando Dolores cai em si, percebe que Andy chorava silenciosamente enquanto a ouvia falar da foto de Embry, aquela que ele tirara a muito tempo atrás para que guardasse como recordação. Ela pousa sua mão frágil nas costas da neta. O que poderia ter acontecido naquela semana capaz de arrancar a felicidade dela?

― O que aconteceu? – pergunta, fazendo a menina girar o corpo na cadeira em direção à cama e deitar o tronco em seu colo. – Pelos céus, Andy, o que aconteceu a você?

― Ele não me ama mais vovó! – Chora. – Embry não quer me ver mais porque sou defeituosa!

― Do que está falando, menina? – pergunta exasperada, devido ao termo que usara – Quem lhe disse tal atrocidade?

― Não é atrocidade, é a verdade. – Ergue o rosto como se tentasse encarar a avó, sentindo aquela ofensa enraizada em seu coração como uma maldição, como se realmente fosse verdade. – Ele não me quer por perto porque sou cega.

― Preconceituoso idiota! – repreende a idosa, esfregando as mãos nas bochechas úmidas da neta e voltando a aconchegá-la em seu colo. – Se ele não pode ver a pedra preciosa que está por trás desses olhos, então ele não merece tê-la, não merece seu amor e muito menos estar em seus pensamentos.

― Não consigo tirá-lo daqui – sussurra, tentando conter a nova onda de tristeza e apontando para o próprio coração. – Eu pensei que ele fosse diferente, pensei que fosse especial... Abri meu coração pra ele, vovó, mas agora não sei como faço para expulsá-lo daqui de dentro!

― O amor é uma faca de dois gumes, minha querida, nunca sabemos o que realmente se passa no coração da outra pessoa ao entregarmos nosso amor com tamanha intensidade. Acabamos correndo o risco de nos machucar também com intensidade...

― Não deveria ter entregado nada a ele.

Dolores fica em silêncio, não sabendo o que dizer. Sempre soube que ela queria ser como qualquer outra garota: trabalhar, conhecer pessoas, se divertir, amar... E quando ela finalmente se permitiu tal coisa, tudo deu errado.

Foi aí que a uma ideia iluminou-se em sua mente:

― Por que não chama seu amigo para sair? Aposto que um entretenimento diferente pode fazê-la se sentir melhor... E ele me pareceu tão simpático!

― De quem a senhora está falando? – pergunta confusa, sem levantar o rosto.

― Do seu amigo... Como era mesmo o nome dele? É algo parecido com Grego, Gregório...

― Gregory? – pergunta, sentindo o corpo tremer.

― Esse mesmo! – Sorri.

― Como o conheceu? – questiona com voz firme, mas tremendo interiormente.

― Ele veio me visitar nos últimos dias, disse que era seu melhor amigo e foi sempre muito simpático. Demos um passeio pelos corredores e conversamos sobre o que você e ele andam aprontando em Seattle... Que menino incrível, gosta tanto de você que constantemente afirmava ser a única parceira dele.

Andy estremece, arregalando os olhos com as últimas palavras da idosa. Como pudera esquecer-se dele tão facilmente? Tê-lo tão perto, sem conseguir ver ou sentir suas intenções era algo realmente assustador, e agora não tinha mais ninguém a quem recorrer.

É claro que Dolores sentira o forte calafrio no corpo da neta, mas Andy tratou logo de equipar-se com uma máscara de indiferença, buscando saber mais sobre o assunto sem levantar tantos alardes. Ela não era perita naquele tipo de encenação, mas, com certeza, conseguiria fazê-la acreditar em seu descaso.

― O que mais vocês conversaram?

― Conversamos sobre o asilo, os momentos que passaram juntos, a cidade... Também falamos sobre o menino da reserva, ele dizia que não gostava dele e que a machucaria. Somente agora entendo o que ele queria dizer.

― Por que ele lhe contou todas essas coisas?

― Não sei – confessa com um sorriso inocente –, mas ele falava sobre você de maneira tão diferente, que suspeito estar apaixonado...

Andy não queria ouvir aquilo. Gregory era louco, a perseguia, e nem em sonhos poderia comparar seu comportamento ao de um apaixonado. Ela contorna o assunto com habilidade, mudando o foco da idosa para outras coisas e, quando a visita chega ao fim, sentiu novamente aquela terrível sensação de estar sendo seguida.

O caminho para casa foi feito de maneira tensa. Saber que estava sendo perseguida, sem ao menos poder olhar ao seu redor era frustrante e aterrorizador. E quando estava próxima a sua própria casa, Andy ouve passos ruidosos parando a sua frente, como se alguém quisesse muito ser notado.

― Quem é? – pergunta com falsa calmaria, sentindo o corpo congelar no lugar.

― Sou eu Andy!

O arrepio sinistro que tomou conta de seu corpo denunciava por si só a pessoa que estava ali. Era Gregory que retornava do esquecimento para atormentá-la novamente.

― Aposto que está feliz pelo que aconteceu...

― Imaginei que fosse você a ficar chocada com o segredo dele e não o contrário – começa serenamente –, e não, eu não estou feliz pelo que aconteceu, pois você continua atrás daquele animal.

― Vá embora – pede, sentindo a voz cair alguns tons.

― Eu posso fazer tudo isso passar, Andy, posso fazer essa dor sumir, posso até mesmo levá-la para longe dele para que se sinta melhor... Aposto que sua avó iria querer isso.

― Eu já sei de sua visita, não me trate como idiota...

― Eu sei que Dolores lhe contou, eu estava lá também, ouvindo! – Andy recua um passo. – E acredite, cabelos de fogo, eu contei cada lágrima que derramou naquele quarto.

― O que quer de mim?

― Apenas um “sim”, e eu me encarregarei de tirar o garoto de sua vida.

― Pode mesmo fazer isso?

― Posso.

Por um momento, Andy sentiu-se tentada a aceitar a proposta. Ter Embry fora de sua vida era tudo o que sua mente desejava, mas, ao mesmo tempo, era tudo o que seu coração repudiava.

― Só alerto uma coisa. – continua ele. – Se voltar a La Push em busca do cachorro, não serei mais tolerante e a farei esquecer-se dele imediatamente... Entendeu?

Andy sente o calafrio atravessar sua coluna novamente. Ela sentia que havia uma mensagem escondida em suas palavras, mas não conseguia sequer imaginar o que era. Gregory dizia poder ajudá-la, mas, na verdade, não estava lhe dando uma opção, apenas uma maneira mais delicada de se entregar a ele.

Passos ruidosos anunciaram a saída do vampiro e a humana logo retorna para sua casa, disposta a ver Embry uma última vez antes de finalmente aceitar a proposta de seu perseguidor, mesmo que ele a assustasse.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capitulo!!
No próximo capitulo veremos o lado de Embry sobre estes dias em que passou sem vê-la... Alguém imagina como ele está se sentindo?