– Então é mesmo você. – disse Scott. – Near te escolheu... como esperado.

– Sim. – ela respondeu secamente.

Ele jogou o microfone na mesa e se encaminhou para porta. Sophie pensou em trancá-la, mas não se mexeu. Não conseguia. Ele saiu e foi até a outra porta, girou a maçaneta e ela abriu.

Entrou no quarto que estava um tanto escuro, mas a garota continuava sentada do mesmo jeito. Ele caminhou até ela parando um pouco atrás da poltrona. Era possível ver seus reflexos no vidro. Sophie se levantou e olhou para o rapaz.

Ele estava um pouco diferente do que se lembrava. O cabelo estava cortado, a barba rala e estava bem mais alto. Ele também a analisava tentando reconhecê-la. Ela não estava muito diferente, continuava baixa, mas o cabelo escuro tinha crescido bastante, os olhos meio azuis meio acinzentado sempre o impressionaram.

– Sophi... – ele a chamou pelo antigo apelido que lhe dera.

Eles se olharam e então Sophie correu até o rapaz. Ele se abaixou um pouco para abraçá-la.

– Senti sua falta, Sophi.

– É. Faz muito tempo. – esse era o jeito dela dizer que também sentiu falta dele. E sorriu contente como não fazia há muito tempo.

– O seu cabelo está horrível como sempre. – ele disse passando a mão na sua franja. Se abraçaram de novo e ele a levantou do chão e a girou.

– Eu sabia que era você. Bom... Quer dizer... Eu esperava que fosse. – ela lhe deu um soco no ombro dele. – É que você sempre foi a melhor.

– Parece que o plano não funcionou bem L. – disse Watari entrando na sala. Scott sorriu para ele que devolveu o gesto.

– De fato foi um verdadeiro fracasso. Mas nunca me senti tão bem em falhar.

– Olha só. O mundo tá perdido mesmo. Sophie admitindo que perdeu e pior ainda aceitando perder numa boa. Não sei mais quem eu sou.

Eles riram. Apesar de como se despediram na última vez que se viram as coisas estavam como sempre costumavam ser. Sophie suspirava aliviada.

– Dessa vez eu vou te bater de verdade. – ela ameaçou e ele fingiu uma cara de medo. – Me acompanhe. Vou te por a par do caso. Watari, por favor, prepare um carrinho para nós.

– Será um prazer.

Eles subiram até o sótão e Sophie começou a lhe explicar sobre o caso.

– Você leu os relatórios da polícia, certo?

– Sim. Sei que localizaram Kira até a região de Tokai aqui no Japão. Alguns dos antigos membros do primeiro Caso Kira estão se juntando a SPK. – ele girava na cadeira de rodinhas em frente ao computador. – Alguns detetives japoneses que resolveram investigar o caso acabaram morrendo de paradas cardíacas, depois disso apenas a SPK continua investigando ele.

– Sim. Alguns policias até pediram para ingressar nas investigações e estamos trabalhando em conjunto com a policia japonesa, mas de forma menos direta. Kira não está poupando esforços.

– Certo. Misa Amane, cumpri pena numa clínica médica por ser o Segundo Kira. Parece que houve uma falha na segurança causada pela faltas de comunicação e informações passadas erradas para os guardas dela, mas que não acarretou em nenhum acidente.

– Exatamente. Essas são as informações da polícia.

– E agora?

– Esqueça tudo isso.

– Tá. – ele suspirou. – Qual a verdade, então? – ela sorriu maliciosamente.

– A verdade é que eu entrei no sistema da CIA e FBI e consegui encontrar Kira na região de Tokai. Falar que conseguimos rastrear pelo vídeo enquanto ainda estava no Youtube foi uma mentirinha necessária.

– Claro, L tem que ser o exemplo.

– E ficar fora da cadeia. Outro ponto importante foi que os policiais mortos por Kira estavam numa força tarefa da policia japonesa que foi extinta. Kira matou todos eles, mas isso não foi divulgado. Como ainda não descobriu o nome de ninguém da SPK ainda não matou ninguém.

– Ainda...? – ele revirou os olhos com a frieza dela. – Então é mesmo um hacker?

– Acredito que sim. Na verdade estou apostando nisso. Portanto todas as informações ficam aqui, nos meus equipamentos, que são impenetráveis.

– Certo.

– Mais uma coisa. Eu fiquei analisando as imagens daquela noite em que houve a falha na segurança de Misa Amane e estou convencida de que a moça que entrou no quarto era Kira e fez contato com ela.

– As câmeras e o áudio revelaram alguma coisa?

– Nada para incriminá-la...

– Então...

– Mas tudo está inocente demais. Foi tudo muito bem planejado. Eu acredito que ela manipulou as câmeras e o áudio.

– Claro, se Kira é um hacker seria fácil. Sendo assim ela fez contato com Misa Amane. O que ela ia querer dela? Afinal Amane é monitorada o tempo todo.

– Kira é esperta. Pode ter encontrado um jeito de se comunicar com ela. Com base nisso posso deduzir que ela está atrás da mesma coisa que nós.

– Fala do caderno?

– Sim. O Death Note desaparecido. Light Yagami o escondeu muito bem.

– Mas sendo assim ela já pode ter encontrado ele.

– Acho que não. – ela pegou a xícara com chá. – Misa não sabe onde ele está. Yagami escondeu até mesmo dela. Mas com certeza tentará ajudar o novo Kira.

– E quanto a garota no quarto? Descobriu quem é?

– Ainda não, mas ninguém que trabalha ou mora lá se encaixa no perfil dela. De certo foi alguém que foi apenas passar a noite, mas a quantidade de garotas que pediram abrigo nessa noite é enorme. Pelo menos todas eram adolescentes entre 14 e 17 anos.

– É uma padrão, mas com toda certeza ela usou nome e idade falsas.

– Com toda certeza.

– Então o que faremos?

– Estou pensando em algo, um plano no qual precisarei de sua ajuda.

– Claro. Não é como se você nunca tivesse me metido em confusão. – ele debochou, recordando anos atrás.

– Mas isso fica para depois. Está ficando tarde. É melhor você voltar para o QG. Amanhã o Senhor Mogi e o Senhor Aizawa se juntarão a equipe e pretendo falar com todos pessoalmente.

– Tem certeza de que é uma boa ideia?

– Sim. Escolhi aqueles homens a dedo. Devo esse voto de confiança a todos, sem falar que assim o trabalho será mais produtivo.

– Tomara que tenha escolhido direito mesmo, se Kira estiver entre eles e com olhos de shinigami você já era. – ele jogou algumas pastas com relatórios em cima da mesa se mostrando exausto.

– Puxa. Nada como o apoio de um velho amigo. É melhor ir descansar Steve... Digo, Scott Tuner. – ela sorriu. – Ainda não me acostumei com seu verdadeiro nome.

– A propósito e como nós ficamos? – o olhar da jovem mudou, o coração disparou perante aqui, justamente o assunto que estava tentando evitar. – Todos me viram conversando com você mais cedo, acho que acabei levantando suspeitas de que te conheço, mas como bem sabe não há registros meus onde trabalhei com o L.

– Ah sim. Vamos dizer que vivíamos e estudamos na Wammy’s assim não será totalmente mentira e você pode confirmar que sou L. Acho que não vai ser fácil convencê-los.

– Convencer um bando de coroas que L é uma garota pálida, magrela e baixinha? – ela fechou a cara pra ele. – Espera só até dizer que Kira é uma hacker adolescente. Eles vão surtar.

Ela sorriu. Ele se levantou e vestiu o casaco de couro.

– Estou feliz por reencontrá-la Sophie. E por estarmos trabalhando juntos de novo, parceira. – ele lhe estendeu a mão. Ela deu uma batida e depois com punhos fechados deram soco um na mão do outro. Toque que costumavam fazer.

Enquanto Watari o levava de volta ao QG ela desceu e preparou um chocolate quente para espantar o frio, mas depois de pronto acabou não bebendo. Estava satisfeita depois de todos os doces e chás do carrinho que Watari preparou para ela e Scott. Então ficou sentada na mesa da cozinha pensando quando um toque a despertou. Ela pegou seu celular e no visor apareceu um N.

– Alô. – ela atendeu.

– Você não tem um pingo de juízo. Sabe, Sophie você sempre me deixa na dúvida. Não consigo decidir se te ensinei muito bem ou se você não aprendeu nada.

– Bom falar com você também, Near.