Wesen Para Matar escrita por GhostOne


Capítulo 25
Esquemas


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Forçando mais ainda a minha própria vida... Mas vamos lá.
GENTE EU NÃO SEI O QUE FAÇO
SOCORRO
Enfim, vamos lá. Vou logo avisando que, se eu sumir pelas próximas semanas, é por causa de projeto e prova e aula de manhã e tarde e noite e abqjhdbqhdbqkwhdbjqhbd
Boa leitura!



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O quarto escuro não ficaria nada menos macabro com as luzes ligadas. No ponto de vista de alguns, ficaria mais.

Porque uma das paredes era repleta com fotos de uma só pessoa. Era quase impossível ver a parede original quanto mais se aproximava do centro.

− Te odeio, sua puta – Ela arrancou uma das fotos da parede. – Te odeio.

− Milady. – O seu amante entrou. – Temos um problema pequenininho...

− Nenhum problema é pequeno. – Ela se virou. – O que temos?

− Ela voltou – O moreno explicou, enquanto ele avançava para dentro da escuridão. – Pra ele.

− Ah, que droga. Será que nem seu trabalho você faz direito? – Ela se virou, o vestido preto colado no corpo, fazendo com que seu tronco desaparecesse no escuro. – Merda. Ou você a faz se apaixonar assim – Ela estalou os dedos − ou...

− Ou?

− Ou temos que dar um jeito nele. Deixa que eu penso nisso. Vai dormir, vai. – Ela voltou-se novamente para a parede. – Finalmente.

*Michael*

Eu estava deitado na minha cama no quarto de hotel, enfurecido, triste, calado. Porque minha namorada estava me traindo.

Com um quarentão.

Um quarentão muito bonito, por sinal.

NÃO INTERESSAVA! Eu precisava de Alicia só pra mim, não só porque era necessário, mas porque eu... Realmente gostava dela. Ela era como eu, ela me entendia, eu sabia que ela podia, e era bom ficar com ela.

E ela ficava indo pra casa de um velho (bem conservado, mas vamos ignorar isso) bastardo só pra ficar seminua na frente dele e quase dar pra ele. Lindo. Ótimo.

Eu estava com muita inveja dele. Mas eu poderia compensar o tempo perdido. Poderia beijá-la como um animal, fazê-la sentir o quanto eu era apaixonado por ela, fazê-la se apaixonar ainda mais pra mim. E aí ela largaria de vez o capitão.

Que havia dito que não era nenhuma concorrência pra mim.

Bom, talvez estivesse na hora de mostrar a um meio-Wesen que não se brinca com um híbrido.

*Alicia*

A festa no pijama havia sido demais; nós havíamos visto alguns filmes, comido, jogado conversa fora. Eu não havia comentado sobre mais uma sessão de quase sexo com o Renard, e consegui disfarçar o cheiro dele, aparentemente o suficiente pra não ser pega.

Então, quando fomos dormir, eu desci à cozinha pra pegar um copo com água (hidratação antes de dormir, claro) e esbarrei com o porteiro de NY.

Ah, o namorado já tinha chegado?

− Hm... Oi, cara que eu nunca vi antes. – Cumprimentei. – É o namorado da Emily?

− Sou sim. Adam Guerrera. – Ele se levantou e me estendeu a mão. Retribuí o aperto. – Emily me disse que tinha outra amiga, mas não imaginei que ela pudesse ser tão bonita.

Eu estranhei a frase. Ele estava dando em cima de mim?

− Obrigada... Hehe. – Peguei um copo. – Então, cansativa a viagem?

− Sim... Finalmente pude pagar viagem de vinda pra cá. Eu e Emily vamos ver o que vamos fazer, embora ela queira fazer tipo a “casa antiga” às avessas. Eu cuido da casa, ela da grana.

− Porque ela não precisa cuidar da grana, ela já tem a grana. – Justifiquei, sorrindo. – Bom, você tem alguma ideia de onde trabalhar?

− Não, eu sou um sobrevivente. Me viro com o que acho. – Ele sorriu de um jeitinho pra mim que, hm... Era bom eu ficar de olho.

Que diabo esse cara... Tava dando em cima de mim?

− É bom ser assim, sem frescura. A gente aprende com a vida. – Apoiei-me nas costas da cadeira. – Ei, eu espero que você faça a minha amiga muito feliz.

− Eu faço, sim. Não deixo que nenhuma namorada minha seja infeliz. – Ooooquei. – Durma bem, morena.

Eu acenei pra ele e subi as escadas.

Aquele cara era estranho... Demais. Ele parecia ter flertado comigo, mas também parecia ser bacana. E aí? Como que eu lidava?

Talvez ele só fosse zoeiro, como o Michael.

Ai, Michael, verdade. Amanhã eu passaria o dia todinho com meu...

Meu celular bipou.

Desculpa, eu esqueci de avisar

Venha amanhã para a casa do Monroe, vou te apresentar a uns amigos, e talvez um deles possa te dar um emprego. Sincera!

Noite, irmã.”

E agora que ele me avisava? Bom, pelo menos avisou.

Mandei um “VALEU CARAAAA :*” pro Nick na hora e subi pro meu quarto. E lá, deitada na cama, vendo o quadro da minha filha, eu definitivamente refleti sobre a minha vida.

Ela era linda, e totalmente impossível, assim como a chance de ficar com o Renard. De todo dia experimentar aquele sentimento, a sensação de beijá-lo. E, meu Deus, estivemos tão perto! Eu toquei o quadril dele, as coxas dele, sem nenhum pano entre minha mão, eu senti a ereção dele (indiretamente, bom esclarecer, pela elevação da calça), eu senti o desejo dele por mim, em cada célula, e ele sentiu o meu desejo por ele. Só de lembrar aquelas coisas, como ele havia me tocado, tão... Seriamente, com tanto compromisso, fazia todos os pontos que ele havia tocado e lambido e beijado arderem em fogo.

Nada havia chegado a ser totalmente sexual, sempre beirando aquele precipício, entre o sexy e o sexo; ele não havia me tocado bem lá, nem eu havia tocado aquela parte dele. Mas que havíamos desejado aquilo, havíamos. E chegamos tão perto daquela consumação, mas seria rápido demais, apostar demais em uma noite.

E pareceu que havia algo nos observando, mas eu não tinha achado o algo.

Enfim, eu havia tanto desejado que não tivesse nada entre nós, que pelo menos eu pudesse esquecer todas as minhas responsabilidades por uma noite e pirar com ele, ir além com o Sean e sentir todo o êxtase que pudéssemos.

Mas eu tinha responsabilidades, no fim das contas. Meu irmão, meu namorado, eu. Logo, a Alicia aqui não podia se entregar a um carinha que ela nem tinha certeza que iria fazê-la... Feliz.

Porque eu não queria só trepar, pelo menos... Tá, queria um pouquinho. Mas eu não queria que fosse tão pouco. Eu queria... Mais. Eu era um pouco romântica.

Era só ver o quadro da minha filha.

Ruby, amor, desculpe. Suspirei. Mas a mamãe não pode fazer nada. E você não existiria, mesmo.

É, essa é a parte triste da minha realidade.

Fiquei rolando na cama, pensando em Ruby e em Sean e na vida que eu tinha, que eu teria e a que eu nunca poderia ter. E quando dormi, me veio o sonho que eu queria.

Foi bem simples. Era um berço bonito, num lugar com uma luz dourada, um berço branco e rosado lindo, e havia brinquedos e ursinhos no chão, e acima do berço tinha um pano leve, e transparente, cobrindo a caminha. As paredes eram pintadas de um amarelo leve, bonito, e havia algo que denotava beleza e riqueza e inocência pelo quarto.

E eu ouvi um chorinho. Meu bebê. Minha linda filha, no berço, com um vestido de princesa. Tão lindinha.

Peguei-a no meu colo e pressionei-a de leve contra meu peito, cantarolando para niná-la. A eu do sonho parecia saber que Renard estava ali atrás, e se virou para mostrar a bebê para ele, mas não sabia como ele estava.

− Sean, olha a nossa bebê... – E eu o vi. E gritei.

Morto, a garganta rasgada, a cabeça quase cortada fora, a roupa banhada de sangue. Alguém tinha matado o pai de minha filha.

Apertei mais minha bebê contra mim para protegê-la de qualquer mal, mas algo molhado me fez olhá-la, e já era tarde. Minha filha tinha sido assassinada, do mesmo jeito, no meu colo.

Gritei e chorei, as lágrimas caindo pelo meu rosto instantaneamente, até dedos arranharem e agarrarem meu pescoço, e o corpo de minha filha caiu longe de mim enquanto eu era atirada pelo quarto, e tudo estava cheio de sangue enquanto Michael rasgava minha traqueia e músculos da maneira que havia feito com minha família.

− Desculpe – Pedi, mesmo sabendo que era impossível, porque minha garganta havia sido dilacerada. – Mas...

− Porque você é minha! E você me traiu!”

Pela primeira vez, não acordei de susto, ou chorando, após um pesadelo. Eu acordei como se a noite houvesse sido comum, pacífica e sem mortes.

Olhei para a Ruby da pintura.

− Desculpe, de novo. – Pedi. – Mas eu sei o que é melhor, e é melhor que você nunca nasça.

*Renard*

A noite anterior havia me enfurecido além do possível. Mas eu me controlei.

Ela estava brincando comigo? Ela achava que podia simplesmente me beijar do jeito que fazia, gemer, se contorcer contra mim, e depois ir embora?

Que droga, eu nem sabia o que estava virando, caçando aquela menina porque...

Porque eu a queria. Pronto. Eu a desejava, principalmente depois de termos chegado tão perto. Droga, ela havia deslizado as mãos pelas minhas coxas, ela quase me tocou. Ela não sabia como tinha ficado por minha causa. Eu tinha sentido como a pele entre suas coxas estava quente, e quanto mais perto de suas virilhas, mais molhada ela ficava.

Eu a queria.

− Capitão? – Franco apareceu na minha porta. – Aqui o arquivo que pediu.

O bom é que os policiais já tinham aprendido a ignorar meus pedidos, por mais estranhos que fossem. Eu havia pedido que rastreassem Michael, de onde ele tinha vindo, e quem quer que tivesse vindo no mesmo vôo. Se ele tivesse vindo de avião, e fosse da Verrat, deveria ter mais alguém com ele. Mesmo se não tivesse...

− Mais um favor. Tente achar, entre essa lista, pessoas desaparecidas, e extenda a busca pro exterior, se possível.*

Ele franziu as sobrancelhas, mas assentiu.

− Tudo bem, então.

Fui passando os olhos pela folha e achei o nome de Michael. Pelo menos nome falso ele não tinha usado. Entre aspas.

Na minha pesquisa sobre ele (porque é bom sempre conhecer o inimigo), havia aparecido que, na verdade, não existia Michael Van Healm, e sim Mikhail. Ele tinha um gêmeo e tinha desaparecido com 13 anos, também, nascido em São Petersburgo, na Rússia, mãe russa, pai americano-russo.

Nada muito relevante, mas era o que eu tinha conseguido. Pela troca não oficial de nomes, ele continuava desaparecido. Haviam aberto até um inquérito de morte pra ele. Para Michael, fora aquele registro de avião, eu não havia achado nada.

Droga. Eu não sabia o que queria provar, só queria, pelo momento, conhecer meu concorrente melhor. Mas poderia formar um plano ao redor do que achasse, poderia fazer uma nova visão dele, pintá-lo com as piores cores possíveis, assim Alicia teria repulsa dele e assim eu poderia caçá-la e possuí-la, clamá-la para mim.

Mas tinha uma parte de mim que ficava tensa; se eu fizesse algo ruim demais, inventar fatos falsos ou algo semelhante, Alicia ficaria furiosa e eu a perderia. E esse era um risco que eu não poderia correr. Ou seja, precisava me aprofundar o máximo possível, cavar aquele moleque até encontrar algo que o separasse da minha Alicia.

E um tiro despedaçou a janela atrás de mim.

O susto me fez abaixar a cabeça enquanto praticamente pulava pra fora da cadeira e pra longe da mesa enquanto observava a tela do meu notebook* com um furo do tiro, o líquido escorrendo e todos se avultando e entrando na minha sala.

− Capitão!

− Capitão, cê tá bem?

Tateei a parte de trás do meu pescoço, procurando cacos que pudessem ter entrado. Algumas partes deram agulhadas e eu senti os pedaços. Como era uma bala, apenas haviam estilhaços grandes que entraram.

− Um pouco de vidro entrou. – Comecei a sair da sala. – Deve ser um mau atirador, ou eu dei sorte... Vou tirar esses cacos, já volto. Alguém me leve um kit de primeiros socorros, por favor. – Quando estava a meio caminho do banheiro, virei-me pra eles. – Se quiserem iniciar uma caça a esse cara, pelo menos usem colete. Eu já me livrei, não quero que alguém tome um tiro.

Todo mundo assentiu enquanto eu me afastava em direção ao banheiro, e nenhum deles chegou a me seguir. Ainda bem.

Já no banheiro, eu tirei a jaqueta, a gravata e a camisa, dobrando-as bem desleixadamente e colocando-as entre duas pias. O sangue escorria e já tinha manchado minhas roupas; agora que elas não estavam mais lá, eu o sentia escorrendo pelas minhas costas.

Era melhor ter pegado um kit de primeiros socorros logo de cara, mas ok.

A porta abriu e a caixa deslizou para dentro. Procurei a pinça e, com algum jeito, consegui abrir um dos cortes e pegar um caco; o doloroso foi puxá-lo pra fora, porque o músculo se contraia involuntariamente e a carne ficava ainda mais ferida.

Os pedaços eram razoavelmente grandes, o que facilitava achá-los, mas faziam mais dano. Eu me abaixava e apoiava na bancada pra tirar os cacos, mas isso resultou em sangue pingando e escorrendo pelos meus braços.

Mais um pedaço foi removido. E outro. E outro. Um a um, fui tirando os cacos, que caiam tilintando longe de meus braços (já bastavam os ferimentos da nuca) em cima da pia, todos vermelhos. Havia um em especial que eu tirei e que parecia ter levado um pouco de carne junto.

Peguei uns panos esterilizados e limpei os cortes, vendo que eles saíam bem sangrentos. Limpei minhas costas o máximo que pude (eu julguei ter sido o suficiente) e vesti minhas roupas. Não achei que precisavam de pontos; simplesmente usei uns band-ais que seguravam a pele uma contra a outra, para que curassem mais rápido. Os cortes eram medianos; do comprimento de uns dois, três centímetros, talvez.

Lavei minhas mãos, enrolei os cacos nos panos sujos e joguei tudo no lixo. Esterilizei todo o material de novo, arrumei o que restava e saí.

− Capitão, o Nick foi até o outro lado da rua, ele acha que o tiro veio de um dos prédios. – Hank me informou. – Como estão os cortes?

− Vão sarar. E ele não deveria ter ido, pode levar um tiro. – E eu não queria o Nick com um tiro. Seria ruim. E Alicia não iria gostar que seu irmão levasse um tiro por mim. – Enfim, vou querer saber de qualquer coisa relevante.

De volta à minha sala, Wu estava lá.

− Essa é a bala. – Ele me mostrou. – Calibre 36, suponho.* Não achei nada muito significativo, mas o atirador, considerando a altura do prédio...

− Era amador. – Olhei pela janela.

Eles só achavam aquilo porque não sabiam o que eu sabia.

*Nick*

Claro que eu sabia que era uma missão suicida ir na direção que o tiro tinha vindo, porque eu tomaria um tiro também, mas era nosso capitão. Ele quase havia tomado um tiro por... Pelo quê? E aquilo era ruim.

Enfim, nos sentíamos no dever de prender o cara.

O atirador deveria ser ruim, ou tinha um equipamento ruim. Enfim, o prédio que ficava diretamente na frente da janela do capitão era razoavelmente alto; precisaria de uma boa precisão para acertar o capitão, o que reforçava a hipótese de um mau atirador.

Usei meu distintivo pra pegar acesso livre até o telhado; o elevador só ia até o último andar, e eu teria que usar as escadas de qualquer jeito.

Demorou, demorou mesmo, mas logo cheguei. Analisei o local, procurando pistas; pegadas, uma bolsa, até pólvora.

Cheguei na beirada do prédio; dava pra ver a janela do capitão, mas o ângulo era muito, muito ruim pra acertá-lo. Deitei na frente do prédio, apoiando a parte mais superior do meu peito, e consegui ver melhor.

É, dava pra acertar. Mas, com muita precisão, e aquilo requeria bons equipamentos.

Fora aquilo, eu não estava vendo nada que entregasse quem quer que fosse. O tiro de uma arma era bem sonoro, mas não parecia ter nenhum tipo de comoção, na hora do tiro ou agora. A arma deveria ter silenciador; logo, não chamaria a atenção de ninguém. O cara conhecia armas, pelo jeito; um amador poderia conhecer tanto de armas?

As peças começavam a desencaixar; um homem com uma arma aparentemente de valia não tinha uma mira de arma boa para compensar a inabilidade? E a falta de traços? O nosso suspeito (ou suspeita) agia como profissional, mas tinha a mira de um amador.

Uma ideia me veio. E se o atirador (ou atiradora) quisesse acertar o computador? O que tinha nele que era tão importante eliminar os traços? Quais eram as informações nele?

Bom, eu sabia que perguntar ao capitão não ia dar em nada. Ele iria ficar se esquivando de todo jeito; só o que eu poderia perguntar era o básico. E talvez o básico não me ajudasse em nada.

Ai, ainda tinha o jantar com Alicia. Ela sabia que era jantar? Mandei mensagem pra ela avisando, e me desculpei antecipado caso não pudesse estar lá.

“Tudo bem. Estou nervosa. Ai socorro”

Alicia sendo Alicia.

Enfim, voltei a escanear a área, mas não achei nada. Poderia ter pólvora no batente, mas eu não achei o pó. Deslizei o dedo ali, mas só saiu poeira. A balística teria que fazer algum trabalho ali.

Decidi descer e encher o saco do capitão com perguntas e pedidos. Mas era o jeito de... bem, fazer algo. Alguma coisa.

Desci até o primeiro andar e voltei à delegacia, esperando algo.

− Achou algo? – Hank me perguntou.

− A arma era aparentemente boa, com silenciador, e o cara agia como profissional; sem traços aparentes de pólvora, marcas, nenhum traço; se o cara queria acertar o capitão, com uma arma aparentemente boa, então algo não encaixa. – Resumi.

− Bom, vamos ver se o capitão tem algo.

− Eu tô pensando nisso – Segurei o braço dele. – E se o cara queria acertar o computador?

− Como? Por quê?

− Alguma coisa no computador, eu acho. – Suspirei. – O cara parecia um profissional, com armas de profissional. As chances de ele errar são muito menores do o normal, e mesmo assim, ele “errou”. Isso é muito improvável, então assumi que ele acertou o alvo. Ou seja, tinha alguma coisa no computador.

− E você acha que o capitão não vai dizer nada?

− Isso mesmo. – Dei de ombros, levemente. – Ainda vou falar com ele, mas não sei se ele vai dizer o que precisamos.

Bati à porta da sala dele, e quando entrei, vi o pequeno caos que aquilo ficou. Havia os cacos de vidro, lançados pelo tiro; o computador tinha um furo de bala, o líquido tinha escorrido pela parte de trás da tela; a cadeira do capitão estava caída além do alcance da janela.

O dito cujo estava parado perto do assento caído, analisando a cena.

− Nick, Hank. – Ele acenou para nós com a cabeça, e Hank me olhou, tipo “você que veio pra falar com ele, eu só vim junto”.

− Capitão, estava lá em cima analisando a área, e uma coisa não bateu. – Balancei-me levemente nos pés. – Alguns detalhes me fizeram pensar que a arma era profissional, logo, mesmo que o cara tenha uma mira ruim, o nível que me pareceu ter a arma era suficiente para que você levasse o tiro, mas não levou. Então, ou o nosso suspeito era muito ruim, ou...

− Ou eles queriam acertar meu notebook.

− Sim. E o atirador também soube agir como profissional, limpo rastros, o batente não parecia ter nenhum traço de pólvora... Eu acho que ele sabia o que estava fazendo, e fez o que queria. – Joguei tudo no colo dele, e fiquei analisando, esperando por uma reação.

E, como eu esperava, ele não reagiu. Simplesmente.

− Teoria bem interessante, Nick. E você quer saber o que tinha no meu computador? – Ele ajeitou a cadeira e sentou. Antes que eu dissesse algo, ele completou: − Negócios. Verrat. O de sempre. O projétil já foi enviado para a Balística. Mais alguma coisa?

− Ahn, eu vou sair mais cedo hoje, compromisso com a Alicia. Só avisando. – Eu estava bem sem jeito por ter tido a minha teoria derrubada por um fato que eu não tinha conseguido enxergar. – Bom, obrigado.

− Claro. – Eu sentia o olhar dele quebrando a parte de trás do meu crânio enquanto eu me afastava.

− Você é meio doido, Nick. – Hank riu. – Enfrentar o capitão, do jeito disfarçado que você fez...

− Eu não sei o que esperava. Mas eu não confio nele, Hank. – Confessei. – Eu confio, mas não tanto quanto deveria, ou confiava.

− Bom, ele continua sendo nosso chefe. Bom você dar um jeito de ajeitar isso.

Franzi os lábios, pegando minha jaqueta.

− É, deve ser. Enfim, vamos jogar papéis fora. Daqui a umas duas horas eu vou embora...

− Nick, mande um abraço pra ela por mim. Obrigado.

− Hank, eu sei que você só está esperando o momento em que minha irmã vai virar e cortar minha cabeça fora. Ela não vai. Alicia só quer andar na linha, quer uma família, assim como eu.

Meu parceiro me encarou por alguns segundos, antes de dar de ombros.

− Que seja. Me ajude com isso aqui.

*Alicia*

AimeuJesusCristinhooooooo!

Eu estava vestida do meu estilo mais comum para ir jantar na casa do Monroe, conhecer outros amigos dele, e quem sabe acabar conseguindo um emprego. Mas eu continuava nervosa.

A tarde havia sido bacana, comendo, vendo filmes, passando um tempo com minhas amigas mais uma vez. Barbie até deu uma sumida, uma hora, mas depois ela ressurgiu, parecendo apressada e com as bochechas vermelhas, com o balde de pipoca que prometeu para o filme.

Ficamos de boa, até voltar aquele costume de me arrumarem pra quando eu tinha uma ocasião especial.

− Por favooor! – Barbie quicou na cama. – Você sempre foi uma boneca de vestir e maquiar tão boa!

− Fui reduzida a isso? – Fingi surpresa e ofensa. – Obrigada, meeeesmo.

− Vamos logo, Alicia. Nunca te deixamos feia. – Emily fez biquinho. – Estou inspirada hoje! Vamos, por favooor!

Suspirei bem dramaticamente e dei de ombros.

− Parece que estou em minoria aqui. Ok.

Elas gritaram de alegria e fomos até o meu quarto, onde passei por todo o processo de alisamento, penteamento, maquiamento e sei lá mais o quê com mento que elas fizeram comigo.

Eu tinha que admitir, pela nona vez, elas faziam um ótimo trabalho. Minha birra era só para irritá-las, porque era muito legalzinho vê-las insistindo comigo e porque eu gostava de fazer birra para irritá-las.

Enfim, quando eu estava bem vestida, perfumada, e com fome, fui embora pra casa do Monroe, ansiosa de leve e muito feliz.

E nervosa.

Gente, como diabos aquilo iria acabar?

Enfim, fast-forward um pouquinho, lá estava eu na casa do Monroe. Bati e meu irmão apareceu.

− Oi, Alicia!

− Oie! – Abracei-o, e ele foi me puxando pra dentro. – Monroe e Rosalee já estão aqui.

Rosalee... A tal namorada do Monroe.

Fomos, lado a lado, até a salinha de jantar do Monroe. Lá estava ele, arrumando a mesa e uma mulher, com um rosto bonito e sereno, os olhos grandes e castanhos, o cabelo comprido e com um tom bem semelhante de castanho. Ela era muito bonita, e foi só ela sorrir que eu gostei dela.

Mas algo nela me fazia crer que ela não gostasse tanto de mim.

− Oie, sou Alicia. – Estiquei a mão pra ela, meio sem jeito, e Rosalee a apertou entre as suas.

− Olá, sou Rosalee.

− Oi, Alicia – Monroe me cumprimentou e colocou os talheres nos pratos. – Chegou na hora.

− Ah, deixa eu ajudar.

Ajudei os dois a arrumar a mesa e servir a comida, e começamos a conversar desde ali.

− Então, Alicia – Rosalee começou. – De onde você é?

− Minha mãe diz que eu nasci em alguma cidade próxima a Rhinebeck, mas sei lá... Deve ter sido. – Dei de ombros, e sentamos. Um punhado de macarrão me foi servido. – Obrigada!

− Se nossa mãe estava grávida de você, não poderia ter ido muito longe a partir do quê... Quinto mês?

− A partir do quarto que começa a complicar, acho... – Olhei para a Rosalee. – Estou certa?

− Hm-rum. A partir daí, a barriga incha demais pra permitir movimentos exagerados.

− Heh, obrigada. Então, alguma novidade no dia de vocês?

− Quase deram um tiro no capitão. – Ergui meus olhos da minha comida, surpresa.

− Como?

− Ele estava fazendo uma pesquisa, segundo ele, e uma bala atravessou a janela e atingiu a tela do computador, errando a cabeça ou o ombro dele por uns dois centímetros.

− Depois a gente fala sobre isso. – Virei-me para Rosalee. – Então, ouvi falar de você algumas vezes. – Ela continuou mastigando sua comida, paciente. – Me conte alguma coisa. O que você é, se me permite a curiosidade?

Ela sorriu e sua cabeça se inclinou, enquanto sua face se transformava num dos Wesens mais lindinhos dos quais eu tenho conhecimento. Ela era uma raposa.

Contive o “own” que queria sair da minha boca e simplesmente sorri.

− Você é linda. – Ela voltou ao normal.

− Obrigada. E você? Me contaram que você é uma híbrida de mais de dois, como isso funciona? – Ela estava com uma carinha curiosa, e eu comecei a achar que ela poderia estar gostando mais de mim. – Como você foi transformada?

− Pelo o que eu consegui deduzir... Eles te fazem engolir, ou injetam, uma substância que inicia o processo de mutação. A partir daí, eles começam a injetar doses de sangue no seu braço, e aí começa a queimar. E, tipo, aparentemente só queimou pra mim, mas parecia que cada célula minha estava rasgando e se reagrupando, até que parou e deu nisso. – Dei de ombros, e os olhos deles estavam fixados em mim.

− Isso é curioso, porque... – Monroe começou. – Seu sangue Grimm não deveria destruir a genética Wesen?

− Não sei. Eu não era Grimm ainda, nem sei se me tornaria uma, caso minha mãe morresse. Então, acho que não.

− Eu achei muito interessante. E alguém morre por isso?

− Antes, mais da metade. Conseguiram ampliar os resultados. Acharam que eu seria a mais rápida para morrer. – Dei de ombros, como se dissesse “qualquer um dos dois serve”.

− Ainda bem que não. – Nick ergueu a própria taça, como se fosse um brinde.

− E sua woge? – Monroe perguntou. – Como ela é?

− Bem estranha. As peles ficam transitando pelo meu rosto. – Mexi um pouco os macarrões. – Vocês têm sorte. É difícil, nos primeiros meses, você não controla a woge, ela te controla. O corpo dói, tem espasmos, consequências... Psicológicas.

− Como assim?

Suspirei. Aquilo estava focando demais em mim, mas aquele jantar, era para eles me conhecerem. Fazer o quê.

− Eu tenho ataques de pânico, fortes. E um lado suicida. – Os olhares deles travaram em mim. Era bom não falar do meu lado psicopata, que não era nem um lado, era uma célula, um único neurônio no meu cérebro. – E preciso de medicamentos fortes pra isso, e/ou um bom equilíbrio sentimental, físico e mental.

− Nossa... – Rosalee sussurrou. – Eu não tinha ideia, quer dizer, nem... Uou.

− Como eu disse. Vocês têm sorte.

− Alicia, não foi fácil para nós também. – Monroe usou um tom firme, e eu me foquei nele. – Eu sou um Wieder Blutbad, mas não é fácil. Não é fácil pra ninguém.

− Nem pra mim. Eu tive uma juventude... Ruim. – Ela remexeu sua própria comida, e eu simpatizei mais ainda com ela. – Então eu tenho umas ideias sobre como é estar largado à própria sorte.

Sorrimos uma pra outra brevemente. Eu me daria bem com ela.

Bom, a conversa foi fluindo, assuntos foram surgindo, e foi muito bom. Eles eram sinceros, e tinha alguma coisa neles que parecia não ter em mim. Talvez fossem uns aos outros. União. Algo.

Enfim, Monroe e Nick foram lavar os pratos, e eu e Rosalee ficamos sozinhas com duas taças de vinho.

− Ei.

− Sim? – Ela virou pra mim.

− Eu não quero ficar fuçando as vidas alheias... Mas, você disse que teve uma juventude ruim. Como? – Rosalee suspirou. – Tudo bem, se não quiser me contar...

− Eu conto a minha se você me contar a sua. – Ela sorriu pra mim.

− Feito.

− Bom, eu tentei seguir a carreira dos meus pais quando ainda era criança, mas não tinha apreço nenhum pela coisa. Eu queria alguma coisa a mais, então comecei a andar com as pessoas erradas. E me meti com drogas, e ferrei bastante com minha vida, minha família... Foi um tempo ruim, de viciada e ladra. Minha mãe e irmã pararam de falar comigo... Depois eu me ajeitei, fiquei limpa e fui para Seattle.

Uou. O que uma carinha bonita não podia esconder.

− E você?

− Hum, minha história é curta. Nasci alguns meses depois da minha mãe “morrer”, então ela fugiu comigo o tempo todo. Eu lembro que nunca ficávamos em uma casa mais que cinco meses, e eu costumava observar as pessoas pelas janelas, felizes, e as invejava. Eu nunca existi... Pelo menos até agora. – Mexi a minha taça, vendo o vinho rodopiar. – E foi muito fácil me sequestrar. Então, eles me levaram, e eu fiquei lá por... Cinco anos? Eu acho que cinco... Antes de fugir. E aí ficaram me caçando... Até aqui.

− Caramba. Deve ter sido um saco.

− É, depois de um tempo você acostuma a não ter casa. – Ergui a taça para ela, como em um brinde. E ela correspondeu. – Saúde.

− Saúde. – Bebemos. – Olha, Alicia, vou abrir o jogo agora. Nick me pediu que eu te ajudasse a arrumar emprego.

Ele pediu?

Não sei se fico agradecida ou puta da vida.

− Ah, hm, ok. – Eu tinha ficado sem jeito.

− E eu estava receosa de te ajudar, sério. Muito. Eu te via como uma garota impiedosa e má, mas acho que estava errada. – Eu sorri. – Então vou te ajudar. Eu tenho uma loja, sou boticária. Enfim, se estiver disposta, peça para o Nick lhe levar lá amanhã às nove e eu te digo o que fazer. – Ela me estendeu a mão. – Fechado?

Fechado? Eu estava quase pulando na criatura!

− Fechado, chefe. – Apertei a mão dela. – Valeu mesmo.

*

EU IA TRABALHAR! TOOOOOOOOMA!

CARAMBA!

Primeiro, quando Rosalee comentou sobre o Nick ter me ajudado a arrumar um emprego, eu fiquei entre agradecida e irritada, irritada porque parecia que eu estava sendo superprotegida. Mas, como tinha rolado, agora estava muito agradecida.

Bom, não era muito. Era MUITO.

Enfim, eu estava indo pra casa, rodopiante de alegria porque eu estava oficialmente empregada. Estava decidindo se iria dormir em casa ou no quarto de hotel com meu namorado quando ouvi uma voz.

− Alicia!

Era Nick.

− Ai, manoooo! Obrigada! Rosalee me aceitou pra trabalhar junto com ela! – Dei pulinhos e me joguei pra abraçá-lo, apertando-o como um urso.

− Eu ouvi. Desculpe, mas... Bem, super audição. – Inclinei a cabeça para ele, confusa. – É que... Bem, uma vez fui atacado por um Wesen, ele consegue cegar as pessoas...

− Opa. Jinnamuru Xunte? – Ele me encarou. – E você ainda está vendo?

− Rosalee e Monroe fizeram alguma coisa que restaurou minha visão... Enfim, durante meu tempo de cego, minha audição se desenvolveu de um jeito que é quase como se eu visse com os ouvidos.

− Caramba, eles manjam disso? – Nick assentiu calmamente, e eu fiquei surpresa. – Nossa. Estou ansiosa pra trabalhar amanhã. Venho aqui às sete e meia.

− Eu te levo. Ok, voltando ao assunto pelo qual vim atrás de você... Como eu disse durante o jantar, o capitão levou um tiro. Quando eu fui analisar a área...

− Ou, ou, pera aí. – Repassei a frase dele na minha cabeça. – Tu é idiota, é? – Bati no peito dele. – E se você tomasse um tiro?

− Eu sei, eu sei, estúpido, mas me senti meio que no dever. Enfim, eu fui lá, e as coisas não bateram. A Balística deu uma passada, era uma espingarda com calibre 36, realmente, com alguns traços de pólvora no batente, mas não conseguiram descobrir nada mais que nos ajudasse. Não é um tipo especial de arma, pode ser aprimorada com algumas modificações, mas fora isso...

− Tá, entendi. Você quer que eu vá pra ver se eu acho algo mais? Tenho cara de investigadora privada?

− Não, mas pode fazer isso? Por mim? – Encarei-o com meu rosto mais neutro possível e sorri fraquinho. – Obrigada, sis.

− Me leve logo, antes que minha boa vontade acabe. – Fomos até o carro dele. – Ai, as coisas em que você me envolve.

− Juro que é rapidinho.

*

Nick usou seu distintivo abre-alas para entrarmos de boa no prédio, e demorou demais, mas chegamos ao topo do prédio.

− Lugar agradável para atirar em alguém. O ar é fresquinho e aqui em cima é ventilado. – Comentei, enquanto nos aproximávamos do parapeito do prédio. – É, dá pra ver a janela.

E um cheiro fraquíssimo foi sentido por minha pessoa. Algum cheiro... Levemente familiar.

Que diabo?

− Mas daria...

− Shiu, profissional trabalhando. – Ajoelhei-me no chão e inclinei-me, transformando os olhos para ver melhor. Aquele era o cheiro de um híbrido como eu; a complexidade era a mesma, mas era feminino. Eu tinha certeza, porque faltava aparecer glitter no ar, de tão delicado que era. Estava mais concentrado no parapeito, mas foi impressionante o quanto consegui, porque não tinha pegado direito no cimento.

Usando meus olhos em woge, dava pra ter uma boa precisão; inclua mira de arma, um remédio que desacelere os batimentos cardíacos, prenda a respiração e feito. O cara morre.

− Você comentou que atingiu a tela do notebook? – Nick confirmou. – Era o alvo. Peguei um cheiro de uma híbrida aqui; mesmo que tenha algo a mais, e esteja apagado, é definitivamente uma híbrida. Além do mais, com os olhos transformados, você consegue uma boa precisão; daria pra evitar a grade e pegar o alvo. – Imaginei o capitão sentado à mesa. – E acho que daria pra pegar seu chefe, ou o computador, também. 95% de certeza que pegou o alvo.

− Um híbrido?

− Não me pergunte porque. Olha, tem uma substância que os atiradores costumam tomar, desacelera o coração, dá mais firmeza no tiro. Usar isso é igual a tiro certeiro. Certeiro estilo Deadshot.*

− E isso é...

− Temos que pegar aquele notebook e recuperar o que tinha nele. Tipo, hoje mesmo.

− Mas ele jogou no lixo. – Encarei Nick por uns quatro segundos antes de dizer:

− Graças a Deus.

*

Eram quase onze horas, e, pelo jeito, até o capitão tinha ido pra casa (valeu meu Deus), mas ainda tinham policiais honestos e muito empata-planos-estilo-missão-impossível rondando a área.

− Olha só: fica aqui no corredor, sentada, tentando parecer decente – Nick me instruiu. – Eu entro, falo que o capitão me pediu pra recuperar as informações no computador, e a gente some. Se alguém perguntar, você é a garota que quer dar uma analisada pra ver se dá pra fazer o serviço aqui.

− Uma pergunta.

− Sim.

− Por que eu tenho que tentar parecer decente? – Nick revirou os olhos e foi se afastando. – Eu sou decente!

Um carinha me olhou.

− E aê, brow. – Sacudi a cabeça estilo “nigga”, ignorando-o, e sentei nas cadeiras, decidindo esperar.

Mas foi pior do que eu pensava: eu estava muito ansiosa. Demorou um pouco pro Nick conseguir entrar na sala da criatura (ele trancou a maldita porta), mas conseguiu, e logo voltou com o aparelho.

− Ai, Deus te abençoe. – Decidi incorporar a Felicity, só que mais exagerada. – Ai que horror! Tadinho... – Peguei o computador e girei-o na mão, analisei onde a bala tinha entrado. – Tem conserto, mas vai demorar. Vamos logo se quer pegar esse lindinho o mais cedo possível. – Passei o notebook por baixo do braço e saímos.

− Isso! – Comemorei, quando entramos no carro. – Demais!

− Cara, essa passou por pouco – Nick suspirou.

− Ainda acho que eu deveria entrar, analisar se eu tinha palpitado certo... Mas não dava, eu sei, não precisa repetir. – Revirei os olhos de brincadeira. – Vou ver se algum de nós consegue arrumar essa coisa. Te digo os resultados amanhã.

*Renard*

Entrar em casa era... Entrar em casa. Antecipar o descanso, o relaxamento, poder beber e dormir para se preparar para um novo dia.

Eu estava errado, porque o namorado da Alicia havia decidido adquirir os hábitos dela e invadido a minha casa.

− O que faz aqui?

− Bom, eu estava procurando a minha namorada, sabe. Como ela passa mais tempo com você do que comigo... – Michael pulou pra fora do meu sofá como um gato traiçoeiro. – Eu vim aqui uma vez, você me assegurou que não se meteria no meu caminho. E quando eu sigo a minha namorada, esperando que possa pegá-la de surpresa pra chamá-la pro meu quarto pra gente se beijar a noite toda, buuum. Ela vem aqui e a primeira coisa que faz é se jogar no seu colo. – Minha cabeça estava fazendo um zumbido pela parte deles se beijarem a noite toda, e eu estava levemente, muito levemente mesmo, tonto de raiva. – E eu, esperando que você mantenha a palavra que me deu como um homem honrado, não. Você... – Um passo mais perto. – A beija. – E mais um. – De volta! – Ele me empurra contra a parede, e acho que ele meio que veio junto, porque suas mãos logo estavam me pressionando contra a parede. – Tarde pra você entrar nessa briga, Alicia já é minha. Se preza pela própria garganta, você vai se afastar. – Os olhos dele meio que mudaram de cor, e um era um verde vibrante, outro, um laranja ardente. Doeu só de olhar.

− Sua, Mikhail? Certeza? – Eu ri de escárnio e diversão quando vi os olhos dele se arregalarem ao ouvir o antigo nome. – Ela sequer sabe que esse é seu nome de batismo?

Michael/Mikhail me pegou pela gola da blusa e me jogou contra meu sofá, deixando-me sem ar e sem chão e totalmente desnorteado por alguns segundos. Mas alguma parte de minha mente ainda funcionava quando gastei o meu pouco de ar dizendo:

− Que belo... Visitante você é, tratando seu anfitrião desse jeito! – Empurrei-me para cima usando a mão que eu não havia caído em cima. Senti o sangue escorrer na nuca, e tive certeza que os curativos haviam saído. Filho da mãe.

− Eu deveria te matar por ficar querendo comer as namoradas alheias. Se tocar mais um dedo nela...

− E se ela me pedir? – Rebati. – Já vimos que alguma coisa além de camaradagem Alicia sente por mim. E se ela me buscar, se ela pedir pra que eu a beije, para que a toque... O que vai fazer? Você sabe como ela é, me culparia por ser impossível resistir àquela carinha? – Ele continuava me olhando com cara de quem diz “cafajeste”. – A quem você vai culpar?

− Obviamente você fez algo pra Alicia. Termine. Rejeite-a.

E naquele momento eu soube que estava perdido, porque não consegui conceber a ideia de deixá-la. Eu não conseguia sequer pensar em deixar Alicia ir, porque.

Por quê? O que me aterrorizava na ideia de deixá-la ir sem esforço? Por que aquele medo, o frio na espinha, a ideia de que eu perderia minha vez de tê-la comigo da maneira que ela ficava com o híbrido? Só porque eu a queria?

Não, não era motivo suficiente. Mas a outra explicação eu nunca iria aceitar.

− Não. Não vou desistir dessa briga.

− Olha que legal, nem eu! – Ele fingiu animação e juntou as mãos. – Então que seja. Vou fazê-la se apaixonar tão perdidamente por mim que...

− Não vai conseguir. – Ergui um cantinho da boca. – Eu vou jogar todos os seus segredos pra ela, e ela vai te achar tão repugnante que vai vir direto pra mim. Seu bostinha, você é só uma criança...

− E você? Se Alicia fosse dois anos mais nova isso tudo poderia ser pedofilia! E das pesadas! – Ele bateu com o pé no chão, e de repente me veio uma ideia, facilmente rebatível, mas...

− Você deu o tiro que quase me matou. – Ele me encarou. – Queria me tirar do seu caminho e acabou pegando meu computador.

Ele ficou calado por longos segundos, até dizer:

− Não tenho ideia do que está falando. Nem sei onde tu fica.

− Fácil de descobrir. Mas quem você queria acertar? Eu ou meu computador? – Ele deu de ombros.

− Se fosse eu, seria você. Não sacrificaria um computador por nada. – Michael já estava indo para a porta. – Recado dado, capitão. Toque mais uma vez na minha garota e eu volto o tempo pra empurrar aquela bala na sua nuca.

Observei as costas dele enquanto ele saía do meu apartamento, e eu sorri, provavelmente de um jeito macabro.

Mikhail não sabia que quem estava com o dedo no gatilho, agora, era eu.

*Alicia*

Nem Emily nem Barbie sabiam o que fazer para recuperar as informações que poderiam ter no computador do meu brevíssimo amante. Nem eu, na verdade. De todas as pessoas mais íntimas que tínhamos contato, o jeito era perguntar ao meu namorado.

− Amoor? – Eu apareci no quarto de hotel do meu namorado bem arrumada, mas ele não estava lá. – Michael?

− Ah, oi, amor! – Michael apareceu pelas minhas costas. – Desculpe, baby. Eu estava dando uma volta. – Ele me puxou pela cintura e nossos lábios se encontraram, e eu me senti feliz. Alegre, relaxada. E então eu percebi que, poxa, nosso namoro poderia muito bem dar certo. – Veio me ver?

− Também. Olha... Meu irmão me pediu ajuda pra gente tentar achar quem atirou no chefe dele hoje. – Michael sentou na cama, e bateu na sua coxa. Eu sorri e sentei no colo dele, beijando seu rosto, sentindo a barba dele. – Recuperamos o computador dele, mas como levou um tiro, nenhum de nós sabe como pegar de volta as informações. Você sabe?

− Hm... Talvez. – Ele deslizou o rosto pelo meu pescoço, aplicando beijinhos e minhas coxas foram esquentando. – O que eu ganho?

− Amor, é porque meu irmão pediu. Por favoooor? – Fiz biquinho e me ajeitei sobre as pernas dele. – Tenta?

Ele suspirou e estendeu a boca pra minha, e eu retribuí, e caímos na cama, envolvendo um ao outro nos beijos e braços e pernas do parceiro. Ficamos algum tempo naquilo, mãos invadindo roupas alheias e línguas se tocando. Depois de um bom tempo naquilo, nos separamos e ele suspirou.

− Claro, gata. Faço sim.

*Bárbara*

Eu estava andando pela casa, com insônia, porque a culpa estava me corroendo. Eu não iria dormir essa noite.

Emily havia saído de tarde pra “trabalhar”, junto com a Line; eu estava me arrumando para sair quando o tal Adam surgiu.

− Oi, Bárbara. – Ele sorriu, e eu sorri de volta, por cortesia, mas aquele Blutbad estava mais pra um Klaustreich. Muito... Predador.

− Oie! Tudo bem?

− Tudo. Ei, eu mal conheço Portland, que tal me levar para um tour? – Ele sorriu, reclinado contra a porta. – Só nós dois.

− Ahn, eu até te levaria, mas acho que a Emy não ia gostar. – Subi o zíper da bota e fui em direção a porta, mas Adam se pôs na frente. – Ei!

− Você é linda, sabia disso? – Comecei a me sentir alarmada e fraca. Ele começou a avançar, e eu fui dando passos para trás. – Tão bonita, e delicada...

E eu estava procurando algo que eu pudesse usar para derrubá-lo sem machucar o namorado da minha melhor amiga quando ele se inclinou e me beijou.

Foi um toque de lábios rápido e casto, mas me senti tão mal quanto se tivesse sido um beijo de língua de duas horas.

− O que...

− Eu quero muito você. E quando você me quiser, estarei aqui. A Emily nem precisa saber... – Ele deu um tapa na minha bunda, e me senti violada.

E uma fúria me tomou. Peguei-o pela gola e o joguei contra a porta.

− Fora!

E foi isso. Ele sorriu maliciosamente, mas eu ignorei.

E fiquei fora o resto do dia, praticamente.

Com que cara eu iria olhar pra minha melhor amiga de todos os tempos?

*Michael*

QUE MERDA!

Aquele velho tinha passado a corda no meu pescoço. As pesquisas que ele tinha, eu não sei se ele sabia o material que ele tinha ali. Se Alicia tivesse falado algo sobre seu passado na gulag* híbrida, era o fim pra todos nós.

Graças, graças a Deus que eu tinha conseguido pôr as mãos no computador. Se não, todos nós tínhamos ó, nos ferrado bonito. Era só limpar o cachê e estaríamos bem.

− Tá feito, chefia!

− Ainda bem. – E a mal agradecida desligou. Affe, pela fé de Deus.

Mas estávamos indo bem. Meu trabalho em cima do muro tava andando bem. E assim seria, até o fim.


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Notas finais do capítulo

CRISTO, FINALMENTE!
Fiquei muito orgulhosa com esse capítulo, sabe-se lá porque. Mas que fiquei, fiquei.
EXPLANATIONS:
A busca no exterior: não sei se galerê de Portland tem esse poderio, né? Mas como aqui é fanfic...
Notebook do Renard: eu lembro, pode ser fail meu isso, no episódio La Llorona, que o Renard acabava vendo o nome da Juliette na tela e fechava com tudo. Então, obviamente, era um notebook, porque não acho que ele derrubaria uma tela de PC tão tensamente.
Calibre 36: lembro de vários seriados em que os policiais, detetives e galerê conseguiam deduzir o tamanho do calibre só de olhar o furo. Povinho top.
Deadshot: meu vilão favorito, sou apaixonada por ele desde Arrow e agora com Suicide Squad...



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