O sol já irrompia pela janela do meu quarto, anunciando o meu primeiro dia na nova escola. Para mim seria o primeiro dia, mas o ano letivo já tinha começado quase à um mês, o que de certa forma me assustava. Já não bastava ser nova na escola, ainda tinha de entrar precisamente quando as aulas já estavam a decorrer normalmente? Odiava ser novidade, senti-me intrusa no meio de estranhos. Certamente que olhares curiosos iriam cair sobre mim, querendo saber mais da minha pessoa e da minha vida, coisa que me irritava profundamente. A parte de adaptação era sempre das coisas mais difíceis para mim, na verdade invejava a facilidade com que Jeremy se adaptava a qualquer circunstância. Fosse da melhor ou da pior forma, ele acabava sempre por se adaptar rapidamente.

Soltei um longo suspiro e levantei-me contrariada da cama, caminhando pesadamente até à casa de banho. Abri a torneira e temperei a água ao meu gosto. Nem muito fria, nem muito quente. Despi o meu pijama ainda de verão, visto que ainda estávamos em uma época quente, e entrei dentro da banheira deixando que a água morna caísse sobre as minhas costas e a minha cabeça. Aquela jato tranquilizava-me. Fazia com que todos os meus músculos ficassem relaxados. Todos os pensamentos pareciam escorrer pelo meu corpo abaixo juntamente com a água, deixando a minha mente limpa e vazia. Aquela era simplesmente a melhor parte do dia. Deixava-me ficar por mais minutos, mas tinha de me despachar para não chegar atrasada ao primeiro dia de aula. Tanto eu como Jeremy não precisávamos de apanhar os transportes públicos, íamos com Alaric, visto que ele dá aulas de História na mesma escola onde vamos estudar.

Abanei a cabeça para os lados, negativamente, tentando convencer-me de que não podia demorar mais tempo no banho. Desliguei a torneira e saí cuidadosamente da banheira para não escorregar no chão húmido. Enrolei o meu corpo numa toalha cor perola, e enrolei os meus cabelos numa toalha menor da mesma cor e com o mesmo padrão. Caminhei para o quarto e dirigi-me para o armário, escolhendo rapidamente uma roupa. Não gostava de perder o meu tempo a escolher roupas, nem no dia anterior e muito menos no próprio dia. Vesti-me agilmente após passar o creme hidratante em todo o meu corpo, e dirigi-me novamente até à casa de banho para lavar os dentes e secar os meus cabelos. Quando terminei passei uma leve maquilhagem no rosto, e optei por deixar o meu cabelo daquele jeito, estava sem paciência para perder mais tempo a apertá-lo. Voltei para o quarto e coloquei os livros necessários para o dia de hoje na mochila, e saí do quarto.

Quando cheguei à cozinha avistei o meu irmão sentado na mesa a tomar o pequeno-almoço. Alaric estava em pé, junto à banca, a beber o seu café da manhã calmamente enquanto olhava a pequena televisão existente na cozinha que anunciava as notícias da manhã.

- Bom dia! – Cumprimentei com a voz fraca, indo sentar-me ao lado do meu irmão.

- Bom dia Elena. – Respondeu Alaric desviando a sua atenção da televisão, olhando para mim. – Ansiosa para o primeiro dia de aulas?

- Um pouco receosa, nada que não se resolva com o tempo. – Falei dando um sorriso de lado, ciente de que não me acreditava naquilo que acabava de falar.

- Não tens de temer nada. A turma onde ficaste é das melhores daquela escola. As pessoas são muito simpáticas e sociais, vão querer logo integrar-te na turma. – Garantiu ele pousando a sua caneca vazia na banca.

- Isso será ótimo! – Exclamei com um falso entusiasmo, e desviei a minha atenção para a minha sande mista e o meu copo com leite.

A ansiedade era tão grande que tinha perdido a fome. Limitei-me a dar algumas mordidas na sande e alguns goles do leite só para o meu tio não ficar preocupado ou estranhar. Quando terminei coloquei a louça suja na banca e preparava-me para a lavar quando Alaric me chamou para ir embora. Pediu que não me preocupasse com as lidas domésticas que ele trataria disso. Exceto o meu quarto, obviamente.

Perdi a noção do tempo desde o apartamento até à escola, pois passei grande parte do caminho com os auscultadores nos ouvidos a ouvir música. Ia olhando pela janela do lugar do passageiro apreciando cada canto daquela cidade magnífica. Ainda tinha tanto para conhecer. Alguns sítios seriam melhor aproveitados se levasse companhia, mas isso parecia-me meio impossível. Alaric era um homem muito ocupado, e com certeza já devia conhecer os locais que eu ainda não conhecia. Jeremy era o tipo de irmão rebelde que odeio conversar com a sua irmã mais velha. Jamais em tempo algum ele iria alinhar. Não tinha amigos, não tinha namorado ou até mesmo algum conhecido para me fazer companhia. Teria de aproveitar tudo sozinha.

Só acordei dos pensamentos quando ouvi a voz de Alaric anunciar que já havíamos chegado. Saí do carro e coloquei-me imediatamente o lado do meu irmão que me lançou um olhar de desaprovação. Estava claramente expresso que ele não queria a minha companhia, para variar. Afastou-se rapidamente de mim e de Alaric, sem nos dirigir uma palavra que fosse. Soltei um longo suspiro com aquela atitude de Jeremy, e quando fintei o meu tio reparei que ele olhava confuso para o meu irmão mais novo que já estava longe a caminho do interior da escola.

- Ele é sempre assim? – Perguntou Alaric olhando agora para mim,

- Jeremy sempre foi uma criança fechada e rebelde, mas desde a morte dos nossos pais que isso piorou. – Respondi soltando um suspiro. – Ele não me ouve. Cada vez que tento falar com ele fecha-se no quarto e só sai de lá no dia seguinte. Desconfio que ele anda metido em problemas.

- Que tipo de problemas estás a falar? – Inquiriu Alaric erguendo a sobrancelha. Eu limitei-me a baixar o rosto sem saber se havia de desabafar ou não. – Se alguma coisa está errada com Jeremy, tens de me contar. Eu sou o responsável por vocês, tenho de ter o conhecimento de tudo aquilo que se passa com vocês.

Ele estava certo. Não podia esconder dele as coisas graves que Jeremy estava a cometer. Alaric era o nosso tutor e estava responsável por qualquer coisa que nos acontecesse, por isso mesmo ele tinha o direito de saber tudo o que se passava connosco.

- Eu acho que ele está metido nas drogas. – Desabafei, olhando atentamente à minha volta para ter a certeza que ninguém estava por perto para ouvir. – Ainda em Mystic Falls encontrei alguns comprimidos e pós no quarto dele. Ainda cheguei a confrontá-lo, mas ele gritou comigo e expulsou-me do quarto como sempre faz.

- Vou ficar especialmente atento aos passos dele. – Garantiu Alaric, deixando-me mais descansada em saber que um adulto podia travar o meu irmão de destruir a sua vida. – Elena, eu peço-te que nunca escondas nada de mim. É preferível saber as coisas por vocês do que por terceiros. Estou aqui para vos ajudar e proteger, por isso preciso que vocês sejam sempre sinceros comigo.

- Podes ficar descansado. – Assegurei dando-lhe um sorriso tranquilizante.

Caminhamos juntos para o interior da escola, e conforme ia passando por alguns alunos já notava os seus olhares curiosos sobre mim. Podia ser somente minha imaginação, devido à ansiedade que sentia dentro do meu peito, mas tinha mesmo a sensação que era o centro das atenções. As coisas eram sempre assim nas escolas. Cada vez que existia um aluno novo, era a novidade e todos reparavam na existência dele. Tinha de me preparar para responder às perguntas dos mais curiosos, e para não responder às provocações dos mais populares e invejosos. Sempre tem esse tipo de pessoas nas escolas.

Alaric despediu-se de mim e foi para a sala dos professores enquanto eu me sentei num dos bancos existentes no corredor. Fiquei a olhar para o meu relógio de pulso à espera que o tempo passasse e o toque para a primeira aula soasse, contudo os ponteiros do relógio pareciam não mexer. Suspirei e levantei-me repentinamente do banco disposta a ir até à casa de banho para ocupar o pouco tempo que faltava. Quando me levantei esbarrei em alguém e os seus livros caíram no chão.

- Oh meu deus! Desculpe-me, eu sou mesmo desastrada às vezes. – Desculpei-me imediatamente, abaixando-me para apanhar os livros da pessoa que ainda nem tinha olhado.

- Não tem problema. – Respondeu uma linda voz masculina que me chamou à atenção.

Quando ergui o meu rosto avistei a pessoa com quem tinha esbarrado na minha frente a apanhar os livros. Ele era simplesmente lindo. Não pude deixar de reparar no contraste existente entre a cor do cabelo e dos olhos. O cabelo era negro e os olhos eram azuis. Simplesmente lindos e chamativos. Ele esboçava um sorriso torto enquanto apanhava os livros que ainda estavam no chão, e eu tinha ficado completamente hipnotizada com a beleza dele. Olhava-o como se fosse um Deus perfeito caído do céu. Todo o seu rosto era lindo, isso para não falar do corpo escultural que ele possuía.

Aquele homem perfeito que ainda nem sabia o nome, levantou-se após apanhar todos os livros e fintou-me curioso. Só acordei do transe quando aqueles olhos misteriosos me fintaram, e então reparei que ainda estava de joelhos no chão com alguns dos livros dele na mão. Levantei-me rapidamente e entreguei-lhe os restantes livros.

- Obrigado. – Agradeceu ele sorrindo de lado, um sorriso completamente sedutor e malandro. – Nunca te vi por aqui. És aluna nova?

- Sim, hoje é o meu primeiro dia na escola e comecei já com o pé esquerdo. – Respondi fazendo uma careta e sorrindo timidamente.

- Muito bem, o meu nome é Damon Salvatore. – Apresentou-se ele esticando a sua mão até mim.

- Elena Gilbert. – Respondi. Depois de alguns segundos hesitante, apertei finalmente a mão dele.

- Elena Gilbert? – Perguntou ele erguendo a sobrancelha como se me conhecesse. – Por acaso és a sobrinha do Alaric Saltzman?

- Sim sou, como você sabe? – Inquiri olhando-o curiosa.

- Ele comentou comigo. Para além de colegas de trabalho, somos também grandes amigos. – Respondeu ele sempre com aquele sorriso sedutor nos lábios, difícil de desviar a atenção dos lábios e dos olhos dele. – A alguns dias ele disse-me que os seus dois únicos sobrinhos estavam a caminho de Londres para ficarem sobre a guarda dele.

- Então você vai ser meu professor? – Perguntei enquanto desejava que ele estivesse só de passagem e que fosse colega de trabalho do meu tio de outro trabalho qualquer que não professores.

- Provavelmente serei o teu professor de Inglês. Espero sinceramente que não sejas do tipo de aluna rebelde, já tenho muitos assim com que me preocupar. – Comentou ele soltando um riso abafado.

- Bom, creio que vai ter de esperar até amanhã para descobrir isso. Aula de Inglês não consta no meu horário para o dia de hoje, só amanhã. – Disse sorrindo mais verdadeiramente, ainda que a timidez estivesse a apoderar-se do meu corpo.

Ouviu-se o toque para a primeira aula e um movimento de alunos invadiu os corredores. Olhava atentamente à minha volta como se não quisesse sair dali, e quando reparei que o corredor ia ficando vazio, decidi finalmente agir.

- Acho que está na minha hora. Não será bom chegar atrasada logo na minha primeira aula, por isso… - Preparava-me para me despedir de Damon, ou do professor Damon, mas não parecia arranjar a forma certa de o fazer. – Foi um prazer conhecê-lo, e mais uma vez peço desculpa pelo que aconteceu com os seus livros.

- Não tem problema, foi por uma boa causa. – Respondeu ele rindo-se. E finalmente pude ouvir a sua gargalhada que era melodia para os meus ouvidos. – O prazer foi todo meu. Espero vê-la amanhã na minha aula.

Limitei-me a soltar um sorriso tímido, como sempre, e afastei-me dele rapidamente para chegar à aula a tempo de não levar falta. Entrei na sala quando todos os alunos já estavam sentados, e após me desculpar à professora fui sentar-me numa das mesas do fundo. Obviamente que já tinha vários olhares curiosos sobre mim, mas tentei ignorar isso, pois já tinha tido surpresas suficientes por hoje.

Não me lembro da escola de Mystic Falls ter professores tão lindos como Damon Salvatore. Ele era simplesmente perfeito, o pecado de qualquer aluna nesta escola com toda a certeza. E por essa razão, por ele ser professor e eu uma aluna, é que deveria deixar de pensar na beleza que ele possuía. Não podia ter esses pensamentos acerca do meu professor de Inglês, pois sabia perfeitamente que tudo na vida tem um início e isto podia ser o início de alguma coisa perigosa se eu não travasse a tempo.