Wesen Para Matar escrita por GhostOne


Capítulo 2
A fuga do inferno


Notas iniciais do capítulo

A segunda parte do que era o primeiro capítulo. Espero que gostem! Boa leitura!



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Suspirei. Tinha mandado Emy e Barbie dormirem, afinal, elas tinham feito tudo enquanto eu descansava, então deviam estar exaustas. E eu, que tinha descansado, ficara vigiando, tentando achar um ponto onde pudéssemos parar. Barbie até tentou discutir um pouco, Emy deu apoio, mas eu sou teimosa demais. Minha mãe vivia dizendo que se eu fosse Wesen, seria Taureus Armenta, de tão teimosa. Mas, né...

Quando pensei em minha mãe, veio à minha cabeça a ideia de parar em casa para vê-la, mas eu sabia que seria idiotice. Minha mãe já teria fugido, isso era óbvio, por mais que eu tentasse ignorar a ideia de ter sido abandonada.

Infelizmente, ficávamos longe da Áustria, e de Viena. A ilha ficava perto do litoral da Eslovênia, ou seja, teríamos que pegar um rio, no qual já estávamos, para chegar lá. Graças a Deus, o rio cruzava Viena, e a casa em que morava antes de ser sequestrada ficava na floresta próximo à beira do rio.

Bebi mais um gole de água, tentando me manter acordada, e botei Was It A Dream para tocar. Eu sempre disse que essa era minha música, desde que fui para o asilo. Ah, por favor. Está na letra.

Was it a dream?



Was it a dream?

Is this the only evidence that proves it?

A photograph of you and I...

Eram quatro e cinquenta e dois quando Bárbara acordou. Eu estava desenhando um pouco, ainda checando algum lugar onde parar, quando percebi ela se mexendo.



− Acordou do soninho de beleza? – Perguntei.

− Quieta – Ela me disse, rindo baixinho. Emy nem pareceu despertar ou se incomodar conosco. – Não dormiu?

− Desde que escapamos da versão malfeita de Alcatraz? Nem um pouco. A voz do Jared me deixa acordada – Balancei o fone. – Coma um pouco.

− Não quero. Estou bem, obrigada.

Acenei a cabeça, meu “de nada” silencioso. O sono começava a me bater, mas eu mantinha a ideia em minha cabeça.

Ela tinha que ter deixado pelo menos um recado.

− Barbie. – Chamei. – Podemos parar em casa rapidinho?

Ela me olhou como se eu tivesse dito que queria voltar para o asilo.

− Só tenho uma coisa a dizer: louca.

− Barbie, minha mãe deve ter deixado algo. Algum bilhete, as fotos. Algo, qualquer coisa. Eu tenho que ver.

− Não! É arriscado, eles já estão nos procurando.

− E pra onde vamos e como vamos depois que pisarmos em terra? – Rebati. – Bárbara, por favor. Preciso ver minha antiga casa. Preciso daquelas fotos. Preciso de uma arma que era minha. Precisamos voltar lá.

Bárbara pareceu ponderar sobre meu pedido por alguns segundos e respondeu:

− Tá, vamos lá. Mas se pegarem a gente, a parte da luta é tua novamente.

− Ah, Barbie, eu te adoro!

*

De longe eu já sabia o que esperar.

O bom é que o povo de Viena não acorda antes das seis e não sai de casa antes das seis e meia, sete, e para nossa sorte eram cinco e meia (praticamente) quando chegamos em terra.

A casa onde eu e minha mãe vivíamos era isolada, claro, afinal estávamos fugindo sempre. Enfim, chegamos lá rápido (mesmo que Emily reclamasse do sono) e não foi dificuldade relembrar o caminho.

Mas eu pude sentir.

O cheiro de minha mãe, que já estava sumindo, fraquíssimo.

− Deus. – Sussurrei e me aproximei da porta, prestes a girar a maçaneta. Trancada. – Não pode ser. – Na verdade, poderia. Mas eu negava.

− Quer que eu abra? – Perguntou Emily, mas eu não liguei. Me concentrei em minha mão, fazendo-a mudar, meus dedos se juntando e garras grotescas e longas crescendo neles. O ácido começou a escorrer.

Enfiei uma das garras centímetros acima da maçaneta e arrastei a mão para o lado, cortando a área em volta da fechadura. Quando terminei, chutei a porta e ela praticamente voou para a parede em que estava presa.

Nada. Tão vazia quanto a primeira vez que pisei aqui. Farejei o ar. Tinha cheiro de poeira e um fraco cheiro de livros velhos, luta e maternidade – ok, não era exatamente esse, mas era como eu descrevia o cheiro da minha mãe. Mas aquele agridoce estava ali, pairando fracamente, inutilmente no ar.

− Peguem o que acharem útil. Ela nunca levava o que estava na casa. – Falei, observando o pequeno espaço, posicionado entre a sala e a cozinha, que dava pra três cômodos: o banheiro, o quarto dela e o meu. Decidi entrar no quarto dela primeiro.

Livros velhos, luta e maternidade. A presença dela, o cheiro dela era mais forte ali. E aquilo me agradou.

Armários vazios. Porta-retratos vazios. Cama feita. Móveis empoeirados. Embaixo da cama, a caixa estava vazia. O criado-mudo estava tão vazio, sem flores ou uma fotinho qualquer.

O quarto dela estava tão sem vida quanto eu me sentia.

Saí dali. A sensação que aquele quarto me passava era a de morte, sem nada que lembrasse minha mãe. Nada. Fui para o meu quarto.

Situação semelhante, mas tive uma surpresa. A cama arrumada, os móveis empoeirados, criado-mudo vazio, até aí, ok, mas tinha uma diferença em nossos quartos em relação à vida neles. No meu, em cima da cama, estava uma caixa de sapatos, um bilhete e – oh, Deus – minhas fotos.

Nós duas éramos loucas. Ela por escrever um bilhete para a filha que talvez nunca voltasse, e eu, por voltar.

Um sorriso nasceu em meus lábios. Sentei na cama, lembrando as vezes em que deitava ali, morrendo de cansaço depois de horas de luta, de treino com minha mãe. Toquei a caixa; era simples, parda e, é claro, cabia um par de sapatos dentro. E parecia cheia.

Peguei as fotos; as mesmas de antes, nenhuma fora tirada ou colocada. E a foto da minha família estava lá, sobre todas elas.

Lágrimas marejaram meus olhos. Aquelas fotos...

Pisquei e peguei o bilhetinho que repousava, semi-esquecido. A caligrafia fina e com traços que me lembravam de rúbrica estava bem desenhada no papel. O que estava escrito no bilhete poderia parecer sem sentido, mas sendo quem eu era, poucas coisas eram sem sentido.

“Pode parecer loucura o fato de eu ter escrito um bilhete para você sem saber se voltaria, minha filha.”

Não só parece como é.

“Mas eu conheço bem minha cria. Se aconteceu com você o que penso ter acontecido, então você vai voltar. Espero.”

Ela conhece até meu último fio de cabelo, só pode.

“Aí estão suas fotos e uns presentinhos que eu te deixei que, tenho certeza, lhe serão úteis. Use-o com sabedoria.”

Hein?

“Só tenho uma coisa a te pedir, Alicia. Fuja. Saia de Viena e vá para a América. Tente achar seu irmão e sua tia. Ela tem a chave. Ajude-os a manter aquele bendito pedaço de mapa seguro.”

Que ironia...

“Saiba que eu nunca te abandonaria. Mas estava ficando perigoso demais pra mim, e eu precisava continuar. Só peço que não me julgue.

Com amor, mamãe.”

Ela sempre termina as cartas dela assim. Pelo menos quando é pra mim.

Sorri, mais uma vez, entre lágrimas. Só a minha mãe mesmo.

Deixei o bilhete de lado, enxuguei o rosto com a costa da mão e abri a caixa. Quando vi o que tinha dentro, arfei de surpresa.

DINHEIRO!

Sem brincadeira! Estava toda cheia de dinheiro e em cima daquele monte tinha uma pequena, fofa e assassina faca.

Fechei a caixa, dessa vez colocando o bilhete e as fotos dentro dela. Aquilo, com certeza, iria comigo.

Saí do meu quarto e encontrei Barbie e Emy na sala, sentadas, esperando por mim. Parecia que as duas deixaram que eu tivesse uma espécie de reencontro mental com minha mãe.

− Não achamos nada interessante. – Emily disse rapidamente, os olhos encarando a caixa no meu braço.

− É, a casa está vazia de qualquer coisa que possamos levar. – Bárbara se levantou e foi até mim, tocando a caixa. – O que tem dentro?

− Nossa saída de Viena. – Falei, sentando e abrindo a caixa, mostrando o dinheiro, as fotos, a faca e o bilhete. – Minha mãe deixou pra mim.

− Agora sei de onde veio a insanidade pra parar aqui. – Disse Emy, que leu a mensagem com olhos rápidos. – Vocês duas são muito estranhas.

− Limpe sua boca antes de falar de minha rainha. – Rebati. – Me ajudem a contar, rápido.

Elas pegavam alguns maços de dinheiro e contavam rapidamente. Fiz o mesmo, e no fim tinha dado uns setecentos dólares.

− Sua mãe tava forrada, hein? – Emy brincou. – Tomara que ela não tenha matado um velho rico.

− Droga! – Praguejei, ignorando-a. – Não é o suficiente. Pensei em irmos de avião, mas só uma de nós, na companhia mais barata, daria 2717 reais, o que significa 1226,30 dólares ou 425 euros, por aí... – Falei, fazendo os cálculos em minha mente, tendo apenas valores estimados, e relembrando os preços que tinha pesquisado.

− Então teremos que ir clandestinamente. – Barbie sussurrou, como se temesse que as palavras tornassem aquilo um risco.

Porém, era o único jeito que tínhamos, e aquilo fez uma luzinha se acender em minha cabeça.

− Eu sei como podemos ir. – Falei. – Eu e minha mãe viemos para a Áustria não tão clandestinamente assim. Nós viemos em um barco cujo dono é Wesen. – Despejei as palavras em cima delas com rapidez. – Ele me conhece e pode nos levar de volta. Era um grande amigo da minha mãe.

As duas ficaram visivelmente arrepiadas quando falei “barco” e assim continuaram até o fim. Deviam ter lembrado de Titanic.

− Mas... – Barbie começou.

− É o único jeito. Temos que ir para o litoral. − Resignou-se Emily.

Assenti.

− E temos que ir do pior jeito. – Reclamei, conformada. – Vamos sair daqui.

*

− Andrew Lexand.

A voz grave do meu tio de consideração soou no telefone. Depois de conseguirmos sair de Viena, ou melhor, da Áustria, e ir para a Croácia, pesquisei o número dele, com medo de que tivesse mudado. Felizmente, não mudou, por isso pude ligar tranquila.

− Tio Andrew? Aqui é a Alicia.

Nem precisei perguntar se lembrava de mim ou me apresentar novamente. Eu sabia que Tio Andrew tinha uma memória invejável.

− Alicia? Deus, quanto tempo! – Ele riu. – Se não me falha a memória, você viajou aqui quando tinha treze anos... 2007, não? 2012, deve estar linda com dezoito anos... Como está sua mãe, querida?

Engoli em seco.

− Minha mãe... Eu não sei, tio. Eu fui raptada e a perdi.

Contei tudo para Tio Andrew, sabendo que podia confiar nele. Se minha mãe confiava nele, eu também podia confiar. Expliquei o sequestro, o interesse da Verrat em mim e minha transformação, terminando com minha fuga e o tempo de dois meses desde que fugimos. Ele escutou tudo calado, e quando terminei que decidiu falar.

− Sinto muito por você, Alicia. Realmente, perder sua mãe assim deve ter sido um golpe forte. E isso quer dizer que você não cresce mais.

− Sim, tio And.

− Hum... Isso poderá representar problemas. Boa sorte no futuro, querida.

− Obrigada, tio. Mas sem querer ser rude, não preciso de sua sorte, e sim de sua ajuda.

− No que eu poderia ajudar, querida?

Suspirei e olhei para as duas, que estavam no sofá da frente, esperando que eu continuasse. Nenhuma delas tinha aceito muito bem a ideia do barco, mas estavam conformadas.

− Seu barco ainda vai pra América do Norte?

− Vai, querida.

Tomei fôlego mais uma vez antes de continuar.

− Qual o mais próximo de Rhinebeck que você pode chegar, e quanto custa pra três garotas?


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Notas finais do capítulo

Não ficou tão grande quanto o anterior, mas espero que tenha ficado bom.

Gostaram? Espero que sim! Beijos da Miha!



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