Nicest Thing escrita por Nina Spim


Capítulo 9
Chapter Nine


Notas iniciais do capítulo

Oi, cherries!
Aqui está mais um capítulo, espero que ainda estejam com paciência para suportar todo o suspense que ronda esta estória! HAHA. Sei que é muito difícil controlar a curiosidade, por isso muito obrigada pelos comentários positivos, fico realmente grata e feliz por saber que estou agradando!



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– Não acredito! – exclamo, assumindo o meu sorriso. No fundo, estou achando engraçado, levando em conta todas as vezes que a escutei desprezando a situação toda.

Antes de responder, Lucy se oferece silenciosamente para quebrar os ovos que estou encarando na bancada. Kurt e Blaine receberam um raro convite para desfrutar de um vernissage com um amigo em comum deles cujo curso é artes cênicas, na Juilliard também. Portanto, não estão no loft e, apesar de eu ter proposto preparar nosso jantar, não sou capaz de tocar nos ovos, ou no queijo para adicionar na omelete de Lucy.

– Acredite se quiser – ela diz, tomando três ovos do recipiente e os quebrando na frigideira sem nojo – Foi meio sem querer, eu acho. Tive um pouco de pena dele, ele parecia um pouco, não sei... Perdido.

Balanço a cabeça num gesto de quem está um pouco impressionada. Na verdade, estou mesmo impressionada. Porque achei que Lucy fosse continuar a repelir esse cara para sempre e continuar a fazer parte do grupo de meninas universitárias decentes e coerentes. Não que ela esteja, exatamente, agindo como uma lunática, como Blaine descreveu Santana. Lucy não é nada lunática, ou louca. Ela é um amor, na verdade. E é por isso que a situação me pega um pouco desprevenida. Não considerei que ela fosse ceder a um cara que a aborda de repente e não desiste até conseguir “uma chance”. Apenas espero que ela não vá parar na cama dele, senão seria clichê demais. E então eu teria de rever todo o meu conceito sobre ela ser uma garota que não se deixa levar por qualquer garoto que aparece.

Eu já fui este tipo de garota e sei que o resultado é desastroso. Não quero vê-la magoada como eu fiquei. Lucy merece mais do que um garoto qualquer, apesar de não se abrir muito facilmente sobre seu passado. Sabe-se lá o que lhe ocorreu; ela nunca confessou a ninguém, nem mesmo à Santana. Antes de ter entrado naquele breve atrito com ela, algumas vezes eu a tinha inquirido sobre quaisquer pistas, mas Santana deu a entender que sabe tanto quanto eu: ou seja, não muita coisa.

Mas tudo bem. Deixei de me agarrar a isso. Sei que não é falta de confiança, longe disso. Lucy apenas não se sente confortável para debater sobre o assunto de maneira tão aberta. É compreensível. Eu também não tinha vontade de conversar sobre o meu término com Finn no começo; insistia em me manter afastada de todos, para evitar que alguém mencionasse o ocorrido.

Lucy apenas tem de se libertar do que quer que a tenha traumatizado, primeiro. Depois, será mais fácil dar o próximo passo e seguir para a conversa sem nenhum tipo de pressão ou julgamento.

Enquanto isso eu espero. Vou esperar, porque ela esperou por mim. Nada mais justo, não é mesmo?

– Ficar com alguém por caridade não é melhor alternativa, é? – comento, pescando uma pimenta de bico do pote que abro para dar mais gosto à minha salada folhada. Não aprecio pimenta, mas como esta tem grau zero de ardência costumo comprá-la para adicioná-la a quase tudo e, como os meninos não gostam, ela é de uso exclusivo meu.

– Não vou me apaixonar por ele! – Lucy diz num tom divertido, dando-me uma cotovelada amiga – Nada disso está nos meus planos, ouviu?

Dou de ombros e digo:

– Quase nada verdadeiramente está nos nossos planos. Não sabe que as melhores coisas acontecem quando menos esperamos? Ou seja, quando não as planejamos?

Lucy ri e balança a cabeça.

– Apenas vou sair com ele uma vez. Esse cara não vai ser “uma das melhores coisas da minha vida”!

– E “esse cara” tem um nome? Ou você vai ficar se referido a ele para sempre como “esse cara” ou "aquele cara"?

– Não lembro. Ele me disse na primeira vez que nos encontramos, mas já varri da memória. Apenas sei que ele é monitor e cursa Letras.

– Uau. Monitor?

– Ele acha isso o máximo, não sei por quê. Talvez porque, segundo ele, retém a maior parte das informações do campus.

Tento evitar rir, mas não me contenho.

– Então ele sabe tudo sobre você?

– Não deve saber tudo, claro.

Fico pensando se ela está se referindo ao seu passado e, momentaneamente, me sinto um pouco aliviada, porque, no meu âmago, quero ser a primeira – ou a segunda – a ter ciência dos seus ditos “problemas”. Não que já me considere melhor amiga dela, mas... Acho que ela ser tornou minha melhor amiga tão rápido que, agora, eu fico querendo ter exclusividade. O que é ridículo, óbvio. Parece que estamos no Ensino Fundamental, época na qual toda criança quer ser a melhor amiga de alguém e ser a única guardadora de segredos desta melhor amiga.

Porém, é justamente assim que me sinto. Nossa amizade demorou a de fato engrenar, no entanto, agora, parece que somos amigas desde o primeiro dia, há um pouco mais de dois meses. Nossa relação cresceu com velocidade e com magnitude bastante impressionantes. Nunca que eu asseguraria que, um dia, veria Lucy como alguém completamente cativante e confiável. E isso, também, é esquisito. É algo que, de algum modo, se paro para refletir não sou capaz de traduzir em palavras – porque apenas sinto e a necessidade delas parece descartável demais.

– Fazer mistério encanta alguns caras, eu acho – digo, mesmo que não acredite muito nesta informação. De qualquer modo, precisava dizer algo que não fosse relacionado a o que de fato estou louca para ter conhecimento: sobre seu passado, claro.

– Não sou misteriosa!

– Oh, você é – revido.

Lucy rola os olhos.

– O que a faz pensar assim?

Dou de ombros, porque me sinto desconfortável, de repente. Não quero ser totalmente sincera. Sei que aprecio tal virtude, porém acho que esta situação não a merece inteiramente.

– Honre a qualidade que você aprecia, Rachel. Vamos lá, diga a verdade.

Oh, droga. Por que deixei todos saberem sobre aquilo? Talvez a Santana tenha mesmo razão: sou hipócrita. É claro que sou! Que tipo de pessoa quer receber sinceridade, mas não é capaz de concedê-la?

Com certeza, não estou sendo uma boa amiga.

Mas... Algumas coisas não devem ser reveladas, certo? Se elas vão machucar alguém é mais do que permitido não utilizar tanta sinceridade. Tenho certeza de que isso está gravado em algum lugar sagrado. No monte Olimpo, talvez.

– Não... Não acho que você vai gostar da minha resposta.

– Não me importo. Quero saber.

– Tem certeza de que já não sabe? – inquiro ainda desconfortável.

Ela me olha com plena concentração, está analisando o que pode encontrar no meu comportamento como indicação de que eu estou brincando com a cara dela. Ou que eu estou adiando o momento ao máximo.

E ela sabe que realmente estou.

– É por que ainda não os levei para conhecer a Party City? Você acha o quê, que eu menti sobre trabalhar lá e que, na verdade, sou uma traficante de drogas?

– Ah, meu Deus. Não – garanto no mesmo instante. É inegável que ela trabalha nessa loja, porque já a vi enfiar seu “uniforme” na mochila que leva para lá. Ele não é nada do tipo que alguém possa se acostumar logo de cara. É uma roupa esquisita de duas peças que parece ter sido retirada de um clipe do Panic at the Disco, sapatos altos pretos e uma peruca rosa.

Lucy persiste em me observar. É evidente que não está satisfeita. Abaixo um pouco o rosto e finjo estar distraída em calcular o tempo da sua omelete.

– Eu não diria que sou misteriosa de uma forma imutável – sua voz está suave, e fico grata que não esteja mais me pressionando - Ninguém é imutável. Você, por exemplo, está bastante diferente de quando a conheci.

Sei que sim, por isso assinto.

– Você também está – atesto no mesmo tom que ela – e é ótimo. Gosto de você assim.

– Não gosta da minha parte “misteriosa”.

– É uma parte ínfima, então não é tão incômoda assim.

– Incômoda? – ela ergue uma sobrancelha para mim, inquisidora.

– É. Um pouquinho. Mas eu não me importo. Deixei de me importar com isso há algum tempo e comecei a aceitá-la do modo que é, porque – dou de ombros rapidamente num gesto que define o quanto eu estou à vontade com isso –, apesar da tal parte entediante minha a qual a Santana se referiu, você me aceitou mesmo assim.

Algo muda em sua face. Perpassa por ela uma nuance esquisita. E, de repente, ela parece estar importunada pelas minhas palavras. Fico curiosa, porque na maior parte do tempo seu semblante nunca é enigmático – como agora está. Não sei se isso é bom ou ruim.

– Quê? O que eu disse? – pergunto ansiosa.

Ela nega com a cabeça rapidamente, como se estivesse espantando um inseto de seus cabelos.

– A Santana, você tem que entender, presume as mais diversas partes das pessoas. E... Bem, acho que, na verdade, a culpa é minha – ela para por um momento e desliga o fogão – Lembra que você me disse naquela noite que me contou sobre o seu término que não me imaginou como sou? – Lucy olha para mim rapidamente, apenas para confirmar que estou acompanhando o que está dizendo. Afirmo com a cabeça e ela prossegue – Eu também não a imaginei como é e, logo naquele primeiro almoço, quando nos conhecemos, eu tirei as piores conclusões sobre você.

Estou surpresa, genuinamente surpresa. Quer dizer, não vou mentir e dizer que já não supunha isso, porque muito claramente tivemos aquele empecilho sobre nossa aproximação devido a pré-julgamentos. E do modo como a julguei precipitadamente, é evidente que ela também o fez comigo. No entanto, a surpresa se alastra por conta da sinceridade exposta por ela. Ela está cumprindo o que quero: que não minta. Ela poderia optar por qualquer outro caminho, mas preferiu se abrir. Do modo como não sou capaz. Também não é como se eu pudesse acusá-la de ser fechada demais. Sei que Lucy não é tímida e que seu real problema não é esse.

– É mesmo?

– Basicamente, não conseguia defini-la de nada além de psicopata. Acho que aquele seu sorriso assustador não deixou que eu a julgasse corretamente.

– Meu sorriso é assustador? – pergunto e penso sobre isso. Nunca ninguém me informou a respeito.

– Não, ele estava assustador. Naquele almoço. Agora você está feliz e isso transparece no seu sorriso.

– Então agora tenho um sorriso feliz?

– Feliz. E fofo.

Na mesma hora isso provoca um efeito em mim. Um efeito bom. Aquece-me por dentro e não posso conter o sorriso que aparece. Espero que seja fofo o suficiente para ela.

~*~

É engraçado.

Parece que, quando você arranja um cara, os seus amigos não conseguem se conter sobre isso e as mais diversas indiretas e diretas aparecem a todo instante. É como ter inimigos que dividem o espaço onde você mora e que sabe boa parte sobre sua vida.

É um pouco assustador, especialmente porque da última vez que estive com um cara minhas amigas líderes de torcida não se importavam nem um pouco – bem, elas fingiam não se importar, porque na realidade estavam morrendo de inveja. Não que eu tivesse me envolvido com um esportista – isso é um pouco clichê demais para mim –, mas o garoto era tão popular quanto um desses caras que acham que músculo é mais importante que cérebro. Sem contar que não era da minha escola, portanto todo mundo estava doido para saber com quem eu estava, mas não perguntava uma palavra. Não havia tanta invasão de privacidade, o que é surpreendente, levando em conta que as líderes de torcida, em sua maioria, são muito fofoqueiras e exibicionistas.

Mas aqui no loft é diferente. Há a invasão, no entanto não me sinto verdadeiramente incomodada, porque os três são meus amigos. Não são meus colegas de time. E eles se importam comigo. É por isso que os questionamentos pipocam a todo instante: são movidos muito além de curiosidade; há certa preocupação também. Gosto disso. Gosto de saber que estou inserida neste ambiente deste modo acolhedor e protetor.

E é hilária a forma com a qual Kurt tenta impor suas “dicas gays fashionistas” em mim. Ele meio que está tentando escolher qual roupa eu devo ir nesse tal encontro com o garoto monitor já tem alguns dias. Aparentemente, está preocupado que eu me vista como a Lady Gaga ou como a Nicki Minaj e como a Santana. Como se eu não soubesse que a temperatura, apesar de já estarmos no final de Março, não passa dos 20ºC. E as noites estão mais frias que o normal. Claro que sempre finjo estar prestando atenção nas loucuras fashionistas dele, mas não faço nenhuma anotação mental que vá mudar o meu dia.

Felizmente, a Rachel está do meu lado – e o mais importante: é exatamente o tipo de menina que sabe das coisas.

– Por Deus, Kurt – rolo os olhos diante dele, que continua a remexer nas minhas gavetas – Eu não estou me jogando para cima do cara, ou tentando conquistá-lo. Não quero que a noite termine com coraçõezinhos e sinos tocando.

– Nenhum beijo de boa-noite? – ele está horrorizando, se o seu gesto de levar uma das mãos ao peito é um indicativo.

– Definitivamente não.

Kurt olha, ainda horrorizado, para Rachel e depois para Blaine.

– Ela não pretende de apaixonar por ele – Rachel diz, mas não necessariamente num tom que me repreende ou me zomba.

– Então... Por quê? – ele quer saber, sendo enfático.

– Por que vou sair com ele? – pergunto, e ele confirma.

Dou de ombros, porque isso não é uma grande coisa. Não vai ser um grande acontecimento, nem nada assim. Está, na verdade, sendo muito difícil não regredir com a minha palavra, porque agora com a aproximação do “encontro” não estou dando a mínima para nada; roupa, maquiagem, sapato. Garotas normais ficariam insanas com todas essas coisas, mas eu estou me comportando como se sair com ele fosse um grande favor. De certo modo, realmente é. Ninguém com a cabeça no lugar teria concordado em sair com um cara que só faz perseguir, a menos que essa garota esteja desesperada por atenção – e eu não estou nem um pouco.

– Ela ficou com pena – Rachel responde por mim.

Você ficou com pena? – Kurt repete, ainda mais horrorizado – Tipo o quê? Ele era tipo um cachorrinho abandonado no meio do acostamento, e você o adotou por alguns dias, somente para não sentir-se culpada caso ele morresse de fome?

– Hmm... Por aí – finalizo com a testa franzida. Na verdade, a analogia é mesmo muito precisa. Mas claro que eu adicionaria a parte sobre a qual o tal cachorrinho me perseguiu diversas vezes antes de pular no banco do meu carro.

– Isso não parece nada legal – Kurt diz.

Ele não parece nada legal – corrijo-o com acidez – Mas decidi ser caridosa. Quem sabe assim ele sai do meu pé e, enfim, poderei voltar a estudar na biblioteca com tranquilidade.

– Você voltou a falar com ele durante esta semana? – Rachel me pergunta.

– Yeap – afirmo – Bem, tive de vê-lo para entrar num acordo sobre o dia, o local e a hora do encontro.

– E quando você vai esbanjar a sua generosidade em cima do rapaz? – Blaine inquire, e eu noto num quê de conotação sexual em sua voz.

– Na sexta.

– Espero que faça seu trabalho bem feito, caso contrário a cachorrinho vai se tornar um cachorrão. Já pensou? – Blaine investe mais uma vez.

Ofereço uma expressão sarcástica a ele e logo fecho a cara.

Se ele e Kurt e Santana recebessem um dólar por cada indireta lançada, com certeza, poderiam arrecadar uma pequena fortuna.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews ainda?
Beijos e até o próximo capítulo ;)



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