O microfone fez um ruído de interferência e Mia xingou baixinho enquanto as pessoas cochichavam e a encaravam confusas.

– Boa noite, senhoras e senhores. Meu nome é Mia Clarke. Espero que estejam curtindo a festa. - começou a falar a garota diante de centenas de olhares curiosos - Porque, honestamente, eu estou achando um saco.

– O que deu nela? - temeu Damon.

Elena sorriu e fez sinal para ele ficar quieto. Mia continuou:

– Desculpe interromper esta noite tão especial, mas, como vocês devem ter percebido, eu não estou me divertindo muito. Não me entendam mal, por favor! Eu não quis dizer que há algo de errado com a festa. Aliás, Caroline Forbes e Tyler Lockwood fizeram um ótimo trabalho. Então... Uma salva de palmas para os dois!

As pessoas hesitaram um pouco diante daquela garota inconveniente no palco, mas bateram palmas reconhecendo que Caroline e Tyler realmente fizeram um ótimo trabalho. Quando os convidados ficaram em silêncio de novo, Mia continuou:

– Não tem nada de errado com esta festa, mas... Acontece que... Falta alguma coisa pra esta noite ser perfeita, sabe? Pelo menos pra mim. É... Quer saber? Falta alguma coisa pra mim. E é por isso que eu estou aqui. Diante de vocês... Fazendo papel de idiota...

– Temos que tirá-la de lá. - sugeriu Sam para o irmão.

Os convidados começaram a cochichar de novo, mas pararam quando Mia olhou para Castiel e recomeçou:

– Tem um cara... Bem, não necessariamente um cara. É complicado explicar, mas digamos que ele costumava ser como um anjo na minha vida. Literalmente. Esquece... Bem, o fato é que ele me fazia sentir que eu era especial. Ele me fazia sentir que eu era amada...

Castiel bebeu um gole de Champanhe e olhou para o chão, antes de ter coragem de olhar Mia novamente. O que diabos ela estava fazendo ali em cima? O que ela estava planejando? Por que ele tinha a impressão que ela estava falando dele? E por que no fundo ele estava gostando disso? Gostando de ser o que faltava para a noite dela ser perfeita.

Era difícil mentir para si mesmo. Era difícil admitir que ele sentia falta dela e que no fundo tudo o que queria era que aquele mal entendido entre eles acabasse. Mas em algum momento, ele teria que admitir e ele sentia que este momento estava próximo.

– Mas então, algumas coisas aconteceram e nós nos afastamos por um tempo. - prosseguiu Mia - Acontece que eu o reencontrei há pouco tempo. Aqui em Mystic Falls. Cidadezinha maluca, aliás... Sem ofensa! Parabéns pelos 150 anos!

– 153... - corrigiu um dos convidados enquanto todos voltavam a cochichar.

– Tanto faz... - respondeu Mia e depois de alguns instantes com um olhar vazio, ela prosseguiu - Acontece que agora esse cara anda meio perdido, confuso e diferente do que ele costumava ser. Mas mesmo assim, eu sei que no fundo, bem lá no fundo, o coração dele nunca me esqueceu de verdade. E pra ser bem honesta, nem o meu.

Stefan sorriu ao perceber que Mia estava seguindo o seu conselho. Damon também sorriu porque ele também havia dito para Mia não desistir do anjo. Castiel a olhava um tanto assustado, mas prestando atenção em cada palavra. Por mais que não quisesse admitir, as palavras de Mia exerciam efeito sobre ele. O fazia se questionar se realmente afastá-la foi a melhor solução.

Mia respirou fundo e continuou sob o olhar atento de Castiel:

– Bem, esse anjo me disse que estava cansado das minhas histórias malucas, do meu jogo, das minhas mentiras e piadas, mas o fato e o que ele ainda não percebeu, ou se recusa a perceber, é que tudo o que eu disse era a mais a pura verdade, e que eu estou aqui para ajudá-lo a montar o quebra-cabeças, e não para brincar com os sentimentos dele. Sim, porque por mais que ele negue, eu sei que existe um sentimento entre nós. Eu sei que ele ainda sente alguma coisa por mim.

Castiel a observou um tanto constrangido e tomou mais um gole de Champanhe. Tudo bem, não ia negar que o que ela dizia era verdade. Ele sentia alguma coisa. Alguma coisa que o impedia de ficar com raiva dela por mais de 24 horas. Mas ainda sentia-se confuso com tudo aquilo. Mia não estava desmentindo a história sobre ele ser um anjo, ela estava reafirmando que aquilo era mesmo verdade. O que significava que aquele sonho, que ele havia tido na última noite, não era um sonho. Havia um motivo para Mia continuar insistindo naquela história. Ela insistia porque devia ser verdade.

– E uma noite dessas, ele me perguntou por que eu o beijei. E eu respondi que foi porque eu tenho uma queda por caras idiotas. O que não deixa de ser verdade... - continuou ela.

Os convidados riram ao ouvir isso e Mia não entendeu qual era a graça. Castiel a olhou um tanto ofendido e cada vez mais confuso e Dean resmungou:

– Isso não vai acabar bem...

– Ele é um completo idiota e fez algumas escolhas que eu, honestamente, nunca vou entender, mas... A verdade é que não foi por isso que eu o beijei. - explicou Mia fazendo todos se silenciarem.

– Então foi por quê? - perguntou um dos convidados achando aquele o melhor momento da noite e enquanto olhava com carinho para uma moça ao seu lado na mesa.

Mia sorriu e tentou responder:

– Às vezes, eu faço coisas estúpidas. Coisas bem estúpidas, na verdade... Vocês ficariam chocados...

– Mas por que você o beijou? Qual o real motivo? Não foi por estupidez ou porque ele é meio idiota, foi? - perguntou a acompanhante daquele mesmo convidado.

Todos observavam Mia apreensivos. Inclusive Castiel. No fundo, ele queria ouvir a resposta dela. Talvez aquilo fosse exatamente o que ele precisava ouvir para esquecer de vez todo aquele orgulho que o mantinha longe dela. Sim, ele queria ouvir a resposta de Mia.

– Não, não foi por isso. Eu o beijei porque... Porque... - Mia olhou para todos e em seguida para Castiel. E sorriu antes de confessar por fim - Eu o beijei porque eu o amo, droga...

Houve um longo momento de silêncio até que Dean murmurou:

– Awesome!

Castiel sentiu uma felicidade imensurável ao ouvir a declaração de Mia. Uma felicidade que ele não compreendia direito. Que só sabia sentir. E ouvir aquilo soava tão familiar. E tão bom. Ainda tentava entender aquela sensação quando ela continuou:

– Sempre amei e sempre vou amar. Não importa se nós dois estamos meio diferentes agora. Nada disso importa porque a verdade é que.. Eu te amo, Cas...

– Cas? - repetiu Dean enquanto Castiel olhava com confusão para Mia, bem como todos os convidados que não conheciam nenhum Cas.

– Vocês o conhecem como Jimmy Novak, mas pra mim, ele sempre será o Cas. - explicou Mia - Não importa o quanto ele tente se enganar e ser um cara normal, ele sempre será o meu anjo nerd, lindo e hot. Sempre.

Todos olharam para o professor de História e suspiraram "Aaaaahhhhhhhhh" e Castiel olhou Mia ainda confuso, mas finalmente saindo da defensiva. Tentou disfarçar um sorriso e olhou para o chão. Sim, ele tinha gostado de ouvir aquilo. E sentia-se um completo idiota por ter afastado Mia inúmeras vezes quando tudo o que ele queria era estar com ela. Quando tudo o que ele queria ouvir era aquilo. Quando tudo o que ele queria era poder dizer sem medo que também a amava.

– E se ele ainda tem algum dúvida disso... É porque ele é mesmo um idiota. - continuou Mia fazendo todos rirem de novo e depois de alguns instantes em silêncio, pediu olhando diretamente para ele - Olha, eu não estou pedindo a sua mão em casamento, mas eu preciso te pedir uma coisa. Dance comigo. Por favor, Cas, dance comigo a próxima música que eu prometo que vou responder todas as suas perguntas. Sem mais mentiras... Só a verdade. Apenas eu e você. Eu prometo. Apenas dance comigo. Por favor.

Todos olharam para Castiel esperando uma decisão enquanto ele observava Mia e pensava em como os dois chegaram até ali. Até aquele momento. Embora não lembrasse de tudo, sabia que eles tinham percorrido uma longa estrada juntos. Aquelas lembranças, sonhos, flashes... Ele não podia mais se enganar. Mia era a sua garota. Aquela garota maluca no palco, era a garota que ele amava e que queria ao seu lado.

– Qual é... Levanta daí e dança logo com aquela gata. - incentivou um garçom que passava perto dele.

As pessoas voltaram a cochichar e Mia sentiu suas pernas descongelarem e ficarem trêmulas. Seu rosto parecia queimar. E ela começou a se arrepender por ter feito aquilo. Estava mesmo acabado. Mas desta vez, ninguém poderia dizer que ela não havia tentado.

– Eu falei que isso não ia acabar bem. - lembrou Dean.

– Eu acho que ainda não acabou. - disse Stefan se aproximando dele, de Sam e Meredith.

Mia olhou para os seus próprios pés e imaginou como seria bom se o chão abrisse bem ali. Mas, uma vantagem de ser vampira, é que depois ela poderia fazer todas aquelas pessoas, com exceção dos vampiros como ela, esquecerem aquele mico. Decidiu descer dali, mas quando deu os primeiros passos, parou ao ouvir as pessoas aplaudirem e assobiarem enquanto Castiel levantava da cadeira e passava entre elas em direção ao palco. E suas pernas congelaram de novo. Caroline vibrou e Elena abraçou Damon mais forte.

Castiel se aproximou do palco e as pernas de Mia voltaram a obedecê-la. Então ela desceu lentamente ao encontro dele. O anjo sorriu e por um instante, Mia teve certeza de que era o velho Cas ali na sua frente.

– Quer dizer que você me ama? - quis confirmar ele com um certo ar superior.

– Cala a boca. Convencido... - respondeu ela enquanto pulava em seus braços e o beijava apaixonadamente.

Apesar da surpresa, ele não resistiu e correspondeu ao beijo enquanto todos aplaudiam e vibravam. Finalmente estavam juntos de novo e desta vez nada iria separá-los. Pelo menos era nisso que eles acreditavam naquele momento.

Os dois se afastaram um pouco, se olharam e Mia teve certeza de que o coração dele lembrava do que sentia por ela. Não importava se ele era um anjo desmemoriado e ela uma vampira. Ainda eram Mia e Castiel. Apenas Mia e Castiel.

Então ele colocou as mãos em sua cintura e Mia passou os braços pelo seu pescoço ao mesmo tempo em que a banda começou a tocar You and Me do Lifehouse. Mas sem perceber, Castiel pisou no pé de Mia e ela se afastou resmungando:

– Você costumava dançar melhor, anjo...

– Desculpe. - lamentou ele envergonhado - Vamos tentar assim... - sugeriu ele ajudando Mia a colocar os pés sobre os dele de forma que ele pudesse guiá-la com os seus próprios passos.

Ela sorriu aceitando a romântica sugestão e passou os braços pelo pescoço de Castiel novamente enquanto os outros casais também se preparavam para dançar. Ele sorriu de volta e provocou novamente:

– Você disse mesmo que me ama? Na frente de todas essas pessoas?

– Eu tenho queda por caras idiotas, lembra? - devolveu Mia encostando a cabeça em seu peito e fechando os olhos.

Então, simplesmente se entregaram aquele momento e deixaram a música guiá-los. Sem ressentimentos de nem um dos dois lados. Mia esqueceu completamente da escolha que Castiel tomou há um mês, quando decidiu que faria o que fosse preciso para fechar o Céu e ir embora para sempre, e de como isso a machucou na época, e ele esqueceu que Mia escondeu a verdade dele quando se reencontraram naquela cidade. Claro que ele queria uma explicação para todas as suas perguntas, mas isso podia esperar mais um pouco. O mais importante era estar com ela, ali e agora. E pra sempre. Não podia mais mentir para si mesmo. Nem um deles podiam negar a ligação que tinham. O amor que sentiam. Tinham sido feitos um pro outro.

Castiel também fechou os olhos e acariciou os cabelos de Mia. Ela se aconchegou melhor em seu peito e sorriu mantendo os olhos fechados. Era o velho Cas, o seu Cas, o seu anjo idiota. Nada mais importava e parecia que nada mais existia. Apenas eles e a música.

What day is it and in what month

This clock never seemed so alive

I can't keep up

And I can't back down

I've been losing so much time

'Cause it's you and me and all of the people

With nothing to do

Nothing to lose

And it's you and me and all of the people

And I don't know why

I can't keep my eyes off of you

All of the things that I want to say

Just aren't coming out right

I'm tripping in words

You got my head spinning

I don't know where to go from here

'Cause it's you and me and all of the people

With nothing to do

Nothing to prove

And it's you and me and all of the people

And I don't know why

I can't keep my eyes off of you

There's something about you now

I can't quite figure out

Everything she does is beautiful

Everything she does is right

'Cause it's you and me and all of the people

With nothing to do

Nothing to lose

And it's you and me and all of the people

And I don't know why

I can't keep my eyes off of...

You and me and all of the people

With nothing to do

Nothing to prove

And it's you and me and all of the people

And I don't know why

I can't keep my eyes off of you

What day is it

And in what month

This clock never seemed so alive

E quando a música acabou os dois se olharam por alguns instantes até que Mia colocou os pés no chão e agradeceu:

– Obrigada pela dança, Cas...

Mas em seguida a garota lembrou de Silas e do real motivo para ela e os outros estarem ali aquela noite. Eles tinham que agir naturalmente, mas não podiam se distrair demais. Isso poderia ser fatal. E por mais que ela quisesse ficar ali com Castiel, o dever estava chamando. Então Mia sorriu e tentou se afastar. No entanto, ele continuou segurando a sua mão e ela parou.

– Você disse que responderia todas as minhas perguntas. - lembrou Castiel.

Mia sabia que devia isso à ele, mas aquela sensação ruim que sentiu antes, de madrugada, começava a voltar. Sentia que alguma coisa estava errada. Só não sabia o quê era exatamente.

Mia olhou em volta preocupada. Era complicado e assustador não saber onde Silas estava naquele exato momento. Ele podia ser qualquer um. Como ela queria saber qual era o verdadeiro rosto daquele desgraçado...

– A não ser que você tenha algo mais importante para fazer. - disse Castiel soltando a mão de Mia ao perceber que ela estava distraída e preocupada com alguma coisa.

Ela o olhou confusa por alguns instantes, mas se convenceu de que Silas podia esperar mais um pouco e afirmou:

– Nada é mais importante do que você. Nada.

Ele sorriu e lhe estendeu a mão propondo:

– Então... Mais uma dança. E algumas respostas.

Mia olhou em volta mais uma vez. Em seguida sorriu para ele e segurou a sua mão dizendo:

– Todas que você quiser, meu anjo.

Então os dois se reaproximaram ao mesmo tempo em que começou a tocar Eternal Flame. Mia sabia o que aquela música significava para os dois e sorriu encostando a cabeça no ombro dele. E embora não lembrasse do motivo, Castiel teve uma forte sensação de déjà vu. Ele não lembrava, mas foi ao som daquela música que ele beijou Mia pela primeira vez. No entanto, ele sentia que aquela música era especial para os dois e abraçou a garota mais forte antes de recomeçar a conversa:

– Mia, já está mais do que claro que nós dois... Que nós... Eu e você... Tivemos... Alguma coisa...

– É, com certeza nós tivemos uma coisa, gênio. Tão lento quanto o velho Cas... - resmungou Mia.

– Desculpe. Um relacionamento, uma história. - corrigiu ele rapidamente percebendo que a garota não havia gostado muito do outro termo - Aliás, depois de ontem, na chuva, e de hoje, e das coisas que você disse naquele palco, eu diria que nós ainda temos. Bem, o que eu estou querendo dizer é que eu não vou mais negar isso, Mia. Eu não vou negar que eu quero ficar com você e que você é importante pra mim. Mais do que você pode imaginar. Eu não quero mais brigar com você. Eu quero recomeçar ao seu lado.

Mia suspirou e sorriu mantendo a cabeça no ombro dele ao murmurar:

– Isso é bom.

– Sim. É bom. Mas eu também preciso entender uma série de questões... Pra começar você disse que eu sou um anjo. Castiel, certo? Mas se eu sou um anjo, isso não deveria ser errado? Eu quero dizer, eu e você? Juntos? - indagou ele.

– Acredite, nós já passamos dessa fase. Não vai entrar em parafuso de novo. - respondeu Mia lembrando de como foi difícil para o anjo aceitar que estava apaixonado e se permitir viver aquele sentimento há alguns meses quando se conheceram.

– Mas o que aconteceu depois? Por que nós nos separamos? Por que você me bateu aquela noite no Kansas? Por que você parecia tão chateada? - quis saber Castiel fazendo Mia olhar para ele. E pela forma como ela o olhou, ele deduziu - Eu estraguei tudo, não foi?

– Está tudo bem, Cas. Você só estava tentando fazer a coisa certa. Eu entendo isso agora. - tranquilizou ela querendo esquecer aquela noite no Kansas quando Castiel quase foi embora para sempre.

Ele pensou por algum tempo e recomeçou o interrogatório:

– Se eu sou um anjo, o que você é? Algum tipo de bruxa?

– Tá morno... - deixou escapar a garota.

– Não, eu estou falando sério, Mia. O que você fez comigo exatamente? Porque quando você me beija eu sinto que... Eu vejo coisas e... - tentou explicar ele.

– Eu não sou uma bruxa, ok? Eu juro. - garantiu a garota achando aquilo engraçado.

– Não, você é sim. - insistiu Castiel - Porque eu não consigo parar de pensar em você, Mia. Então eu só posso imaginar que de alguma forma, você... Me enfeitiçou. Por que eu me sinto assim?

– Deve ser amor. - sugeriu ela com aquele olhar radiante que fazia Castiel se perder.

– Mia...

– O quê? - indagou ela - Até quando você vai continuar negando que é louco por mim?

– E depois eu que sou o convencido. - disse ele com o leve sorriso do velho Cas.

– Vamos, admita logo. Você aceitou dançar comigo por um motivo. E disse que não vai mais negar que quer ficar comigo. Então... Confesse. Você é ou não é louco por mim? - insistiu Mia.

Castiel sorriu e passou as mãos pelos cabelos dela antes de confessar a olhando apaixonado:

– Você está certa, Mia. Eu sou completamente louco por você. Mais do que isso, eu me apaixonei por você. Ou sempre fui apaixonado e apenas não lembrava. Mais do que isso, Mia... Eu amo você. Foi por isso que eu aceitei dançar com você. Porque eu também te amo. Satisfeita?

Ela o observou por alguns instantes, pensou um pouco e respondeu bem humorada:

– Não completamente, mas já é um começo. Repita isso de cinco em cinco minutos e eu prometo que eu vou pensar no seu caso.

Castiel sorriu e Mia encostou a cabeça em seu ombro de novo. Sorriu também. No fundo estava muito satisfeita pelo que tinha ouvido. Aliás, aquilo tudo era como um sonho. Castiel finalmente ali, embora estivesse longe de lembrar de tudo. Não importava. Era ele. Seu amado anjo.

– Se eu sou um anjo, eu não deveria ter algum tipo de... Super poder? Asas? - indagou ele lembrando do sonho da noite passada.

– Ah! Você tem asas! Como eu tentei te contar na escola. Gigantes... Lindas... Ou tinha. Bem, ninguém sabe exatamente como aconteceu, mas parece que você foi passado pra trás por outro anjo, chamado Metatron, e antes que você pergunte, não, ele não é um Transformer. - explicou a garota.

– E o que aconteceu? - quis saber ele.

– De alguma forma o desgraçado tirou a sua essência, a sua graça, os seus poderes angelicais. E então você deixou de ser um anjo poderoso para ser um atrapalhado e lunático professor de História numa cidade maluca no interior da Virginia. Sem ofensa. - respondeu ela naturalmente.

Castiel tentou assimilar o que Mia havia contado, mas aquilo tudo soava muito absurdo. Ele sabia que Mia estava dizendo a verdade, mas precisava de um tempo para aceitar tudo aquilo com a mesma naturalidade que ela contava. Então, ele viu os Winchesters em uma das mesas e resolveu mudar um pouco de assunto:

– E como eu conheci Sam e Dean?

– Você resgatou Dean do Inferno há alguns anos. Sam veio no pacote. Aqueles dois não se desgrudam... Ah! E depois você tirou Sam da jaula de Lúcifer. Mas esqueceu a alma dele lá dentro. Depois ele recuperou, não se preocupe. - esclareceu Mia surpresa consigo mesma por conseguir responder todas as perguntas que ele fazia.

Era mais fácil contar a verdade quando Castiel estava disposto a ouvir. Tudo bem que, Mia não tinha certeza se ele estava assimilando bem aquilo tudo ou achando completamente absurdo. Mas, era a verdade e mais cedo ou mais tarde ele teria que se acostumar com isso. E era melhor que fosse mais cedo porque os Winchesters precisavam dele agora que milhares de anjos caminhavam sobre a Terra com intenções que ainda não estavam bem claras.

– Anjos? Inferno? Lúcifer? - repetiu Castiel incrédulo - Você quer mesmo me convencer de que todas essas coisas existem? O que vem depois? Lobisomens? Vampiros?

– Na verdade... - tentou dizer Mia, mas em seguida desistiu - Esquece. Próxima pergunta?

– Sam e Dean? O que eles fazem para viver? - prosseguiu Castiel.

– Além de fraudar cartões de crédito e se passarem pelo FBI? Eu não tenho ideia. - brincou a garota.

– Eu estou falando sério, Mia. Se eles foram mesmo para o Inferno, eles definitivamente não são caras comuns. - ponderou ele.

– Você tem razão. Eles não são caras comuns. Eles são os Winchesters... - respondeu Mia lembrando da noite em que os conheceu no cemitério e da porção de testes que fizeram para se certificarem que ela não era uma das coisas que eles costumam caçar - Ah! E só para constar, eles também foram para o Céu. E para o Purgatório.

Castiel ia questionar o que Mia tinha acabado de dizer, mas resolveu prosseguir com as perguntas:

– Então, o que eles fazem?

– Eles caçam. - respondeu Mia evasivamente.

– Caçam? Caçam o quê? - interessou-se ele.

– Coisas. - respondeu ela sem saber como explicar detalhadamente para ele como funcionava exatamente o family business.

– Muito específico... Que tipo de coisa? - quis saber Castiel cada vez mais curioso.

– Ah! Todo o tipo de coisa. - respondeu Mia um tanto nervosa.

– Mia...

Ela revirou os olhos e resolveu falar tudo o que lhe viesse à cabeça:

– Fantasmas, demônios, wendigos, metamorfos, vampiros, lobisomens, deuses pagãos, bruxas, ghouls, djins, assombrações em geral, às vezes anjos que não honram as asinhas que usam e mais uma série de monstros que eu nem sei pronunciar os nomes...

– Ok. Eu já entendi. - interrompeu Castiel meio zonzo ao ouvir tudo aquilo. Ainda mais no ritmo acelerado que Mia falava, às vezes. - Todo tipo de coisa...

– Foi como eu disse. Coisas. - lembrou ela.

Castiel pensou um pouco tentando assimilar aquelas informações e indagou:

– Você está dizendo a verdade, não é? Todas essas coisas... Realmente existem?

Mia lembrou de quando fez a mesma pergunta para Dean quando ela descobriu que o sobrenatural existia e respondeu:

– Se serve de consolo, o Coelhinho da Páscoa não existe.

Castiel pensou mais um pouco. Aquilo tudo era absurdo, mas ele sabia que Mia estava sendo sincera e que não havia motivo nenhum para ela querer enganá-lo. Aliás, estava mais do que claro que Mia e os Winchesters só queriam ajudá-lo desde o começo. Ele ficou confuso e com medo de lembrar quem era realmente, mas ele não podia mais mentir para si mesmo. Os sonhos, os flashes, as sensações, as coisas sem sentido que dizia durante as aulas significam alguma coisa. Significava que era verdade. Ele era mesmo um Anjo do Senhor.

Castiel pensou mais um pouco em tudo que havia ouvido e em tudo que aconteceu desde que veio para Mystic Falls e perguntou por fim:

– Digamos que eu acredite em tudo isso, como eu faço para me lembrar de tudo e recuperar a minha graça?

– Então você acredita? - surpreendeu-se Mia voltando a olhá-lo.

Ele a olhou intrigado e continuou:

– O quê? Não era isso que você queria? Não era isso que todos queriam? Que eu aceitasse a verdade e quem eu sou realmente? - Castiel fez uma breve pausa e em seguida confessou - Olha... Honestamente, eu acho essa história toda surreal demais, mas eu estaria mentindo pra mim mesmo se eu continuasse dando aulas e ignorando os sonhos e lembranças que eu tenho. Eu posso não lembrar exatamente quem eu sou, mas de uma coisa eu tenho certeza, Mia. Eu não sou Jimmy Novak. E eu tenho que admitir que você estava certa quando disse que eu tinha medo de lembrar. Só que ao mesmo tempo eu sei que eu preciso lembrar. Eu só não sei como eu vou conseguir.

– Humm... Eu acho que eu posso te ajudar com essa parte. - sugeriu Mia com certa malícia.

– O que exatamente você está sugerindo? - indagou Castiel, embora desconfiasse da resposta.

Mia sorriu, o olhou daquele jeito radiante que ele amava e mordeu os lábios antes de dizer:

– Bem, foi você mesmo que disse que quando eu te beijo, você lembra de coisas, sente coisas, vê coisas... Então eu acho que nós estamos no caminho certo e devíamos continuar tentando. - Mia aproximou o seu rosto do dele e o beijou levemente enquanto dizia - E tentando, tentando... Tentando de novo... E de novo...

– Eu gosto dessa ideia. Aliás, é uma ótima ideia. - concordou ele a olhando apaixonado.

– Então está combinado! Mais tarde... - disse ela retribuindo o olhar apaixonado, mas também lembrando de Silas e do que tinham que fazer aquela noite.

– Mais tarde?! Por que não agora? Essa festa está muito chata. Nós devíamos sair e... - sugeriu ele.

Mia tampou a boca de Castiel com a mão e o repreendeu:

– Se a Caroline ouvir você falando mal da festa, ela... Vai te morder. Literalmente.

Castiel não entendeu o que Mia quis dizer com aquilo, mas pensou que talvez fosse uma metáfora. Caroline não iria mordê-lo.

Mia tirou a mão dos lábios de Castiel ao mesmo tempo em que a música terminou. Eles se afastaram um pouco e ela voltou a ficar preocupada com a missão da noite. E por mais que quisesse ser sincera com Castiel, não podia envolvê-lo naquela história. Não era seguro. Ele estava sem os poderes angelicais e mal lembrava quem era. Além disso, ele já tinha recebido muitas informações para uma noite só. Mas ao mesmo tempo Mia não podia afastá-lo totalmente. Precisava mantê-lo distraído, mas por perto, e também precisava de alguns minutos sozinha para conferir as mensagens do celular e ver se alguém já tinha esbarrado em Silas.

– Por que você não vai pegar uma bebida? - sugeriu ela - Seria uma desfeita sair da festa agora, mas nós podemos nos divertir um pouco.

– Você tomou meia garrafa de Champanhe. - lembrou Castiel.

– Ótimo! Então falta a outra metade. - brincou ela.

Castiel sorriu e pediu antes de se afastar:

– Ok. Então me espere aqui, garota sobrenatural.

Mia o observou se afastar e ficou pensando no que ele disse. Como Castiel lembrava daquele apelido? Ele estava mesmo se lembrando de tudo. Aos poucos e de pequenos detalhes, mas era um bom sinal. Estavam mesmo no caminho certo.

O celular vibrou e Mia parou de pensar naquelas coisas e viu que havia uma mensagem de Sam dizendo:

"Nenhum sinal de Silas por enquanto. Eu falei que você e o Cas iriam se entender."

Mia sorriu ao ler a segunda parte da mensagem, mas a primeira frase a deixou ainda mais ansiosa e preocupada.

Eles estavam ali há horas e Silas continuava escondido nas sombras. O que diabos ele estava esperando? O que ele estava planejando? Onde ele estava, afinal?

Enquanto Mia se perguntava essas coisas, Castiel se aproximou de um pequeno bar montado para a festa e observou o balcão repleto de bebidas. Sem que ele percebesse um garçom se aproximou pelas suas costas e falou entusiasmado:

– Que legal você ter dançado com ela! Vocês fazem um casal e tanto!

Castiel se virou e o reconheceu. Era o mesmo garçom que o incentivou a dançar com Mia. E era o mesmo garçom que serviu Champanhe para a garota momentos antes, quando Mia pegou a garrafa toda. Então o anjo sorriu e agradeceu:

– Obrigado pelo conselho.

Castiel voltou a olhar para as bebidas pensando no que levaria para Mia enquanto o garçom o observou por algum tempo antes de prosseguir. Desta vez, sem o entusiasmo e de uma forma um tanto fria e emblemática:

– Se todos ouvissem os meus conselhos, ninguém se machucaria esta noite.

– Como é? - não entendeu Castiel.

– Mas vocês preferiram o caminho mais difícil... Me caçar. Então, vocês não me deixam outra escolha. - continuou o garçom.

– Desculpe, mas do que você está falando? - estranhou Castiel se virando para ele novamente.

Então, o garçom, que na verdade era Silas, deu um passo a frente e o olhou fixamente enquanto o compelia:

– Venha comigo, Castiel. Me ajude a preparar uma grande surpresa para Mia. Para todos os seus amigos, aliás...

Castiel manteve os olhos fixos no olhar do garçom sem entender por que estava fazendo aquilo. Era como se não tivesse controle sobre ele mesmo. Por mais que quisesse simplesmente pegar uma bebida e procurar Mia, seu corpo não lhe obedecia. Aquilo era torturante e... Sobrenatural.

– Que tipo de surpresa? - perguntou Castiel esperando pelas próximas orientações de Silas.

O vampiro sorriu de forma maligna e misteriosa...