POV DAMON

A luz entrava pela janela do quarto e eu me amaldiçoei por não ter fechado as janelas.

Levantei da cama e só aí percebi que não estava em minha casa, mas sim no apartamento de Lana - uma garota que conheci no bar na noite passada.

Agradeci mentalmente por ter deixado Alice na casa de meu irmão no dia anterior. Saber que Alice não ficara sozinha em casa e que ela estava com Stefan e Caroline já me confortava - meu irmão e a Barbie sempre foram bastante responsáveis então eu sabia que a garotinha não ia passar fome na casa deles ou algo assim.

Tentei não fazer barulho para que Lana não acordasse e peguei minhas peças de roupas espalhadas pelo chão, em seguida me vesti e me retirei do quarto.

Fui até a cozinha, abri a geladeira e apanhei uma maçã. Dei uma mordida e me apressei saindo dali.

Felizmente, eu não precisaria de um taxi, pois estava com meu carro. Porém isso não mudava muita coisa. O trânsito de Nova York sempre é um inferno.

Não havia um espaço vazio se quer na rua. Aquela antiga lei da física, dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, havia sido superestimada. Não sei se foi devido ao ângulo em que eu olhava; porém, estava claro que tinha duas ou mais pessoas no mesmo pedaço da calçada. Uma esmagando a outra. Travando uma luta selvagem e voraz por território, como animais, em meio à floresta de concreto.

~x~

Adentrei no enorme saguão central onde uma das secretárias da empresa, Lucy, esbanjou um belo sorriso assim que me viu. Com uma de suas mãos, jogou umas mechas displicentes de seu longo cabelo platinado para trás, em uma tentativa, frustrada, de chamar atenção. Bufei internamente.

Agora não, por favor...

— Olá Damon ! — Cumprimentou segurando a porta do elevador em que eu me encontrava sozinho e entrou logo em seguida. Droga. - Então, grande dia hoje, certo ?

– Na verdade não. Apenas algumas sessões de foto e...

– Quando vamos repetir ? - ela disse exibindo um sorriso de malícia.

– Nossa. Adoro o jeito de como você é sutil. - falei com ironia.

O elevador apitou, a porta se abriu e eu sorri como se agradecesse a Deus. Sai do elevador.

POV AMANDA

Entrei na salinha vip, me sentei numa cadeira vermelha confortável com suporte para os pés e logo a pedicure tratou de tirar meus saltos-agulha de meus pés, iniciando o serviço enquanto a manicure trabalhava com minhas mãos.

– Olá, Honey - gritou Jordan, um gay com uma echarpe dourada amarrada no pescoço sobre a camiseta branca. Ele era mais do que meu cabeleireiro preferido, também era um amigo. Infelizmente eu só o via quando ia para Nova York.

– Oi, Jordan. Como vai ? - perguntei, lhe estendendo a mão livre, a qual ele apertou em um cumprimento formal.

– Ai, querida. Com o coração em pedaços. - ele respondeu, pegando um creme sobre a prateleira e então mudou de assunto : - Com esse produto seus cabelos brilharão ainda mais.

Eu assenti, não insistindo para que ele falasse sobre seu coração em pedaços. Ele não é exatamente o único no mundo decepcionado no quadro do amor e outros desastres.

– Bofes sempre decepcionam. - foi a única coisa que eu disse, tentando afastar de minha mente a imagem de Anthony me deixando plantada no altar.

– Sempre. Agora conte-me, o que veio fazer em Nova York ?

– Eu recebi uma proposta da revista Vogue. - falei, tentando esconder o entusiasmo e a animação que percorria todo meu corpo, afinal, a Vogue é simplesmente uma das revistas de moda mais vendidas do país inteiro e do mundo.

– Pai Amado ! Oh ! - exclamou Jordan, colocando a mão no peito enquanto um sorriso enorme se formava em seus lábios. - Parabéns, Honey.

Geralmente eu não gosto quando pessoas me chamam por qualquer tipo de apelido extremamente pegajoso, mas Jordan é um caso especial, eu não me importo com o fato dele sempre me chamar de "Honey", pra falar a verdade me acostumei.

Quando todo o tratamento terminara, finalmente Jordan me permitiu olhar no espelho. Admirei minha pele, meus cabelos recém lavados e escovados. Era como narciso apaixonado por sua própria beleza. Retoquei apenas o batom, paguei o serviço e me despedi de meu amigo.

Fui direto para o restaurante de minha preferência e pedi o que eu sempre pedia quando costumava frequentar o lugar : salmon grelhado com salada primavera regado com mel e mostarda.

O tempo era corrido. Eu mal havia chegado na cidade e logo as cinco teria de passar por uma sessão de fotos.

~x~

Eu andava a passos firmes pelo enorme corredor feito entre os biombos das mesas dos funcionários da revista. Vestia uma saia cós alto totalmente justa em um tom de vermelho, com uma abertura de uns oito centímetros atrás, que deixava minhas coxas a mostra quando eu caminhava, uma blusa de seda branca simples com mangas longas e um decote comportado, o salto quinze era fino e preto e a bolsa era uma Chanel clássica, com corrente prateada.

Um homem caminhava em minha direção e me olhava com curiosidade. Ele tinha os olhos extremamente azuis, sua pele era branca e sua altura era mediana, seus cabelos eram escuros e caiam sobre a testa mas não do tipo que lhe faria pensar "esse cara precisa de um corte de cabelo".

Quando o homem se aproximou o suficiente de mim, me olhou dos pés a cabeça e sorriu de forma travessa, então perguntou :

– Senhorita Clark ?

– Sim. Eu mesma. - respondi.

– Não fomos apresentados. Eu sou Damon Salvatore, seu fotógrafo enquanto você estiver posando para a Vogue. - ele me estendeu a mão e eu o cumprimentei de maneira formal. - Bom, creio que a senhora Wintour está muito ocupada para lhe receber, mas não há problemas, pois já podemos iniciar a sessão.

A Senhora Anna Wintour realmente era muito ocupada como editora-chefe da Vogue América, então não questionei as palavras do Senhor Salvatore.

As fotos foram tiradas depois de eu trocar de roupa várias vezes e várias pessoas mexerem em meu cabelo para arruma-lo em penteados diferentes. Não reclamei. Adorava ser modelo, sempre amei meu trabalho. O grande problema era ter que sorrir. Na maioria das vezes, nas fotos de moda, a modelo não tem que sorrir, mas em alguns casos... os fotógrafos exigem sorrisos. E bom, eu não creio que meus sorrisos forçados sejam um dos melhores.

– Tem que ser espontânea, Senhorita Clark. - disse Damon, apertando várias vezes o botão da câmera fotográfica fazendo com que vários flashes caíssem sobre mim.

Mas como ser espontânea e natural ?

Não devia fazer muito tempo que Anthony me deixou. Ou será que fazia tanto tempo assim ? Ok, Amanda, já fazem três anos que seu noivo te deixou, te trocou por sua melhor amiga no dia do seu casamento. Você tem que superar.

Não importava, eu sempre sorria, não é verdade ? Digo, sempre estampava um sorriso forçado no rosto tentando esconder a tristeza de meus olhos magoados. Até mesmo no dia de meu casamento eu sorri, sim, quando todos já sabiam do meu querido noivo e minha querida melhor amiga eu sorri de uma forma que dizia que tudo estava perfeitamente bem.

"Está tudo bem"

"Estou bem, obrigada"

"Não se preocupe, ficarei bem"

"Não, não, não. A fila anda e a catraca roda. Ele quem me perdeu. Está tudo bem"

Se meus olhos mostrassem minha alma, todos ao me verem sorrir acabariam chorando.

Depois que a sessão terminou, todos se retiraram, deixando apenas Damon Salvatore e eu a sós.